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Capítulo 174 — Camadas Mentais
Um fluxo de mana estrondoso cobriu a arena de gelo, e logo em seguida um clarão azul tomou todo o espaço.
Mas nada, nem mesmo aquele espetáculo de energia, podia tirar o foco de Helick da mascarada à sua frente.
— Não me faça ter que perguntar de novo! — ele rosnou, pressionando a lâmina de sua espada contra a cimitarra de Ananda. — O que aconteceu com Nastya?!
Ananda não recuou diante da ameaça. Sua voz soou firme e irônica:
— É curioso quando as pessoas exigem respostas que sabem que nunca terão. — Ela girou a lâmina contra a de Helick, pegando mais firmeza. — Mas posso abrir uma exceção.
Com um passo curto para trás, fez Helick perder o equilíbrio por um instante. Aproveitando a brecha, ela se soltou da investida.
— Se preocupe em sobreviver até a próxima muralha, príncipe. Todos eles estão bem. Não fiz mal algum. — Um leve sorriso surgiu sob a máscara. — Agora, pare de me seguir.
Helick não se moveu.
— Não. Isso ainda não acabou. — Seus olhos brilhavam com mana azulada. — Por que você atacou a mim e a meu irmão em Lyberion? O que quer com as joias que se fundiram às nossas adagas que se tornaram nossos ARGUEMs? Qual é o seu objetivo?!
Ananda o observava em silêncio, imóvel sob a máscara de lobrasa.
Nenhuma resposta.
— Eu te observei. — Helick continuou, estreitando o olhar. — Notei que só consegue usar suas ilusões depois que corta o oponente.
Ananda deu um passo para trás. Helick sentiu o cheiro da hesitação. Estava perto.
— Mas ainda assim, você conseguiu usar suas ilusões em mim e em Cassian… usando a aparência de uma mulher de cabelos brancos e pele pálida. — A voz dele ficou grave. — De onde tirou essa imagem?
O silêncio de Ananda foi a confirmação.
Foi então que Helick canalizou sua mana e mergulhou na mente dela. O mundo ao seu redor se desfez como tinta diluída na água, dando lugar a um vasto plano mental banhado por uma penumbra onírica. Seu corpo se distorceu numa metamorfose lírica: braços e pernas cedendo lugar a patas, dentes alongando-se em presas, e seus olhos assumindo o brilho frio de um predador em caça. À sua frente, vinhas e caules espinhosos se erguiam, entrelaçando-se até formar uma muralha viva, pulsante, que respirava como se tivesse vontade própria.
Seu nariz alongou-se em um focinho afiado e sensível, mas o cheiro que alcançou suas narinas fez Helick franzir o semblante lupino, havia algo errado ali. Não era um odor natural. Não vinha dela.
A defesa era artificial, uma construção mágica, forjada por outra pessoa para proteger a mente de Ananda.
Com suas patas lupinas, ele avançou entre os espinhos até se deparar com uma segunda barreira: uma máscara gigante, metade sorridente, metade triste, feita de um material que lembrava concreto. Aquela era a verdadeira muralha mental de Ananda.
Helick não a atacou de imediato. Sabia que, se o fizesse, ela desviaria seus pensamentos. Em vez disso, começou a escalar a máscara, suas garras cravando-se firme na superfície.
Quando alcançou o topo, a mente de Ananda se abriu diante dele como um livro. Pensamentos sussurravam ao seu redor, audíveis aos ouvidos do lobo.
“Eu apenas entrei na cabeça de vocês dois e encontrei a imagem de uma mulher escondida nas lembranças. Achei que seria o bastante para desviar o foco de quem eu realmente era.”
— De quem você realmente era? — Helick perguntou, de volta ao mundo físico.
Foi então que Ananda percebeu.
Ele estava dentro da mente dela.
— Mas como?! — ela exclamou, sua voz ecoando tanto no mundo físico quanto no mental. — Como passou pela defesa que Blando colocou na minha mente sem ser percebido? Nem a Coroa de Edgar conseguiu fazer isso!
Helick não respondeu. Em vez disso, avançou outra vez, sua espada descrevendo arcos precisos e velozes contra a mascarada.
Ananda se esforçava para acompanhar o ritmo, mas sem poder recorrer às ilusões, sua vantagem se esvaía. Cada golpe de Helick era mais pesado, mais agressivo, forçando-a para trás passo a passo.
Por fim, um corte diagonal cruzou o ar e a fez perder o equilíbrio. Antes que pudesse se recompor, Helick lançou o corpo contra o dela, imobilizando-a contra o chão gelado da arena.
— Então é isso… — ele rosnou, fitando-a de perto. — Se queria esconder quem realmente é… quer dizer que é alguém conhecido.
Ao terminar a fala, o príncipe mais novo de Lyberion voltou a mergulhar na mente da mascarada.
No mundo mental, as vinhas de rosas que guardavam a verdadeira muralha de Ananda se ergueram como serpentes, tentando conter o lobo em que Helick se transformara naquela dimensão.
Com um uivo gélido, ele fez o ar congelar. Os espinhos se tornaram cristais de gelo, quebrando-se em estilhaços.
“Ora, ora… o filho mais novo de Aquiles realmente é habilidoso, como ouvi dizer.”
A voz ecoou na mente de Helick, densa e grave.
Ele a reconheceu de imediato, era a mesma voz que ouvira quando a mascarada ascendeu na Arena dos Corajosos, a voz que impedira a Imperatriz de Ossuia de dissecar a mente dela.
Era Blando.
Um vulto surgiu, envolto por sombras espessas, um corpo quase amorfo coberto por uma aura negra. Apenas um olho branco, leitoso e vibrante, brilhava no meio da escuridão.
“Você… Blando.” — Helick rosnou, sua voz reverberando como a de uma fera. — Foi você quem a enviou para nos atacar em Lyberion?!
“Informação tem seu preço, príncipe. Apenas saia dessa mente. Não permitirei que veja nada além daqui.”
Helick queria responder, exigir respostas. Mas algo não fazia sentido: como Blando conseguia proteger a mente de Ananda a tanta distância?
Era impossível, a menos que…
Antes que pudesse formular o pensamento, o mundo mental começou a ruir. As vinhas se reagruparam em milhares de espinhos, fechando-se sobre a muralha de concreto em forma de máscara meio alegre, meio triste.
Helick teve apenas um último vislumbre: rosas, espinhos, e a sensação de que já havia visto aquilo antes, aquele mesmo padrão de mana.
Então, foi expulso da mente dela.
De volta ao mundo físico, respirava ofegante, as mãos ainda firmes sobre a mascarada.
— Se não posso ver o que você planeja… — ele disse, a voz carregada de raiva e frustração. — Pelo menos posso descobrir quem você é.
Sua mão se ergueu, aproximando-se lentamente da máscara de Ananda, prestes a removê-la.

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