Capítulo 2352 - Santuário da Verdade
Ao anoitecer, abandonaram o vulcão recém-formado e seguiram para o oeste. E pela manhã, o vulcão já não existia mais, conquistado pelo Gigante Mecânico e transformado em uma montanha coberta de neve.
Sunny lamentou em silêncio a destruição de mais uma mansão que ele havia construído. ‘Qual é o sentido? Ah, já sinto falta do meu sofá estranhamente duro, mas excessivamente macio…’
Ele não sentia falta de nenhuma Memória mais do que sentia falta da Cadeira das Sombras.
Agora que haviam se movido mais um quadrado para oeste, a Grande Árvore finalmente desapareceu de vista. Isso foi um alívio para Sunny, que não precisava mais sentir o olhar do Diabo da Neve… mas, ao mesmo tempo, o deixou tenso, pois não tinham como saber o que o Diabo estava fazendo agora.
Mas isso não foi nada comparado ao fato de que finalmente viram o Santuário da Verdade. Bem, Kai o viu… possivelmente a Caçadora também. Sunny se sentiu simplesmente reconfortado pela ideia de que ele estava lá. Ele conseguia avistar oito picos ao redor do quadrado atual. O Santuário ficava a dois movimentos de distância, diagonalmente a noroeste da posição deles.
Na diagonal sudoeste, entretanto, similarmente a dois movimentos de distância do Santuário…
“Você tem certeza?”
Kai assentiu severamente.
“Sim. Deve ser o Demônio da Neve.” 1
Sunny franziu a testa. O Demônio da Neve parecia ter abandonado o canto do tabuleiro, avançando uma casa. Isso fazia pouco sentido, considerando que ele já poderia ter chegado ao Santuário da Verdade… A menos que o Tirano da Neve quisesse usar o Santuário como isca para capturar Sunny e suas Bestas das Cinzas, sem ter para onde recuar. Se esse fosse o plano, o Demônio2 da Neve os deixaria passar educadamente em vez de interceptá-los pela manhã.
Sunny suspirou.
“Então, como é?”
Kai hesitou por um momento.
“Bem, não tenho certeza.”
Sunny levantou uma sobrancelha.
‘”omo assim? Você não tem o olho que tudo vê?”
Kai sorriu fracamente.
“Não… Eu apenas tenho o olho que mais enxerga.”
Ele riu baixinho e acrescentou em tom neutro:
“Lembra que você mencionou espectros assustadores feitos de neve?”
Sunny lembrava vagamente de ter sugerido algo assim quando eles encontraram o Diabo3 da Neve pela primeira vez.
“Não me diga.”
Kai assentiu.
“De fato. O Demônio da Neve é um espectro assustador feito de neve. Há uma nevasca assolando as montanhas, e algo está escondido nela. Mas não tenho certeza do que é. Honestamente, só notei sua presença porque as correntes de neve parecem sobrenaturais, como se estivessem evitando algo… ou alguém.”
Sunny suspirou. “Minha língua maldita. Por que eu não poderia ter sugerido espectros bonitos feitos de neve em vez de assustadores? Ou melhor ainda, espectros assustadores feitos de comida deliciosa. Isso também seria ótimo.”
Kai coçou a cabeça.
“Espectros podem ser feitos de comida? Eu pensei que espectros fossem intangíveis.”
Sunny fez uma careta.
“Você tem razão.”
Ele demorou um momento e então acrescentou em tom descontente:
“Já mencionei que odeio espectros? Uma vez, passei alguns milhares de anos com um espectro preso na cabeça. Tinha sua utilidade, claro, mas pelos deuses mortos! Ter um espectro na cabeça é tão detestável. Eu não recomendo.”
Kai olhou para ele em silêncio por um tempo. Por fim, ele perguntou em tom calmo:
“Quem você odeia mais, espectros ou pássaros?”
Sunny piscou algumas vezes.
‘Que pergunta interessante.’
Ele refletiu sobre a resposta e então balançou a cabeça decisivamente.
“Os pássaros são ainda piores. Com certeza.”
Com isso, ele saiu em busca de um lugar para descansar.
Sunny estava brincando, mas a fome estava se manifestando. Era apenas uma dependência psicológica, é claro, já que ele conseguia se manter apenas com sua essência… Kai também estava longe de ser enfraquecido pela falta de comida. Santos podiam ficar sem sustento por um longo tempo. Mas tudo era relativo, é claro.
Se fosse Effie quem Sunny levasse consigo nessa jornada, por exemplo, ela já estaria morta ou morrendo de fome, por causa do seu Defeito. A percepção de que ele poderia ter levado um de seus amigos à morte, e que só por pura sorte ele havia sido poupado dessa culpa, deixou Sunny… enfurecido.
Fazia muito, muito tempo que ele não se sentia tão impotente. Não era uma sensação nada boa, mas a verdade era óbvia e implacável. Não importava o quanto Sunny tivesse crescido, e não importava o quão bem ele se preparasse, ele ainda não era nada diante de seres como o Demônio do Pavor. As leis de um reino em miniatura que Ariel criara para usar como brinquedo eram suficientes para tornar todo o poder de Sunny sem sentido.
‘Vou jogar esse maldito tabuleiro no Céu Abaixo depois que sairmos daqui.’
… Mas é claro que ele não faria isso. O Jogo de Ariel era precioso demais.
Uma vez livre das abominações assustadoras deixadas por Ariel e Weaver, o local poderia ser povoado por monstros muito mais fáceis de controlar. Posteriormente, poderia ser usado como ferramenta de treinamento para os Satos que aspiravam a se tornar Soberanos, ou mesmo para os Supremos que haviam ascendido ao seu posto recentemente.
Afinal, embora o Domínio das Cinzas fosse um rebaixamento para Sunny, a experiência de governá-lo poderia ser preciosa para outra pessoa.
Ele suspirou e continuou com seus afazeres. De manhã, o Demônio da Neve permaneceu onde estava, indicando que a suspeita de Sunny era verdadeira: o Tirano da Neve estava deixando a estrada para o Santuário da Verdade aberta, com a intenção de cercá-los completamente ali.
Mas Sunny não se importou. Aliás, era exatamente isso que ele queria que acontecesse.
Eles avançaram mais um quadrado para oeste à noite, alcançando a coluna de quadrados mais a oeste. Ao amanhecer, o Demônio da Neve permaneceu no mesmo lugar, enquanto o Gigante Mecânico conquistou novamente o vulcão que eles tinham acabado de deixar.
‘Dois.’
Ao chegarem ao Santuário, tanto o Demônio da Neve quanto a Besta da Neve fariam um movimento para o norte, cercando Sunny e seus companheiros pelo sul e leste. Isso deixaria apenas um inimigo para fechar o bloqueio pelo norte — e então, os três poderiam atacar o Santuário juntos.
Sunny não sabia quem seria o inimigo, mas iria descobrir em breve. Finalmente, no sexto pôr do sol no Jogo de Ariel, eles chegaram ao Santuário da Verdade. Ao pisar na encosta da montanha solitária, Sunny sabia que era ali que as batalhas decisivas deste Jogo da Morte seriam travadas.
Ele suspirou profundamente.
“O jogo começou, eu acho.”
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