Índice de Capítulo

    Dois a três capítulos novos toda semana!

    Siga nosso Discord para ver as artes oficiais dos personagens e o mapa do continente!

    O grupo caminhou por longos minutos sobre o solo seco e quente. O suor escorria de todos, menos Tály, cuja armadura parecia drenar o calor do ar. Cassian também não parecia tão incomodado, a sua mana quente o havia tornado mais tolerante ao calor, mas ainda assim achava aquele ambiente insuportável.

    — Difícil ter alguém da Cidade de Ferro aqui — resmungou o príncipe herdeiro. — Quem ficaria uma hora inteira nesse forno?

    Morgan não respondeu. Mantinha os olhos atentos, observando cada rocha avermelhada nua como se esperasse um ataque a qualquer instante.

    De repente, ergueu a mão para que todos parassem.

    Um brilho azulado envolveu o ARGUEM em seu punho direito. Ele golpeou direito, e um feixe azul rasgou a distância até uma das rochas. A explosão levantou fumaça e fragmentos. Quando o pó assentou… nada.

    — Que foi isso agora? Paranoia? — Cassian falou soltando um riso curto.

    — O homem que a imperatriz pediu para eu enfrentar adora lugares de temperatura extrema assim. Como ele não apareceu antes na arena de gelo… com certeza ele deve estar nessa arena. — Morgan respondeu exalando devagar.

    Tály, surpresa por ver Morgan preocupado com um oponente, aproximou-se até os ombros de suas armaduras se tocarem.

    — Relaxa, Morg. Se precisar, a gente luta junto. Vamos todos seguir a partir de agora.

    Cassian travou.

    “Morg?”

    “Morg?!”

    Morgan, alheio ao surto silencioso do príncipe, respondeu se aproximando um pouco mais da soldado:

    — A intenção é boa, Tály, mas cada um precisa vencer seu próprio adversário. É o que minha imperatriz espera de nós.

    “Morg?! Que porra de intimidade é essa?” — Cassian pensava, seu rosto ficando vermelho e não por causa do calor da arena. “Tudo bem que ela me rejeitou da última vez que conversamos, mesmo eu tendo contado toda a verdade do que aconteceu, mas, calma aí, ela já está assim com esse cara em tão pouco tempo?!”

    Uma mão fria pousou em seu ombro.

    Helick, emanando uma aura gelada da espada recém-sacada, olhou para ele como quem pedia para que ele se acalmasse.

    — Foca na caminhada, Cass.

    Cassian respirou e assentiu passando a ignorar Morgan e Tály pelo resto do trajeto.

    O grupo avançou por quase vinte minutos. Metade da arena já tinha ficado para trás… e ninguém havia aparecido.

    — Acho que o calor afugentou os desafiados — Redgar comentou com Marco. — E os desafiantes também. Não vejo ninguém além de nós que avançou.

    Marco não respondeu. Algo na mana dali estava errado. Forte demais, pulsando demais. Talvez fosse apenas a magia que mantinha aquela temperatura absurda… talvez não.

    — Devíamos correr logo pra próxima arena — sugeriu Cassian.

    Morgan balançou a cabeça.

    — Se nos exaurirmos agora e surgir alguém depois, seremos facilmente derrotados. E ainda temos a terceira e a quarta arena. Sem pressa.

    Cassian fechou a boca, derrotado pelo argumento.

    Mas foi só ele tocar no assunto para um tumulto surgir atrás deles, ainda distante, como uma onda de passos desordenados ecoando por toda a arena.

    Os sobreviventes da arena de gelo avançavam em disparada. À frente, liderando como um general, estava um rosto familiar: Isaac, o ossuiano do discurso inspirador antes da corrida de ascensão. Ele vinha correndo com determinação feroz no olhar, e todos os desafiantes restantes o seguiam como se fossem uma só tropa.

    Ao avistarem o grupo dos príncpes, vários sacaram espadas, escudos, lanças e até dispositivos tecnológicos improvisados como armas.

    — Esperem! — Isaac ergueu a mão e parou diante de Morgan, que já havia dado um passo à frente. — IronFist? — saudou, reverente. — Uma honra dividir esta batalha com você… e uma sorte não sermos adversários.

    — Meus cumprimentos a você também. Isaac, certo? — Morgan respondeu.

    — Isso mesmo — ele sorriu, radiante. — É uma honra ouvir meu nome de sua boca. Seria mais honroso ainda… se se juntasse a nós para avançarmos juntos.

    Isaac apertou o grimório de capa prateada metálica contra o peito. E, apesar do calor absurdo da arena, uma mecha de seu cabelo escuro ainda carregava um resquício de geada.

    Morgan percebeu. Demorou um segundo antes de falar:

    — Suponho que você que enfrentou Brouno na arena de gelo. — Morgan respondeu por fim, seu tom neutro. — Me pergunto como um soldado de estilo buffer como você conseguiu enfrentar aquele monstro e sair vivo.

    A empolgação dos ossuianos murchou por um instante.

    Um dos homens atrás de Isaac avançou, o peitoral nu estufado.

    — Ele sobreviveu porque ficou e lutou junto de todos nós! — Gusto’o rugiu. — Isaac nos elevou ao máximo com o ARGUEM dele, permitiu que derrotássemos qualquer um que tentasse nos parar! Ele é um líder nato, não um cachorro bem-mandado que faz tudo que a dona manda.

    Morgan ergueu uma sobrancelha, um sorriso inclinado surgindo.

    — Como é?…

    Uma aura esmagadora irrompeu acima de Gusto’o. Seus joelhos bateram no chão como se o corpo tivesse dobrado por conta própria.

    — Hey, hey! Vamos nos acalmar! — Isaac se colocou entre os dois. — Peço desculpas pelas palavras de Gusto’o. O calor… a tensão… essas arenas mexem com a cabeça de qualquer um.

    Morgan suspirou devagar e soltou o fluxo de mana. Gusto’o arfou fundo e se pôs de pé imediatamente.

    Cassian e os outros observavam em silêncio. O herdeiro de Lyberion apertava os punhos; o incômodo queimava mais do que o calor da arena. Parecia que todos ali só enxergavam Morgan, como se de repente ele fosse a única figura de importância.

    — Então quer dizer que esse lugar estava vazio porque todos os desafiantes remanescentes estavam seguindo você? — Cassian finalmente interveio.

    Isaac o cumprimentou com uma reverência respeitosa.

    — Como posso ter deixado de notar os príncipes de Lyberion entre nós? — Disse o ossuianos com mais uma reverência, sua educação e simpatia, embora exageradas para o ambiente, não soava como algo forçado ou irônico. — Com todos reunidos, não tem como perdermos para nin—

    — Pode cortar essa. — Morgan o interrompeu, seco. — Não vamos nos aliar a você ou a ninguém. Até mesmo entre nosso grupo, cada um enfrentará seus adversários sozinho. É assim que se honra o que a imperatriz nos confiou. É assim que mostramos o que Ossuia parece ter esquecido.

    Gusto’o avançou de novo, inflado, como se não suportasse aquele modo de pensar.

    — Vê se acorda! — Gusto’o cuspiu. — Esses tipos de pensamentos são ultrapassados e ninguém mais nessa merda de império quer seguir essa busca inalcançável por poder! O que todos queremos é subir cada muralha para termos mais status e regalias. Muitos ficam na Muralha Externa sem nunca nem tentar subir pois sabem que a vida lá, por mais pacata e simples, é a mais tranquilo e estável de Ossuia. Os corajosos já têm uma condição tecnológica e recursos superiores e se você for minimamente acima da média com um ARGUEM ou ARGENTEC, nesse reino esquecido pela magia, você já consegue certo grau de estabilidade. E o alvo final, a Cidade de Ferro, é o ponto mais cobiçado por ter tudo de mais avançado em tecnologia e onde se tem a vida mais confortável que beira ao luxo nessas muralhas.

    O desabafo que Gusto’o havia esbravejado parecia ter sido o reflexo do pensamento geral dos ossuianos dessa geração.

    Ele sentia como se tivesse tirado um peso do peito, contado todas as suas frustações e as das pessoas que seguiam essa mesma linha de raciocínio, mas tudo que ouviu em resposta foi uma gargalhada sincera de Morgan.

    — Você tá falando sério? — Morgan respondeu entre uma risada alta, passando os dedos nos olhos como se estivesse prestes a chorar de tanto rir. — Você disse que a Cidade de Ferro é o último alvo? — Mais risadas ecoaram. — Você é tão medíocre que nem mesmo considera a chance de ascender a Cidade Central? Não, não, é claro que não. — Ele então recuperou a postura, a voz endurecendo. — Esse tipo de glória não pode sequer ser imaginado por alguém do seu nível..

    — O quê?! — Gusto’o rosnou, incrédulo.

    Morgan o ignorou. Deu um passo à frente, ergueu o queixo e projetou a voz para todos:

    — Ouçam bem, ossuianos! — ele vociferou, olhando cada sobrevivente nos olhos, até mesmo para os horizontes ao longe onde as arquibancadas dos telespectadores se encontravam. Ele sabia quem sua voz chegaria graças aos amplificadores mágicos da arena. — Tenho uma pergunta para vocês! Por que Ossuia existe? Por que Edgar se separou de seu irmão Edmon há mil anos? Por que o primogênito de Helisyx abandonou a cidade do próprio pai para erguer essas muralhas?!

    O silêncio tomou a face de todos.

    — Porque ele queria que estivéssemos preparados para a guerra que um dia bateria à nossa porta! — Morgan continuou, a voz vibrando pelo calor da arena. — E hoje… ela bate. Dragnaros estão ancorados perto do Mar de Monstros. Vocês sabem muito bem o que um único deles fez em Lyberion. Imaginem um exército inteiro marchando para destruir nosso continente… nossas casas… nossos amigos e famílias.

    Ninguém conseguia sequer respirar em meio aquelas palavras.

    — E isso sem contar os malditos elfos — ele cuspiu a palavra. — Que ainda não deram as caras. E todos aqui sabem que eles são ainda mais poderosos que os dragnaros.

    Morgan abriu os braços, como quem revela uma verdade ancestral:

    — É por isso que buscamos poder. Não para regalias. Não para conforto. Não para subir muralhas por vaidade. — Seu olhar faiscou. — Mas para esmagar cada lagarto maldito e cada elfo de orelha pontuda que ousar sequer sonhar em tirar nossa liberdade mais uma vez.

    Ele ergueu o punho cerrado.

    — Esse é o verdadeiro significado de glória para Ossuia!

    As palavras de Morgan ainda ecoavam quando um som profundo, como se a própria terra estivesse rosnando, vibrou sob seus pés.

    Primeiro foi apenas um tremor leve… depois o chão inteiro pulsou, como uma artéria sendo pressionada.

    — …o que foi isso? — Cassian murmurou, estreitando os olhos e olhando para trás.

    O ruído cresceu. Um estalo seco cortou a arena.

    Outro.

    E então dezenas, até que virou um rugido ensurdecedor, fazendo as rochas tremerem e a poeira vibrar no ar.

    Do topo do vulcão, uma fenda vermelha se abriu, iluminando a arena inteira com um brilho incandescente.

    Num único estrondo brutal, uma torre de lava viva jorrou para o céu, espalhando fragmentos incandescentes por toda parte como uma chuva de morte. O calor se tornou sufocante, cruel, absoluto.

    — CORRAM! — alguém berrou.

    A lava começou a descer pelas encostas em ondas violentas, famintas, avançando direto para eles.

    E então, bem no meio da erupção, uma sombra emergiu de dentro do fogo.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota