Índice de Capítulo

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    A sala de preparação estava cheia de vozes abafadas e olhares tensos. O som das poucas pessoas que faltavam para se provar reverberava pelas paredes de pedra, mas nada chamava mais atenção do que o que se via pelas grandes grades de ferro fincadas na parede lateral.

    Através delas, era possível observar a arena — agora um campo mutilado de terra e pedra — ainda ressoando com o eco da técnica devastadora que acabara de ser conjurada.

    Helick e Cassian estavam de pé, ombro a ombro, observando em silêncio o espaço devastado onde Marco havia terminado sua luta. A poeira ainda não havia baixado completamente, e o público lá fora rugia em êxtase.

    Cassian foi o primeiro a quebrar o silêncio, com a voz carregada de espanto:

    — Desde quando o Marco é tão… poderoso?

    Era uma pergunta justa. Durante toda a longa jornada até ali, Marco raramente teve a chance de brilhar. Sua habilidade peculiar, tão dependente do estilo de seus inimigos, não encontrava espaço contra feras irracionais, sombras deformadas ou monstros onde não havia técnica, apenas brutalidade.

    Mas foi Any que respondeu com um tom ponderado, sem desviar o olhar da arena:

    — Desde sempre. Só não tivemos a chance de ver. O estilo do Marco depende do que ele enfrenta… Ele não copia apenas por copiar. Quando sua mana entende uma técnica, ele a faz dele.

    — E uma vez que isso acontece, ele pode usá-la quando quiser. Pra sempre — finalizou Tály.

    — Como se cada batalha o deixasse mais poderoso que antes — completou Cassian, entendendo.

    Foi então que Rhyssara se aproximou dos demais, também observando por entre as grades. Seus olhos azuis estavam fixos na imagem de Marco pairando no céu, como se ele mesmo fosse parte da tempestade que havia invocado.

    — Ele não é apenas poderoso — disse ela, com a voz firme, porém reflexiva. — Ele é ilimitado.

    Os dois príncipes voltaram seus olhares para ela.

    — Marco ainda está crescendo. Ainda não entende por completo o alcance de seu próprio poder. Mas quando entender… quando dominar todas as essências que absorver… — Ela fez uma breve pausa, seus olhos brilhando com convicção. — Lyberion terá um dos maiores guerreiros da história.

    Na arena, Marco se aproximou de Stronger, que jazia caído entre os escombros. Os olhos do guerreiro, marcados pelo ego ferido, estavam fixos no céu cinzento, onde nuvens começavam a se formar, anunciando a chegada da tarde.

    — Você é forte — disse Marco, com um leve sorriso no rosto e as mãos relaxadas passando em seus cabelos loiros. — Mas havia algo reprimindo sua mana. Seria… insegurança?

    Stronger virou lentamente a cabeça. Seus olhos verdes encontraram os de mesma cor de Marco, e por um instante pareciam prestes a se encher d’água.

    — Eu tenho que alcançá-lo… Ross… — murmurou, como se falasse mais consigo mesmo do que com o outro. — Eu tenho que alcançá-lo!

    A determinação ainda ardia, mesmo que fraca, no olhar do homem vencido. Marco assentiu em silêncio, respeitando aquele resquício de vontade. Então se ergueu, virou-se e caminhou em direção ao portão de ferro que levava à almejada Cidade dos Corajosos.

    Soldados adentraram às pressas a arena para retirar Stronger e liberar o espaço para o próximo combate. A movimentação era rápida, ensaiada. Acima da arena, o público estava em frenesi.

    — HOJE ESTÁ SENDO UM DOS MELHORES DIAS DESTA ARENA! — anunciou Hermes, sua voz ecoando poderosa pelos alto-falantes espalhados na arena, vibrando contra as paredes de pedra.

    Gritos, palmas e assobios preencheram o coliseu. Milhares de pessoas pulsavam de excitação, formando uma massa viva de vozes exaltadas.

    — E PARA A PRÓXIMA LUTA TEREMOS MAIS UM FORASTEIRO! QUE DIA, SENHORAS E SENHORES! — Hermes gargalhava, alimentado pela energia da multidão. — DOIS COMBATES ENVOLVENDO OS LYBERIANOS CONTRA ASCENDIDOS DA CIDADE DOS CORAJOSOS… E NAS DUAS LUTAS ELES SAÍRAM VENCEDORES!

    Vaias explodiram nas arquibancadas. Polegares para baixo se erguiam como flechas acusatórias. O orgulho local estava ferido, e o público não escondia isso.

    — DESSA VEZ, VEREMOS UM CONFRONTO DE LADYS… — Hermes deixou a voz escorrer com um exagerado tom meloso. — A DEFENSORA DA CIDADE DOS CORAJOSOS SERÁ… JOAN BLINDBLADE!

    Um silêncio estranho pairou por uma fração de segundo, como se a multidão precisasse confirmar o nome que ouvira. E então vieram os cochichos. Murmúrios surgiram aqui e ali, como faíscas que logo viraram incêndio.

    — Não… não é ela, é?

    — É ela sim! Olha a faixa nos olhos! É a BlindBlade!

    — Você tá de brincadeira… Ela tem sobrenome? Quer dizer que ela é forte!

    — Forte? Você não sabe de nada! Essa mulher foi uma das principais aloadas do Imperador RedPunch! O Pilar da Justiça do conselho!

    — Então o que ela tá fazendo aqui?

    — Dizem que foi expulsa pela atual imperatriz…

    — Expulsa? E não morta?

    — É isso que ninguém entende! Rhyssara nunca deixa lealdade antiga viva. Por que poupá-la?

    — Vai ver foi um acordo… Ou talvez Rhyssara sabia que não podia vencê-la…

    — Impossível! Se Joan pudesse vencer Rhyssara ela já teria a desafiado pela coroa!

    — Veremos em combate o que essa tal de Joan é capaz.

    A entrada da mulher de pele branca e enrugada só inflamava as teorias. Joan caminhava com passos firmes, como se pudesse sentir o terreno com a própria alma. Usava um longo sobretudo branco, e faixas apertadas adornavam seus braços fortes. Seu cabelo prateado descia até a cintura, balançando junto ao vento frio que serpenteava pela arena. A espada em suas mãos era branca como ossos antigos, com uma guarda adornada por penas de mesma cor.

    E ela era cega. Uma faixa de tecido pálido cobria seus olhos com um ar solene — ou trágico.

    — E PARA ENFRENTÁ-LA, TÁLY! — bradou Hermes, reenergizando a arena.

    Na sala de preparação, Tály vibrava como se fosse ela a estrela de todo o espetáculo.

    — É isso aí! — gritou, batendo uma manopla na outra. — Vejo vocês na cidade!

    Ela se apressou para a saída, mas uma figura se colocou em seu caminho.

    Rhyssara.

    — Preciso te alertar — disse a imperatriz, sua expressão séria. — Você pegou, talvez, a pessoa mais poderosa da Cidade dos Corajosos.

    Any, que observava à distância, ergueu uma sobrancelha.

    — Impossível. Eu pedi pra enfrentar a mais forte!

    — E o soldado te perguntou se você queria quem está no topo da muralha. Joan não luta mais. Não almeja ascensão. Por isso está mal ranqueada… não porque seja fraca, mas porque não possui a vontade de Edgar pulsando dentro de si.

    O semblante de Tály mudou, o entusiasmo murchando como um balão furado.

    — Como assim? Eu vou lutar contra alguém que nem quer trocar socos? Que desânimo…

    Ela desviou o olhar para a arena e notou a faixa nos olhos da oponente.

    — Espera… ela é cega?

    A empolgação se desfez num suspiro longo.

    — SERÁ QUE MINHA VOZ FALHOU? — provocou Hermes, rindo. — EU DISSE QUE A DESAFIANTE É TÁLY!

    — Vá — disse Rhyssara, com um leve toque de preocupação na voz. — Mas tome cuidado.

    Tály respirou fundo, ergueu o queixo e voltou a estampar seu sorriso confiante.

    — Tá bom então… uma cega aposentada. Isso vai ser estranho — murmurou, ajeitando as manoplas enquanto se lançava em direção à arena.

    E assim, sob o clamor da multidão e os olhos atentos de milhares de vozes, a próxima batalha estava prestes a começar.

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