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Capítulo 112 – Artesão de Gelo
— SENHORAS E SENHORES! — bradou Hermes, sua voz ecoando por cada arquibancada como um trovão alegre — O PRÍNCIPE MAIS JOVEM DA FAMÍLIA REAL DE LYBERION NOS PRESENTEIA COM UM ESPETÁCULO DE SOBREVIVÊNCIA, TÉCNICA E INSTINTO! NÃO SE ENGANEM! ESTE É APENAS UM GOSTO DO PODER DOS NOSSOS FUTUROS ALIADOS EM BATALHA NA GUERRA QUE SE APROXIMA!
O público vibrou, tomado por uma onda de euforia. Mesmo aqueles que, momentos antes, duvidavam do valor do príncipe, agora estavam em pé, boquiabertos, acompanhando cada passo da dança mortal entre o gelo e o fogo.
De dentro da sala de preparação, Cassian observava a luta com os braços cruzados, o semblante animado e os olhos atentos.
— É isso aí… ele tá indo bem. Como esperado daquele nerd por ARGUEMs — comentou. — Mas se ele quiser mesmo passar por esse cabeça de vento, vai ter que fazer bem mais do que isso. Talvez se ele se deixar tomar pela mana como eu…
Any arqueou uma sobrancelha, os olhos negros como breu fixos em Helick. Rhyssara, ao lado deles, permaneceu em silêncio por um breve momento, até que respondeu com sua voz firme, porém serena:
— A diferença entre vocês dois é evidente. Cassian, sua mana é selvagem. Indomável. Ela grita para ser libertada, queimar tudo em seu caminho. Já a de Helick… é como a superfície calma de um lago congelado. Seria difícil imaginar que vocês são irmãos, se eu me guiasse apenas pela natureza da mana.
Any, sempre direta, questionou:
— E o que falta pra ele atingir o próximo nível? Tipo o que aconteceu com o Cassian nas Montanhas de Patrock?
Rhyssara voltou-se para ela, mas respondeu olhando diretamente para Cassian:
— Faltam muitas coisas. Mas a mais importante delas é o entendimento. — Ela franziu ligeiramente o cenho. — Você, Cassian, deixou sua mana correr livre, descontrolada, quase foi dominado por ela. A vitória foi sua, sim, mas não por domínio — por impulso. Por sorte. Você só se permitiu isso porque não havia ninguém ao redor que pudesse morrer com sua falha.
Cassian apertou o maxilar, mas não respondeu. Rhyssara continuou:
— Helick está tentando algo mais complexo. Ele quer comandar sua mana como um artesão molda o ferro na fornalha. Só que no caso dele, não é ferro… é gelo. E a fornalha está dentro da mente.
Any cruzou os braços, pensativa.
— Então ele precisa aprender a esculpir em meio ao caos.
— Exato — concordou Rhyssara.
E então o foco da cena retorna à arena repleta de ar condessado em vapor.
Helick deslizou por uma curva afiada de gelo criada por ele mesmo, a expressão focada, os olhos cravados em Brann, que ainda arfava entre gargalhadas ensandecidas. O calor do bárbaro parecia tornar-se mais agressivo quanto mais tempo passava, mas o príncipe agora estava em sincronia com a própria respiração, sua espada envolvendo-se em cristais vivos a cada golpe.
Ainda não era domínio total.
Mas já era uma arte em formação.
Acostumado ao ritmo da batalha, Helick já não era o mesmo de minutos atrás. Seus olhos, antes inseguros, agora refletiam a precisão de um artesão diante de sua obra. Cada movimento seu possuía intenção. Cada pensamento se organizava em torno da vontade pura de moldar.
Sua lâmina, antes apenas uma extensão de sua mão, agora vibrava com mana gélida pulsante.
Brann bufou uma risada ao vê-lo repetir o gesto, cobrindo a espada com gelo mais uma vez.
— De novo, garotinho? Vai tentar a mesma coisa pela terceira vez? — zombou, escancarando os dentes em uma gargalhada tribal. — Achei que a realeza fosse mais criativa!
Mas Helick não respondeu. Não havia lugar para provocações em sua mente. Só havia forma. Estrutura. Fluxo.
Sua mana se movia como fios entrelaçados em sua mente — não para formar gelo bruto… mas para criar algo com propósito.
Helick permanecia parado, a lâmina baixa, a respiração serena.
Brann o encarava de longe, com um sorriso torto e os músculos pulsando de energia selvagem.
— Vai ficar aí parado, garotinho? Desistiu?
Mas Helick não respondeu.
Seus olhos estavam fixos no chão à sua frente, e seus dedos, trêmulos não de medo, mas de sintonia, desenhavam comandos invisíveis no ar. Sua mana corria como um rio sob controle absoluto. Não mais como uma força bruta, mas como um animal adestrado, selvagem apenas quando necessário.
Um símbolo azul-claro irrompeu do solo sob seus pés — um círculo mágico brilhante, cravado com runas gélidas que giravam lentamente, como olhos de uma criatura ancestral.
A voz do príncipe ecoou firme, com poder:
— Magia de Gelo: Correntes do Lobo Branco!
Brann arqueou uma sobrancelha, pronto para desdenhar, mas parou antes mesmo de abrir a boca.
Do círculo mágico, com um rugido abafado e um estalo seco, surgiram correntes de gelo translúcido e reluzente. Elas serpenteavam pelo chão com velocidade sobrenatural, avançando em direção ao bárbaro como predadores famintos.
Cada uma de suas pontas carregava a forma esculpida de cabeças de lobos brancos, com os olhos fendados em luz azul e as presas abertas, prontas para rasgar, prender e arrastar.
— Mas que…!?
Brann ergueu os machados, mas era tarde.
As correntes estalaram e se enroscaram ao redor de seus tornozelos, pulsos e tórax, se entrelaçando e puxando com força. Seus músculos se contraíram. Ele gritou, tentando resistir, mas a pressão era absurda. Um segundo depois, estava completamente imobilizado — braços abertos como se crucificado em pé, o tronco curvado à força, os pés presos ao chão como se fossem raízes.
— MALDITO! — rugiu, cuspindo no chão, lutando contra as amarras. — ACHA QUE ISSO VAI ME SEGURAR?
Mas Helick não escutava.
Seus olhos estavam vidrados. Sua mente… diferente. Estava em transe.
Pela primeira vez, sua mana lhe respondia antes mesmo do comando ser dado. Como se ela própria lhe oferecesse ideias. Como se ela mesma sussurrasse:
“Basta ordenar… e esmagarei cada membro dele. Arrancarei seus braços como galhos secos. Ele não sentirá nada além do frio antes de ser dilacerado.”
Helick sentiu a ordem se formar no fundo da garganta. Sentiu o desejo da mana. O instinto de matar.
Mas também sentiu outra coisa: sua escolha.
Brann não precisava morrer. Não ali. Não agora.
Ele hesitou.
Foi o bastante.
O gelo que compunha as correntes começou a chiar. Pequenos vapores surgiram nos pontos de contato. Rachaduras avermelhadas serpentearam pelos elos como se algo estivesse aquecendo de dentro para fora.
— Você hesitou, príncipe… — murmurou Brann com um sorriso largo e olhos ardendo.
O som aumentou. O gelo passou de sólido para líquido e, em seguida, começou a evaporar rapidamente.
E então um estrondo ressoou.
Um jato de vapor irrompeu das correntes com um estrondo ensurdecedor, rompendo os elos com violência e lançando estilhaços de gelo em todas as direções como fragmentos de uma prisão explodida.
Brann rompeu as amarras com um grito primal, erguendo os braços aos céus como se estivesse desafiando os próprios deuses.
Seu corpo estava envolto em chamas pulsantes, e os machados em suas mãos brilhavam com uma incandescência feroz — o calor emanando das runas gravadas em suas lâminas distorcia o ar ao redor.
O sorriso selvagem ainda permanecia em seu rosto, mas não conseguia esconder a verdade. Seu corpo curvado, arfando pesadamente, denunciava o preço que havia pago.
Libertar-se daquelas correntes de gelo não fora tão simples quanto queria fazer parecer — cada músculo tremia sob o esforço, cada respiração era uma batalha.
— AGORA É MINHA VEZ! — urrou, como uma fera exaurida lançando seu último grito de guerra.
Seus olhos arderam com um brilho incandescente, cegos de ira e poder.
As runas de seu ARGUEM começaram a pulsar, dilatando como se estivessem vivas, absorvendo e canalizando uma quantidade absurda de mana.
Da sala de preparação, Rhyssara deixou escapar um suspiro involuntário, uma reação rara de espanto vindo dela.
— Não pode ser… Ele também? — murmurou, seus olhos fixos no campo de batalha, incrédulos. — O que está acontecendo aqui? Isso não era visto há séculos… e agora, pela segunda vez no mesmo dia?
Cassian franziu o cenho, confuso:
— Do que você está falando?
Mas foi Any quem respondeu, o tom quase impaciente, como se a resposta fosse óbvia:
— OverSkill.
Ela encarou o campo com atenção.
— Ele vai usar uma OverSkill.
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