Capítulo 12 – Máscara
por Felipe BahiaAs pinturas nas paredes do palácio dourado. Algo que sempre esteve à vista de todos poderia conter o segredo necessário para desvendar tudo o que estava acontecendo recentemente no reino.
Helick corria pelas ruas perdido em pensamentos, tentando relembrar as pinturas que faziam parte do seu dia a dia, mas que ele nunca havia dado a devida importância. Ele corria sem prestar atenção ao caminho, guiado apenas pela urgência de descobrir a verdade.
De repente, ele parou ao perceber que estava em um beco estranho sem saída. Olhou ao redor, confuso, tentando entender como havia chegado ali. As paredes estreitas de pedra suja pareciam fechar-se ao seu redor, criando uma sensação claustrofóbica. O silêncio era opressor, quebrado apenas pelo som distante de passos e o murmúrio do vento.
O jovem príncipe não reconhecia aquela rua deserta na qual ele agora se encontrava.
De repente, seu corpo começou a ficar completamente arrepiado e, institivamente, ele pegou a adaga que estava por dentro de sua blusa azul celeste.
O beco estava envolto em sombras, as paredes de pedra sujas e cobertas de musgo. O silêncio era quebrado apenas pelo som distante de passos e o murmúrio do vento. Helick podia sentir o peso do desconhecido ao seu redor, cada sombra parecendo esconder um perigo potencial.
Seu corpo ficou completamente arrepiado e, instintivamente, ele pegou a adaga que estava por dentro de sua blusa azul celeste, sentindo o peso familiar e reconfortante da arma em sua mão.
— Olá, — falou uma voz feminina, suave e ameaçadora ao mesmo tempo. — Príncipe Helick.
Helick se virou rapidamente, os olhos arregalados. Diante dele estava uma mulher vestida com uma roupa de couro preta como a noite, uma máscara de lobo de madeira entalhada cobrindo seu rosto. A máscara era detalhada e assustadora, os olhos da mulher brilhando por trás das fendas escuras.
— Quem é você? — perguntou Helick, tentando manter a calma na voz enquanto apertava a adaga com mais força.
— Sou alguém que pode responder suas perguntas, se você estiver disposto a cooperar. — Respondeu a mulher, sua voz carregada de mistério e desafio.
Helick manteve sua postura defensiva, o coração martelando no peito. Ele sabia que estava diante de algo ou alguém perigoso, mas também que essa figura misteriosa poderia ser a chave para desvendar os segredos que ele tanto buscava.
— Quem é você? — perguntou Helick, o suor escorrendo pela testa.
O príncipe sabia que ela era a mesma mulher que tinha atacado Cassian na noite anterior.
— A joia — falou a mulher de cabelos prateados por fim. — Me dê a joia.
— Por quê? — perguntou Helick. — Por que você a quer?
— Não posso dizer meus motivos — respondeu a mulher, a voz abafada pela máscara de lobo vermelho. — A não ser que colabore.
Helick ergueu a adaga, mantendo-a entre eles, prontamente.
— Sua máscara — continuou Helick — É um lobrasa. Símbolo da família nobre Dadario de Ossuia.
— Não existem nobres em Ossuia — respondeu a mulher, sua voz carregada de mistério.
— Eu li sobre as quatro primeiras famílias nobres dos humanos. Fitzroy, Havilfort, Silva e Dadario — continuou Helick. — Cada família dessas teve um casal de fundadores que contribuíram de maneira exorbitante para a liberdade dos humanos e fundaram a primeira cidade pós guerra com Helisyx. E cada uma possuía um animal símbolo. Os Havilfort o Leonzir, os Fitzroy o Aguiowl, os Silva a Borbelha e os Dadario o Lobrasa. Os Dadario, partiram para Ossuia junto com a segunda linhagem dos Havilfort, os descendentes de Helisyx.
— Isso pode ter sido verdade a muitos séculos, mas como eu disse: não existem nobres em Ossuia — falou a mulher. — E então? Vai me entregar a jóia por bem, ou por mal?
Helick não fazia ideia do porquê Ossuia queria as jóias nas adagas que ele e o irmão possuíam. Eram presentes deixados por sua mãe antes de desaparecer, nada mais. Ao menos era o que ele pensava.
— Foram vocês ossuianos que atacaram a Fonte da Liberdade? — perguntou Helick, tentando entender.
A mulher hesitou por um momento, antes de responder.
— Já vi que será por mal — disse ela, começando a andar em direção ao príncipe.
Helick ergueu a adaga, preparando-se para o confronto iminente. Antes que pudesse agir, a mulher falou novamente, desta vez num tom mais suave.
— Entenda, príncipe Helick. Não desejo derramar sangue desnecessariamente. O que eu quero vai além da superfície do que você possa compreender agora. Mas sei que você é inteligente o suficiente para saber que este conflito não nos beneficia a nenhum dos dois.
Helick franziu o cenho, ponderando suas palavras. Ele não tinha certeza do que pensar, mas algo na expressão da mulher sugeria que havia mais por trás de sua busca pelas jóias.
— E se eu não entregar? — perguntou ele, cauteloso.
— Então serei forçada a tomar medidas mais drásticas — respondeu ela, mantendo a calma. — Mas não é minha intenção. Prefiro resolver isso pacificamente, se possível.
Helick baixou um pouco a adaga, pensativo. A mulher não parecia mentir. Ele tinha a sensação de que ela não estava ali simplesmente para causar estragos.
— Você deve entender, príncipe Helick, que há muito em jogo. Mais do que imagina — afirmou ela, os olhos âmbar por trás da máscara vermelha fixos nos dele.
Helick se viu em um impasse. Ele não queria ceder tão facilmente, mas também não podia ignorar a possibilidade de um entendimento mútuo.
— Dê-me tempo para considerar suas palavras — disse ele finalmente, abaixando completamente a adaga.
Se os ossuianos estavam por trás do ataque a fonte em um dia sagrado para os lyberianos e agora estavam atacando os príncipes do reino em busca de joias só poderia haver duas explicações lógicas: ou eles queriam guerra, mas essa opção era improvável pelo fato de não terem matado os soldados que eles trocaram de posição. Ou eles estavam agindo de forma desesperada com medo de algo.
E ossuianos eram destemidos, só havia uma coisa que eles temiam, que todos os humanos temiam… As outras raças de fora do continente.
— Infelizmente não posso te dar esse tempo.
Os pensamentos de Helick foram interrompidos quando, diante de seus olhos, a assassina desapareceu. O jovem príncipe havia estudado o bastante para saber que uma luta entre um portador de um ARGUEM e uma pessoa comum era inimaginavelmente impossível de se vencer.
A única chance de Helick era aquele arrepio estranho na qual não fazia o menor sentido de ele e Cassian terem.
O príncipe fechou os olhos. Eles não seriam úteis nessa batalha. Com uma respiração profunda Helick se pôs em posição de defesa, os braços cruzados com a adaga protegendo o peito esquerdo.
Com os olhos fechados Helick viu uma fumaça vermelha, uma intenção assassina se aproximando pela sua esquerda.
O seu corpo inteiro havia se arrepiado gritando que uma ameaça se aproximava por aquele lado. A fumaça que Helick via com os olhos fechados tomou a forma da assassina e ele pode ver exatamente como o golpe de cimitarra chegaria.
O príncipe se movimentou e levou a adaga de encontro com a cimitarra da assassina, se defendendo.
— Parece que o “sexto sentido” voltou — falou a assassina com uma voz de desdém. — Não tem problemas, afinal eu já derrotei isso antes.
Helick se lembrou de como o seu irmão havia perdido a batalha e saltou para a frente de uma parede, protegendo as costas.
O beco estava vazio, já era tarde da noite, as casas estavam fechadas e a única iluminação eram duas lamparinas que ficavam na porta de uma casa abandonada.
A mulher usou a magia de seu ARGUEM para criar vários clones de si mesma e ficou invisível junto deles.
Helick novamente fechou os olhos e se concentrou.
O príncipe conseguia sentir a presença de cada clone e da própria assassina, porém não sabia como diferencia-los.
O primeiro ataque veio, tentando atingi-lo pelo flanco esquerdo e o príncipe se defendeu, porém era só uma das ilusões.
Rapidamente Helick refez a sua guarda e interceptou outro ataque, dessa vez pela direita, porém era outro clone.
“Isso não vai acabar bem.” — Pensou o príncipe. — “Ela pode estar me cansando com as ilusões afim de me esgotar para finalizar a luta, assim como fez com Cassian.”
Helick continuou se defendendo, com os olhos fechados, apenas sentindo a magia com este dom estranho. O príncipe podia ver com o sexto sentido silhuetas vermelhas, várias delas, espalhadas a sua frente revezando ataques falsos e logo atrás ele via uma azul.
Isso intrigou o jovem príncipe e ele lembrou que certa vez leu em um livro de sua biblioteca particular que a magia carregava com sigo a essência da vontade de quem a lançou.
Então Helick percebeu que as silhuetas marcadas em vermelho representavam magia hostil, enquanto a de cor azul não o ameaçava diretamente. A silhueta azul, que aguardava atrás, estava sob uma magia de camuflagem e não atacava o príncipe, tornando-se quase imperceptível, a menos que ele se concentrasse para senti-la.
Percebendo isso o príncipe disparou, com os olhos ainda fechados, para onde aquela magia azul emanava, ignorando todas as vermelhas.
— Mas o que? — Indagou-se a assassina vendo o príncipe correndo diretamente para ela, mesmo com a magia a tornando invisível.
Helick continuou correndo na direção da sombra azul, as vermelhas o atacaram e ele simplesmente ignorou, todas eram ilusões e com um corte da adaga ele mirou no rosto da assassina.
A mulher se defendeu com a cimitarra e empurrou o príncipe para trás, cessando as ilusões.
— Eu posso te ver — disse Helick com o semblante sério enquanto abria os olhos.
— Engraçado, você fala como se isso alterasse o resultado do combate.
De fato, isso não tirava a desvantagem de Helick. Além da magia, um ARGUEM sempre aumentava os atributos básicos do usuário, como força, reflexo e agilidade.
A mulher avançou contra o príncipe mais rápido do que se esperava de um movimento normal e jogou o corpo para o lado direito, vindo com um golpe de baixo para cima contra Helick.
O príncipe se preparou e segurou a adaga firme contra o golpe da mulher. A força do impacto foi muito maior do que Helick esperava e o jogou para o lado.
Helick firmou os pés no chão para não perder o equilíbrio e, antes que pudesse se recompor totalmente, ele viu a assassina pronta pra aplicar outro golpe na lateral esquerda.
Helick girou os pés no chão e escapou por pouco de um corte nas costas, quando ao mesmo tempo golpeava a lateral exposta da mulher.
A assassina vendo o golpe chegando girou o corpo e chutou as costelas do príncipe que caiu e rolou no chão com a força do golpe.
Sem dúvidas aquela mulher possuía uma força sobre humana. Helick tossia sangue e não conseguia respirar direito.
— Se te serve de consolo — começou a mulher — você é melhor que seu irmão em combate. Então por via das dúvidas acho que vou quebrar seus braços e pernas.
— Isso não vai ser o suficiente pra eu te entregar a minha adaga — falou Helick, sem hesitar.
— Eu sei — continuou a assassina tranquilamente. — Por isso vou levar você para um lugar mais particular, no qual posso ver até que grau de dor você pode suportar, até me entregar não só a sua, mas a do seu irmão também.
— Me levar? — perguntou Helick enquanto apoiava as costas numa parede próxima se sentando. — E ter todo o reino atrás de você? Não parece uma boa jogada.
— Se eu tiver que lidar apenas com isso, para mim já está ótimo. Existem coisas bem piores do que você imagina soltas nesse mundo, e se um reino atrás de mim for a consequência para impedir que estás coisas cheguem, que assim seja.
A mulher se pós em cima de Helick e pegou o seu braço e o ergueu para quebra-lo.
Helick fechou seus olhos se preparando para a dor que viria, mas ao invés disso ele ouviu um impacto de aço se chocando contra aço.
Quando o jovem abriu os olhos novamente ele viu Tály tentando encaixar um soco com sua luva de metal no rosto da assassina que interceptou o golpe com a cimitarra.
— Finalmente! — Bradou a soldado com um sorriso largo. — Um pouco de ação!