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Capítulo 120 — Nem tudo se cura
Os olhos dos espectadores na arena pareciam não acreditar no que viam.
Eles não sabiam o que era mais repugnante e asqueroso, o fato do amontoado de carne, tecido e sangue se rearranjar até formar o rosto belo e pálido da soldado lyberiana ou seus gritos que deixavam claros que ela sentia cada fase de sua regeneração. Cada grito de dor excruciante deixava claro que ela sentia seus ossos estalando de volta até se rearranjarem em sua forma original. Ela sentia sua pele se recosturando e seus músculos se ajustarem a medida que sua regeneração se mantinha acelerada. De súbito seus gritos cessaram com um rugido que parecia desafiar a quem quer que ouvisse:
— NÃO! AINDA NÃO FOI O SUFICIENTE!
Mesmo os guerreiros mais experientes da Cidade dos Corajosos desviaram o olhar por um instante. Aquilo não era força. Era insistência além do razoável. Era como ver alguém se forçar a continuar vivo, mesmo depois de já ter morrido.
Mas ao contrário do pensamento geral, Suzano parecia ter visto algo a mais no olhar que emergiu a sua frente.
— Entendi… É isso então?
Any parecia tomada por uma ânsia desmedida que a fez se jogar para a luta mais uma vez. Desta vez ela fez sangue jorrar pelos seus antebraços e os arremessou para frente como se fossem pistas de sangue que seguiram em espirais ao redor de Suzano.
Ela correu pelas pistas enquanto conjurava mais de seu próprio sangue para criar duas espadas carmesins em suas mãos e atacar com tudo o ossuiano a sua frente.
Suzano usou sua magia de vento para deslizar no ar e se esquivar da sequência brutal de golpes que Any desferia.
Ela atacou com precisão letal com diversos cortes diagonais, giratórios e frontais.
Suzano se desviou de cada um no limite do possível. A força de Any parecia estar aumentando e sua velocidade estava começando a acompanhar a dos ventos de Suzano.
A dança de sangue e vento se parecia como a pintura de um quadro pintado a sangue. Era brutal , visceral, porém mortalmente belo.
— Não vai atacar? — Provocou Any entre os golpes.
Suzano não respondeu, apenas continuou se esquivando velozmente, dançando e deslizando com os ventos.
— Eu já estou me acostumando com sua velocidade, se continuar assim posso acabar te acertando fatalmente. — Any falou mais uma vez.
Nada. Suzano permaneceu em silêncio, mas seus olhos estavam fixos nos da lyberiana a sua frente.
Any continuou pressionando até que finalmente um golpe atingiu o homem, um corte diagonal sobre seu peito. O sangue do homem se misturou ao sangue da lâmina da soldado e com uma ordem Any fez o sangue empurrar Suzano para traz, o derrubando e prendendo no chão como correntes vermelhas.
Any saltou, sua lâmina cortou o ar em um rasante mirando o rosto de Suzano.
Mas o olhar de Suzano encontrou o dela, e algo dentro de Any hesitou, como se uma memória tivesse se infiltrado entre seus ossos ainda em regeneração.
A lâmina dela se conteve a milímetros da pele envelhecida do homem sobre si.
— Porque não ataca de volta? Você estava me derrotando até agora. Eu não tenho como me esquivar de seus ataques de relâmpagos. Porque parou de lutar?! — vociferou Any sem entender.
As mãos de Suzano se ergueram com dificuldade, mas conseguiram chegar até o rosto de Any.
— Você não busca cumprir ordens ou vencer, minha jovem. Posso ver em seus olhos. Você busca uma forma de morrer.
Any começou a ver a imagem de Suzano a sua frente tremular ao mesmo tempo q sentia um calor que descia pela sua face.
Uma lágrima.
— Gostaria muito de ouvir o que te fez chegar ao ponto de achar que a morte é a única solução para sua dor. Ascenda em outro dia e me encontre na Cidade dos Corajosos. Talvez um homem velho como eu tenha algo a te dizer.
Any não teve tempo de reagir quando mais um raio caiu do céu. Desta vez, porém, ele não visava destruir seu corpo, o relâmpago atingiu em cheio sua nuca com um estrondo de trovão, fazendo-a desmaiar nos braços do homem preso pelas correntes de sangue, que se desfizeram assim que ela perdeu a consciência.
O silêncio durou apenas três segundos. Mas foram longos o suficiente para que Suzano percebesse o peso do corpo da jovem em seus braços. Então, veio o som da plateia.
O público nas arquibancadas explodiu em aplausos. Era como se, de alguma forma, eles tivessem reconhecido, ainda que superficialmente, o desespero cravado em cada golpe de Any.
— Senhoras e senhores! Mais um combate foi finalizado! — anunciou Hermes, aplaudindo junto da multidão. — Suzano continua sendo o guerreiro absoluto da Cidade dos Corajosos!
Na sala reservada dos vencedores, os companheiros de Any permaneciam em silêncio, atônitos diante do que haviam presenciado.
— Any… — sussurrou Helick, num fio de voz.
Morgan se levantou devagar, depois começou a aplaudir sozinho.
— Ela, em trinta anos, foi a única a fazer Suzano encostar as costas no chão — comentou um dos guerreiros ossuianos que havia ascendido naquele mesmo dia.
O homem também se levantou, juntando-se aos aplausos de Morgan.
— Arrisco dizer que, se fosse contra qualquer outro da Cidade dos Corajosos, ela teria trucidado com tamanha determinação — acrescentou outro, reconhecendo em voz alta o valor do combate.
E enquanto o nome de Suzano era exaltado, o corpo de Any era carregado para fora. Não como uma derrotada, mas como alguém que havia sobrevivido a si mesma.
Redgar se afastou do grupo, dirigindo-se à saída da sala VIP.
— Aonde vai, Redgar? — perguntou Morgan, erguendo uma sobrancelha.
— Não posso deixá-la lá sozinha — respondeu o soldado. E, ao contrário do semblante neutro que sempre carregava, havia agora uma preocupação evidente em seu rosto.
Morgan o acompanhou com o olhar e falou, em tom firme:
— Você não pode sair daqui e ir até a arena. Ela está na Muralha Externa. Se cruzar esse limite, terá que passar por toda a ascensão novamente.
Redgar olhou para os príncipes, buscando neles algum sinal de apoio.
— Vão mesmo deixá-la lá? Depois do que vimos? Ela precisa de ajuda.
Marco se levantou, posicionando-se diante dos irmãos, que se entreolharam em silêncio.
— Temos uma missão, Red — disse o soldado com firmeza. — Any, mais do que qualquer um de nós, entenderia isso. Ela saberia que precisamos seguir em frente.
Tály, ainda visivelmente exausta após sua batalha, também se levantou com esforço e completou:
— Ela não estará sozinha. Nastya e Phill ficarão com ela. Fique tranquilo. Logo, ela vai se juntar a nós.
Redgar lançou um último olhar a Cassian, como se pedisse permissão para fazer o que seu instinto gritava. O príncipe o encarou, hesitante. Sabia que o certo era continuar, mas… via em cada um deles não apenas aliados, mas companheiros. Amigos.
Mas antes que pudesse responder, foi Helick quem se adiantou:
— Recomponha-se, Redgar. Você sabe o que é certo. Estamos aqui para descobrir algo que pode estar acima de qualquer um de nós.
As palavras, embora duras, traziam a verdade. Redgar as absorveu em silêncio, e, aos poucos, seu semblante voltou ao estado sereno de sempre. Retornou ao grupo e se sentou, calado.
— Agora, só nos resta esperar a imperatriz — disse Morgan, acomodando-se novamente no sofá estofado.
E, aos poucos, os olhos de todos se voltaram mais uma vez para o centro da arena.
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