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Capítulo 126 — Muralha Mental
O CSR desceu uma estrada de terra em espiral ao decorrer da montanha na qual o casarão de Suzano se encontrava no topo.
Na base da colina, um aroma doce como um abraço da própria Mãe Terra inundava os narizes. Um perfume delicado de flores brancas se misturava ao cheiro fresco de frutas verdes prestes a amadurecer e um leve traço de baunilha no ar, como se as próprias águas escondessem uma essência feita de néctar e lembranças felizes. Não era um doce sufocante, mas uma doçura limpa, cristalina e morna, que fazia o peito relaxar e os pensamentos se aquietarem. Era como se o rio fosse uma entidade que acalmava e relaxava os sentidos, trazendo consigo um sentimento de paz e aquecia o coração com leveza.
Quando o grupo desceu do corcel às margens do Rio Verde e Azul, essa sensação de paz os invadiu por completo, penetrando fundo em seus subconscientes.
— Não relaxem por completo — advertiu Suzano, à frente do grupo, com o olhar atento. — Já houve relatos de pessoas que simplesmente se deixaram afogar para continuar sentindo esse sentimento pela eternidade.
Rhyssara, mantendo a postura ereta e a coroa firme no topo da cabeça, ergueu uma barreira de proteção mental ao redor de todos. Um estalar de dedos cortou o ar, dissipando o transe como fumaça levada pelo vento. Os olhares se voltaram imediatamente para ela.
— O que, pela Mãe, foi isso? — murmurou Tály, levando a mão à cabeça, confusa e ainda levemente atordoada. — Eu… eu senti algo tão bom, tão reconfortante… que perdi a consciência de mim mesma…
— Está na hora de eu ensinar a vocês um pequeno truque de controle mental — disse Kadia, cruzando os braços e lançando um olhar avaliador para o grupo. — Vou ensinar a vocês a criarem uma Muralha Mental.
Os rostos se encheram de confusão. Exceto um. Helick, que vinha coçando a nuca distraído, arregalou os olhos e um sorriso se espalhou por seu rosto.
— UMA MURALHA MENTAL?? TEM COMO A GENTE APRENDER ISSO SEM TER UM ARGUEM DO TIPO MENTAL???
Ele quase saltava no lugar, tomado por uma empolgação que Cassian não via há muito tempo. Talvez desde quando o irmão aprendeu a emergir sua Centelha Mágica, anos atrás.
— É claro que sim — respondeu Kadia, o canto dos lábios curvando num sorriso divertido com a empolgação do príncipe.
Cassian coçou a nuca, franzindo as sobrancelhas, completamente perdido.
— Espera aí… o que é exatamente uma Muralha Mental?
— Ah… eu posso sentir… — Marco murmurou, pensativo, levando a mão ao queixo. — Senti algo parecido no covil das Sete Sombras… quando a imperatriz nos protegeu com aquele escudo mental.
Redgar cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas.
— Do que você está falando agora?
Marco continuava analisando, alheio ao tom de Redgar.
— Realmente… é igual àquela vez. Como se uma muralha de mana se erguesse na frente da minha mente, usando o fluxo vindo da Coroa de Edgar. Mas pelo que sinto dessa magia… ela não parece tão complexa assim…
Rhyssara arqueou uma sobrancelha, surpresa.
— Na realidade, é bem complexo, sim.
Marco apenas balançou a cabeça, quase alheio ao comentário da imperatriz.
— Nem tanto. A maioria dos ARGUEM molda magias a partir de sua personalidade transmutada em mana. Para eu copiar, preciso entender essa emoção e reproduzi-la dentro de mim. Mas aqui… aqui é diferente. Sinto que é só mana sendo moldada… literalmente como uma muralha em volta do meu subconsciente. Dá pra fazer fácil. Assim, ó… — ele gesticulou com a mão — …pronto.
Kadia piscou, atônita.
— Espera… você tá dizendo que já aprendeu a blindar sua mente só de presenciar isso duas vezes? — Ela ficou boquiaberta.
Cassian já estava bufando, sentindo a mente borbulhar como uma chaleira esquecida no fogo. Aquele assunto parecia uma língua estrangeira.
— OU! — gritou ele, erguendo as mãos. — TÔ PERDIDO AQUI! O que raios é uma Muralha Mental?!
Morgan não conseguiu segurar uma risada, quase beirando a gargalhada.
— Uma Muralha Mental é uma blindagem da mente contra magias de controle mental. Claro que funciona só contra influências fracas. Nem sonhem que isso serve contra a Coroa de Edgar.
— Pra não se jogarem no Rio Vida e acabarem se deparando com a morte, é essencial que saibam proteger suas mentes contra a influência mágica do rio — completou Suzano sério.
Cassian fez uma careta. Tédio e preguiça competiam pelo controle de sua expressão, enquanto Helick vibrava ao lado dele, quase tremendo de empolgação.
— Espera aí — disse Cassian, lançando um olhar desconfiado para Rhyssara. — Você não pode simplesmente blindar a gente igual fez com as Sombras?
Rhyssara olhou para ele com uma expressão de puro desapontamento com a falta de interesse do herdeiro de Lyberion.
— Claro que eu poderia. Mas não me interessa — respondeu, dando de ombros. — Se vocês vão entrar nesse rio atrás do que quer que seja que a visão de Helick se referiu, vão ter que aprender a resistir à influência dele por conta própria.
Cassian piscou, incrédulo, como se tivesse levado um tapa.
— AH ENTÃO QUER DIZER QUE ENQUANTO A GENTE TÁ AQUI SE MATANDO PRA APRENDER ESSA TAL DE MURALHA, VOCÊ VAI FICAR DE FOLGA TOMANDO BANHO DE RIO?!
Rhyssara abriu um sorriso preguiçoso e ergueu as mãos para o alto como quem se entrega à guarda real depois de roubar uma torta.
— Exatamente. Suzano e Kadia já sabem se proteger. Vendo que um soldado entre vocês já aprendeu só de ver, não devo esperar menos de vocês. Acho que Kadia não precisa explicar mais nada. Vamos ficar de boa dando uns mergulhos enquanto vocês ralam um pouquinho. Boa sorte.
— RHYSSARA!!! — Cassian berrou, enquanto Helick o agarrava pela cintura para impedir que ele avançasse e saísse da proteção mental ainda ativa ao redor deles.
Nesse momento, Marco simplesmente atravessou a borda da barreira e foi se juntar aos outros, girando os ombros como quem se livra de uma camisa apertada.
— É, consegui mesmo. Não tô mais sentindo aquele transe esquisito. — Ele olhou para o rio com um sorriso. — Vou aproveitar a folga também.
Cassian virou uma estátua, depois explodiu:
— MARCO!!! MALDITOOOO!!!
— Calma, Cass! — implorou Helick, segurando o irmão com esforço, enquanto Morgan ria sem nenhuma piedade ao lado deles.
Enquanto isso, Tály se sentou devagar na grama úmida à beira do Rio Vida. As pernas cruzadas, os cotovelos apoiados nos joelhos, e o olhar perdido na água hipnotizante que seguia seu fluxo lento e profundo. Ela afundou o rosto entre as mãos, os dedos apertando as têmporas com força. Um suspiro pesado escapou de sua boca.
— Eu não vou conseguir — murmurou. — Não posso ir com vocês… não assim. Desde que usei sem saber aquela droga de OverSkill, não sinto mais nada. Nada. Nem um pingo da minha mana. Nem um sussurro das minhas manoplas…
Ela fechou os olhos, sentindo a humilhação amarga descer pela garganta.
Até que um som de passos suaves se aproximou pelo lado. Logo depois, Morgan se abaixou e sentou ao lado dela.
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