Capítulos novos toda segunda, quarta e sexta. Segunda e sexta às 20:00 e quarta às 06:00!
Siga nosso Discord para ver as artes oficiais dos personagens e o mapa do continente!
Capítulo 127 — Fluxo
Tály se encontrava sentada nas margens do Rio Vida, nos limites onde a defesa mental de Rhyssara os protegia. Seu sentimento de frustração foi interrompido apenas quando um som de passos suaves se aproximou pelo lado. Logo depois, Morgan se abaixou e sentou ao lado dela, jogando o peso do corpo para trás, apoiando-se com as mãos na grama. Ele ficou em silêncio por um instante, observando o fluxo do rio junto dela.
— É normal — disse ele por fim, com a voz baixa e tranquila. — A OverSkill esgota tudo que você tem. Zera o corpo, seca o espírito. Às vezes leva dias. Às vezes semanas. Mas é muito raro ser permanente.
Cassian via a cena ao lado do irmão e quando projetou o corpo para a direção dos dois Helick o segurou balançando a cabeça.
— Deixa ele, Cass. Quem sabe ele não pode ajudar ela de verdade. — O príncipe falou baixo para que só o irmão ouvisse.
Tály não respondeu Morgan. Seus olhos mantinham-se cerrados, a testa franzida.
Morgan então se endireitou, estendeu as mãos devagar e segurou as dela com firmeza. O toque era quente e constante, como se quisesse ancorá-la naquele momento. Tály ergueu o rosto devagar, surpresa com o gesto. Quando seus olhos encontraram os dele, viu ali a firmeza e a paciência de quem carregava mais do que contava nas costas. Ela sentia-se reconfortada, acolhida, protegida.
— Me escuta agora, Tály — falou ele, apertando ainda mais as mãos dela. — Para de tentar sentir a sua mana agora. Ela tá machucada. Cansada. Se você ficar buscando o que não tem, vai se afundar mais ainda nesse buraco. Agora… agora você vai sentir a minha.
— Mas que papinho é esse? — Cassian parecia realmente incomodado.
Morgan fechou os olhos e respirou fundo. Uma leve onda de calor percorreu o toque entre os dois. Tály arregalou os olhos, surpresa, quando percebeu um fio de mana circulando suavemente, vindo dele e passando para seus braços, subindo até seus ombros como um rio morno depois de um inverno.
— Não pense. Não tente fazer nada. Só sinta — continuou ele, com um tom baixo e gentil. — Esse calor, esse fluxo… é minha mana, Tály. Ela tá entrando em você agora. Se concentra em mim, esquece todo o resto. Esquece o medo. Esquece essa ideia torta de que você perdeu algo. Você não perdeu nada. Só se cansou demais.
— Mas que papo é esse?! — Cassian explodiu, dando um passo à frente. Claramente não estava gostando nem um pouco do rumo daquela cena.
Helick o segurou pelo ombro, firme, e o puxou de volta com força. O olhar que lançou ao irmão não tinha mais paciência, só dureza.
— Cala a boca, Cass! — disse, baixo e cortante. — Se ele pode ajudar a Tály a se recuperar, deixa ele fazer o que está tentando.
Cassian se virou bruscamente, os olhos faiscando.
— Qual é, Helys? Eu não confio nesse cara!
— E daí? — Helick rebateu, aproximando o rosto do dele. — Já parou pra pensar que talvez ele consiga ajudar a Tály de um jeito que você não pode? Aliás… quando foi que você ajudou ela em alguma coisa?
Cassian cerrou os punhos.
— Cuidado com o que diz, irmão… — Seu tom, agora, estava mais baixo. Mais perigoso.
Mas Helick não recuou nem um passo. Pelo contrário, avançou.
— Cuidado você com essa sua cabeça podre. — A voz dele transbordava uma raiva contida há anos. — Você enganou a Tály. Prometeu amor, jurou fidelidade… e quando conseguiu o que queria, descartou ela como se fosse mais uma das suas conquistas baratas. Ela te amou, Cassian! Correu atrás de você durante anos! E você fez questão de esmagar isso, dia após dia, até o que sobrou fosse só ódio!
Estava claro que Helick amava o irmão, mas não compactuava com algumas de suas atitudes.
Cassian respirava pesado. Sua mão instintivamente foi à lateral do corpo, procurando pela espada… Mas ela estava no CSR, junto com as armas de todos. A única exceção era a Coroa de Edgar, ainda cravada na cabeça de Rhyssara.
O herdeiro fervia por dentro. Tinha argumentos na ponta da língua. Tinha orgulho, raiva, justificativas, tudo pronto para ser cuspido contra o irmão.
Mas… nada saiu.
Nada.
O único som que quebrou aquele silêncio foi o leve tremor das mãos de Tály sob o toque de Morgan.
Cassian apenas olhou.
E sentiu um peso estranho se formando no meio do peito.
Na mente de Tály que voltava a sentir mana após tanto tempo, por instinto, ela tentou agarrar o fluxo, canalizar aquilo, mas Morgan balançou a cabeça e soltou um leve sorriso.
— Não força. Só deixa passar. Como a água desse rio. Você tá tentando controlar a correnteza… mas a força dela vem primeiro de deixar fluir.
Tály mordeu o lábio inferior, frustrada, mas respirou fundo. Aos poucos, aquele calor foi tomando conta de suas mãos, subindo pelos braços. Não era sua mana, mas era o suficiente para lembrar a ela como era estar conectada com algo. Como era sentir energia viva percorrendo seu corpo.
— Você não tá quebrada, Tály. Tá viva. E enquanto eu estiver aqui ao seu lado você não vai ficar para trás jamais.
O olhar dela finalmente suavizou, as sobrancelhas se descruzando devagar. O peito arfava, não pelo esforço, mas pela emoção represada. Ela olhou para Morgan e, por um instante, seus olhos marejaram.
— Eu odeio precisar de ajuda. — confessou, com um sorriso torto. — A última vez que confiei tanto em alguém…
Morgan riu baixo, o sorriso calmo, quase divertido.
— Pois acostume-se. A gente vai precisar um do outro muito mais vezes antes dessa jornada acabar.
Ele apertou mais uma vez as mãos dela e piscou com cumplicidade.
— E não importa que tipo de lixo já passou pela sua vida. Eu não vou te deixar a deriva.
E os dois ficaram ali, à margem do Rio Vida, de olhos fechados, enquanto a mana dele seguia fluindo lenta e constante pelas mãos entrelaçadas.
E então, Helick e Cassian sentiram a mana que havia sumido a algumas horas. Era a mana de Tály.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.