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    A sensação era como reencontrar um velho amigo que esteve longe por tempo demais.

    Helick e Cassian foram os primeiros a perceber: a mana de Tály havia voltado.

    O atrito entre os dois se desfez num instante, engolido pelos gritos de alegria dela.

    — Eu sinto! — A voz de Tály ecoou com uma força que não se ouvia desde sua luta contra Joan. — Eu sinto minha mana!

    Sem perder tempo, ela disparou em direção ao CSR, dentro do alcance seguro da barreira mental criada por Rhyssara. Abriu as portas traseiras e puxou de lá suas manoplas. No instante em que as tocou, as runas que antes jaziam apagadas acenderam de novo, vivas, pulsando em azul.

    — Isso! Isso! Isso! — O sorriso dela era uma tempestade de alívio e vitória. Contagiante.

    Cassian pensou em dar um passo. Talvez dizer algo. Mas Tály passou por ele sem nem olhar, correndo de volta para Morgan e o abraçou com força, rindo, chorando, agradecendo.

    — Obrigada! Obrigada! Obrigada!

    Morgan a envolveu com os braços e, por cima do ombro dela, lançou um sorriso vitorioso na direção de Cassian.

    Os punhos de Cassian se fecharam por reflexo, mas o toque firme da mão de Helick em seu ombro o puxou de volta para o presente.

    Foi Redgar quem cortou o clima, prático como sempre:

    — Tá, mas… como, exatamente, a gente vai fazer uma Muralha Mental? Marco entende mana como se fosse ler palavras escritas em um livro. Eu, sinceramente, não faço ideia de por onde começar.

    Morgan afastou um pouco Tály e respondeu, calmo:

    — Não se preocupa. Eu ajudo vocês nisso. Kadia é melhor explicando que eu, mas… é o que vocês têm. Serve?

    — Serve. — Redgar respondeu, simples.

    Helick assentiu com um aceno breve, dando de ombros.

    Cassian, no entanto, permaneceu imóvel. Não disse nada. Só lançou um olhar cortante para Morgan que respondeu com o mesmo sorriso cínico de sempre.

    Morgan inspirou fundo e ergueu uma das mãos, como quem organiza os próprios pensamentos antes de começar uma aula.

    — Antes de qualquer coisa — ele disse, olhando para cada um —, vocês precisam entender o que Marco quis dizer quando explicou sobre os ARGUEM. Eles são como chaves. Liberam o acesso à mana dos humanos e moldam os poderes com base na personalidade e na vontade de quem usa. É por isso que cada ARGUEM é único.

    Tály, ainda sorrindo, apertou as manoplas com força, como se reafirmasse aquilo em si mesma.

    — Só que nem tudo depende disso — continuou Morgan. — Existem coisas que independem da vontade ou do que vocês são. Coisas que podem ser feitas apenas com a manipulação pura da mana. Sem personalidade, sem desejo, só técnica.

    Ele olhou para Redgar.

    — Lembra das banheiras do casarão de Suzano? Que se mantinham sempre quentes na temperatura certa?

    Redgar ergueu uma sobrancelha.

    — Aquilo era por magia?

    — Claro. Kadia fez aquilo. Ela manipulou as partículas da água, fez com que as moléculas se mantivessem agitadas pra que a temperatura se ajustasse sozinha pra cada pessoa que entrasse. Nós ossuianos chamamos isso de automatização mágica.

    Redgar piscou algumas vezes, confuso.

    — Tá. Mas… moléculas? Pela Mãe, o que é uma molécula?

    Morgan soltou uma risada curta e cansada.

    — Eu também não entendia muito disso até Geo me explicar. Mas basicamente… tudo é feito de pedaços pequenos, invisíveis, que se juntam pra formar o que a gente vê. Essas partes se mexem o tempo todo. Se você consegue controlar isso com a mana, você consegue alterar muita coisa. Mas é difícil pra cacete. Você precisa saber o que tá fazendo, entender o funcionamento daquilo que quer mudar.

    Redgar coçou o cavanhaque devagar, como quem tentava encaixar peças demais num quebra-cabeça.

    — Então a gente tem que virar cientista agora?

    — Não. — Morgan ergueu o indicador. — Agora o foco não é água quente nem moléculas. Agora o foco é pensamento. Influência mágica mental. Saber como as invasões agem, como se infiltram, como manipulam uma mente de dentro pra fora.

    Ele encarou os três por um instante.

    — Vocês já sentiram isso. A pressão. A voz. A sensação de que um pensamento que não é seu começa a parecer seu.

    Todos ficaram em silêncio. Tály foi a primeira a acenar, ainda ofegante pela empolgação.

    — Aquilo que Hope fez comigo.

    — Exato. — Morgan apontou pra ela. — Influência mágica age como um sussurro dentro da mente. Primeiro estranho, depois familiar, e por fim irresistível. O que nós vamos fazer é criar um espaço mental onde a mana age como um escudo, rejeitando esse sussurro antes mesmo dele se formar.

    Helick franziu o cenho.

    — Como fazemos isso?

    Morgan sorriu de leve. Agora que chegara na parte difícil.

    — Primeiro, vocês precisam imaginar a própria mente como um forte império. Um lugar onde só vocês mandam. Qualquer voz que não for a sua própria é um exército invasor. Depois… vocês têm que alimentar essa imagem com mana. Moldar essa visão como um escudo real, como se fosse sua força imperial de defesa. Isso é automatização mental mágica. E vai doer. Vai cansar. Mas é isso ou se render à próxima voz que vier chamar.

    Redgar balançou a cabeça.

    — Isso tudo é doido demais.

    Morgan abriu um sorriso cínico.

    — Bem-vindo ao mundo onde se usa magia de verdade e não fica só usando de enfeite como em certos locais do continente.

    Helick e Cassian não gostaram do comentário provocador, mas ignoraram. Querendo ou não, Morgan estava ajudando agora. Por hora ignorariam.

    E então começou a aula de verdade. Longa, densa, cheia de explicações que mais pareciam enigmas. Morgan falava de camadas de pensamento, de barreiras feitas não só de mana, mas de convicção, e do equilíbrio entre concentração e fluxo de energia. Falou de pilares mentais, de âncoras emocionais que ajudavam a manter a estrutura firme.

    E enquanto a palestra seguia, Tály ouvia cada palavra com olhos atentos, sedenta por recuperar o controle que tanto lhe fora tirado.

    Cassian… apenas cerrava os punhos. Porque no fundo, sua muralha já estava erguida e ela tinha o rosto de Morgan incinerado gravado nela.

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