Capítulo 13 — Punhos de fogo
por Felipe BahiaHelick viu Redgar se aproximar rapidamente e o tirar da proximidade com a mascarada. O impacto da colisão fez as duas recuarem, enquanto Tály erguia os braços em posição de guarda.
— Você demorou, — falou Tály, dando pequenos saltos sem sair do lugar — achei que perderia a chance de pegar o príncipe desprotegido.
— O que? — indagou Helick. — Vocês sabiam?
— Sim, ouvimos sua conversa com Cassian na madrugada. Minha audição é muito boa e vocês não falaram tão baixo quanto pensaram — respondeu Redgar tranquilamente. — Fingimos dormir na biblioteca para ver se ela aparecia ou continuaria nos seguindo pelas sombras.
— Vocês me usaram de isca? — perguntou Helick, incrédulo com a audácia dos soldados, mas sem nervosismo. Na verdade, achou a estratégia genial. Capturar aquela mulher e descobrir seus planos eram prioridade absoluta.
— Subestimei vocês — disse a mascarada. — Achei que esses soldados de mentirinha fossem tão incompetentes assim. Mas não importa.
Ela se preparou para o combate novamente.
— Com vocês aqui, terei mais alvos para ferir. Quem sabe assim ele não me dá a jóia e para de colocar toda a nossa raça em perigo.
— Pela mãe! O que raios você está falando? — retrucou Tály. — Não importa, você vai ter tempo para se explicar nas masmorras.
Tály avançou em direção à ossuiana, sem armas além dos punhos revestidos com sua fiel luva de metal. A assassina também correu em sua direção, rápida como o vento.
Ao se aproximarem, Tály desferiu um cruzado de direita mirando no queixo da adversária, que se esquivou perfeitamente para a esquerda e contra-atacou com a cimitarra. Tály demonstrava certa habilidade em lutar contra lâminas usando apenas os punhos, esquivando-se com reflexos precisos.
— Cadê as ilusões? — Provocou Tály, abrindo os braços com um sorriso desafiador.
A lutadora foi mais uma vez pra cima, encurtando distância e disparando vários golpes velozes com os punhos na qual a mulher mascarada se defendia atacando com a cimitarra.
A luva metálica de Tály parecia nem mesmo arranhar contra a lâmina da assassina e a cada golpe os impactos ficavam mais intensos, mais quentes.
— Quer ver as ilusões? — Perguntou a mascarada. — Não se engane, não preciso usar minha magia contra alguém como você!
Tály, que até então não havia conectado nenhum golpe, visualizou um ponto cego entre os seios e o tórax da oponente. Sem hesitar, atacou o ponto exposto com um reto de direita. A mascarada sentiu o impacto, segurando o braço de Tály e preparando a cimitarra para arrancá-lo.
Tály puxou o braço de volta no último segundo, mas não sem ser cortada pela lâmina.
Antes que Tály pudesse reagir, a mascarada já estava atacando com golpes rápidos e letais. A soldado lyberiana se defendeu da maioria dos golpes, mas ficou com alguns ferimentos nos antebraços desprotegidos.
A assassina não diminuiu o ritmo, continuando a golpear até que a guarda de Tály se abrisse completamente. Em vez de um golpe letal, passou a cimitarra para a mão esquerda e socou o rosto da lyberiana, que caiu metros adiante.
— Você me socou? — Falou Tály, limpando o nariz sangrando.
— Aposto que esse soco doeu mais do que a morte. — Disse a mascarada com um sorriso oculto pela máscara de lobo. — E não estou aqui para matar ninguém, só quero a jóia.
— Você poderia ter me matado, mas preferiu me socar? — Riu Tály, levantando-se. — EU SOU A LUTADORA AQUI!
De repente, os punhos de Tály foram consumidos por chamas intensas, crepitando com uma fúria indomável.
— MAGIA MARCIAL! — bradou a jovem soldado, enquanto seus olhos brilhavam com determinação. Em um movimento fluido, ela começou a executar uma série de golpes precisos no ar, cada soco lançando fagulhas de energia ao redor. — ESTILO BOXE!
As chamas subiram pelos seus braços, envoltas em um calor abrasador, e ela avançou com a velocidade de um relâmpago, reduzindo a distância em um piscar de olhos.
— PUNHOS INCANDESCENTES! — rugiu Tály, enquanto seus ataques desferiam uma tempestade de fogo, prontos para incinerar qualquer obstáculo que estivesse em seu caminho.
A oponente, que não teve tempo de reação, não tinha ideia da força que estava prestes a enfrentar.
Tály desferiu uma série de três golpes rápidos e potentes, cada um acompanhado pelo estampido de uma pequena explosão de calor.
Os punhos flamejantes de Tály encontraram seu alvo com precisão letal.
O primeiro golpe atingiu o torso da mulher mascarada, envolvendo-a instantaneamente em chamas.
O segundo golpe que seguiu de perto, vindo de seu punho esquerdo, atingiu o queixo com uma força avassaladora, fazendo a assassina sair do chão e quebrando a mandíbula inferior da máscara.
E com um salto potente, Tály se pôs acima da oponente em pleno ar e o terceiro golpe se conectou no abdômen deixando a mulher completamente em chamas, como se uma aura ardente a consumisse por completo.
A sequência de golpes resultou em uma explosão de calor e fogo estrondoso, revelando o poder de Tály clareando todo o quarteirão como se fosse o próprio sol nascente. A garota ergueu um punho para o alto quando aterrissou, suas manoplas feitas de metal negro, seu ARGUEM, brilhando com a glória da vitória.
— Ok, talvez você mereça que eu lute a sério. — falou a assassina por trás de Tály.
A lutadora deu um salto de surpresa para o lado oposto.
— O que? — exclamou em surpresa a soldado — Impossível! Eu senti, cada golpe meu acertou o alvo!
— Esse foi um dos meus poderes, Magia Mental, Oásis de Ilusão — explicou a mulher. — Eu engano cada sentido seu, minha magia entende o que você visualizou que aconteceria e simula isso na sua mente te dando todos as sensações correspondentes.
— Impossível! Quando foi que você ativou isso?
— Manipular as sensações de meus adversários é como brincadeira de criança para mim. — Falou a mulher posicionando a sua cimitarra na altura do peito e entoando mais uma vez a magia de ilusão. — Observe.
De repente Tály se encontrou no absoluto nada. Tudo ao seu redor era branco. Ela não conseguia ouvir, falar, respirar ou ver algo além daquele profundo branco a sua frente.
— Você trouxe seus punhos para uma luta de lâminas. — falou a mulher mascarada. — Você lutou bem, mas nunca teve a menor chance.
Tály sentiu um impacto forte em sua nuca e caiu desmaiada no chão, as cores voltando a medida que ela perdia a consciência.
— Tály! — gritou Helick. — O que você fez com ela?
— Me entregue a jóia — ordenou a vencedora do combate.
— Não se preocupe com isso — falou Redgar ao dar um passo a frente. — Eu mesmo cuido disso.
— O Sem Emoção irá lutar? — indagou a mulher, surpresa. — Por dentro dos muros de Lyberion?
Redgar retirou as luvas da armadura e revelou, em sua mão direita, no dedo do meio, um anel metálico escuro.
— É isso ou você se entrega — argumentou Redgar sem nem um pingo de preocupação.
A assassina por um momento hesitou. Ela já havia ouvido histórias sobre o poder descontrolado de Redgar, o Sem Emoção.
Ela sabia que depois deste embate, se ela não cumprisse sua missão, ela nunca mais conseguiria outra chance. Quando o rei Aquiles descobrisse que alguém, provavelmente de Ossuia, tinha atacado seus filhos, não uma, mas duas vezes, haveria guerra.
— Você já dominou seus poderes? — perguntou Helick, com cautela.
— Mais ou menos. Posso acabar destruindo metade do reino se eu conseguir segurar um pouco a potência, mas não tenho escolha — falou o jovem soldado dando de ombros. — Acorde Tály e se entregue, caso contrário…
— Você está blefando! — exclamou a mulher. — Você jamais ameaçaria pôr em risco as vidas inocentes de seu próprio reino, isso não é do feitio de lyberianos.
O semblante sempre passivo de Redgar se transformou em uma cara deformada de puro ódio.
— NINGUÉM AQUI É INOCENTE! — Urrou o jovem com ira. — MAGIA EMOCIONAL…
Instantaneamente a mulher saltou para longe e desapareceu em meio as sombras.
Helick a procurou com aquele estranho sexto sentido, mas tudo indicava que ela havia desaparecido.
— Hey! Se acalme Red! — implorou o príncipe. — Ela fugiu!
O soldado se virou para o príncipe, o rosto tranquilo, impassível.
— Eu sei — respondeu Redgar com suavidade. — Eu só queria assustá-la um pouco.
— Caramba cara, não faça isso de novo, quase me matou do coração! — disse Helick aliviado, respirando fundo. — Agora vamos pegar Tály e sair daqui.