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Capítulo 14 — O Peso da Coroa
O Capitão da Guarda Real, Sam Haras, caminhava pelos corredores de ouro do palácio, iluminados com lamparinas de óleo pelo horário tardio da noite, seus passos firmes e determinados. O som de sua habitual armadura prateada ecoava pelas paredes ilustradas. A expressão em seu rosto era de preocupação e quanto mais próximo ele estava do quarto do príncipe herdeiro, mais seu peito pesava.
Ele sabia e entendia os pensamentos de Cassian com relação a coroa. Ele sabia que o jovem não reagiria bem a notícia que seu despertar seria antecipado. Ele não aceitaria a notícia que seus deveres lhe tomariam a liberdade meses antes do tempo esperado.
Antes que se desse conta, Sam estava a poucos metros da porta dos aposentos de Cassian. Any e Marco que estavam de prontidão a frente da porta se puseram em posição de continência e cumprimentaram o capitão.
— O príncipe Cassian está? — perguntou o Capitão.
— Sim, senhor — respondeu Marco. — Ele não saiu do quarto pelas últimas vinte e quatro horas.
— Ótimo — respondeu o capitão, batendo na porta.
Do lado de dentro do quarto, Cassian se encontrava sem camisa, limpando suas feridas — que começavam a cicatrizar — com uma bebida branca de puro álcool acompanhada de ervas medicinais.
O jovem não se lembrava da última vez que teve que se curar sozinho sem o auxílio dos curandeiros do palácio, mas uma coisa que ele tinha aprendido no seu tempo de treinamento com o exército lyberiano é que feridas provocadas por cortes podem ser fatais depois de dias se não esterilizadas de forma correta.
O príncipe foi interrompido quando batidas ecoaram de sua porta.
— Príncipe Cassian, sou eu, Sam.
Cassian rapidamente vestiu uma camisa branca simples com mangas longas e jogou o lenço umedecido em um cesto separado para lixo enquanto respondia:
— Já estou indo!
O jovem abriu a porta e cumprimentou o antigo mestre.
— A que devo a honra desta visita? — falou Cassian escorado na porta, tentando agir naturalmente.
— Preciso tratar de um assunto sério com você, Cassian — falou o capitão, o rosto sério.
— Claro capitão, entre — convidou Cassian saindo da frente da porta e deixando o homem entrar em seus aposentos.
Ao entrar Sam sentiu um cheiro forte de álcool e ervas. O quarto do príncipe tinha o mesmo cheiro do Andar da Gula do Bar de Ciscer.
Cassian se sentou na cadeira de sua, não tão usada, escrivaninha e indicou ao capitão uma poltrona de couro marrom ao lado de sua cama para que ele se sentasse.
— Do que se trata? — perguntou Cassian com um sorriso preguiçoso.
Mesmo que por fora ele estivesse indiferente, por dentro seu coração batia de uma forma frenética, temendo que o capitão tivesse descoberto que ele havia sofrido o ataque da mulher misteriosa.
— O ataque a praça. Temos quase certeza que foram os ossuianos — falou o capitão, sério.
Cassian não entendia nada de geopolítica, mas sabia que isso era algo importante. Muito importante.
— Ossuia? — repetiu o herdeiro, também tomando um semblante mais focado. — Até eu sei que isso é grave.
— Sim. Sequestro de guardas, ataque organizado em um dia sagrado para nosso reino e ainda por cima, feriram você e seu irmão, que são príncipes — conduziu Sam, enquanto se sentava na poltrona de couro. — Isso ainda não foi a público, mas estamos, praticamente em pé de guerra.
Cassian se sobressaltou de seu assento com a notícia.
— Guerra?! — perguntou o jovem, pensando em como isso poderia adiantar seus compromissos com o reino. — Não é possível. Os humanos nunca guerrearam entre si! Até eu que nunca prestei atenção nas aulas e nos livros da academia de Lyberion sei disso! Meu pai não pensa em começar uma guerra, pensa?
— Isso depende — respondeu o Capitão.
— Depende do quê? — perguntou fervorosamente Cassian.
— O rei convidou a Imperatriz de Ossuia para o reino, para tirar essa história a limpo.
— Se o que você descobriu for verdade, ela jamais pisaria em Lyberion — afirmou Cassian, começando a desconfiar da conversa.
— A não ser que… — Sam se segurava para não jogar a notícia na cara de Cassian.
— A não ser que o que? Espera, porque você tá me falando isso? O que isso tem a ver comigo Sam?
— Existem alguns eventos na qual todos os humanos importantes do continente se sentem obrigados a ir. Na realidade, caso eles não comparecessem a tais cerimônias seria algo considerado desrespeito.
— Aonde você quer chegar? — indagou Cassian se levantando. — Que tipo de evento você está falando?
— Do despertar do ARGUEM do futuro rei, por exemplo.
Cassian sentiu o peso da notícia como uma marreta esmagando seu peito.
O desespero e a angústia de perder seu livre-arbítrio pela coroa que ele sempre tentou evitar tomaram-no por completo.
Seu rosto, antes calmo, se contorceu em um misto de choque e pavor. Ele não poderia viver sua vida de forma espontânea, livre e com aventuras como sempre inutilmente sonhou.
A notícia esmagou seus sonhos e aspirações, deixando-o paralisado, enquanto seu coração parecia se afogar em um mar de incertezas e responsabilidades que ele nunca quis.
— Se acalme Cassian — falou Sam, levantando e se aproximando do herdeiro. — Seu despertar prematuro pode ser a salvação de uma guerra.
Cassian encarou Sam com os olhos arregalados, as palavras do capitão ainda ressoando em sua mente como trovões. A notícia de seu Despertar antecipado era um golpe que ele não estava preparado para receber.
— Meu Despertar…salvação? — murmurou Cassian, quase sem voz, enquanto tentava processar o que acabara de ouvir. — Como isso pode ser a salvação de uma guerra?
Sam soltou um suspiro longo e pesado, como se estivesse tentando expelir o peso do mundo de seus ombros, escolhendo cuidadosamente as próximas palavras. Sabia que precisava ser sensível, mas firme.
— Cassian, entendo o peso que sente agora — começou Sam, colocando uma mão firme no ombro do príncipe. — Não é justo que você tenha que assumir essas responsabilidades tão cedo, especialmente em um momento como este. Mas, pense no seu povo. Pense nas vidas que podem ser salvas se conseguirmos esclarecimentos com Ossuia.
Cassian fixou os olhos no chão, tentando conter a onda de emoções que ameaçava transbordar de seus olhos.
— Eu nunca quis isso, Sam — confessou Cassian, sua voz trêmula. — Sempre quis ser livre, viver sem essas correntes da realeza. E agora… agora estão me pedindo para que meu despertar sirva de isca para chamar a atenção da imperatriz de Ossuia? Eu sei que assim que tiver um ARGUEM em mãos, meu pai me colocará a frente dos assuntos do reino e perderei minha liberdade de escolher como viver minha vida.
Sam apertou suavemente o ombro do príncipe, seus olhos cheios de compreensão e respeito.
— Cassian, ninguém nasce pronto. — disse Sam, sua voz carregada de empatia. — Mas, às vezes, as circunstâncias nos moldam. O despertar não significa que você será coroado de imediato, mas é o início do seu envolvimento oficial nos assuntos reais. Você se tornará um símbolo para o povo, alguém em quem eles podem se espelhar e confiar.
Cassian olhou para Sam, as palavras do capitão lentamente encontrando um caminho em meio à tempestade de emoções dentro dele. O capitão sempre foi uma figura de confiança, quase como um segundo pai.
— Eu não sei se consigo, Sam — admitiu Cassian, com honestidade.
Cassian deu um passo para trás, passando as mãos trêmulas pelos cabelos em um gesto de frustração.
— Eu queria poder decidir meu próprio destino — continuou Cassian, sua voz se elevando com a emoção. — Não quero ser apenas um peão no tabuleiro do meu pai. Ele sempre fez todas as escolhas por mim, sempre decidiu o que é melhor para o reino sem considerar o que eu quero, o que eu sonho. E agora, essa cerimônia… esse Despertar… significa que eu nunca vou ter a chance de ser livre, de viver a vida como eu quero. Vou estar sempre preso a essas responsabilidades, a essas expectativas.
Sam o observou com empatia, entendendo profundamente o dilema interno do príncipe.
— Cassian, — começou ele, mais uma vez, cuidadosamente. — Eu entendo que sente como se estivesse sendo empurrado para um caminho que não escolheu. E, em muitos aspectos, você está certo. Mas pense que, mesmo no papel que lhe foi dado, você ainda tem o poder de fazer a diferença. Pode encontrar maneiras de trazer suas próprias ideias, sua própria visão para o reino.
Cassian balançou a cabeça, lutando contra as lágrimas.
— E se eu não quiser essa responsabilidade? — perguntou ele, quase desesperado. — E se eu quiser ser apenas… eu?
— Isso é algo que você terá que descobrir por si mesmo, Cassian. — disse Sam, com gentileza. — Mas lembre-se, não está sozinho nessa jornada. E talvez, apenas talvez, você encontre uma maneira de equilibrar seu dever com seus próprios sonhos.
O quarto ficou em silêncio enquanto Cassian refletia sobre as palavras de Sam, tentando encontrar um caminho entre o peso da coroa e o desejo de liberdade que ardia dentro dele.
— Descanse Cassian — falou Sam serenamente. — Descanse sua mente, amanhã começaremos os preparativos para a cerimônia que ocorrerá uma semana.
Sam estava prestes a sair do quarto de Cassian quando batidas apressadas soaram na porta. Ele abriu para encontrar Marco e Any com expressões preocupadas, acompanhados por Redgar, que mantinha seu semblante neutro.
O capitão saiu do quarto do príncipe Cassian e ficou a sós com os guardas no corredor.
— O que aconteceu? — perguntou o capitão ao jovem sem expressões aparentes, como se com o passar dos anos ele tivesse aprendido a ler a face neutra de Redgar.
— Fomos atacados. — Falou Redgar, sem rodeios.
— Atacados? — repetiu o capitão, franzindo a testa.
Redgar assentiu, sua voz permanecendo calma e controlada.
— Sim, estávamos escoltando Helick quando uma mulher desconhecida nos atacou — falou Redgar, ocultando a parte que ele e Tály haviam feito do príncipe uma isca. — Tály e eu conseguimos afastá-la, mas ela era habilidosa. Não conseguimos capturá-la.
A expressão de Sam ficou ainda mais preocupada. Ele respirou fundo, tentando manter a compostura.
— E Helick? — perguntou ele, a urgência evidente em sua voz.
— Está bem, apenas alguns ferimentos leves. Tály e eu cuidamos dele — respondeu Redgar, seus olhos fixos nos do capitão.
Sam olhou para Redgar, avaliando a situação. As suspeitas sobre Ossuia cresciam em sua mente.
— Redgar, você percebeu algum sinal, alguma pista de quem poderia estar por trás disso? — perguntou Sam, tentando juntar as peças do quebra-cabeça.
Redgar respondeu sem hesitar, como se não sentisse o peso da situação.
— Helick reconheceu a máscara da mulher como um símbolo ligado a Ossuia. Não tenho certeza se ela estava tentando nos despistar ou se realmente tem alguma conexão, mas vale a pena investigar.
Sam apertou os lábios, seus pensamentos correndo a um ritmo desenfreado. Ele sabia que, se o rei soubesse disso, a situação poderia se deteriorar rapidamente.
— Isso é grave — disse Sam, mais para si mesmo do que para os outros. — Se Ossuia está por trás desses ataques, estamos à beira de um conflito muito maior.
Redgar permaneceu em silêncio, observando o capitão enquanto ele processava a informação. Sam se virou para Marco e Any, sua voz firme e autoritária.
— Mantenham isso em segredo por enquanto. Não quero alarmar ninguém sem provas concretas. Marco, organize uma patrulha extra ao redor do palácio. Any, informe aos outros guardas para ficarem em alerta máximo.
— Tem mais uma coisa, capitão — continuou Redgar. — Eu ouvi uma conversa de Helick e Cassian ontem à noite. Cassian também foi atacado pela mesma mulher, mas quis manter sigilo para investigar junto do irmão.
— Como assim? — indagou o capitão, agora o cheiro do quarto de Cassian fazendo sentido — Se você tinha essa informação e ainda assim saiu com Helick para fora do palácio… — Falou Sam se segurando para não aumentar a voz. — Não me diga que vocês…
Redgar manteve a calma, mas podia ver a frustração crescendo em Sam.
— Sim, usamos Helick como isca — admitiu Redgar. — Precisávamos saber quem estava por trás dos ataques e por quê. Achamos que, expondo Helick, poderíamos atrair o agressor e obter mais informações.
Sam balançou a cabeça, tentando controlar sua raiva.
— Vocês colocaram a vida de Helick em risco — disse ele, sua voz baixa e tensa. — E agora, temos ainda mais perguntas sem respostas.
Redgar não abaixou a cabeça quando respondeu:
— Eu também entendo as entrelinhas políticas que ocorreram após o ataque a praça, a armadilha no bar de Ciscer e o ataque aos príncipes — respondeu Redgar calmamente. — Eu sei que estamos em uma corda bamba que se inclina para a guerra. Foi um risco calculado, capitão. Mas conseguimos confirmar uma ligação com Ossuia. Isso pode nos ajudar a entender o que está acontecendo.
Sam respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos.
— Certo. Vamos manter isso entre nós por enquanto. Precisamos de um plano sólido antes de informar o rei. Qualquer passo em falso pode nos levar direto para uma guerra. Onde está Helick agora?
— Como ele não teve ferimentos graves o levamos para ser tratado na Torre dos Criados e pedimos a discrição dos servos. Imaginei que o levar a Karine poderia gerar complicações já que ela informaria o rei de imediato da situação.
— Fez bem — respondeu Sam olhando para trás e percebendo que a porta do quarto de Cassian estava entre aberta. — Suponho que tenha ouvido tudo Cassian. Espero que isso ajude aceitar as decisões de seu pai.
O jovem apenas fechou a porta novamente.
Sam suspirou, sentindo a tensão nos ombros aumentar. Ele se virou para Redgar quando falou:
— Vamos até a Torre dos Criados. Preciso ver Helick.
Redgar assentiu e seguiu Sam pelo corredor, enquanto Marco e Any continuavam em prontidão a frente da porta de Cassian. A caminho da torre, os corredores do palácio, belos e grandiosos com suas pinturas de batalha realistas, pareciam mais pesados e opressivos com a iminência de um possível conflito.
Quando chegaram à Torre dos Criados, foram recebidos pelo cheiro de ervas medicinais e a visão de servos trabalhando diligentemente. Helick estava deitado em uma cama simples, seus ferimentos já tratados e enfaixados. Ao ver Sam, ele tentou se sentar, mas o capitão fez um gesto para que permanecesse deitado.
— Helick, como se sente? — Perguntou Sam, sua voz carregada de preocupação genuína.
— Melhor, Capitão. — Respondeu Helick, tentando sorrir apesar da dor. — Tály e Redgar cuidaram bem de mim.
Sam assentiu, aliviado ao ver que Helick estava relativamente bem. Ele se sentou ao lado da cama, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Sei que você está cansado, mas preciso saber todos os detalhes do ataque. Qualquer coisa pode ser crucial agora.
Helick começou a relatar o incidente com precisão, mas algo em seu interior, aquele calafrio que ele sentia nos combates, de alguma forma, o instruiu a não contar sobre sua descoberta sobre uma possível pista nas pinturas das paredes do palácio.
— Então a ligação com Ossuia se deve a máscara de lobrasa que remete a antiga família nobre dos Dadário. — Comentou Sam em um sussurro.
— Sim, foi o que interpretei e a mulher não negou. — Falou Helick ainda deitado. — Soube que estava com Cassian. Conversou com ele a respeito da mulher mascarada também?
A pergunta de Helick lembrou o capitão de mais uma das várias coisas grandes que estavam acontecendo no reino.
— Não, conversamos sobre outra coisa, eu não sabia até então que ele havia sido atacado.
O semblante tenso e carregado de responsabilidades e muita coisa para pensar transpareceu as preocupações de Sam para o príncipe.
— Sobre o que conversaram? — Perguntou Helick, as sobrancelhas levantadas em curiosidade.
E então Sam contou sobre a decisão do rei.
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