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    A água estava fria. Gelada. Congelante.

    Mergulhar em um inverno como aquele era torturante, mas eles não tinham muitas alternativas.

    Cassian e Helick haviam submergido com seus ARGUEMs, descendo pelas profundezas do Rio Vida. Cassian liberava pequenas doses de mana quente ao redor, impedindo que seus músculos congelassem por completo.

    Conforme afundavam naquelas águas azul-esverdeadas, uma forma assustadora começou a se materializar no leito do rio.

    Tentáculos serpentearam em direção às muralhas mentais dos príncipes, e eles puderam ver os olhos abissais da criatura se abrirem, luminosos, observando.

    Os tentáculos pareciam surpresos com a força das defesas mentais que encontravam: muralhas mais sólidas, resistentes e colossais do que da última vez.

    Então, um elo se estabeleceu entre os irmãos, uma ponte feita de pensamento e confiança:

    “Pode me ouvir, Cass?”

    A voz sussurrante de Helick tocou a porta da asa flamejante que defendia a mente de Cassian. E Cassian permitiu que ela entrasse.

    “Sim, Helys.” A voz de Cassian era clara, quase palpável para Helick.

    “Como vamos fazer contato com ele sem deixá-lo tomar posse da nossa mente?”

    O Kraken, no fundo do rio, parecia observá-los atentamente, aguardando ser recebido. Havia algo naquela criatura que dizia que paciência não era uma de suas virtudes.

    “Tive uma ideia.” Pensou Helick.

    “Vamos unir nossas muralhas e cercar esse tentáculo mental. Assim podemos abrir a mente em conjunto, e um protege o outro se ele tentar invadir.”

    “E… isso pode mesmo funcionar?” Perguntou Cassian, com uma leve pitada de incerteza escapando entre os pensamentos.

    “Vamos tentar.”

    E assim fizeram.

    Cassian e Helick abriram seus olhos sob a água, mas o que viam agora era muito além da visão física.

    No plano mental, seus ARGUEMs tomavam forma ao redor de suas consciências como fortalezas de mana pura. A muralha de fogo de Cassian se erguia como uma imensa águia incandescente, suas asas feitas de brasas e vento solar. Já a de Helick era um lobo colossal, feito de gelo cristalino, suas presas e garras cravadas como estacas em volta de sua mente.

    Juntos, ergueram suas muralhas de forma circular, criando um anel psíquico ao redor do tentáculo que serpenteava em direção a eles.

    A criatura hesitou.

    O Kraken, lá no fundo, piscou seus olhos abissais. Não de forma natural, mas como se a própria consciência titânica dele tivesse se retraído por um segundo.

    Ele os encarava, surpreso.

    Não esperava resistência.

    E muito menos… evolução.

    “Eles… aprenderam.”

    O pensamento do Kraken ecoou como um abismo de mil vozes, todas reverberando no silêncio líquido do rio.

    As asas da águia de fogo se entreabriram, faiscando labaredas suaves. Era um gesto de permissão.

    Em resposta, o lobo de gelo retraiu suas garras, apenas o suficiente para abrir espaço entre os irmãos e a entidade.

    Uma fissura surgiu no centro do círculo mental.

    E ali, dentro da abertura, o tentáculo começou a entrar.

    Mas ele não invadia.

    Era apenas um convidado.

    Cassian e Helick se entreolharam por um instante no plano real, mesmo que estivessem submersos.

    No mental, seus pensamentos se alinharam com os do Kraken.

    Foi então que uma voz mental reverberou, rouca e profunda, escorrendo como lodo psíquico pelos pensamentos dos príncipes.

    “O que devo dizer…?” sussurrou o Kraken. “Estou… verdadeiramente surpreso. Dois dias. Apenas dois. Há mortais que treinam uma vida inteira para alcançar meio por cento do que vocês acabam de realizar. Como é que os humanos dizem mesmo? Ah, sim… parabéns.”

    Enquanto falava, uma brisa psíquica sutil serpenteou pelas frestas do círculo mental. Um murmúrio quase imperceptível tentou escorregar pelas muralhas da mente dos príncipes, como um veneno invisível tentando infiltrar-se na alma:

    “Por que prender a respiração…? Vocês não se lembram…? Vocês podem respirar debaixo d’água como peixes… Respirem… Encham os pulmões com o ar da água…”

    Foi o bastante.

    A águia incandescente ergueu a cabeça e soltou um grito estridente que estremeceu o espaço mental, uma rajada de chamas douradas explodindo ao seu redor. Ao mesmo tempo, o lobo congelado rosnou profundamente, os olhos brilhando como gelo vivo, e saltou para frente, cravando as presas em um tentáculo que, até então, permanecia invisível, agora revelado como uma serpente mental, negra e pulsante, tentando enroscar-se em seus pensamentos.

    A chama queimou. O gelo mordeu.

    A criatura recuou.

    “Sem mais truques” rosnou Helick, a voz feroz parecia vir do lobo no âmbito mental. “Vamos conversar.”

    Uma risada satisfeita, porém menos prepotente, ecoou nas profundezas da mente dos dois.

    “Vamos conversar então” respondeu o Kraken. “O que desejam?”

    “O que você faz aqui?” O lobo perguntou.

    As águas ao redor pareciam parar no tempo, imóveis como um véu líquido. A mente do Kraken se expandiu dentro da conexão entre os três.

    “Muito bem… Se chegaram até aqui, se resistiram à tentação, ao medo, e às próprias dúvidas… então talvez sejam dignos de ouvir o que guardo.”

    Cassian e Helick sentiram as muralhas mentais de suas mentes estremecerem. A águia flamejante de Cassian girava em círculos em torno do tentáculo aprisionado, suas asas deixando rastros dourados no plano mental. O lobo de gelo de Helick rosnava baixo, atento, olhos como lâminas voltados ao centro da conexão.

    “Helisyx… Aquele que vocês chamam de Primeiro Rei da Humanidade. Ele sabia que seu fim estava próximo. Sabia que, um dia, o equilíbrio entre as raças voltaria a pender. E, por isso, ele me confiou uma única tarefa: entregar uma mensagem. Guardá-la… até sentir o despertar das pedras.”

    Um lampejo atravessou a mente dos príncipes.

    As espadas, seus ARGUEMs. As gemas. Elas pulsavam.

    “As joias em suas armas… não são apenas fontes de poder. São fragmentos. Dois dos quatro pedaços de um mapa.”

    Helick deu um passo mental à frente, sua voz atravessando o elo:

    “Um mapa? Mas as joias se fundiram à nossa mana. Não tem como as usarmos assim!”

    O Kraken respondeu com um toque de riso rouco na mente deles, uma espécie de satisfação lenta, antiga.

    “Isso já não é problema meu. Eu apenas repasso o que foi confiado a mim. Helisyx disse que as pedras reagiriam quando estivessem reunidas. Como, ou quando, isso ocorreria ele nem sequer me contou.”

    Cassian então perguntou, atento:

    “Se são quatro, e nós temos três contando com a sua… qual é a quarta?

    “Eu não faço ideia. Se virem.”

    Helick pisou mais forte com suas patas no plano mental, absorvendo cada palavra. Cassian, um pouco cético, olhou afiado com seus olhos de águia na direção do Kraken.

    “E você… você não está tentando nos manipular? Não quer nos usar?”

    “Não. Eu não desejo nada de vocês. Minha dívida com Helisyx… termina hoje.”

    A joia esmeralda se desprendeu da testa do Kraken e fluiu até as mãos de Helick.

    “Levem. Façam o que quiserem com isso. Meu papel se encerra aqui. Finalmente… posso nadar livre. O Mar de Monstros me aguarda.”

    A forma mental do Kraken começou a se dissolver como névoa na água.

    Antes de desaparecer por completo, ele falou uma última vez:

    “Por mais que eu tenha cumprido minha parte com Helisyx, sinto que ainda devo algo a ele. Guardem meu nome, Hak’ren deverei a vocês um último favor.”

    E então, sumiu.

    Quando os irmãos desfizeram sua conexão mental, perceberam que o Kraken havia partido rio abaixo, rumo ao Mar de Monstros.

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