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Capítulo 144 — A Jardineira e a Soldado
Sete dias atrás
O salão da hospedaria era pequeno e abafado, tomado pelo cheiro gorduroso de carne refogada e pela falação baixa dos poucos que ali permaneciam.
Muitos eram derrotados se lamentando pela derrota na arena, outros esperançosos pela sua vez de ascender.
E havia outros dois ali.
Nastya e Phill dividiam uma mesa de madeira rústica próxima à janela entreaberta. Ambos comiam em silêncio, até que o ranger da porta principal cortou o ambiente como um som estridente.
Ao cruzar a soleira, Any surgiu coberta de poeira e fumaça, com o uniforme e a armadura queimados em pontos isolados, mas de pé, altiva, o olhar firme e direto.
Nastya foi a primeira a se levantar, a cadeira quase tombando para trás.
— Você… voltou? — sussurrou, incrédula, aproximando-se com passos apressados. — Você foi derrotada?
Any nada respondeu de imediato. Apenas ergueu os olhos na direção da jovem jardineira, como se a pergunta fosse irrelevante. Suas mãos cerradas mostravam o esforço em conter algo.
Talvez dor, talvez frustração. Mas não havia hesitação em seus passos. Ela caminhou até a mesa como se nada houvesse mudado.
Phill soltou um longo suspiro e empurrou o prato para o lado.
— Mas também… que ideia estúpida foi essa de querer enfrentar o mais forte da Muralha dos Corajosos? — disse, tentando esconder a preocupação sob o tom de crítica. — Você tem sorte de ainda estar viva. Geralmente, Suzano ele mata quem ousa desafiá-lo.
Any parou ao lado da mesa e olhou para Phill como se sua fala não passasse de ruído. Nastya, por outro lado, já estava perto o bastante para notar os detalhes.
— Espere… — disse ela, franzindo a testa. Seus olhos correram pelas vestes da soldado. — Você está… bem. Nenhum ferimento visível. Como isso é possível?
Foi então que a jardineira notou: na nuca de Any, exatamente onde o colarinho queimado do uniforme deixava a pele exposta, havia uma mancha negra, fina como galhos de relâmpago fossilizados, espalhando-se como raízes sob a pele.
— Tem algo… aqui. Parece uma marca de raio. — Nastya estendeu a mão, hesitante, mas não tocou.
— Ele me acertou. Com tudo o que tinha. — murmurou Any enfim, a voz baixa, seca. — Parece que nem mesmo minha regeneração conseguiu me livrar da cicatriz.
Ela se sentou.
— Quando é a próxima batalha de ascenção? — Perguntou a soldado para Phill.
— As batalhas ocorrem de sete em sete dias. — Respondeu o cocheiro. — Descanse e lute na próxima depois dessa. Daqui 14 dias aposto que você estará…
— Faltam sete dias para a próxima oportunidade de atravessar. — Any confirmou para si mesma, cortando Phill. — E eu estarei lá.
Silêncio caiu sobre a mesa. Phill cruzou os braços, desconcertado.
— Você pretende tentar de novo? Contra outro oponente eu espero! Ou… vai atrás do Suzano outra vez?
— Não importa quem esteja no caminho. Eu tenho uma missão. Os príncipes devem chegar ao Castelo Negro. E se eu tiver que atravessar muralhas sozinha até alcançá-los… eu vou.
A soldado se levantou e subiu as escadas da hospedaria. Rhyssara havia avisado antes que se algum deles perdessem, ela já havia deixado os quartos pagos pra pelo menos um mês.
Any entrou em seu quarto, enfim sozinha com seus pensamentos. Tudo que inundava sua mente eram as palavras de Suzano SkyFall entre os trovões.
“Você não busca vencer ou cumprir ordens.”
Ela se lembrava com clareza das palavras ditas mais cedo naquele dia.
“O que você tanto busca, é a morte.”
Any se jogou na cama de seu quarto.
— Morte… — Ela cochichou para si mesma. — Que incompetente…
Ela adormeceu.
No dia seguinte, após um bom banho, Any saiu de seu quarto e foi bater na porta do quarto de Phill.
O homem levemente acima do peso e de pijama azul abriu a porta do quarto ainda bocejando.
— Pois não? — Ele falou sonolento. — Any? O sol nem apareceu no horizonte ainda, a senhora deve estar muito cans…
— Quero um lugar para poder treinar. Onde posso ir que terei um desafio a altura?
— O que? Essa hora? Pra você nessa muralha não existiria adversário a altura… Volte a dormir e descanse, se você desafiar qualquer um sem ser Suzano na Muralha dos Corajosos aposto que saída vitoriosa sem muito esforço.
E assim o cocheiro fechou a porta na cara de Any.
Any bufou de leve e começou descer as escadas da hospedaria.
No salão, refeições eram postas na mesa de madeira longa por uma adolescente de vestido marrom e laço na cabeça.
— Bom dia. — A jovem comprimentos com um sorriso. — Ainda está cedo, a mesa ficará pronta em vinte minutos.
Any apenas respondeu o comprimento com um aceno breve.
Mas ao passar os olhos pelo salão ela viu Nastya sentada no balcão da cessão de bebidas do salão, que ficava do outro lado da grande lareira que mantinha o ambiente aquecido. Ela estava tomando uma bebida quente naquela manhã fria de inverno.
Os olhos verdes dela cruzaram com os de Any um cumprimento sincero esvaiu de sua boca.
— Bom dia, Any. Aceita um chá?
Any deu de ombros e começou a descer as escadas na direção do balcão. Sua armadura fazendo sons metálicos enquanto desciam cada degrau.
A jovem que colocava a mesa reparou no leão alado no peito da armadura e seu cenho mudou brevemente para um mais sério e ela se retirou.
Any perceberá a mudança de expressão, mas não se importou muito.
— Pretende ficar com essa armadura até quando? — Any perguntou bicando mais uma vez seu copo.
Any se sentou ao lado de Nastya e viu a garrafa de chá encima do balcão. Ela pegou um copo que estava de boca para baixo e se serviu.
— Sou uma soldado. Não pretendo retira-la.
— Mas estamos em Ossuia e, mesmo que sejamos convidados, não acho que andar por aí desfilando com as cores e símbolo de Lyberion seja uma boa ideia.
— Não me importo com que os outros pensem. E se tiverem algo contra, eu mais que ninguém estaria disposta a resolver a situação. — A voz de Any rasgou o ar após beber da bebida quente e doce.
— Você só vai precisar dessa armadura daqui a sete dias pelo que fiquei sabendo. O que acha de irmos até algum centro comercial e comprar algumas roupas?
— Não sou esse tipo de mulher. — Any respondeu com desdém.
— É sim. — Nastya respondeu sem nem piscar.
Any a fitou por um instante.
Nastya gaguejou quando percebeu que havia parecido rude.
— N-não quis ser rude, me desculpa! É só que, como minha mãe é uma empregada geral, que atende todos os setores do palácio de ouro, vez ou outra ela é incumbida de lavar as vestes dos soldados e ela é bem organizada para não misturar roupas de pessoas diferentes, e eu ajudo ela de vez enquanto…
— E…?
— E que só as suas peças íntimas pagam quase dois meses do meu salário, não sei porque, mas parece que você só usa a mais fina das sedas.
Any por um momento sentiu um rubor desconcertante subir em sua face.
— É o que fui acostumada a vestir quando eu era…
Ela não conseguiu terminar a frase que a faria lembrar do que seus pais haviam feito. A vendido para o Bar de Ciscer por um punhado de ouro.
— Tudo bem. Usar roupas boas e confortáveis não tem nada de errado. E pode ser um ótimo jeito de distrair sua mente.
— Sou uma soldado, não preciso de distração, preciso cumprir minha missão! — Any se levantou.
— Mas vai ter que esperar sete dias de qualquer forma. Porque não ser “Any” ao invés de “soldado” por esse tempo?
Any deu uma risada sem graça.
— A anos que não sei quem é Any sem ser a soldado.
— Temos sete dias para descobrir.
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