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    O manto verde-musgo de Nastya balançava à frente, cada passo seu afundando levemente na fina camada de geada que cobria o chão. Any a seguia com a respiração controlada, ignorando o frio que queimava seu rosto.

    À medida que avançavam rumo à cidade interna da Muralha dos Corajosos, que conduzia à arena e, por sua vez, à Cidade dos Corajosos, o breu das ruas estreitas dava lugar a um clarão fixo e amarelado. Havia duas luminárias coloniais, presas nas paredes ao redor da entrada para a arena. O contraste com a escuridão ao redor tornava aquele ponto ainda mais chamativo, como um ponto luminoso em meio ao breu.

    Any diminuiu o passo ao notar a presença de um soldado parado bem diante do portão. Sua armadura vermelha refletia a luz, revelando detalhes entalhados nos ombros e no elmo. Ele estava imóvel, como se o frio não o afetasse, um sentinela atento e inquebrável.

    Desviando pelo flanco direito, Any se colou à parede de uma construção inacabada. As vigas de madeira expostas e a ausência de portas ou janelas lhe davam uma visão parcial da entrada, mas a protegiam do brilho que poderia denunciá-la.

    Do canto escuro, seus olhos se fixaram em Nastya.

    A jardineira não hesitou. Continuou em linha reta até o soldado, o manto oscilando com o vento cortante.

    O que ela estava fazendo?

    Não podia estar pensando em se inscrever de última hora para lutar na arena. Nastya não tinha ARGUEM. Nem experiência de combate. Não poderia enfrentar um guerreiro com raízes e plantas.

    Any se abaixou instintivamente, mantendo-se apenas o suficiente erguida para não perder nenhum movimento. O frio ali, na sombra, parecia mais pesado.

    Então ouviu Nastya falar:

    — Quero solicitar uma oportunidade para ascender.

    A voz não era a mesma. Não havia traço de meiguice ou timidez. Era fria, incisiva. Uma confiança que Any nunca ouvira sair de seus lábios.

    Ela deu um passo à frente, pronta para impedir a amiga daquela loucura. Lutas na arena podiam terminar em morte.

    Mas então, sob a luz amarelada das luminárias, uma figura encapuzada surgiu.

    Any parou no ato, o corpo enrijecido.

    — Tem certeza de que está na hora? — perguntou uma voz grave, abafada pelo tecido do capuz.

    Nastya olhou o homem e respondeu sem vacilar:

    — Não vou conseguir prosseguir se continuar aqui, apenas esperando. Tem que ser feito.

    A soldado franziu o cenho. Que conversa era aquela?

    — Me acompanhe para anunciar seu desafio — cortou a voz firme do soldado de armadura vermelha.

    Nastya o seguiu para dentro da arena, provavelmente até o livro onde poderia lançar seu desafio a qualquer morador da Cidade dos Corajosos.

    O homem encapuzado ficou do lado de fora.

    Ele não se movia, mas sua presença pesava no ar. A luz revelava apenas um queixo firme sob a sombra do capuz, e a postura reta de quem sabia exatamente onde estava e o que fazia.

    Any sentiu, sem saber explicar: ele era perigoso.

    O encapuzado virou a cabeça lentamente, e ela viu seu pescoço se voltar em sua direção.

    Um instinto gritou dentro dela: não podia enfrentá-lo.

    Sem barulho, ela foi para trás, sumindo na rua que levava de volta à hospedaria.

    Any recuou pela sombra da construção, sentindo o vento cortar a pele como lâminas de gelo. O instinto gritava para ela se afastar, mas antes que conseguisse alcançar a rua que levava de volta à hospedaria, uma silhueta se destacou no meio da névoa tênue que começava a se erguer do chão gelado.

    O homem encapuzado.

    Ele não se apressou. Caminhou até parar no centro do beco estreito, bloqueando a saída. A luz amarelada de uma luminária distante apenas tocava o tecido escuro do manto, sem revelar o rosto.

    — Você tem o passo leve para uma soldado. — A voz grave soou quase cordial, mas havia nela algo de predatório, como quem já havia medido e pesado a presa. — Mas não leve o bastante para mim.

    Any não respondeu de imediato. Seus olhos analisaram a postura dele, a distância, possíveis rotas de fuga.

    — Se me conhece, sabe que não é saudável ficar no meu caminho. — Sua voz saiu firme, sem ameaça aberta, mas carregada de certeza.

    O homem riu baixo, um som curto e sem humor.

    — Eu conheço todos que valem a pena conhecer, soldado de Lyberion. — Ele deu um passo para a frente, e a sombra do capuz projetou-se ainda mais sobre o rosto. — Mas você… você não veio aqui por acaso. Seguiu ela.

    O nome não foi dito, mas Any sabia de quem ele falava.

    — Quem é você? — perguntou, sem baixar o tom.

    — Chamam-me de Blando, antigo Capitão da Guarda Real. — A pronúncia veio lenta, como se quisesse medir o efeito. — Também chamam de traidor, cavaleiro sem honra, traficante de informações… Mas eu prefiro que me veja apenas como um negociante de verdades.

    Any já tinha ouvido aquele nome. Informante. Contrabandista de segredos. Também um traidor procurado. Um homem no qual muitos acreditavam ter o poder para derrubar reis e imperadores apenas com seu conhecimento.

    — E o que um “negociante de verdades” quer comigo? —

    — Nada. — O tom dele mudou para algo mais frio. — O problema é que está no lugar errado, na hora errada… e atrás da pessoa errada.

    De repente, um vulto veloz cortou o espaço diante dela. Any apenas sentiu o ar rasgar junto ao seu rosto, e então o ardor queimou sua pele. Um filete de sangue escorreu de sua bochecha, quente, denunciando o corte fino e preciso.

    Instintivamente, girou o corpo, os olhos arregalados em choque.

    Atrás de si, erguida sob a penumbra, estava Nastya. O manto verde-musgo ainda balançava com o vento, mas agora parecia parte de uma presença ameaçadora. A jovem segurava uma cimitarra desembainhada, lâmina curva que refletia a luz da lua em tons prateados. Seus olhos… não eram mais os da jardineira que Any conhecia. Eram frios e impiedosos.

    — Eu disse que não queria ela envolvida. — Nastya falou para Blando, mas seus olhos não deixaram Any.

    — Ela já está envolvida — respondeu ele, num tom firme, que cortou o ar gelado.

    Any sentiu o corpo inteiro ficar tenso. A cena diante dela gritava respostas que ela não queria ouvir.

    — O que é isso, Nastya? — A voz saiu mais áspera do que pretendia. — O que significa isso?!

    Nastya não respondeu de imediato. Com um gesto lento, afastou o manto verde para trás e girou o corpo de lado, assumindo uma postura firme. A cimitarra ergueu-se em sua mão, e o cabo, de um verde esmeralda intenso, parecia refletir, como um espelho, a mesma cor fria e penetrante dos olhos dela.

    — Essa… lâmina… — murmurou Any, reconhecendo o brilho afiado.

    Então Nastya a segurou ainda mais firme, e a transformação veio como uma onda. Os cabelos cacheados e castanhos se estenderam, tornando-se brancos como neve. A pele bronzeada empalideceu até ficar branca  e pálida. E, quando ergueu o rosto, uma máscara de lobrasa cobria-lhe a face.

    — Você… Mas como? — Any deu um passo para trás, o coração disparando. — Era você… esse tempo todo.

    — Sim. — A resposta foi simples, mas carregada de um peso que não carregava satisfação. — Rhyssara desconfiou desde o início. Mas eu disfarcei bem… nunca lhe dei a certeza de que precisava para me confrontar.

    Any franziu o cenho, lutando para entender.

    — Se ela desconfiava, por que não invadiu sua mente? Isso não faz sentido!

    — Acha que ela não tentou? — Nastya deu um passo lento à frente, os olhos brilhando por trás da máscara. — Minhas defesas mentais foram forjadas e treinadas desde que me entendo por gente. Ela só viu o que eu quis mostrar. Mas… mesmo assim, ficou com um pé atrás. A intuição dela é admirável.

    O silêncio entre as duas pareceu mais frio que a própria madrugada. Any respirou fundo, e a conclusão caiu sobre ela como um peso impossível de evitar.

    — Então… não estou diante da minha amiga. Se é que… alguma vez nós fomos algo de verdade.

    — Está diante de quem eu sempre fui. — O tom de Nastya agora era puro gelo.

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