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    Os gritos da plateia ainda ecoavam nos ouvidos de Kroask, enquanto ele pairava sobre todos.

    O vento cortava seu rosto suado como uma lâmina gelada, refrescante, embriagante.

    A sensação de estar no ar… pela primeira vez ele a experimentava de verdade.

    O céu, tão distante em sua infância, agora estava ali. Ao alcance. E ele fazia parte daquele vasto azul.

    “Click… tchzzzt… brrrrrrr.”

    Um zunido metálico invadiu seus ouvidos.

    Seus olhos se arregalaram quando olhou para baixo: a propulsão das botas a jato havia cessado.

    O rugido do público se misturou a um estrondo seco quando o corpo pesado do exoesqueleto tombou do céu, despencando como um cometa morto. O impacto contra a arena ergueu poeira e vibrou pelas placas de pedra.

    — Argh… — Kroask cuspiu ao bater no chão, sentindo as costas esmagadas pelo peso metálico. — Que droga. Devia ter testado as botas antes. Ao menos não estouraram minhas pernas quando ligaram… mas o consumo de energia ferrou tudo.

    Fechou os olhos, arfando.

    — Pelos deuses… sabe-se lá quando vou conseguir roubar os armazéns do Departamento de Pesquisa e Estratégia da Cidade dos Corajosos. Roubar do DPE da Externa era moleza perto daquela fortaleza…

    — Bom ouvir sua opinião sobre a nossa segurança. — Uma voz feminina soou, cortante e irônica.

    Kroask congelou. Só então percebeu: não estava apenas pensando. Tinha falado em voz alta.

    — …Hã? — virou os olhos, ainda preso no exoesqueleto.

    À sua frente, ajoelhada na poeira, estava uma mulher de cabelos castanhos que se desfaziam em laranjas num degradê ousado. Os óculos escorregavam da ponta do nariz, e o olhar por trás das lentes era afiado como bisturi.

    Uma mão estendida. Uma presença que não combinava em nada com a vibração caótica da arena.

    — G-Geo… Geotecna Science?! — Kroask arregalou os olhos, tentando se erguer. O exoesqueleto, sem energia, pesava como uma prisão de chumbo.

    Ela empurrou os óculos com um dedo, sem pressa.

    — Doutora Science, ladrãozinho.

    — Ladrão? Eu? — Kroask forçou um sorriso nervoso. — Nada disso… deve ser um mal-entendido, sabe?

    — Você conhece as leis. — A voz dela soou calma, mas os dois guardas que surgiram atrás deixavam claro que a sentença já estava definida.

    Kroask engoliu em seco.

    — A punição para roubo — continuou Geotecna, inclinando-se até que seus olhos ficassem na altura dos dele — ainda mais de uma instituição imperial, é a execução.

    Fez uma pausa, breve e cruel. — A não ser que…

    O medo no rosto de Kroask se dissolveu em algo diferente. Um lampejo de raciocínio.

    — Espera… — ele arfou. — O armazém não tinha guarda nenhum. E as peças estavam todas ali, perfeitas para o meu traje…

    Seus olhos se estreitaram. — Você queria que eu entrasse lá.

    Um sorriso mínimo ergueu os lábios da cientista.

    — Você esqueceu de levar o transponder de ondas energéticas via lítio e cobre. O que manteria sua geringonça malfeita funcionando mesmo sem sobrecarga de energia. — Ela ajeitou os óculos. — Uma peça que deixei justamente para ver se a encontraria.

    Kroask estalou a língua.

    — Maldita… você me manipulou!

    — Não. — Geotecna rebateu, impassível. — Eu lhe dei uma escolha.

    Ela ergueu o queixo, e os guardas o seguraram pelos braços, erguendo-o do chão.

    — Será a morte… ou o império terá seu conhecimento a serviço da ciência.

    — Eu já disse! — Kroask rosnou, o semblante duro. — Eu não sou cientista. Sou um guerreiro!

    — Então será um guerreiro morto. — Os olhos dela faiscaram atrás das lentes. — Ou um cientista vivo. O que prefere?

    Kroask apertou os dentes. A resposta não veio. Só o silêncio pesado e o barulho distante da plateia que ainda não compreendia nada. Uns ainda gritavam seu nome, outros murmuravam confusos.

    Geotecna se ergueu, satisfeita.

    — Agradeça ao IronFist. Foi ele quem insistiu para que eu desse essa chance. Disse que eu não me arrependeria.

    O coração de Kroask disparou ao ouvir aquele nome.

    — Morgan… — sussurrou.

    Seus olhos varreram as arquibancadas até ver o antigo amigo o encarando com um sorriso satisfeito escorado no vidro da sala privativa.

    E então, diante de milhares de olhos que não entendiam o que estavam testemunhando, Kroask foi levado pelos guardas.

    Vivo.

    A confusão da plateia cessou quando Hermes, com seu sorriso inflamado, ergueu a voz:

    — QUE INÍCIO DE DIA TIVEMOS NA ARENA! — proclamou, abrindo os braços como se abraçasse o público inteiro. — E pensar que ainda é manhã… Já estou prestes a gastar minha mana arrumando essa bagunça para o próximo espetáculo!

    Com um gesto teatral, enfiou a mão por dentro da blusa e puxou um livro cinzento de capa dura, cravejado por inscrições rúnicas que cintilavam.

    — Magia de Restauração Inanimada… RESSURREIÇÃO!

    De súbito, um fulgor cinzento tomou conta dos destroços. O chão tremeu suave, mas não como antes. Era um pulsar sereno, como se a própria terra respirasse aliviada. As crateras começaram a se encolher, fissuras se costuraram como pele cicatrizando, e pedra após pedra retornou ao lugar de origem. O impossível sempre se repetia, e ainda assim os espectadores não conseguiam se acostumar ao espetáculo da arena renascendo diante de seus olhos.

    Na cabine, enquanto todos admiravam a cena, Tály se aproximou de Morgan, que assistia com seu sorriso enviesado, quase discreto demais para ser um sorriso.

    — Geotecna Science aparecendo justo no fim da luta e saindo de cena de braço dado com Kroask… — ela comentou em voz baixa, mas afiada. — Pelo que entendi, Rhyssara queria recrutá-lo na equipe de cientistas do DPE. Ele nunca aceitou, dizia que só reconhecia a si mesmo como guerreiro. Pelo menos era o que eu ouvi os príncipes murmurarem outro dia.

    Morgan desviou o olhar da reconstrução, como se tivesse achado graça na perspicácia dela.

    — Pelo que escutei de você e de Kroask na semana passada, eram amigos de infância… — Tály prosseguiu, arqueando uma sobrancelha com leveza. — Imagino que tenha dado um empurrãozinho para ele aceitar.

    — Vejo que você é observadora — Morgan retrucou com ironia seca. — E até inteligente o bastante para juntar as peças. Exceto quando se trata do seu coração.

    As palavras prenderam o ar na garganta de Tály por um instante.

    — Como é?

    Morgan não respondeu de imediato. Em vez disso, olhou de soslaio para Cassian, que conversava animadamente com Helick, ainda empolgado com a luta.

    — Como foi a noite? — perguntou, fingindo casualidade. — Espero que não tenha passado em claro.

    Tály suspirou fundo e cruzou os braços.

    — Não dormi com ele, se é isso que está insinuando. Eu e Cassian… já não temos nada. Há muito tempo.

    Morgan inclinou-se um pouco mais para perto, com um brilho provocador nos olhos.

    — Então está livre para um cortejo?

    Tály mordeu o lábio, mas logo abriu um sorriso malicioso, cheio de desafio:

    — Quem sabe?

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