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    O sol já avançava pelo céu quando a arena seguiu em seu ritmo impiedoso. Após a queda de Titã e o surpreendente vôo  de Kroask, vieram outros nomes, outros sonhos, outras quedas.

    Os príncipes assistiram de olhos atentos a cada combate. Havia sempre a mesma cadência: guerreiros da Muralha Externa que avançavam confiantes, sonhando e medindo forças contra adversários mais fortes da Muralha dos Corajosos; alguns resistiam além das expectativas, outros sucumbiam em minutos. Poucos, muito poucos, saíam vitoriosos, e esses eram saudados pela multidão como heróis momentâneos.

    Era impossível não se contagiar com a vibração da arena. As lâminas que tilintavam, as faíscas de mana, os gritos da plateia, a poeira erguida a cada impacto, tudo isso mantinha os príncipes de pé, inclinados sobre a mureta do camarote, trocando comentários entusiasmados. Cassian sorria largo a cada golpe bem dado, Helick analisava com olhar atento as técnicas, e até Rhyssara, reservada, deixava escapar pequenos sinais de interesse.

    E ainda assim, apesar do espetáculo incessante, havia uma expectativa silenciosa pairando sobre eles.

    Pois, embora cada luta tivesse seu brilho, todos do grupo aguardavam apenas uma entrada.

    O nome ecoava em suas mentes como um sussurro inevitável:

    Any.

    E enfim Hermes anunciou, sua voz ecoando por toda a arena:

    — E agora… a última luta do dia.

    O público explodiu em gritos, mas a empolgação diminuiu quando o tom do anunciador mudou.

    — Sei o que todos estavam esperando. A lyberiana que desafiou SkyFall.

    A multidão vibrou, lembrando-se da batalha sangrenta da última semana. Helick e Cassian se entreolharam, o brilho da expectativa nos olhos. Os soldados, camaradas de Any, se endireitaram em seus assentos.

    Mas então Hermes soltou a sentença:

    — Tenho o infortúnio de informar que a desafiante Any não compareceu à arena no dia de hoje… sendo assim, eliminada por desistência.

    O silêncio que se seguiu foi brutal.

    — O quê?! — Cassian se ergueu de um salto. — Ela não apareceu?!

    — Impossível… — Tály murmurou, atônita.

    — Alguma coisa aconteceu! — Marco apertou o punho contra a mesa.

    — Any não faltaria! Ela não perderia um dia sequer para nós acompanhar! — Redgar trovejou, golpeando a mesa com força. — Isso é errado… algo está errado com ela!

    O coração de Helick disparou.

    — E Nastya? — a voz saiu quase num grito, enquanto seus olhos buscavam os azuis dos de Rhyssara. — Será que ela também…?

    A imperatriz manteve o semblante frio, mas a rigidez em sua postura denunciava a surpresa.

    — Improvável que alguém do império a tenha atacado. Phill estava lá, e saberia recorrer à coroa se houvesse ameaça. Além disso… — sua voz ficou grave. — não há ninguém capaz de rivalizar com Any naquela muralha.

    Suzano cruzou os braços.

    — Então só resta uma opção: estrangeiros.

    Helick já estava de pé, ajustando a fivela da bainha em sua cintura.

    — Temos que ir até lá! Saber o que aconteceu com Any, com Phill, com Nastya!

    Morgan ergueu um braço, bloqueando sua passagem.

    — Calma aí, príncipe apaixonado. Você sabe o que significa pisar no território da Muralha Externa.

    — Eu sei! — Helick rebateu, os olhos em chamas. — Mas não vou ficar parado sem saber o destino deles!

    A tensão queimava como pólvora prestes a estourar. Mas então, a voz de Hermes voltou a bradar, cortando o ar:

    — Mas não pensem que isso será motivo para encerrarmos sem um espetáculo final!

    Os olhares se voltaram novamente à arena.

    — Para preencher a ausência de Any… — Hermes ergueu o tom, agora inflamado outra vez. — Sincer, que seria seu adversário, enfrentará uma desafiante surpresa!

    O sol já beijava o horizonte. As primeiras lâmpadas da arena acenderam-se, lançando círculos dourados sobre a areia ainda marcada pelas lutas. O público prendeu o fôlego, em suspense.

    — SENHORAS E SENHORES…!

    As luzes convergiram para o portão.

    Passos lentos. Firmes.

    Dele emergiu uma figura de roupas negras, cada movimento calculado como se a própria arena lhe pertencesse. O rosto coberto por uma máscara de lobrasa reluzia sob a tocha mais próxima. Em sua mão direita, uma cimitarra de lâmina curva, o punho adornado por uma esmeralda.

    O ar perdeu a temperatura. A multidão caiu em um silêncio ensurdecedor.

    — Não… — Helick sussurrou, o coração apertando no peito. — A Assassina.

    Cassian estreitou os olhos, confuso.

    — Espere… há algo diferente. Os cabelos… não são brancos como antes.

    De fato, agora eram volumosos, castanhos, escorrendo pelos ombros. E até sua altura parecia menor do que a lembrança que tinham gravada.

    — O que significa isso…? — Helick murmurou, sem encontrar resposta.

    — Veremos. — Rhyssara disse com um paciência forçada. — Veremos o que isso significa agora, nesse combate.

    Hermes então anunciou:

    — Com vocês: Ananda do Reino Independente do Sul!

    A assassina fez uma referência no meio da arena enquanto várias tomavam a boca do povo das arquibancadas.

    — Ananda? — Cassian indagou. — Que nome é esse?

    — Um nome falso, obviamente. — Rhyssara respondeu. — Mas sua origem… Reino Independente do Sul, não é?

    As arquibancadas explodiram em insultos, uma onda crescente que reverberava contra as paredes de pedra:

    — Você não é de lugar nenhum! — gritou um homem.

    — Nem reino vocês são, só um bando de traidores! — esbravejou outro.

    — Joguem-na no Deserto dos Condenados! — vociferou uma voz mais grave.

    — Esse símbolo de lobrasa não lhe pertence! — ecoou outro, atiçando ainda mais a massa.

    Hermes sorriu satisfeito com a fúria do público.

    — E para enfrentar a mascarada Ananda… SINCER!

    A arena abriu mais um de seus portões, este do lado da Cidade dos Corajosos e, com passos calculados, surgiu um homem alto e esguio. Seus cabelos loiros ondulavam sob o brilho das tochas, olhos verdes faiscando como joias raras. O chapéu emplumado e as roupas rebuscadas davam-lhe um ar de espetáculo, como se cada detalhe fosse ensaiado para fascinar.

    Ele se curvou diante da adversária, exagerado como um ator em sua peça:

    — Sou Sincer, herdeiro da beleza de Ciscer. — O colar negro com runas oscilou em seu peito quando ergueu o queixo. — Ah, que desperdício… esconder o rosto de uma dama sob a frieza de uma máscara. — Um meio sorriso insinuou-se em seus lábios. — Mas não tema, prometo ser gentil ao lhe arrancá-la.

    A expressão oculta por detrás da máscara de Ananda não conseguiu esconder o tom irônico em sua voz:

    — Está todo galanteador agora. Mas fiquei sabendo que, mais cedo, antes de Any ser desclassificada por ausência… você estava se borrando de medo, enfiado em um sanitário bem longe da arena.

    O rosto de Sincer se contorceu em incredulidade, a boca aberta num silêncio indignado.

    — Perdão?

    — Sim. — Ananda prosseguiu com desdém. — E também fiquei sabendo que só veio à arena porque soube que Any não apareceria. Preferiria que o exército te arrastasse pelos cabelos do que encarar a manipuladora de sangue de Lyberion. Para um rostinho tão bonito, você é surpreendentemente covarde.

    Um burburinho percorreu as arquibancadas. Risos nervosos escaparam, seguidos de vaias, assobios e aplausos irônicos. O nome de Sincer ecoava em tom de zombaria, e sua fama de refinado começava a rachar diante da multidão.

    — Pare de dizer mentiras, sua sem-lar! — ele gritou, vermelho, os punhos cerrados. — Mesmo que fosse verdade… como você saberia disso?!

    — Podemos dizer que… conheço um Traficante de Verdades.

    As vaias explodiram como pólvora. O público estava dividido entre fascinado e escandalizado. O orgulho de Sincer queimava, e seus olhos verdes faiscavam em fúria.

    — SEM MAIS CONVERSA! — rugiu Hermes, abafando o riso coletivo e tentando conter o próprio. Sua voz ecoou como trovão, restaurando a ordem. — LUUUTEEEM!

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