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Capítulo 163 — Fugitivo no Passado
Um mês atrás
Em meio a fumaça e gritos de soldados pelas ruas de pedras brancas de Lyberion, Ross se encontrava ofegante atrás de uma construção inacabada nos arredores da praça central. O soldado havia usado o teletransportador de curta distância que o Departamento de Pesquisa e Estratégia da Cidade Central havia desenvolvido.
Era só um protótipo, mas parecia ter funcionado. Sua missão estava concluída. O item que era pra ter sido extraído foi retirado com sucesso pelos seus superiores.
Ele passou um dia caminhando pelas vilas lyberianas. Ele precisava se livrar das cores ossuianas e voltar para o império. Ross conseguiu um conjunto de roupas surradas de blusa branca e calças verdes escuras e botas de couro furadas. Seria o suficiente até chegar na beira da Floresta das Árvores Andantes. Ele seguiu um mapa mental na qual ele conseguia se esgueirar pelas bordas da floresta a contornando, sem adentrar em seus domínios que poderiam ser mortais.
Ele teria que atravessar até as Montanhas de Patrock e vê se conseguiria alimento e abrigo para descansar e seguir caminho até o ponto de encontro onde teria um CSR o aguardando.
Faltando pouco menos de meio dia para chegar até o portão do reino dos anões, Ross acendeu uma pequena fogueira e colocou no espeto um coelhado, animal magro com orelhas longas, pele com várias pintas e pernas longas e fortes. A carne doce com um traço selvagem, cujo cheiro subia quente, convidativo, era suculenta.
Sua refeição foi interrompida pela metade quando um farfalhar de folhas envolta de seu acampamento chamou sua atenção. A mão do soldado foi indo de encontro ao cabo de sua espada pálida por instinto.
Foi então que seus olhos perceberam pequenos reflexos nos galhos altos das árvores e nos arbustos no chão. Pontas de flechas e fios de lâminas.
Ele estava cercado. Será que ele havia entrado no território da casa Silva por engano?
Não isso não era possível. Ele tinha certeza que os Silva não moravam tão próximos da Floresta das Árvores Andantes.
Um relinchar equino soou quando um cavalo surgiu da escuridão das árvores em volta, em suas costas um arqueiro que tinha o corpo coberto por um manto verde escuro e parte do rosto oculto por uma peça de pano igualmente esverdeada, apenas seus olhos afiados eram possíveis de serem vistos.
— Boa noite. — Ross disse sacando a espada.
— Está longe de casa, ossuiano. — O arqueiro começou, a voz fria, calculada. — Imagino que saiba o que aconteceu em Lyberion.
— Não sei do que está falando, sou apenas um viajante.
— Com um ARGUEM? Não traja roupas finas de nobres lyberianos, apenas trapos que poderiam ter sido roubados dos varais de roupas dos vilarejos ao redor da muralha. E isso com certeza não é o nível de alguém que este reino julgue digno de possuir magia.
— Seria difícil de acreditar que sou um dos poucos afortunados? — Ross perguntou, ao mesmo tempo que começava a emanar uma aura de mana de quem estava pronto para o confronto.
— Sim, seria. Mas não se preocupe, também não somos simpatizantes de Lyberion. — O homem falou descendo do cavalo, a capa esvoaçando enquanto se movia contra o vento gelado que vinha da floresta.
O arqueiro inclinou a cabeça, avaliando Ross do alto do cavalo. A capa estalou no vento frio com o cheiro de folhas úmidas vinha da floresta. Ross manteve a mão no cabo da espada, os olhos atentos à sombra entre as árvores.
— Não é? Ossuiano, tenho certeza que você não é. Então deve ser de um dos Reinos Independentes. Pelo que eu saiba, aqui não é seu território.
O arqueiro desmontou com calma e posicionou os cascos do cavalo mais para trás, deixando o animal farejar a fogueira e o que nela estava sendo assado. Seus olhos verdes cruzaram com os de Ross; havia curiosidade ali, não só ameaça.
— E isso impediu de você e seus companheiros de farda de estarem aqui?
Ross soltou um riso curto, seco, que não alcançou os olhos. A brasa estalou entre os gravetos, projetando sombras que dançaram no rosto do arqueiro.
— Um argumento justo. Mas que ARGUEM é esse em? Pelo que eu saiba os Reinos Independentes não possuem Armamentos.
O homem misterioso fez um gesto com a mão, vago, como quem dispensa explicações óbvias, e recostou-se numa raiz. O som distante de uma coruja marcou a noite.
— E é assim que continuamos sempre um passo à frente dos demais reinos, mesmo que eles pensem que estamos dois atrás.
A frase saiu sem arrogância, mais como um princípio ensinado do que uma vaidade. Ross franziu a testa, o rosto marcando surpresa e intriga.
— Responda. Quem são vocês?
— Somos os Vagalumes da Floresta, a primeira divisão a serviço do Traficante de Verdades.
O título levou um segundo para cair. Ross arqueou a sobrancelha. Dizer aquilo abertamente vinha com risco. Dar o nome significava aceitar consequências.
— Imagino que por ter falado isso, eu contando ou não, não sairei daqui vivo.
O arqueiro inclinou o corpo à frente, os olhos fixos no rosto de Ross como se estimassem seu valor. A respiração do jovem soldado saiu um pouco mais tensa.
— Isso depende. Você sabe qual o valor de uma verdade?
Ross permaneceu em silêncio; as palavras pairaram no ar frio, carregadas de expectativa. Ele não sabia qual espécie de resposta o homem buscava. Um sim? Uma rendição? Uma confissão?
— Vamos conversar. — o homem falou, sentando-se ao redor da fogueira que Ross havia feito. — E quando terminarmos você saberá a resposta.
Ross se sentou em frente, o couro das roupasse dobrando com o movimento lutando para se manter inteiro. As chamas douradas lambiam a carne do coelhado, estalando.
— Não vai chamar seus amigos para se sentarem junto conosco?
— Não, eles miram melhor de longe. Meu nome é Darian, comandante desse pelotão.
Darian pronunciou o próprio título com a naturalidade de quem não queria ostentar ou causar intimidação. Ross respirou fundo, medindo o homem à sua frente.
— Imagino que já saiba o meu.
— Sim, Rossander. Sinto pelos seus irmãos.
A frase de Darian trouxe um silêncio pesado. Ross apertou os punhos até as articulações ficarem brancas; o fogo refletiu em seus olhos que não piscaram.
— Não sinta. Morreram porque foram impacientes e incapazes de se controlar em uma situação de combate real. — A voz de Ross saiu dura, e, por um momento, uma sombra de dor passou pelo seu rosto. — Diz logo o que tem que dizer, mas não precisa ter pressa, ainda preciso pensar em como posso matar você e seus homens e sair daqui vivo.
Mesmo cercado e claramente em desvantagem, Ross não havia desistido da vida. Darian deixou escapar um sorriso satisfeito, os olhos estreitando.
— Se entender o que tenho que dizer, não será necessário. Primeiramente, uma informação gratuita para você: sua missão foi um fracasso.
O pronunciar da palavra “fracasso” ecoou como na mente do ossuiano. Ross ergueu a cabeça, o olhar cortando a distância entre os dois.
— O que?
— Alguém plantou um artefato falso no lugar para enganar quem quer que procurasse o original. Mas a questão aqui é: o que era esse artefato que Ossuia arriscou uma guerra para obter.
Ross sacudiu a cabeça, rápido, expressando descrença.
— Não tenho informações sobre isso.
Darian aproximou-se, os olhos faiscando sob a luz do fogo.
— Ah, tem sim. Mas não se preocupe, te darei outra verdade.
Ele pousou a mão sobre o joelho, calmo, e o crepitar da lenha voltou a tomar conta da noite.
— Você sabe quem são os verdadeiros inimigos da humanidade?
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