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Capítulo 176 — Ressonância
A arena tremeu como se tivesse vida própria.
O ruivo, erguido sobre uma única plataforma de terra pulsante sob seus pés, rugia para o céu enquanto fissuras serpenteavam pelo chão, vibrando como cordas prestes a estourar.
Cada respiração dele fazia o solo estremecer.
No alto, suspenso pelo vento que ainda rodopiava em espirais finas ao seu redor, Marco permanecia imóvel como o único ponto de calma em meio à tempestade de poeira e fragmentos que dançavam no ar.
O cheiro de terra quente invadia tudo. A arena parecia prender o fôlego.
Marco sentiu a mudança no fluxo de mana do adversário. A mana bagunçada e sem ritmo do ruivo começava a descer e subir como um tambor distante, ganhando ritmo, corpo… intenção.
“Aí vem.” — Marco pensou enquanto se preparava. — “Mostre do que é capaz, ossuiano.”
Ele ergueu a lâmina espelhada, e o vento respondeu como se reconhecesse o momento.
As duas mil lâminas esverdeadas e quase translucidas que serpentearam pelo ar se atiçaram.
O ruivo inclinou o corpo levemente para a frente.
Aquela mudança mínima, um simples passo, fez a arena inteira urrar.
O chão da arena começou a se estilhaçar como vidro .
Não apenas rachou: afundou, como se a terra tivesse sido puxada para baixo por algo vivo e faminto.
Um pulso surdo atravessou o solo.
A onda de choque subiu como um trovão subterrâneo, correndo pelas fissuras que se acendiam em um brilho púrpura-terroso.
As crateras se fecharam e se abriram de novo, como se a arena estivesse respirando.
Marco ergueu o olhar.
O som vinha de todos os lados ao mesmo tempo: grave, profundo, vibrante.
Era impossível saber de onde começava.
A terra inteira era o ruivo.
Marco sentiu que agora o adversário em sua frente já estava a um nível na qual ele não poderia mais subestima-lo.
— Parece que as coisas finalmente irão começar a ficar interessantes. — O soldado lyberiano disse. — Me responda, qual seu nome ruivo?
O ruivo concentrado respirou fundo, como se aliviasse a tensão por um momento breve e curto, os tremores acompanhando o ritmo da respiração.
— Robter. E você? — O ruivo perguntou, uma aura púrpura emanava dele, tremulando como calor sobre pedra quente. . — Ainda não acredito que se chama Mattew.
— Marco. — Respondeu. — Agora, continue.
No mesmo instante a terra gritou, mas seu grito que veio das profundezas da terra era sólido e se encaminhou na direção de Marco.
Instrutivamente Marco ordenou que as lâminas de ar o defendesse, mas o impacto foi estrondoso e forte de mais, forçando-o a recuar no ar.
“O que foi isso?” — Marco pensou. “Não foi terra nem rocha, mas um impacto que atravessou a distância entre nós e me atingiu.”
Ao voltar seus olhos para onde Robter estava, ele percebeu que o homem não estava mais no mesmo local.
— Estou aqui, Marco de Lyberion. — O ruivo falou de cima de Marco.
Ele caia freneticamente do céu acima de Marco e antes que Marco pudesse reagir Robter o atingiu em cheio.
Eles despencaram juntos até o solo fissurado da arena coberta de neve.
As costas de Marco estalaram com o impacto no chão, mas por sorte a armadura havia absorvido a maior parte do impacto. Mas seus problemas ainda não haviam acabado.
Robter estava em cima dele, os punhos fechados mirando seu rosto.
Marco desviou o rosto para esquerda, esquivando por pouco de um direto que esmagaria sua face, assim como fez com o chão que fora atingido.
A espada de Marco não havia saído de sua mão, e com um chamado mental ordenou que as lâminas de sua magia atacassem. Mas ao chegarem próximas de Robter, as lâminas ricocheteavam como se batessem em uma membrana de ar vibrando a uma frequência absurda.
— Não vai mais funcionar. — O ruivo falou com um sorriso vitorioso.
Robter se permitiu um instante de triunfo. Foi tudo o que Marco precisou.
Ele ergueu a cabeça num movimento curto e preciso, acertando o nariz do ruivo com força. A vibração sísmica ao redor vacilou por um momento, e Marco se esgueirou para longe antes que o ossuiano recuperasse o foco.
— Vamos lá… é só isso, Robter de Ossuia? — Marco provocou, espada em punho, ansioso para ver até onde o poder do ruivo podia ir.
Robter passou o antebraço pelo nariz sangrando, inspirou fundo e sorriu.
— Você ainda não viu nada, Marco de Lyberion.
A aura púrpura retornou, mais densa, mais pulsante. Com um único movimento em arco do braço direito, ele lançou o ataque.
Marco não via nada, mas sentia.
Uma onda sísmica devastadora corria em sua direção, abrindo fissuras profundas sob a neve, rachando o solo como papel seco.
O lyberiano impulsionou-se para o alto, o vento o segurando no ar… mas não por muito tempo.
Um impacto subiu direto de baixo, acertando-o como um gancho invisível.
Robter havia redirecionado a onda para cima.
— Espero que agora entenda — disse o ossuiano, sua voz vibrando em múltiplas frequências ao mesmo tempo. — Meu poder não é comandar a terra, mas as ondas que vivem nela. Ondas que ninguém vê. Eu apenas as uso para provocar as placas tectônicas sob o solo e manipular o que está na superfície. Útil para causar destruição em massa… e bem divertido.
Marco caiu do céu, os pés tocando novamente o solo agora desnudo, a neve totalmente varrida de tanto tremor.
— Mas não pense que me limito a isso. — Robter ergueu a mão. — Também posso gerar vibrações de impacto diretamente no seu corpo.
Ele estalou os dedos.
Uma explosão invisível acertou o ombro esquerdo de Marco.
— Aaargh! — Marco grunhiu se batendo o joelho direito no chão, sentindo o osso vibrar como se alguém tivesse batido um martelo por dentro da carne. — Um golpe direto, mesmo à distância…? Interessante.
O sorriso não saiu de seu rosto.
E isso deixava Robter cada vez mais furioso.
Marco levou a mão ao ombro atingido, sentindo a reverberação do impacto ainda pulsando sob a pele. A dor vibrava em pequenas ondas, como ecos atrasados de um terremoto particular.
Mas ele não estava preocupado.
Estava… fascinado.
“A forma como ele molda a mana… isso é realmente impressionante.”
Marco estreitou os olhos, analisando Robter enquanto o ruivo recuperava postura para atacar novamente. Não era apenas mana bruta. Não era força. Não era a típica manipulação elementar.
Era uma estrutura, um ritmo.
“Ele comprime a mana em frequências. Cada golpe que solta é como um martelo invisível acertando as juntas da realidade. Não é a terra que o obedece… é a vibração que obriga a terra a seguir.”
Marco ergueu a espada espelhada, mas não atacou. Apenas sentia.
“A energia dele não sobe… nem desce. Ela pulsa. Como cordas de um instrumento gigante enterrado no fundo do mundo. Se eu copiar isso direito… posso fazer o mesmo. E se eu adicionar essa técnica a de Stronger…
A ideia o empolgou.
No fundo de seus pensamentos, um sorriso se formou.
“Vento vibratório… vento que corta não pela lâmina, mas pela oscilação… Isso seria letal. Invisível. Impossível de bloquear.”
Ele sentiu outra onda sísmica se formando. Robter moldando a mana em círculos concêntricos no próprio peito, moldando a mana em ondas invisíveis.
A armadura anã brilhou em suas bordas com um prateado brilhante, o que indicava que ela havia começado a fazer seu trabalho.
Enquanto o ARGUEM de Marco, sua espada espelhada, precisava tocar diretamente a mana para copiá-la, a armadura que ele recebera de Jeffzzos nas Montanhas de Patrock fazia o oposto: ela analisava o comportamento da mana ao redor, traduzia suas oscilações e enviava essas informações para a lâmina… que então as transmitia diretamente ao cérebro de Marco.
“É assim que ele concentra… assim que direciona… Não é uma magia de terra. É uma magia de resonância.”
Marco inclinou levemente a cabeça, apreciando o processo como um artesão observando uma técnica rara.
“Se eu copiar isso, posso dobrar a técnica dos dois mil cortes. Impulsionar cada lâmina de vento com vibração interna… cada uma se tornando uma serra… ou talvez…”
O sorriso abriu-se por completo.
“…uma explosão direcionada.”
A arena tremia em resposta à preparação de Robter, mas os olhos de Marco permaneciam calmos, quase brilhando de entusiasmo.
“Sim… isso definitivamente merece entrar no meu arsenal.”
— PARE DE RIR, SEU DESGRAÇADO! E MORRA ESMAGADO PELA MINHA MANA!
Robter abriu os braços como se agarrasse o próprio ar, e a mana ao seu redor respondeu imediatamente. Não fluindo, não queimando, mas vibrando em círculos concentrados, acelerando até que o som se tornasse um ronco grave, quase inaudível.
O chão tremeu. O ar tremeu. A arena inteira parecia perder profundidade por um instante. Cada lutador e criatura nas quatros arenas sobrepostas sentia o tremor. As arquibancadas que assistiam as lutas com entusiasmo se calaram para apreciar o poder catastrófico
Então Robter puxou.
E o mundo à sua frente entortou.
As linhas do espaço começaram a se curvar como se fossem feitas de metal aquecido. O horizonte se dobrou. A distância se retraiu. A luz se comprimiu em faixas brilhantes que estalavam como cordas sendo tensionadas ao limite.
A pressão veio logo depois. E ela era brutal, absoluta, esmagadora.
Tudo diante dele foi achatado, como se mãos colossais invisíveis pressionassem a realidade contra si mesma. Rochas se curvaram, o ar se solidificou, e a própria arena rangeu como madeira velha prestes a se partir.
A vibração que sustentava a técnica era monstruosa: frequência sobre frequência, dezenas de ondas convergindo num único ponto, colidindo, dobrando e comprimindo matéria, mana e espaço.
O mundo tentou resistir. E falhou.
Uma faixa inteira à frente de Robter foi reduzida a um corredor de destruição onde tudo — poeira, pedra, metal, som — era esmagado em uma única lâmina de pressão pura.
Não havia explosão, nem luz, nem fogo.
Apenas o som seco e terrível do mundo sendo espremido até quase deixar de existir.
Robter rugiu, empurrando mais mana para alimentar a compressão, e o corredor achatado avançou como uma muralha invisível, devastando tudo que tocava.
— MAGIA DE RESSONÂNCIA…
Robter empurrou os braços para frente, e a realidade cedeu.
— MUNDO COMPRIMIDO!
A pressão do Mundo Comprimido avançava, dobrando o ar, esmagando o chão e tentando colapsar tudo pela frente. Marco sentiu o peso chegando como se uma muralha invisível quisesse engolir o mundo.
Mas seus olhos brilharam, não de medo, mas sim de compreensão. O sorriso de antes deu espaço a um semblante focado, concentrado ao máximo.
A armadura prateada vibrou como um sino tocado por uma tempestade. A espada espelhada devolveu as ondas em fragmentos de luz.
“Então é assim que você força o mundo a ajoelhar…”
Marco ergueu a lâmina.
E a vibração que ele invocou não era uma cópia perfeita, era uma adaptação.
Mais afiada.
Mais rápida.
Mais perigosa.
Ele comprimiu o próprio vento. Não em uma lâmina. Mas em uma frequência única, tão alta que o ar começou a abrir pequenas fendas invisíveis ao redor da espada.
Linhas finas, silenciosas, que não deveriam existir.
— Magia Espelhada: Fenda de Ressonância… — Marco murmurou.
O mundo à frente de Robter se esmagava.
O mundo à frente de Marco… se dividia.
Marco avançou um único passo e o vento se partiu como vidro.
Uma fenda se abriu, uma linha negra vibrante, separando o espaço em dois como se fosse tecido. Tudo que estava entre Marco e a pressão de Robter foi cortado.
Não destruído.
Cortado.
Cortado em sua frequência.
A muralha de compressão colidiu com a fenda.
E estalou.
Não como pedra rachada.
Não como vidro quebrado.
Mas como um instrumento desafinado sendo partido ao meio.
A técnica de Robter perdeu coerência.
As ondas se desarranjaram.
A pressão começou a colapsar sobre si mesma, incapaz de manter um mundo comprimido que agora estava… dividido.
Marco girou a espada, abrindo mais duas fendas cruzadas. Rápidas, afiadas, leves como fios de vento.
— …MUNDO PARTILHADO.
A ressonância se inverteu.
A compressão se quebrou.
Um corredor inteiro da técnica de Robter se despedaçou em vibrações soltas, como um castelo esmagado sendo abruptamente puxado em direções opostas.
E Marco avançou por dentro do espaço rachado, caminhando por uma fratura luminosa, como se o ar fosse uma porta aberta apenas para ele.
Com a lâmina apontada para o ruivo, Marco o encarou, os olhos brilhando, mas ainda focados como um verdadeiro viciado em mana que ele era.
— Obrigado pela inspiração, Robter.

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