Capítulo 18 — Imperatriz
por Felipe BahiaRhyssara, acompanhada por Agnus, ainda de expressão fechada, e pelo grupo de soldados ossuianos, adentrou o grande salão do palácio de Lyberion. As portas se abriram e a imperatriz pôde ver um lampejo azul que irradiava no cômodo. Com um aceno, ela ordenou que todos a aguardassem na entrada enquanto ela seguia para dentro.
— Alguém falou meu nome? — A voz feminina de Rhyssara ecoou pelo hall de entrada do palácio, clara e imponente.
Helick, Cassian, Sam, Leonardrick, Any e Marco voltaram seus olhares para a entrada, onde a imperatriz se destacava com sua presença magnética.
Sam e as sentinelas que acompanhavam Cassian se puseram em prontidão à frente dos príncipes ao verem a mulher que entrara sem ser anunciada. O salão, decorado com os luxos e riquezas de Lyberion, parecia pequeno diante da presença da Imperatriz de Ossuia.
— Não pode ser… você é… — Começou Sam incrédulo, seus olhos quase saltando para fora.
Rhyssara abriu um sorriso malicioso enquanto caminhava pelo salão, seu vestido de seda vermelha e negra brilhando sob a luz das tochas, a coroa de diamante negro cintilando em sua cabeça e seu cetro se misturando à decoração dourada.
— Eu sou a grande Imperatriz do Império de Ossuia, — afirmou a mulher com imponência, balançando seus cabelos vermelhos como sangue — Rhyssara BloodRose.
Helick, ainda segurando sua Centelha Mágica, olhou para Leonardrick, que por um momento pareceu perder a fala. Cassian, ao lado do irmão, observava com curiosidade a figura impressionante que se aproximava.
— Imperatriz BloodRose, — disse o capitão Sam Haras, recuperando a compostura e se inclinando levemente em respeito. — Sou o Capitão da Guarda Real, Sam Haras, é uma honra recebê-la em Lyberion.
Rhyssara caminhou até parar em frente a Sam, seu olhar penetrante avaliando cada um dos presentes.
— A honra é minha, lorde Haras, — respondeu Rhyssara, sua voz suave, mas cheia de autoridade.
— Agradeço o cumprimento, mas não sou nenhum lorde — corrigiu Sam em reverência.
Sam podia sentir a presença de mana esmagadora que irradiava da imperatriz, mas não podia deixar de notar a presença não planejada de uma figura tão importante e perigosa sem aviso prévio na casa real.
Rhyssara ignorou a correção de Sam e continuou a avaliar a sala, seus olhos azuis profundos varrendo cada rosto. Helick deu um passo à frente, ainda segurando sua Centelha Mágica.
— Imperatriz Rhyssara, — disse ele, evidenciando seu respeito na voz. — Sou Helick, irmão de Cassian. Fico surpreso com sua visita antes do dia do despertar de meu irmão.
Pensando em todos os recentes acontecimentos, Helick sabia que Rhyssara era a chave para desvendar tudo o que estava acontecendo. Talvez, se ele a bajulasse um pouco, poderia conseguir acesso a Ossuia e ver o que aquela estranha visão o havia mostrado.
— Então você deve ser o irmão talentoso que ouvi mencionar, — disse ela com um leve sorriso. — Espero que o despertar de Cassian seja tão grandioso quanto todos esperam.
Cassian nunca havia visto mulher com tamanha beleza. Any, que estava ao seu lado, era até então a mulher mais linda que Cassian já havia visto e foi desbancada assim que o herdeiro viu o rosto e as curvas da imperatriz.
— Farei o meu melhor, Imperatriz — disse Cassian, tentando focar seus pensamentos no que era importante.
Leonardrick, finalmente recuperado da surpresa inicial, deu um passo à frente.
— Imperatriz BloodRose, — disse ele, confiante — que honra tê-la aqui para testemunhar o despertar do príncipe Cassian.
Rhyssara deu um leve aceno, seus olhos ainda avaliando cada detalhe ao seu redor.
— Certamente, — disse ela, com um tom de expectativa. — E vejo que chamaram logo o melhor forjador das Montanhas de Patrock.
O anão respondeu com um abaixar de cabeça, recebendo o elogio enquanto olhava para Helick e falava:
— Pode guardar sua Centelha para si, Helick. Não queremos que a perca antes mesmo de chegar à sua vez.
— Não — interveio Rhyssara. — Continue. Algo me diz que você ainda não pôs tudo o que tem para fora.
— Não queremos correr riscos antes da hora, não é mesmo, Helick? — interveio Sam desta vez.
— Risco de quê? — perguntou Rhyssara com um sorriso cínico. — Está querendo insinuar alguma coisa, capitão?
Sam mordeu a língua. O capitão sabia que cada palavra deveria ser meticulosamente pensada.
— Nada disso — respondeu Sam, se acalmando. — Apenas prezo pela segurança da família real.
— Não se preocupe, enquanto eu estiver aqui, nada encostará em seus príncipes — afirmou a Imperatriz rapidamente. — Agora continue, príncipe Helick.
Helick assentiu e voltou sua atenção para a Centelha em suas mãos. O salão ficou em silêncio enquanto ele se concentrava, a tensão palpável no ar. A Centelha Mágica começou a brilhar intensamente, sua luz azul irradiando em todas as direções.
Rhyssara observava com interesse, seus olhos brilhando com curiosidade e um toque de admiração.
— A pureza dessa Centelha é impressionante. — comentou ela, seus olhos fixos na magia em desenvolvimento.
Cassian, ao lado do irmão, sentiu um misto de orgulho e medo. Ele sabia que a expectativa sobre ele era enorme, e a presença de Rhyssara só aumentava a pressão.
— Continue, Helys — murmurou ele, quase para si mesmo.
Helick manteve seu foco, a Centelha em suas mãos brilhando cada vez mais. O salão estava mergulhado em uma luz azul cintilante, e todos os presentes sentiam a intensidade da magia no ar.
De repente, a luz da Centelha se intensificou, preenchendo o salão com um brilho ofuscante. Rhyssara ergueu uma sobrancelha, claramente impressionada com o que estava vendo.
— Isso é realmente notável — disse ela, um sorriso de satisfação se formando em seus lábios.
A luz começou a diminuir gradualmente, revelando Helick ainda segurando a Centelha, mas agora com um brilho mais controlado e estável. O salão inteiro parecia respirar aliviado.
— Estupendo! — exclamou Leonardrick, visivelmente emocionado. — Helick, você superou todas as expectativas.
Rhyssara assentiu, seu olhar de aprovação claramente visível.
— Realmente — disse ela, sua voz suave, mas autoritária. — Lyberion pode se orgulhar de sua próxima geração real. Bom, pelo menos ainda, — falou Rhyssara olhando para Cassian.
— Posso saber que comoção é essa? — Falou uma voz rouca e grave, a voz de um rei.
O ambiente do salão pareceu mudar imediatamente. Aquiles Havilfort, o rei de Lyberion, adentrou o hall com uma presença que equilibrava as tensões no ar. Seu olhar varreu o salão, tomando conta de cada detalhe.
Any e Marco imediatamente se ajoelharam à chegada do soberano. Marco estava anestesiado com a presença de tantas figuras importantes no mesmo local. Ele jamais pensou que, como um plebeu, estaria tão perto de tanta grandeza e poder. Any, por outro lado, pensava em como seria uma batalha entre ela e Rhyssara, caso a imperatriz saísse do controle. O poder mágico que irradiava da imperatriz era notável. Será que essa mulher estrangeira poderia matá-la?
Cassian, sentindo a tensão se dissipar um pouco com a chegada de seu pai, viu-o se aproximar com passos firmes.
— Cassian, está indo a algum lugar na véspera de um evento tão importante? — Perguntou Aquiles, sua voz carregada de autoridade.
Cassian se recompôs rapidamente, sentindo o peso das expectativas em seus ombros.
— Na verdade, estava voltando para o meu quarto, pai. Depois de ver tamanha beleza diante de mim com a presença da Imperatriz Rhyssara, já estou satisfeito por hoje.
Rhyssara arqueou uma sobrancelha, claramente surpresa com a ousadia da fala de Cassian. Um leve sorriso surgiu em seus lábios, intrigada pela coragem do jovem príncipe.
Enquanto falava, Cassian teve um pensamento rápido, finalmente compreendendo a magnitude do que estava por vir. Não se tratava apenas de um ritual, mas de estar à altura das expectativas de sua família, do reino e agora, na presença da mulher que provavelmente ordenou ataques contra Lyberion. Helick havia feito uma demonstração magnífica, e ele não poderia ser menos que perfeito quando sua vez chegasse. Cassian finalmente começava a entender que tudo isso era muito maior do que ele.
Aquiles observou o filho por um momento, percebendo a mudança em seu semblante. Então, ele voltou seu olhar para Leonardrick e fez um leve aceno de cabeça em respeito.
— Leonardrick, — disse Aquiles, sua voz firme, mas respeitosa. — É bom vê-lo aqui. Espero que sua habilidade nos ajude a atravessar esse evento com sucesso.
Leonardrick inclinou a cabeça em uma saudação respeitosa.
— Sua Majestade, farei o meu melhor para assegurar que tudo corra bem.
Aquiles então voltou sua atenção para o salão.
— Todos, saiam do hall de entrada. Temos muito a preparar e discutir antes do evento de amanhã. — Ele fez uma pausa e então acrescentou: — Exceto você, Imperatriz Rhyssara. Gostaria de conversar em particular. Me acompanhe a sala do trono.
Os presentes começaram a se dispersar, sentindo a autoridade inabalável do rei. Rhyssara lançou um último olhar avaliativo para Cassian antes de se virar e permanecer no salão. Helick, Cassian e os demais seguiram em direção aos seus respectivos destinos, o peso do momento não perdido em ninguém.
Aquiles e Rhyssara caminharam lado a lado pelos corredores resplandecentes do palácio de Lyberion. As paredes eram adornadas com tapeçarias ricamente bordadas e as clássicas pinturas antigas, que datavam de mil anos atrás. Estas pinturas detalhavam os primeiros anos da liberdade dos humanos, retratando as batalhas épicas contra os elfos e os dragnaros. Os olhos experientes de Rhyssara percorriam as cenas, onde guerreiros humanos, com expressões de determinação e coragem, enfrentavam os antigos inimigos em campos de batalha cobertos de sangue e glória. Cada pincelada parecia viva, quase palpável, contando histórias de sacrifício e triunfo.
Lustres de cristal pendiam do teto, espalhando uma luz suave e cálida que fazia o ouro nas paredes brilhar ainda mais. O chão, coberto por tapetes luxuosos, abafava os sons dos passos, criando uma atmosfera de solenidade e importância.
Rhyssara, apesar de sua postura altiva, não pôde deixar de reconhecer a magnificência do local. Seus olhos azuis varreram os detalhes com um misto de aprovação e interesse. Ela sabia que poucas cortes poderiam igualar-se ao esplendor de Lyberion. O palácio realmente era digno de sua presença, e isso a agradava.
— Vejo que Lyberion não economiza em luxo, — comentou Rhyssara, sua voz suave mas carregada de uma leve provocação. — Um local apropriado para o despertar de um príncipe.
Aquiles manteve o olhar firme à frente, mas um leve sorriso surgiu em seus lábios.
— Apenas o melhor para nossa família real e para nossos ilustres convidados, — respondeu ele, com um tom diplomático.
Finalmente, chegaram à sala do trono. As grandiosas portas maciças se abriram lentamente, revelando um ambiente ainda mais grandioso. No centro da sala, o trono dourado se erguia sobre um estrado, e diante dele, uma mesa longa estava posta com uma opulência digna de reis e imperatrizes. Toalhas de seda, candelabros de prata, e uma variedade de iguarias finas, muitas delas frutas retiradas dos jardins que podiam ser vistos pelas janelas nas paredes, adornavam a mesa, cada detalhe meticulosamente preparado para impressionar.
Rhyssara percorreu o salão com o olhar, absorvendo cada detalhe. A mesa estava cercada por cadeiras ricamente entalhadas, cada uma com almofadas de veludo vermelho. O aroma de especiarias e flores frescas permeava o ar, aumentando a sensação de luxo e sofisticação.
— Impressionante, — disse ela finalmente, virando-se para Aquiles. — Não poderia esperar menos de Lyberion.
Aquiles fez um gesto para que ela se sentasse.
— Espero que encontre conforto e dignidade em nossos preparativos, Imperatriz. Por favor, sente-se.
Rhyssara caminhou até uma das cadeiras mais próximas do trono e sentou-se com a graça e dignidade que a caracterizavam. Aquiles tomou seu lugar à cabeceira da mesa, seu olhar nunca deixando a figura imponente da imperatriz.
Rhyssara descansou o cetro ao seu lado e cruzou as mãos sobre o colo, seus olhos fixos em Aquiles.
— Então, — começou ela, sua voz firme e direta. — Do que se trata essa reunião, Rei Aquiles? O que deseja discutir comigo?