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Capítulo 180 — Fahrenheit
A figura surgiu do interior da montanha no exato momento em que o vulcão cuspiu uma nova torrente de lava. Entre labaredas, fumaça densa e o calor sufocante, uma silhueta se destacou no céu enegrecido da arena.
Quando a fumaça se abriu, revelou-se um homem de presença esmagadora. O rosto era marcado por um bigode extravagante, curvado nas pontas, e uma barba rala que desenhava linhas precisas do maxilar ao queixo. Os cabelos longos e ondulados estavam presos em um rabo de cavalo que ondulava com o ar incandescente. Tudo nele parecia feito para ser visto… e temido.
Suas vestes desafiavam a lógica daquele lugar. Usava uma capa de peles negras, com pelos beges envolvendo a gola, como se o calor não tivesse qualquer domínio sobre ele. Apoiada displicentemente sobre o ombro esquerdo, repousava uma espada colossal com a bainha negra, quase do tamanho do próprio homem, com cerca de dois metros de altura.
No solo, que agora tremia e borbulhava com pequenas erupções de lava, os desafiantes tentavam erguer o olhar. Mas a aura que emanava daquele homem era opressiva. O calor irradiava dele como de uma estrela viva, visível até mesmo para aqueles sem grande sensibilidade mágica.
Cassian e Helick sentiram algo que não experimentavam havia muito tempo.
Uma pressão mágica absoluta.
Era como se o próprio peso do mundo empurrasse suas costas contra o chão.
Marco percebeu de imediato o que acontecia. Ele também sentia aquela mana esmagadora devido a sua sensibilidade mágica característica, mas sabia como resistir. Com cuidado, pousou as mãos nos ombros tensos dos dois príncipes.
— Se acalmem.
Os dois rangeram os dentes, lutando para manter-se de pé.
— Não dá… — Helick arfou. — É forte demais!
— É mais intensa do que qualquer pressão que eu já senti… — Cassian forçou as palavras. — Mais forte que a de Sanur… mais forte que a dos wyverns… Que monstro é esse?!
— Respirem. — Marco falou com firmeza. — Foquem suas manas em qualquer outra coisa. O solo, o ar, qualquer fonte ao redor. Dissipem a percepção, diminuam a sensibilidade. Se não fizerem isso, vão perder a consciência.
Ao redor, tanto o grupo dos príncipes quanto os seguidores de Isaac observavam sem compreender. Não sentiam aquela pressão, pelo menos não da mesma forma.
Os irmãos, mesmo confusos com a clareza das instruções de Marco, não tinham escolha. Seguiram o que ele disse.
Helick espalhou sua percepção pelo solo escaldante. Sentiu a mana ancestral que fluía sob a arena, profunda e antiga, diferente da que emanava do homem no vulcão. Violenta, sim, e até mesmo sentia que a mana do homem exercia alguma influência, mas a essência original da mana daquela arena era de outra natureza. Mais velha. Milenar.
Cassian voltou sua atenção para os ARGUEM ao redor. Sentiu os fluxos, os circuitos mágicos… até se fixar nos punhos de Morgan. As placas rúnicas azuladas pulsavam em torno do Diamante Negro, e ali Cassian percebeu algo além da magia: emoções cruas moldando o poder: medo, ansiedade, arrependimentos contidos.
Pouco mais de um minuto se passou.
A pressão diminuiu.
— Vocês estão bem? — Marco perguntou.
— Sim… — Helick respondeu, respirando com mais controle. — Como você sabia lidar com isso?
Marco os ajudou a ajustar a postura antes de responder:
— Passei muito tempo ao lado do capitão Haras. Acompanhei seus treinos… e as vezes em que ele e Agnus ultrapassavam os limites nas provocações. Aprendi rápido a lidar com pressão de mana. Caso contrário, eu nem conseguiria ficar perto quando ele ficava sério.
— Espero que já estejam prontos. — Morgan disse, dando um passo à frente. — Esse cara não é brincadeira.
— Você conhece esse sujeito? — Tály perguntou, aproximando-se.
— Conheço. — Morgan respondeu, o olhar fixo no céu. — É ele que a imperatriz pediu para que eu desafiasse. Agora tudo faz sentido. Ninguém ficaria nessa arena voluntariamente com Celsio Fahrenheit por perto… ainda mais com um vulcão ativo.
— Ora, ora… — A voz grave ecoou pelo céu, fazendo o ar vibrar. — Morgan IronFist… o que meu aprendiz teve na cabeça ao me desafiar?
— Aprendiz?! — O espanto ecoou em uníssono entre os desafiantes.
— Ou isso não foi ideia dele… — continuou Celsio, com um meio sorriso. — Mas sim da imperatriz? Ela está tão desesperada por minha atenção que enviou até você?
Morgan não respondeu de imediato. Apenas assumiu posição, os punhos se erguendo, o ARGUEM começando a pulsar.
— Não faço perguntas à minha imperatriz. — disse, firme. — Eu obedeço. Assim como você me ensinou.
Ele lançou um breve olhar para trás.
— Sigam em frente. Esse daqui… é meu.
Celsio balançou sua espada ainda embainhada em um arco e o ar se deslocou violentamente como uma corrente de calor insuportável que chegava até o solo.
— Você acha que pode lidar comigo sozinho? — Celsio falou erguendo uma sobrancelha. — Isso não é nem arrogância. É loucura.
— Tem certeza IronFist? — Isaac falou, sua face genuinamente preocupada. — Ele já foi um dos Pilares de Ossuia…
— Vão! — Morgan gritou, saltando para o céu com uma velocidade brutal.
— Morgan! — Tály gritou, estendendo a mão, mas sua voz foi ignorada, perdida na tempestade de calor e mana.
Isaac, sem hesitar, levantou seu grimório metálico acima da cabeça. Uma onda de mana pulsante se espalhou por todos ao seu redor, atingindo até os soldados de Lyberion e os príncipes. Seus corpos brilharam com uma luz azulada, como se o próprio ar estivesse sendo impregnado de força.
— VAMOS CORRER COM TUDO! — Isaac ordenou, sua voz ressoando com uma energia incomum. — NÃO POUPEM NEM UMA GOTA DE MANA OU ENERGIA! GASTEM TUDO NESSA CORRIDA ATÉ A PRÓXIMA ARENA!
Helick olhou uma última vez para o céu, sentindo um nó no estômago ao perceber a pressão mágica que se formava. A aura de Morgan e Celsio se chocaria em segundos, e o ar parecia se condensar em torno de suas almas.
“Evoluímos tanto… e mesmo assim, não conseguimos sequer estar à altura da elite da mana de Ossuia… Merda!” — O pensamento de Helick era uma mistura de raiva e frustração.
— Isso não vai ficar assim, Helys. — Cassian respondeu, seu tom grave e determinado. — Se quisermos proteger algo no fim disso, teremos que ser mais fortes que todos eles. Até mesmo que a elite deste continente. E, mesmo que ainda não sejamos, eu sei que vamos chegar lá!
Helick olhou surpreso para o irmão. Aquela confiança em sua voz era algo que ele não esperava.
O jeito que Cassian falou… realmente parecia alguém com propósito.

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