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Capítulo 185 — Passado que Abalou um Pilar I
Cinco anos atrás
A luz amarelada das velas do majestoso candelabro central no teto oscilava nas paredes de pedras negras na sala do trono do imperador de Ossuia.
No trono branco acolchoado uma mulher se sentava com o semblante sério como o de quem tem muita coisa a se fazer.
Sua beleza descomunal constratava com a armadura vermelha e dourada que defendiam seu corpo. O cetro vermelho repousava ao lado, perto de suas mãos se necessário.
As portas duplas à frente do salão se abriram.
Uma mulher alta entrou, os longos cabelos loiros descendo até a base da cintura. Seus olhos permaneciam fechados. Na mão esquerda, ela sustentava uma balança banhada a ouro, mantida em equilíbrio perfeito. Em um dos pratos, uma aura branca pulsava suavemente; no outro, uma aura negra se contorcia como fumaça viva. Com a mão direita ela puxava correntes pesadas que zumbiam com o contato no solo.
— Trouxe o líder da rebelião no centro da Cidade dos Corajosos, como ordenado, minha imperatriz — disse ela, ajoelhando-se e abaixando a cabeça.
Rhyssara inclinou levemente o rosto, reconhecendo o feito.
— Bom trabalho, Têmis. Você está cumprindo bem o papel de Pilar da Justiça com o afastamento de Joan.
— Aquele garoto… o tal de Morgan… ajudou bastante — acrescentou Têmis, erguendo o rosto por um breve instante, mas seus olhos se mantinham fechados. — Há algo grandioso dentro dele. Se me permite dizer, sinto que será muito útil para o império.
O olhar de Rhyssara não mudou.
— Voltemos aos assuntos do dia.
— Ah… claro. Aqui está.
As correntes foram puxadas mais uma vez, e um homem maltrapilho foi forçado a se ajoelhar no centro do salão. Seus cabelos brancos estavam desgrenhados, caindo sobre o rosto marcado por rugas profundas ao redor dos olhos e da boca. Mesmo curvado, havia desafio em sua postura.
— Zlatan Sai — disse Rhyssara, cuspindo o nome como um veredito.
Ele ergueu o rosto lentamente, encarando-a de frente.
— Usurpadora… como vai? — provocou, com um sorriso torto. — A Coroa de Edgar ainda não te rejeitou?
Rhyssara não se incomodou com o insulto. Pelo contrário. Seus olhos azuis brilharam, e uma aura vermelha, da mesma tonalidade de seus cabelos, começou a emanar da coroa repousada sobre sua cabeça. O ar do salão pareceu se comprimir.
— Talvez você queira ver em primeira mão… se ela me obedece ou não.
O efeito foi imediato. O corpo de Zlatan enrijeceu, e pela primeira vez seu semblante revelou inquietação. Ele conhecia aquele poder. Todos conheciam.
Rhyssara se levantou do trono com calma, cada passo ecoando no salão.
— Agora — disse, sua voz firme e inevitável —, me diga onde estão seus aliados.
Ela fez uma breve pausa, o brilho da coroa se intensificando.
— E não se preocupe em mentir. A Coroa de Edgar sempre encontra os nomes que procura.
Após Zlatan denunciar cada um de seus companheiros, Rhyssara apenas acenou para Têmis.
— Você ouviu os nomes e os endereços. Deixo que sua balança decida o destino deles.
A Pilar da Justiça inclinou levemente a cabeça em aceitação e se preparou para se retirar. Antes, porém, voltou o rosto na direção do trono.
— Posso contar com a ajuda de Morgan novamente? — perguntou. — Ele se mostrou muito eficiente na captura desses criminosos.
— Não desta vez. — respondeu Rhyssara, sem alterar o tom. — Há poucos meses pedi ao Pilar da Força que o treinasse.
Têmis ergueu o rosto fino, os olhos ainda fechados, um sorriso lento e predatório surgindo em seus lábios.
— Logo com aquele homem? — comentou. — Eu poderia cuidar melhor do garoto se estivesse sob minha responsabilidade.
Rhyssara não reagiu à provocação.
— Assim como você, eu também vi o potencial nele. — disse apenas. — Em minha avaliação, ele terá um desenvolvimento melhor com Celsio.
Zlatan, ainda ajoelhado no salão, começou a chiar em uma risada rouca. O choque inicial em seu semblante se dissolveu pouco a pouco.
— Você colocou o Pilar da Força para treinar alguém? — zombou. — Você realmente não sabe governar esse império. Ossuia vai ruir sob o seu comando.
— Calado. — ordenou Rhyssara.
A palavra foi curta, mas a Coroa de Edgar garantiu seu cumprimento. O riso de Zlatan morreu na garganta.
— Ainda não anunciei sua sentença. — completou a imperatriz.
Zlatan ergueu o rosto lentamente, encarando-a como alguém que já conhecia o próprio destino.
A Coroa de Edgar tocou sua mente, e Rhyssara riu ao captar o pensamento que emergia.
— “Morte”? — repetiu, divertida. — Não. Você não será executado.
Os olhos do homem se arregalaram. O silêncio que se seguiu foi mais pesado do que qualquer ameaça explícita.
Dois soldados de armadura vermelha seguraram as correntes e o forçaram a ficar de pé.
— Dê a sentença, Imperatriz. — disse um deles, firme.
Rhyssara se levantou do trono.
— Zlatan Sai, pelos crimes de conspiração e traição contra a Coroa de Ossuia, eu o sentencio ao exílio no Deserto dos Condenados.
O olhar de Zlatan se contorceu em desespero contido. Ele queria gritar, mas sequer isso lhe foi permitido. Foi arrastado para fora do salão enquanto o eco das correntes se perdia pelos corredores.
Têmis, que ainda permanecia ali, falou por fim:
— Então já imagino para onde pretende mandar o garoto.
— Sim. — respondeu Rhyssara. — Se estiver evoluindo no ritmo esperado, ele dará conta do recado.
Ela estalou os dedos.
Um soldado correu até o trono trazendo uma folha e um cilindro de plástico que pingava tinta da extremidade.
— Avisem ao Pilar da Força — ordenou a imperatriz, enquanto assinava o documento. — Ele tem uma missão oficial.
Em uma das montanhas além das muralhas de Ossuia, próxima ao território dos anões, um jovem Morgan escalava, não com os dedos, mas com os punhos.
Os nós de suas mãos estavam esfolados, inchados em tons arroxeados que beiravam o esverdeado. Alguns dedos já não se alinhavam corretamente; os ângulos tortos denunciavam o impacto repetido contra a rocha nua. Ainda assim, ele continuava.
No topo da montanha, um homem mais velho permanecia sentado, segurando a bainha de uma espada quase do próprio tamanho. Celsio resmungava, o mau humor tão afiado quanto a lâmina que carregava.
— Não sei por que tive que virar babá de uma perda de tempo dessas… — murmurou. Então se inclinou para a borda e gritou: — Ei, garoto! Se você não chegar aqui em cinco segundos, eu sigo direto para as Montanhas de Patrock sem você!
Morgan, pendurado na parede de pedra, respondeu com mais raiva do que fôlego:
— CALA A BOCA, MESTRE DE MERDA! SE VOCÊ QUISESSE CHEGAR RÁPIDO, NÃO TERIA ME MANDADO ESCALAR ESSA MONTANHA ESMURRANDO A ROCHA! E AINDA TOMOU MEU ARGUEM PRA GARANTIR QUE EU NÃO USASSE MAGIA!
— VOCÊ TÁ MALUCO, MULEQUE?! — Celsio rugiu, sacando a espada em um movimento seco.
A lâmina mal havia deixado a bainha quando um mensageiro surgiu ao lado dele, como se o ar tivesse se dobrado.
— Senhor Celsio Farenheith… — disse o homem, o rosto coberto por um pano escuro. — O senhor recebeu uma missão direta da Imperatriz. Solicita-se seu retorno imediato às muralhas.
O mensageiro depositou um pergaminho ao lado de Celsio e desapareceu tão rápido quanto havia surgido.
Celsio encarou o selo por um instante, irritado.
— Mas é só o que me faltava agora…
Nesse momento, Morgan finalmente alcançou o topo. Ele se jogou de costas contra o chão de pedra, os braços abertos, os punhos deformados tremendo involuntariamente.
— Finalmente… — arfou, rindo entre respirações irregulares. — Cheguei no topo.
Celsio se levantou, rompeu o selo e leu o conteúdo do pergaminho em silêncio. Em seguida, guardou-o com um estalo seco.
— Se prepare. — disse. — Vamos voltar.
— MAS O QUÊ?! — Morgan explodiu em incredulidade, erguendo o tronco com dificuldade.

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