Capítulo 19 — Revelações
por Felipe BahiaAquiles fitava Rhyssara com intensidade, seu rosto endurecido pela tensão.
— Você ficou sabendo do ocorrido na praça durante a celebração de Terramara? — falou o rei com tom de casualidade.
— Sim, notícias ruins se espalham com velocidade — respondeu Rhyssara com um semblante neutro.
Aquiles inclinou-se ligeiramente para frente, sua voz agora carregada de desconfiança.
— O capitão da guarda real conduziu uma investigação. Ele entrou em contato com Blando, o traficante de informações, e conseguiu os nomes dos soldados que foram mortos em combate e do último que fugiu. Todos os três eram oficiais do exército de Ossuia.
Rhyssara manteve-se calma, enquanto passava uma pasta de frutas em uma fatia de pão.
— Nada escapa dos olhos daquele maldito traidor, não é mesmo? — Respondeu a imperatriz mordendo o alimento em sua mão. — Se o que você está perguntando é se eles estavam sob minhas ordens, sim, estavam.
Aquiles se levantou abruptamente, seus punhos cerrados de raiva contida.
— Explique-se! — ordenou ele.
Rhyssara respirou fundo, seu olhar fixo no rei de Lyberion, aproveitando a brecha.
— Há milênios, Ossuia se prepara para o dia em que a barreira mágica de Helisyx, que protege todo o continente contra a invasão dos elfos do norte e dos dragnaros do leste, cederá.
Aquiles ficou ainda mais furioso, sua voz carregada de indignação.
— Mais uma vez vocês, ossuianos, desrespeitando o sacrifício de Helisyx! A barreira, criada pelo humano mais poderoso que já existiu, jamais cederá!
Rhyssara deu um sorriso nervoso, sentindo o poder em suas palavras.
— E se eu te dissesse que há um navio dragnata a trezentos quilômetros da costa lyberiana, bem nos limites do Mar de Monstros?
Aquiles balançou a cabeça, incrédulo, tentando manter a calma.
— Seria impossível alguém vê-lo a essa distância e, mesmo que fosse, seria inútil. Não passariam pela barreira mágica de Helisyx. E mesmo que o que você está dizendo seja verdade, o que isso tem a ver com o ataque a Lyberion?
Rhyssara aproveitou a confusão de Aquiles para ser ainda mais incisiva.
— Há dezoito anos, um dos meus desenvolveu um dispositivo capaz de rastrear e localizar magia não humana. Usávamos inicialmente para identificar e catalogar os equipamentos mágicos, poções e elixires que compramos dos anões. Na muralha mais profunda de Ossuia, em meio às dezenas de joias preciosas que a adornam, havia uma joia de magia não humana. Ninguém sabe como ela foi parar lá, mas ela desapareceu na mesma época em que o equipamento foi criado.
Aquiles ficou em silêncio, ouvindo atentamente, seu coração acelerado.
— Revistamos todo o reino em busca da gema, mas ninguém sabia para onde ela havia ido. Na mesma época, uma mulher estrangeira nos visitou, mostrando grande talento em combate mesmo sem ter um ARGUEM. Ela se apresentou como uma nômade procurando um lar. Isso te lembra alguém?
Aquiles estreitou os olhos, seu semblante confuso, sentindo um aperto no peito.
— Você está insinuando que essa mulher poderia ser…
Rhyssara avançou com determinação.
— Helena? Sim. Mas para nós ela se apresentou como Stephanie. Quando ela desapareceu, pouco tempo depois percebemos que a joia também havia sumido. Ligamos as duas coisas. Não sabíamos que ela era Helena, a jovem nômade que ganhou o coração do talentoso príncipe Aquiles Havilfort.
Aquiles respirou fundo, seu olhar perdido em memórias dolorosas.
— Helena havia dito que, após o nascimento do segundo filho, precisava cumprir um rito de peregrinação do povo dela. Falei que iria com ela, mas meus pais haviam morrido e o reino não poderia ficar sem um rei, Agnus obviamente não assumiria o posto. Tentei convencê-la a levar alguns guardas, mas ela negou e disse que tinha que ir sozinha. Eu permiti.
Rhyssara observava atentamente, buscando confirmar suas suspeitas.
— Quanto tempo ela ficou fora?
— Três meses. Quando voltou, enchi-a de perguntas, mas ela disse que fazia parte do ritual ser particular.
Rhyssara continuou com seus questionamentos.
— E pouco tempo depois, ela desapareceu de Lyberion, não foi?
Aquiles não desviou o olhar, mesmo com as memórias ruins.
— Ela me disse que precisava voltar às suas origens nômades. Insisti para que ficasse, mas ela abandonou tudo, a mim e aos filhos, e partiu. Achei que ela voltaria depois de algum tempo.
Rhyssara manteve o olhar firme.
— Isso já fazem quase duas décadas e você não se casou de novo. Ainda espera que ela volte?
— O que isso tem a ver com você ordenar um ataque a Lyberion? — cortou Aquiles. — Achou que eu havia enviado minha esposa a Ossuia como espiã?
Rhyssara avançou com firmeza, aproveitando a dúvida de Aquiles.
— No primeiro momento, sim. Mas sei que lyberianos são passivos quando o assunto é guerra e conclui que não agiriam assim. E eu não ordenei um ataque — afirmou a Imperatriz firmemente. — Depois de aprimorarmos o equipamento de detecção de magia não humana a poucos meses, ele mostrou que a joia estava em Lyberion, especificamente na fonte. Imaginei que nem mesmo você sabia o que sua mulher havia feito. Ordenei a infiltração de meus homens durante a celebração, já que o fluxo de pessoas seria grande o suficiente para passarem despercebidos. Mas um dispositivo mágico foi acionado e a fonte explodiu. Encontraram algo no subsolo, mas era uma falsificação. Parece que Helena plantou lá para confundir quem a procurasse.
Aquiles balançou a cabeça, tentando processar a revelação, seu rosto marcado pelo conflito interno.
— Por que não informou isso a mim? Poderíamos ter resolvido de forma civilizada.
Rhyssara olhou nos olhos de Aquiles, a urgência em sua voz, aproveitando cada espaço que ele cedia.
— Porque há urgência, Aquiles. Vocês lyberianos gostam de burocratizar tudo! — Agora Rhyssara que havia levantado a voz. — Quantos mensageiros eu teria que mandar até estarmos aqui, conversando civilizadamente?
— Urgência? Está falando dos dragnaros a centenas de quilômetros de distância?
— Sim. Eles não chegam tão perto há séculos. Algo mudou. Eles voltaram. E eu sinto que isso está ligado às joias.
— Joias? — indagou Aquiles. — Não seria joia? Há mais de uma?
— Você realmente não sabe de nada, não é? — provocou Rhyssara. — Depois que ajustamos o nosso dispositivo de rastreio com a informação do material falso, ele foi refinado e identificamos que além da joia de Ossuia há outra em Lyberion.
— E onde elas estão?