Cassian caminhava pelos corredores do castelo, seus pensamentos um turbilhão. A conversa dos soberanos ecoava em sua mente, aumentando sua sensação de impotência. Ao entrar em seu quarto, ele se jogou na cama, retirando de dentro da blusa uma adaga com o cabo entalhado em forma de águia. A gema vermelha alaranjada encrustada entre o cabo e a lâmina brilhava à luz suave da vela. Ele sempre carregava essa adaga consigo, uma lembrança constante de sua mãe, que desapareceu quando ele tinha apenas dois anos.

    Enquanto Cassian admirava o último presente de sua mãe, Helick bateu na porta com urgência, a preocupação evidente em seu rosto.

    — Cassian, precisamos conversar.

    Cassian suspirou, ainda segurando a adaga, e olhou para o irmão.

    — Sobre o quê?

    — Sobre ARGUEMs. — Helick entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. — Você precisa entender como eles funcionam. Todo o reino estará de olho em nós, especialmente agora com Rhyssara aqui.

    Cassian sentou-se na beira da cama, olhando para o irmão. Helick percebeu a adaga nas mãos de Cassian e, em um gesto de irmandade, tirou sua própria adaga de dentro da blusa. O cabo da adaga de Helick tinha detalhes de lobo, e uma gema azul tão clara que quase parecia branca.

    — O último presente da nossa mãe — disse Helick, observando a adaga de Cassian. — Eu não lembro de nada dela. Quando ela sumiu, eu tinha poucos meses de vida.

    Cassian olhou para a adaga de Helick, sentindo um aperto no peito.

    — Eu também não me lembro muito bem. Eu tinha só dois anos. Mas sinto como se faltasse alguém em nossa família.

    Helick assentiu, compartilhando a dor silenciosa do irmão.

    — Ela deixou essas adagas para nos proteger. Devemos honrar sua memória e fazer o que for necessário para proteger nosso reino.

    Cassian respirou fundo, sentindo o peso das palavras de Helick. Ele sabia que seu irmão estava certo. Não havia mais espaço para fugas ou desculpas.

    — Se você realmente não quiser isso e não se sentir pronto, ainda resta uma opção…— disse Helick, hesitante, seus olhos fixos nos de Cassian.

    Cassian franziu a testa, sentindo um nó se formar em seu estômago.

    — Não é para você nem terminar o que vai dizer.

    Helick respirou fundo, a firmeza voltando à sua voz.

    — A Lei da Herança Merecida.

    Cassian apertou os lábios, seu olhar se tornando duro e determinado.

    — Isso nunca foi uma opção.

    — Se eu invocasse a lei e lutássemos pela coroa, eu poderia vencer e retirar esse fardo indesejável das suas costas — insistiu Helick, a esperança misturada com a preocupação em seus olhos.

    Cassian balançou a cabeça lentamente, seu rosto refletindo a dor e a convicção de suas palavras.

    — Isso seria excelente, caso não arruinasse a sua vida no processo. Com o que aconteceu entre nossos pais, o rei jamais permitiria que outra plebeia fosse rainha. Ele não permitiria que você ficasse com Nastya, e como você sempre pensa no bem coletivo, não duvido que aceitaria isso. — Ele fez uma pausa, os olhos escurecendo com a lembrança dolorosa. — Não duvido que você seria um rei muito melhor que eu para o reino, mas jamais destruiria sua vida para ter a minha liberdade.

    Helick suspirou profundamente, aceitando a determinação de Cassian. Ele olhou para o chão, seu rosto expressando uma mistura de resignação e respeito pelo irmão.

    — Vamos falar sobre os ARGUEMs. — Disse Cassian, determinado.

    Helick puxou uma cadeira e sentou-se de frente para Cassian.

    — Precisamos estar preparados. Vou te ensinar tudo o que sei.

    Os dois passaram horas no quarto, com Helick explicando pacientemente cada detalhe sobre os ARGUEMs.

    — Um ARGUEM é gerado a partir da fusão da centelha mágica de um humano com um mineral mágico chamado Diamante Negro. — Helick começou observando atentamente a reação de Cassian. — Quando um humano coloca sua centelha dentro desse mineral, ele absorve a magia e fica energizado. Um anão pode então trabalhar nesse mineral e criar um armamento. Mas, como o Diamante Negro está energizado com a magia do humano, ele já tem uma forma predefinida. Conforme o anão trabalha no mineral, o próprio minério comunica se será uma espada, escudo, lança, ou outra coisa.

    Cassian ouvia com atenção, absorvendo cada palavra.

    — Então, a centelha mágica é crucial para todo o processo? — Perguntou Cassian.

    — Exatamente. E uma vez que você coloca sua centelha mágica em um Diamante Negro, ela jamais poderá voltar para dentro de você. — Helick enfatizou. — Isso significa que o ARGUEM é seu armamento para a vida. Um humano só possui magia quando está de posse de seu ARGUEM. Além disso, um humano não pode usar o ARGUEM de outro e quando a vida do portador se esvai, o Armamento também morre. Existem apenas duas exceções: a Coroa de Edgar e a Espada de Edmond.

    Cassian franziu a testa, curioso.

    — O que são essas Coroa e Espada? E por que elas são tão especiais a ponto de não morrerem junto com o dono original?

    Helick fez uma pausa antes de responder, como se organizasse seus pensamentos.

    — A Coroa de Edgar é o ARGUEM herdado de Ossuia. É a mesma coroa que Rhyssara ostenta em sua cabeça. Ela foi originalmente desperta por Edgar, fundador de Ossuia e filho mais velho de Helisyx. A Espada de Edmond é um ARGUEM semelhante, criado pelo fundador de Lyberion Edmond, filho mais novo de Helisyx e irmão de Edgar.

    Cassian ficou pensativo por um momento, antes de perguntar:

    — Como funciona o ARGUEM herdado de Ossuia? Qualquer um que o pegar terá os poderes de Edgar?

    Helick balançou a cabeça.

    — Não é qualquer um que pode usá-la. O poder da Coroa de Edgar é a manipulação total de um alvo inferior ao portador. Para um ARGUEM continuar ativo mesmo depois da morte de seu dono, teoriza-se que Edgar e Edmond foram tão poderosos em vida e tinham propósitos tão grandiosos e bem definidos que a própria mana de seus armamentos também compartilhou de seus sonhos. Portanto, só se pode usar um deles se você tiver o mesmo propósito de vida que o criador original.

    Cassian assentiu, compreendendo a complexidade e a profundidade dos ARGUEMs e dos sacrifícios envolvidos.

    — Então, além de encontrar minha própria centelha mágica, preciso definir meu propósito com clareza. — Ele disse, mais para si mesmo do que para Helick.

    Helick colocou a mão no ombro de Cassian, um gesto de apoio.

    — Exatamente, irmão. E eu estarei aqui para ajudar você em cada passo desse caminho.

    Cassian respirou fundo, sentindo o peso das responsabilidades que se acumulavam sobre seus ombros. Ele sabia que sua jornada estava apenas começando e que o futuro de Lyberion dependia de sua habilidade em dominar sua magia e seu ARGUEM.

    Nota