Cassian, ainda tentando processar o que havia acontecido, sentiu o arrepio em sua espinha se intensificar. O rugido parecia ecoar em sua mente, ele olhou ao redor, vendo o medo nos olhos dos presentes e sentindo uma sensação crescente de pavor e responsabilidade.

    E eis que nos céus, uma criatura escamosa, alada e vermelha surgiu. Diferente dos dragões, com os quais muitas vezes eram confundidos, os Wyverns possuíam apenas duas patas traseiras, enquanto suas imponentes asas serviam também como membros.

    Seu corpo brilhava com um tom rubro, refletindo a luz do sol, e suas escamas pareciam brilhar com uma intensidade quase sobrenatural. À medida que se aproximava, ficou claro que em sua boca uma faísca flamejante começava a se formar, crescendo e se intensificando.

    A presença do Wyvern encheu o ar com uma sensação pesada de medo. Seus olhos, brilhando como rubis incandescentes, fixaram-se na plataforma flutuante e nos nobres que ali estavam. A tensão era quase insuportável; o som do bater das asas da criatura ecoava como trovões distantes.

    Cassian, com o coração martelando no peito, sentiu o pânico crescer como uma tempestade prestes a explodir. Ele olhou para seu pai, Aquiles, como uma âncora em meio ao caos, buscando desesperadamente alguma forma de segurança ou orientação. Mas, em vez disso, viu apenas a máscara de determinação no rosto de Aquiles, o que fez Cassian perceber a gravidade da situação. Sua mente fervilhava com pensamentos de inadequação, sentindo-se como um garoto impotente diante de uma responsabilidade esmagadora.

    O Wyvern, uma presença avassaladora que parecia cobrir o céu, soltou um rugido ensurdecedor que fez o chão tremer sob os pés de Cassian. A faísca em sua boca era como o prelúdio de um desastre iminente, uma ameaça que se transformava em uma bola de fogo pulsante. Cassian sentiu uma onda de calor subindo pelo corpo, uma mistura de medo e adrenalina. O som do rugido ressoava em sua mente, amplificando cada batida de seu coração acelerado. E então, num movimento que parecia acontecer em câmera lenta, o Wyvern lançou a bola de fogo com uma precisão mortal, e tudo o que Cassian pôde sentir foi uma mistura de horror e impotência.

    Aquiles, incrédulo, não conseguia acreditar que a barreira de Helisyx havia falhado. No entanto, ele não teve tempo para dúvidas. Com movimentos rápidos e decididos, ele ergueu sua mão direita, e um círculo mágico esbranquiçado se formou na palma de sua mão e no ar acima da plataforma. Simultaneamente, a capa vermelha bordada com fios de mana que o rei sempre usava, seu ARGUEM, brilhou intensamente, imbuída de poder. O círculo mágico irradiava uma luz pulsante, emanando uma aura de proteção e poder.

    Do círculo mágico, um portal branco cintilante se abriu, absorvendo a bola de fogo que o Wyvern lançara. O portal parecia girar com uma energia própria, como se fosse um turbilhão de luz e magia concentrada. Em um piscar de olhos, a bola de fogo foi sugada para dentro do portal, desaparecendo momentaneamente da vista de todos.

    Num espetáculo de magia e força, o portal se fechou e reabriu em outra direção, disparando a bola de fogo de volta em direção ao Wyvern. A criatura, com reflexos sobrenaturais, desviou-se agilmente, evitando o ataque. No entanto, o gesto de Aquiles não passou despercebido. Ele havia demonstrado que estava preparado para defender seu reino com todas as suas forças e que a magia de Lyberion, personificada em seu rei, estava longe de ser impotente. O poder de Aquiles era incrível, e sua presença emanava uma confiança inabalável, reforçando a moral de todos ao seu redor.

    Aquiles então se virou para a multidão e seus soldados, sua voz forte e autoritária ressoando pelo espaço.

    — Sam! — chamou ele, sua voz cortando o ar. — Proteja meus filhos com sua vida. Evacue a capital e certifique-se de que todos estejam a salvo.

    Sam, o capitão da guarda real, respondeu com um firme aceno de cabeça. Sem perder tempo, ele correu até Cassian e Helick, agarrando-os com força. Com um salto poderoso, ele se lançou da plataforma, usando sua magia para criar um redemoinho de vento que suavizou a descida. Eles aterrissaram suavemente no chão, onde Sam imediatamente começou a organizar a evacuação dos príncipes.

    Aquiles voltou-se para Agnus, sua expressão séria e determinada.

    — Agnus, proteja os nobres. Qualquer um que puder lutar deve focar apenas na proteção do povo. Não podemos permitir que o caos se espalhe.

    Agnus assentiu, já se movendo para cumprir as ordens do rei. Ele começou a coordenar os nobres e soldados, organizando as defesas e preparando-se para o que poderia ser uma batalha devastadora.

    Rhyssara, empunhando seu cetro dourado, se preparava para o confronto iminente. Seus olhos azuis, intensos e focados, estavam fixos no Wyvern que se aproximava rapidamente. A energia que emanava de sua presença era palpável, pronta para ser liberada a qualquer momento.

    — Capitães de Ossuia, sigam as ordens do rei Aquiles. Informem aos nossos soldados além das muralhas que se preparem para lutar. — Seu tom era firme, mas havia uma nota de urgência. Ela sabia que a situação era crítica e que precisavam estar prontos para qualquer coisa.

    A presença do Wyvern, combinada com a rápida organização das forças de defesa, criou um cenário tenso e carregado. O povo de Lyberion, inicialmente em pânico, começou a se acalmar ao ver a liderança decidida de seu governante. Mas a ameaça pairava no ar, e todos sabiam que o verdadeiro teste ainda estava por vir.

    Após Aquiles retaliar o ataque do Wyvern com o portal cintilante, ele baixou a mão, e a plataforma flutuante começou a descer lentamente em direção ao chão. A estrutura desceu com uma suavidade sobrenatural, graças ao controle preciso de Aquiles sobre a magia. Os nobres, sentindo a iminência do perigo, começaram a se organizar para buscar refúgio. O caos inicial deu lugar a uma ordem apressada enquanto a plataforma tocava o solo.

    Agnus, agora focado e sério, se posicionou ao lado do rei. Junto a ele, Lorenzo e Madalena Fitzroy, ficaram ao seu lado. Ambos estavam prontos para a batalha, com Lorenzo empunhando sua espada e Madalena conjurando um escudo de energia em torno de si. Eles estavam acompanhados por um grupo de combatentes da família Fitzroy, todos armados e preparados para enfrentar a ameaça.

    Do outro lado, Medicci e Maia Silva, acompanhados de seus ferozes cachorros-tigre, decidiram também ficar e lutar. Ao contrário de muitos de sua casa que optaram por se proteger, os dois mostraram um espírito de coragem e determinação, seus animais a postos, rosnando em direção ao Wyvern e prontos para defender seus mestres.

    Os Havilfort da terceira linhagem, visivelmente abalados pela situação, seguiram a ordem de evacuação, com Cecília e Carl serem os primeiros a se retirar. Guiados pelos guardas do exército lyberiano, eles se juntaram ao fluxo de civis que fugiam para longe do palácio, buscando segurança nas áreas mais protegidas da capital.

    Leonardrick também ficou irredutível e com um gesto discreto ele transmutou a bigorna junto com o diamante negro em uma caixa que foi engolida pela terra por um portal que dessa vez o próprio anão havia conjurado.

    Quando a plataforma finalmente tocou o chão, o Wyvern pousou com um impacto surdo, fazendo o solo tremer. Suas asas gigantes se dobraram, e a criatura soltou um rugido baixo, seus olhos rubros brilhando com uma intensidade ameaçadora. Foi então que uma figura, até então oculta pela envergadura do Wyvern, se revelou.

    Montado nas costas da criatura, um ser imponente e aterrorizante emergiu. Era um Dragnaro, uma raça de seres draconianos humanoides que a muito tempo escravizaram a raça humana junto com os elfos e os antigos anões. Sua pele era coberta por escamas vermelhas, brilhantes e duras como aço, que reluziam sob a luz. Ele tinha curtos chifres curvados, que se erguiam majestosos da sua cabeça, acentuando sua aparência feroz e ameaçadora.

    O Dragnaro possuía uma estrutura muscular impressionante, com cada músculo definido e esculpido, dando-lhe uma presença física imponente. No entanto, havia algo mortalmente belo em sua aparência. Seu rosto era quase simétrico, com traços bem definidos e olhos que brilhavam como rubis incandescentes. Havia uma perfeição perigosa em sua fisionomia, uma beleza que parecia desenhada para hipnotizar e amedrontar ao mesmo tempo.

    Os lábios do Dragnaro se curvaram em um sorriso que revelava dentes afiados, e sua expressão era de arrogância e superioridade. Ele olhava para os defensores com desdém, claramente ciente do impacto de sua presença. A combinação de sua aparência aterradora e sua beleza mortal criava um contraste perturbador, tornando-o uma figura tanto de fascínio quanto de medo.

    O ser ignorou os humanos ao redor, focando unicamente naquele que havia interceptado o ataque de sua fera. Seus olhos de pupilas finas fixaram-se acima da cabeça de Aquiles, na coroa que ele usava.

    — O que é isso? — zombou o Dragnaro, com uma risada fria. — Um humano com uma coroa?

    — Eu sou o Rei de Lyberion, Aquiles Havilfort, descendente direto de Helisyx! — declarou o soberano com uma autoridade inabalável, enquanto sua capa tremeluzia levemente, como se ansiasse por liberar seu poder oculto.

    O Dragnaro fez uma careta de desdém ao ouvir o nome de Helisyx.

    — Mesmo com todo aquele poder, ele não passava de um humano. O tempo o matou, que patético — murmurou o Dragnaro, mais para si mesmo do que para os outros.

    — O que você quer aqui, filho de Drakoth? — indagou Leonardrick, sua voz firme e desafiadora.

    — Não me dirija a palavra, ser inferior. Sua raça me causa repulsa, malditos traidores — replicou o Dragnaro, cuspindo no chão com desprezo, sua saliva queimou o chão quando atingiu o solo.

    Rhyssara, mantendo uma calma letal, interveio com uma voz suave, mas cheia de autoridade:

    — Se não percebeu, você está bem longe de casa — disse a Imperatriz. — Então comporte-se e nos diga seu nome.

    O Dragnaro soltou uma risada que reverberou como um rugido ao ouvir as palavras de Rhyssara.

    — Outro humano com uma coroa, e desta vez, uma fêmea? — O Dragnaro parecia ter ouvido a maior piada de sua vida. — Saibam o nome daquele que irá conquistá-los e oferecer suas cabeças ao grande Deus Dragão Drakoth e seu arauto do fogo, Ignel. — Ele deu uma pausa, pôs a mão direita no peito esquerdo enquanto o braço esquerdo se esticava para o lado oposto, uma falsa reverência desdenhosa. — Podem me chamar de Draxion, seu executor.

    Aquiles manteve sua postura firme, os olhos fixos em Draxion. Ao seu lado, Leonardrick apertou o martelo, pronto para agir. A atmosfera estava carregada de energia mágica.

    — Seu blefe não nos intimida, Draxion — declarou Aquiles, sua voz firme. — Este reino está sob a proteção dos descendentes de Helisyx!

    Draxion deu um passo à frente, o sorriso frio e arrogante nunca abandonando seu rosto. Ele inclinou a cabeça, como se examinasse os presentes, antes de responder com um tom provocativo:

    — Não é blefe, pequeno rei. — Draxion ergueu uma das mãos, apontando para o céu. — Vocês estão longe de compreender a verdadeira força que possuo.

    Rhyssara, observando atentamente cada movimento de Draxion, interveio:

    — Força? — ela disse, sua voz calma, mas cortante. — Força não é o mesmo que estratégia. Enfrentar um reino inteiro com apenas uma criatura e um soldado arrogante? Isso é apenas imprudência.

    Draxion riu, uma risada fria que reverberou pelo local. Ele olhou para Rhyssara, sua expressão se suavizando em algo que quase parecia… piedade.

    — Ah, mulher. Vocês realmente acreditam que estão lidando apenas com um soldado? — Ele pausou dramaticamente, os olhos escaneando a multidão, fixando-se momentaneamente nos cidadãos que tentavam fugir. — Drakoth não é apenas um deus para nós. Ele é nosso criador, nosso líder supremo. E eu sou um de seus executores mais fiéis. — Draxion ergueu a mão direita, seus dedos se curvando como garras. — E aos seus executores, ele concede a maior das honras.

    No céu, mais dois rugidos ferozes romperam o ar. Dois Wyverns adicionais surgiram, descendo dos céus com uma imponência terrível. Suas bocas estavam repletas de chamas, e seus olhos predadores miravam nos cidadãos que fugiam em pânico. A visão era aterrorizante; as criaturas aladas, com suas asas gigantescas e corpos cobertos de escamas vermelhas, pareciam ser os donos do céu. — A honra de comandar nossos irmãos de criação, os Reis dos Céus, os Wyverns! — proclamou Draxion, seu tom triunfante.

    Agnus não esperou ordens para agir. Em suas mãos, suas luvas brancas emanaram poder e invocaram um símbolo mágico azul, que remetia a um floco de neve. A Mão do Rei fez um gesto poderoso com a mão direita em direção ao solo e invocou um gigante círculo mágico no chão que disparou centenas de projéteis de gelo na direção dos Wyverns, que, com o impacto repentino, erraram seus disparos certeiros em direção ao povo que fugia, porém ainda sim vidas foram perdidas.

    — Hun. As escamas são muito resistentes — falou Agnus sem desviar o olhar das feras aladas. — Vou ter que chegar mais perto se quiser causar algum dano.

    No mesmo instante mais um círculo mágico surgiu, porém dessa vez, sob os pés de Agnus. Com um gesto poderoso das mãos, ele começou a correr, sua capa de couro esvoaçando, e degraus de gelo foram se condensando a sua frente, o levando para cima e mais perto dos inimigos.

    — Ora, achei que os soldados protegiam seu rei — falou Draxion coçando um de seus chifres.

    — Não se preocupe, eu sei me cuidar — respondeu Aquiles, seus pés saindo do chão, seus braços se movendo paralelamente ao corpo, em um arco, cada mão possuindo um brilho mágico branco.

    A primeira fera que havia descido com Draxion em suas costas gerou uma chama ardente em sua garganta e cuspiu uma bola de fogo em direção a Aquiles.

    Leonardrick que estava posicionado próximo ao rei se pôs na frente do disparo flamejante, seu movimento rápido e fluido, manejando o martelo que tinha quase seu tamanho com uma destreza absurda. O anão golpeou a sua frente, seu martelo atingiu as chamas e com um brilho rúnico, transmutou o fogo em ar quente que se esvaiu sem ferir ninguém.

    — Não pense que ficaremos apenas assistindo, lagarto maldito — reverberou Leonardrick.

    Os nobres se aproximaram, cercando Draxion e o Wyvern por todas as direções.

    — Se é o que querem. — Seriedade mortal tomou a voz do dragnaro quando deu a ordem ao wyvern em seu lado — Queime todos.

    Nota