Agnus continuava sua ascensão, criando uma escada de gelo que o levava mais perto do Wyvern que ameaçava os cidadãos. Sua concentração era total; cada passo no gelo o aproximava mais da fera, e seus olhos estavam fixos no objetivo. Em um momento de silêncio tenso, o som do gelo se formando e o rugido das chamas eram as únicas coisas audíveis.

    Enquanto isso, no chão, Sam Haras mantinha os príncipes em segurança, observando a batalha que se desenrolava acima. Como capitão da guarda real, ele sabia que sua prioridade era proteger os príncipes. Os sons de magia e rugidos ferozes dos Wyverns enchiam o ar, misturados com os gritos aterrorizados dos cidadãos. Cada som perfurava a alma de Sam, lembrando-o de seu próprio passado como um camponês além das muralhas de Lyberion. Ele sabia que Agnus enfrentava um desafio impossível contra duas feras poderosas, mas as ordens eram claras: os príncipes eram sua responsabilidade.

    Sam lutava contra seus próprios sentimentos. Os gritos dos inocentes ressoavam em seus ouvidos, e ele sentia a dor de cada um como se fosse sua própria. Lembrou-se de sua vida antes de se tornar capitão, de quando era apenas mais um entre os muitos camponeses que viviam às margens da cidade. Ele queria ajudar aquelas pessoas, mas a ordem de levar os príncipes a salvo era clara e inegável. Ele pegou uma carroça improvisada em meio ao caos, colocando os príncipes em segurança, enquanto seu coração se dividia entre o dever e a compaixão.

    Cassia observava a cena com um misto de incredulidade e horror. Os gritos de desespero das pessoas que tentavam escapar, o cheiro de fumaça e o brilho do fogo das chamas dos Wyverns eram coisas que ele apenas ouvira em histórias. A responsabilidade que um dia recairia sobre seus ombros o pressionava, e ele sentia uma culpa esmagadora por estar fugindo enquanto outros ficavam para trás. Ele se perguntou como poderia um dia governar se nem ao menos conseguia enfrentar uma situação como aquela.

    Helick segurava o braço de Sam com força, seus olhos grandes e cheios de medo. Ele nunca havia visto algo tão terrível em toda a sua vida. As criaturas aladas, cuspindo fogo e espalhando destruição, eram como monstros saídos de pesadelos. Ele viu pessoas correndo em pânico, algumas caindo e sendo pisoteadas, e o som dos gritos de dor e medo o perseguia. Helick não entendia como podiam ser príncipes e, ainda assim, não conseguir ajudar seu próprio povo. A impotência era uma sensação esmagadora, e ele olhava para Sam, procurando respostas que nem mesmo o capitão poderia fornecer.

    Enquanto a carroça avançava, Sam sentia o peso de sua decisão. As ordens eram claras, mas o som dos inocentes gritando por socorro ecoava em seus ouvidos, reavivando lembranças de sua própria família e do fim que ela levou. Ele sabia que, se não agisse, mais vidas poderiam ser perdidas, mas também sabia que a segurança dos príncipes era crucial. A cada segundo, o dilema se aprofundava, e Sam se viu preso entre a lealdade ao dever e a empatia pelos que sofriam.

    — O que está fazendo? — Falou Cassian baixo dentro do veículo. — O QUE ESTÁ FAZENDO?! — Dessa vez ele gritou em alto e bom tom para Sam que conduzia a carroça ouvisse. — Eles estão morrendo! Faça alguma coisa Sam! Nossas vidas não valem mais que a de ninguém aqui!

    Helick se surpreendeu com a fala determinada do irmão, mas o apoiou no mesmo instante.

    — Ele está certo, Sam — clamou Helick. — Tio Agnus é poderoso, mas ele não vai conseguir derrotar aquelas duas feras sozinho.

    Sam estava sem palavras. Ele concordava profundamente com cada palavra dos príncipes.

    — Eu recebi ordens. — falou ele por fim, relutante, mas decidido.

    — QUE SE FODA ESSAS ORDENS, EU COMO FUTURO REI ORDENO QUE VÁ SALVAR ESSAS PESSOAS IMEDIATAMENTE! — gritou Cassian com a autoridade de um verdadeiro monarca.

    Sam hesitou, sentindo o peso da responsabilidade em suas palavras. Ele sabia o que deveria fazer, mas as consequências de desobedecer às ordens o assombravam. Foi então que uma figura apareceu ao lado da carroça, montada em um cavalo negro.

    — Ora, ora — disse Tály, com um sorriso desdenhoso. — Talvez você não seja tão imundo quanto eu pensava, Cassian.

    Tály se aproximou, e junto com ela, Marco, Any e Redgar, os soldados de confiança de Sam, também chegaram. Marco olhou diretamente para Sam, com uma expressão determinada.

    — Capitão! — chamou Marco, a voz firme. — Vá ajudar o lorde Agnus na batalha, ele não conseguirá deter as duas feras por muito mais tempo!

    Sam abriu a boca para responder, mas um estrondo ensurdecedor ecoou no céu, interrompendo-o. Todos olharam para cima, e viram Agnus sendo arrastado pelo céu por um dos Wyverns.

    — SAAAAAM!!! — gritou Agnus dos céus, seu rosto em um misto de sangue e suor.

    Quando o capitão olhou em direção a Mão do Rei de Lyberion, ele o viu sendo arrastado pelos céus em uma investida de um dos Wyverns. Mas ele sabia que Agnus não gritaria por socorro, ainda mais para ele. Agnus gritou porque um Wyvern havia conseguido passar.

    Em uma investida estrondosa, o Rei dos Céus, armou um disparo com sua bola de fogo em direção a carroça. O tempo parecia desacelerar. Sam sabia que não conseguiria alcançar a fera a tempo. Mas antes que pudesse agir, Any saltou de seu cavalo e se colocou à frente do disparo.

    Sua armadura cotidiana que era reduzida a apenas um peitoral que defendia o peito esquerdo, reluziu com o brilho das chamas.

    — Magia de Hemomancia! — Clamou a soldado esticando os braços para frente, sua mão semiaberta como garras. — BARREIRA DE SANGUE!

    De suas mãos, sangue jorrou, formando um escudo carmesim que interceptou a bola de fogo. O impacto fez o escudo vibrar, mas ele aguentou. Em um segundo, um estampido de vento surgiu, e Sam, empunhando sua espada, saltou em direção ao Wyvern.

    — Magia de Vento! — A voz de Sam como se estivesse tirando um peso dos ombros. — Tempestade de Enrico!

    Ventos giraram violentamente se reunindo na lâmina da espada de Sam e o capitão saltou, mirando no pescoço da fera que estava com a guarda baixa após errar o ataque.

    Ao atingir o alvo, o Wyvern recuou para os céus, ele realmente havia sentido o golpe.

    Quando Sam se preparou para voltar a carroça ele viu que Cassian e Helick seguiram em frente escoltados por Any, Marco, Tály e Redgar. O olhar determinado deles para trás, dizia claramente “Nós os protegeremos. Vá e lute.”

    — Protejam Cassian e Helick com suas vidas. — Gritou Sam para eles enquanto se afastavam.

    Sam, com sua magia de vento, saltou para o céu em direção ao Wyvern que tentava esmagar Agnus com as patas. Com sua espada imbuída de magia do vento Sam afastou a ameaça da Mão do Rei.

    — O que você está fazendo Haras? — Falou Agnus enquanto se levantava. — Você está desobedecendo ordens diretas do rei para proteger os príncipes!

    Sam embainhou a espada enquanto respondeu.

    — Meus discípulos cuidarão da segurança deles. Não se preocupe. — Falou o capitão embainhando a espada com firmeza.

    — Você está louco? — Bufou Agnus — Deixou-os com a merda daqueles órfãos desajustados?

    Os dois Wyverns voltaram para o combate, interrompendo as reclamações de Agnus.

    — Temos outras preocupações agora. — Falou Sam se pondo em posição de combate.

    — Merda, Haras! — Resmungou Agnus, se pondo em posição. — Se não morrermos, ainda vou te matar por isso!

    Os dois se prepararam para enfrentar a ameaça, sabendo que precisavam lutar com todas as suas forças para proteger não apenas a família real, mas todo o povo que contava com eles naquele momento desesperador.

    Nota