Capítulo 3 – Invasão
por Felipe BahiaLyberion era cercada por inúmeros vilarejos pequenos. Dias de celebração como este era uma oportunidade única para que os comerciantes destas pequenas vilas faturassem uma boa quantia em dinheiro.
Na praça gigante parecia se vender de tudo. Tendas com comidas exóticas e simples, mercadores com perfumes, roupas e várias tochas e fogueiras iluminavam o local. As tendas e barracas se estendiam ao redor da enorme fonte que ficava no meio da praça. O cheiro das comidas e perfumes tornavam o ambiente muito aconchegante e bom de se estar.
Mas o que realmente importava ali para os príncipes era achar alguma coisa para se ocultarem na multidão.
Não demorou muito para encontrarem uma barraca que vendia máscaras entalhadas à mão. O vendedor era um homem idoso, careca, com barba branca e aparência esquelética.
Cassian observou as máscaras, cada uma única e distinta das outras. Apesar da humildade do vendedor, suas criações, feitas com diferentes tipos de madeira e tons variados, tinham um certo ar de nobreza. O príncipe herdeiro escolheu uma máscara que representava a face de uma águia vermelha.
A escolha pode ter sido pela perfeição dos detalhes avermelhados entalhados, que pareciam quase reais na madeira escura, ou pela simbologia do animal, representando força, liberdade e independência.
Helick optou por uma máscara que retratava um lobo branco com detalhes vermelhos nas sombras dos olhos. O príncipe mais jovem pode ter escolhido essa máscara devido à associação do lobo com a liderança e a proteção das fronteiras, características que admirava em seu mentor, Sam.
A música que tocava em diversos pontos era hipnotizante. Não demorou muito para que os irmãos já estivessem dançando em meio a praça.
Mesmo com os belos rostos por baixo de máscaras, eles chamavam a atenção das moças do festival, talvez pelos corpos bem treinados e definidos ou pelas vestes visivelmente capazes de comprar tudo que havia na festa.
As roupas não seriam problema, já que toda a nobreza estava presente no evento portando roupas tão luxuosas quanto.
Não demorou muito para que Cassian estivesse em uma dança com três donzelas perfeitamente lindas.
Helick parou por um segundo quando viu a cena e riu. Cassian realmente não mudava e parecia que jamais o ocorreria.
Em meio aos pensamentos, o príncipe mais novo se lembrou o do porque havia ido às escondidas para o evento, mesmo contrariando o pai e Rei.
Helick não precisou andar muito para ver Nastya no centro da praça, ao lado da exuberante fonte prata.
A jovem estava em um vestido esvoaçante verde com tons claros e escuros. O vestido realçava ainda mais aqueles olhos esmeralda.
Helick sentiu o ritmo da música mudando a um ritmo mais agitado e empolgante, então se pós a dançar na direção da jardineira.
Quando Nastya reparou na presença do jovem mascarado, ela sincronizou seus passos para acompanhá-lo. O salto dourado não a atrapalhava em nada com os passes leves e suaves.
— Ouvi dizer que os príncipes não viriam para o início da festa — comentou Nastya enquanto dançava suavemente.
Helick hesitou nos passos com a afirmação da jovem.
— Minha mãe é responsável pela limpeza das vestes reais, príncipe Helick — continuou Nastya reparando na surpresa do jovem príncipe mesmo por baixo da máscara. — Ela ficou falando desta roupa feita com couro de leonzir por semanas.
— Talvez não tenha sido a melhor escolha para passar despercebido — falou Helick para a jovem.
Nastya riu.
— Não mesmo.
A música ambiente havia mudado de um ritmo alegre e festeiro mais lento e íntimo. Nastya se aproximou de Helick e estendeu a mão.
— Um príncipe daria a honra de uma dança a uma empregada como eu?
Com uma mão Helick pegou a de Nastya e com a outra a segurou pela cintura.
— É claro.
Os dois dançaram juntos com movimentos lentos, suaves e perfeitos, uma dança digna de um baile da realeza, isso se algum dia Nastya fosse aceita na alta sociedade.
— Posso te perguntar uma coisa, meu príncipe? — Indagou Nastya nos braços de Helick.
— Já disse que pode me chamar pelo nome, Nastya, mas é claro que pode.
— As adagas que você e seu irmão tem — falou a jovem curiosa. — Eu reparei que elas não são comuns, ainda mais com aquelas gemas brilhantes. Eu estou enganada ou elas têm algo especial?
Helick por um momento hesitou em um passe da dança, mas mesmo assim respondeu:
— Não sei se elas têm algo de valioso materialmente falando, mas foi a última coisa que nossa mãe nos deu antes dela partir.
— Ah. — Respondeu Nastya sem jeito — desculpe, não sabia que essa pergunta lhe faria ter lembranças dolorosas, Helick.
O príncipe apenas abriu um sorriso oculto por baixo da máscara quando ouviu seu nome sair dos lábios de Nastya.
Após algumas horas dançando, o relógio da praça, que ficava no alto de uma torre de pedra branca, tocava a terceira hora da manhã.
Helick nunca havia se sentido tão alegre, havia anos que ele queria se aproximar da jovem, mas nunca tinha conseguido, não como naquelas horas. Haviam sido amigos na infância quando títulos não significavam nada para crianças, mas isso se encerrou com o início do treinamento árduo.
Nastya se despediu de Helick, afinal, no dia seguinte ela continuaria como jardineira e ele como príncipe. Dois mundos bastante diferentes na qual o rei fazia questão de lembrar o filho todos os dias.
A linda garota sorriu e agradeceu pela dança e se virou para a direção do palácio, onde também ficava a Torre dos criados.
Helick sorriu de volta e se virou para procurar o irmão, já estava na hora deles voltarem para o palácio.
Logo pela manhã o Rei os convocaria para irem ao festival e seria bom que eles tivessem ao menos algumas horas de sono para disfarçarem a fuga na madrugada.
Quando o príncipe deu um passo para a direção de onde havia se separado do irmão, houve um estrondo.
KABOOOOOOM!!
A música alegre desapareceu e foi substituída por gritos. As luzes das fogueiras foram trocadas por chamas nas tendas. E a alegria deu espaço ao terror quando o príncipe se virou e viu três soldados de armadura vermelha no centro da praça onde havia ocorrido a explosão, exatamente no lugar no qual ele havia se despedido de Nastya.
Cassian estava saindo de uma casa que pertencia as três nobres donzelas com as quais ele estava dançando, que curiosamente ele descobriu que eram irmãs.
Após ajeitar a roupa recém posta, o príncipe herdeiro estava indo de encontro com o irmão, que com certeza estaria babando atrás de Nastya.
Assim que Cassian adentrou novamente na praça um estrondo ensurdecedor perfurou o ambiente.
Uma explosão que jogou a fonte da praça pelos ares. Gritos tomaram conta do local e Cassian se pós a correr para onde havia se separado de Helick.
Onde ficava a fonte prateada agora só havia um gigantesco buraco causado pela explosão.
Cassian viu três soldados perto da explosão, porém esses não usavam a armadura prateada de Lyberion, mas sim cores avermelhadas.
“Um ataque”, pensou Cassian.
O príncipe mais velho encontrou o irmão mais novo em meio à multidão, correndo de um lado para o outro ajudando as pessoas a se levantarem e a se recompor.
— Helys! — gritou Cassian. — Está tudo bem?
Helick parou e encarou o irmão.
— Nastya… — começou Helick — ela estava aqui perto na hora da explosão, estou tentando encontra-la, mas não a acho em lugar algum!
Cassian conseguia ouvir a voz de Helick tremendo.
— Fique calmo, vai dar tudo certo, os soldados estão cercando a praça, em breve eles irão conter o que quer que esteja acontecendo.
Cassian olhou para onde as sentinelas liberianas se posicionavam.
Os olhos do príncipe se arregalaram quando ele viu o chão se levantar e criar uma muralha que cercava o centro da praça, impedindo a entrada dos guardas.
ARGUEM. Aqueles três homens de armadura vermelha possuíam ARGUEM’s.
— Droga! — Cassian xingou. — Os soldados irão demorar pra destruir aquela muralha e tem muitos aldeões e camponeses aqui.
Helick observou o ambiente. Um dos três soldados de vermelho havia entrado dentro do buraco da fonte e já estava saindo.
Atrás dele, haviam mais três homens sem armadura, porém que sorriam junto com os outros. E um pouco mais atrás, pessoas aterrorizadas estavam reunidas cercadas por correntes.
Os príncipes se esconderam atrás dos escombros de uma barraca de roupas.
— Eles vieram buscar alguma coisa que estava de baixo da fonte — observou Helick.
Cassian assentiu e olhou por cima da barraca, para as pessoas que estavam acorrentadas.
Afiando o olhar ele conseguiu identificar Nastya em meio aos reféns, ferida e desacordada.
— Merda.
Quando Cassian olhou de volta para o irmão, ele já não estava mais lá.
Helick havia saído correndo em direção aos soldados, aos reféns, em direção a Nastya.
As ruas largas do centro de Lyberion ressoavam com os passos rápidos de Cassian e Helick. À luz da lua, as sombras dos dois príncipes dançavam pelas fachadas dos imponentes edifícios antigos, com seus telhados destacando-se contra o céu noturno estrelado.
Cassian se pôs a correr o mais rápido que podia pelas largas ruas do centro de Lyberion, atrás do irmão.
— Pare seu idiota! — gritou Cassian, agarrando Helick pela camisa. — Eles são portadores de ARGUEM’s, a gente não tem chance.
Os olhos de Helick estavam em chamas.
— Não me importo! Treinamos a mais de uma década para sermos os melhores, para proteger nosso reino. Não podemos recuar agora! Não é só sobre Nastya, mas por todos que podem perder a vida se forem levados.
Cassian soltou o irmão que instantaneamente voltou a correr.
Helick olhou para trás uma vez e viu Cassian correndo logo em seu encalço mais uma vez.
— Não tente me impedir! — rosnou Helick.
Cassian encarou o irmão e deu um sorriso sombrio.
— Relaxa, eu te dou cobertura.
Os três soldados de armadura vermelha estavam conversando entre si.
— Meus senhores… — Disse um dos homens sem armadura que estava com eles, apontando para onde haviam dois jovens mascarados correndo em sua direção.
— Deixo-os com vocês. — Disse o soldado mais alto — Não exagerem e lembrem-se de levar todos os prisioneiros.
De repente os três soldados de armadura vermelha sumiram.
Helick e Cassian não viram por onde eles foram, mas os irmãos viram quando um dos três homens a frente dos reféns sacou um machado grande das costas.
Helick e Cassian foram treinados desde muitos novos paro o combate, porém nunca lutaram uma luta de verdade.
Os irmãos esperavam ansiosamente o momento da primeira luta, porém, quando o momento chegou, eles estavam extremamente agitados.
O coração batendo rapidamente, as mãos suando. Um erro seria fatal, mas… Os príncipes não diminuíram o ritmo.
O homem com machado na mão riu quando viu a ousadia dos jovens mascarados que não paravam de correr em direção a morte.
Helick corria na frente velozmente, Cassian vinha em sua retaguarda, como sua sombra. Helick chegou perto do inimigo primeiro.
O homem balançou o machado tão rapidamente que decapitaria qualquer um que não tivesse treinado por anos.
Helick vendo o machado vindo em sua direção, pôs a mão direita dentro de sua blusa e sacou a adaga que ele estava utilizando mais cedo naquele dia, a gema presa no cabo da arma brilhou com a luz da lua e, com um reflexo absurdo, o príncipe mais novo se abaixou e deslizou sobre os joelhos, passando do primeiro homem, rasgando a carne de sua perna com a adaga em mãos.
O guerreiro urrou de dor, porém o grunhido não durou muito. Quando o homem se distraiu com a dor, Cassian também já havia sacado a adaga e a águia fez o mergulho direto no peito do homem.
Os outros dois invasores olharam boquiabertos com a letalidade dos jovens mascarados.
— VOCÊS IRÃO MORRER AGORA, SEUS VERMES! — gritou um deles.
— Se acalme Bones — disse o outro.
— Eles mataram nosso irmão, como quer que eu tenha calma Ross?
Ross apoiou a mão na espada que pendia ao lado do corpo. Uma lâmina pálida, com detalhes rúnicos que percorriam sobre o metal.
— Por ter sido precipitado ele morreu. De forma humilhante diga-se de passagem.
Bones ignorou a fala do irmão e pegou o martelo de guerra que estava no chão ao seu lado. O martelo era bege adornados com símbolos amarelos.
— Não os subestimarei. Os eliminarei em um golpe — disse Bones com as feições deformadas por ódio e sede de sangue.
Helick e Cassian se entre olharam. Esses dois seriam mais difíceis, viram que eles não eram jovens despreparados.
Cassian deu uma pequena olhada para trás para ver se a muralha de terra já havia cedido.
Nada.
Podia-se ouvir alguns estrondos dos soldados batendo na parede gigante, algumas trincas já surgiam, mas ainda demorariam.
— Essa vai ter que ser com a gente — falou Cassian olhando de volta para Helick que assentiu.
Bones correu como se o martelo fosse mais leve que uma pluma, e saltou na direção dos irmãos.
Helick e Cassian se prepararam para saltar para longe do golpe.
O martelo adornado geometricamente não encontrou nenhum dos dois jovens, acertando em cheio o chão que tremeu.
Quando Cassian se preparou para contra atacar ele sentiu um calafrio na espinha, algo gritando perigo e institivamente ele recuou novamente. O mesmo aconteceu com Helick que também recuou.
O solo havia ficado pontiagudo e estacas de terra haviam emergido do chão.
Os irmãos olharam atentamente para o que havia acontecido e depois olharam para o martelo de guerra de Bones.
— Merda! — falou Cassian.
— Um ARGUEM! — continuou Helick.
— Entendem agora que vocês já estão mortos? — rugiu Bones gargalhando.
Bones correu e saltou novamente. Dessa vez na direção de Cassian.
Cassian com um reflexo felino se afastou imediatamente, porém Bones já esperava por isso e o seguiu no tempo perfeito.
O homem com martelo girou a arma e atacou a lateral esquerda do príncipe herdeiro.
Tudo o que Cassian podia fazer era pôr a adaga e os braços para defender a lateral do corpo.
Ele foi pego em cheio e voou para longe com o impacto, parando só depois de se chocar com uma parede.
— CASS!! — gritou Helick.
O príncipe mais novo saiu em disparada para a direção do irmão, porém Ross o interceptou com um ataque de espada, que Helick defendeu no último segundo.
— Aonde pensa que vai? — disse o espadachim. — Seu oponente serei eu.
Ross atacou de novo, dessa vez, com quatro cortes consecutivos. O primeiro de cima para baixo, Helick pulou para trás. O segundo, um corte giratório na horizontal, seguindo de mais um corte de cima para baixo e outro de baixo para cima.
O príncipe mais novo utilizou a adaga para aparar cada um dos golpes, que se acertassem, seriam fatais.
— Você é bom garoto — sorriu Ross.
Os ataques de Ross eram muito pesados. Parecia que ele havia uma força além do comum em cada golpe. Helick estava resistindo, mas não duraria muito naquele ritmo.
Enquanto Helick tentava pensar em algum plano pra sair daquela situação, Ross fez um salto giratório.
— Corte Fantasma. — A voz de um assassino.
A espada de Ross estava muito distante para que acertasse o príncipe, porém novamente, um arrepio irrompeu na espinha de Helick. Algo dentro do príncipe gritava perigo, uma voz sem som gritava morte.
Mesmo sem ver nenhuma ameaça o jovem se protegeu com a adaga, a pondo a frente do corpo.
Uma linha de corte cruzou o chão e atingiu o príncipe mais novo, o jogando para longe, para um amontoado de escombros.
Ross assobiou em surpresa, apoiando a espada no ombro direito.
— Você tem instintos além da compreensão, garoto.
Cassian se levantou de onde havia sido arremessado. O príncipe herdeiro não conseguia erguer o braço esquerdo, estava quebrado.
— Helys… HELYS!
Ross acenou para Cassian.
— Não se preocupe, ataquei com a parte sem fio da lâmina.
Bones ergueu uma sobrancelha.
— Porque não o eliminou seu idiota?
Ross apontou com a espada os rostos dos príncipes.
— Não reconhece a fuça desses dois?
As máscaras haviam rachado e quebrado com o impacto dos golpes.
— Ora, ora — riu Bones. — Os príncipes de Lyberion.
— Não vamos matá-los. Com certeza esses dois valem mais do que qualquer um desses reféns.
A identificação vinda de Ross já era suspeita mesmo antes das máscaras caírem. Talvez, a roupa branca prateada feita com o couro do símbolo da cidade tivesse denunciado ao menos Helick. O bom treinamento em combate de dois adolescentes deveria ter denunciado o resto.
Helick tentou se levantar do chão, mas não tinha forças para fazê-lo. Embora o ataque não foi com força total, o jovem príncipe sentia que não conseguiria se levantar por um bom tempo.
— Vocês dois, príncipes, já são temidos por aí, sabiam? — começou Ross. — O pai de vocês espalhou bem a notícia que seus filhos estavam sendo treinados desde os cinco anos, e que aos quatorze e doze, já eram capazes de derrotar soldados com certa bagagem de combate.
“Todos aqueles que não estão nas graças de Lyberion, temem o dia em que vocês despertarem seus ARGUEM’s. Levar vocês conosco nos renderá uma vaga quase certa na Cidade.”
Cassian trincou os dentes. O braço quebrado doía incessantemente. Eles seriam levados, não havia o que fazer. Nem mesmo inteiros eles venceriam aqueles dois. Entrar nessa luta havia sido burrice desde o início.
— Agora, vamos — disse Ross andando na direção de Helick.
O jovem príncipe tentou erguer a adaga novamente. A dor percorria cada parte do corpo.
Quando Ross estava a cinco metros de Helick um estrondo irrompeu.
A muralha havia cedido.
— Mas que merda! — xingou Bones. — Eles haviam dito que aquela muralha aguentaria ficar em pé por quinze minutos não importa o quão forte fossem os ataques.
Com um estrondo ensurdecedor, a muralha de terra cedeu, enviando nuvens de poeira para o ar. No meio da névoa crescente, uma figura imponente emergiu, o Capitão Haras, com sua espada desembainhada brilhando à luz lunar.
Ao ver o rosto de quem se aproximava junto de um exército, Ross e Bones xingaram.
— Vamos Bones! Agora, pegue os prisioneiros e vamos sair daqui agora!
Bones não debateu, correu direto para onde os reféns estavam presos por correntes.
“Isso é ruim”, pensou Helick. Se eles tivessem a mesma habilidade de sumir como os outros três, eles podiam simplesmente desaparecer com os reféns, com Nastya.
Quando Bones colocou a mão nas correntes ele gritou.
Ross olhou para o irmão e viu que ele não tinha mais a mão na qual ele havia posto nas correntes. Ela havia sido decepada.
— Maldito seja. — Ross olhou devagar para o rosto que se revelava da poeira. — Maldito seja o Olho da Tormenta!
O Capitão da Guarda Real de Lyberion, Sam Haras, estava com a mão no cabo da espada que voltava a descansar na sua cintura. A espada com punho prata e lâmina curva cantava ao voltar para a bainha.
— O Olho da Tormenta! — Bones pegou o machado com a mão que restava. — Você vai pagar… HARAS!!
— Não, seu imbecil… — Ross tentou, mas não conseguiu impedir que Bones se lançasse na direção do Capitão Haras.
Bones começou a virar em torno de si mesmo. A terra sob seus pés trincava, subia e rachava, seu sangue se espalhava.
Mesmo sem despertarem a magia interior com um ARGUEM, os príncipes sentiram uma presença e uma pressão avassaladora tomando conta da praça.
— Não faça isso Bones!! — gritou Ross.
Não surtiu efeito o aviso do espadachim para o irmão.
Bones, depois de girar e acumular o máximo de poder possível no martelo de guerra, seu ARGUEM, travou a perna no chão e o arremessou com força total contra o Capitão Haras.
— MORRA, OLHO DA TORMENTA!!
Por todo o caminho que o martelo percorreu, a uma velocidade absurda, a terra por baixo era arrasada e destruída. A magia presente naquele martelo mataria qualquer coisa que tocasse.
Helick e Cassian queriam, mas não podiam se mover. A pressão mágica no ambiente os colocou de joelhos e ofegantes. Apenas erguer os olhos e ver a cena era possível.
O Capitão da Guarda Real, Sam Haras, voltou a mão para a espada, o martelo se aproximando brutal e velozmente.
— Magia de vento. — Um sussurro.
O vento começou a circundar o corpo do capitão. Com um saque rápido, Sam balançou a espada na horizontal, segundos antes do martelo de guerra o alcançar.
— TORMENTA DE IRMA.
Um tornado surgiu em volta do Capitão da Guarda, o martelo de Bones foi redirecionado com os ventos em volta do capitão, o fazendo dar uma volta em torno do olho da tormenta e voltando para quem o lançou, mais rápido do que havia sido arremessado.
O homem não teve tempo para uma reação quando o próprio ARGUEM o atingiu, esmagando qualquer osso e órgão que tocasse e o levando a se chocar com um prédio a trezentos metros de distância.
Ross não esperou que a atenção do Olho da Tormenta se voltasse para ele. Quando todos no local; os príncipes, reféns, Sam e o exército foram olhar para onde ele estava, o homem já havia sumido.
A pressão mágica, assim como a vida de Bones, já não mais existia.
Helick se encaminhou para onde o irmão segurava o braço quebrado.
— Você está bem?
Cassian deu um sorriso em meio a dor.
— Só alguns ossos quebrados.
Antes que os irmãos pudessem se sentir aliviados uma voz rouca e bravejada chegou em seus ouvidos.
— Vocês dois — falou o Rei. — Para o palácio. Agora.