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Capítulo 38 — Além das Muralhas
A carruagem prateada deslizava com suavidade pela estrada de pedra, suas laterais refletindo o brilho do sol enquanto o grupo avançava em direção aos limites do reino. Ao redor, os quatro soldados escolhidos por Sam formavam um anel de proteção, cada um atento ao seu setor. Na frente, Any guiava o avanço com olhos vigilantes; à esquerda, Marco mantinha a mão firme sobre sua espada; à direita, Tály observava os arredores com atenção. Na retaguarda, Redgar estava posicionado para garantia que nada os surpreendesse.
Dentro da carruagem, os príncipes, a imperatriz e Nastya estavam confortáveis, mas o ambiente permanecia silencioso. O único som que preenchia o espaço era o das rodas contra o solo e o ocasional tilintar das armaduras dos soldados ao lado. Cassian e Helick, os príncipes, observavam atentamente pela janela enquanto as muralhas de Lyberion se aproximavam cada vez mais.
Ao chegarem aos portões, uma figura familiar se destacava no topo das fortificações. Agnus, o tio dos príncipes, estava ocupado delegando ordens e organizando os soldados. Sua postura rígida e a voz firme demonstravam seu completo controle sobre a segurança da cidade. Ao notar a carruagem se aproximando, ele fez um breve aceno, seguido por uma piscadela maliciosa, seus olhos se cruzando rapidamente com os dos sobrinhos.
— Ali está o tio Agnus — comentou Helick, retribuindo o gesto, enquanto Cassian o observava com uma mistura de surpresa e espanto.
— Desde quando ele tem pulso firme e se importa com o reino? — indagou Cassian, perplexo, esquecendo por um momento que a imperatriz de outro reino estava presente.
Agnus Havilfort era uma versão mais velha de Cassian. Conhecido como o senhor dos bares nobres e das festas do povo, ele passava a maior parte do tempo bebendo e se divertindo, enquanto seu irmão, o rei, liderava o reino. Raras eram as vezes que se envolvia nos assuntos do reino, e, quando o fazia, era por ordem direta do irmão.
— Homens — comentou Rhyssara com um breve sorriso, acompanhado de um leve toque quase imperceptível de tristeza. — Fingem não se importar na maior parte do tempo, mas, quando realmente é necessário, estão prontos para fazer o que precisa ser feito.
Cassian concertou sua postura em seu acento acolchoado na carruagem enquanto absorvia as palavras da mulher. Ele sabia que Rhyssara falava de homens de verdade, e não moleques irresponsáveis como ele.
Por um momento ele se questionou que tipo de homem ele seria no futuro, tendo fugido de suas responsabilidades durante tanto tempo.
A carruagem cruzou os portões de Lyberion, passando pelas muralhas imponentes. Do lado de fora, o horizonte se estendia de forma quase infinita, e a cidade segura e próspera logo ficou para trás. Ao longo do caminho, o cenário começou a mudar. A estrada se tornava menos cuidada, e a vegetação selvagem tornava-se mais densa.
Rhyssara, até então observando em silêncio pela janela, notou a palidez de Nastya. A jovem jardineira estava visivelmente nervosa, as mãos trêmulas sobre o colo, ainda se ajustando à presença de figuras tão importantes.
Helick estava estranhamente olhando fixamente pra a janela do lado oposto, como se quisesse evitar contato visual com a garota e mesmo o dia estando fresco, suor escorria de sua testa.
Rhyssara soltou um pequeno riso com todo aquele clima pesado desnecessário.
— Aconteceu algo? — perguntou Helick meio afobado.
— Nada — respondeu a imperatriz, fixando seus olhos em Nastya. — Só estava pensando em como uma estrangeira conseguiu trabalhar no famoso Palácio de Ouro.
Nastya, pega de surpresa pela pergunta, endireitou-se na poltrona e tentou disfarçar o nervosismo com um sorriso tímido.
— Ah… bem, eu e minha mãe viemos do reino independente do sul. As coisas lá não estavam boas, e tentamos a sorte em Lyberion. Tivemos sorte de sermos aceitas como serviçais no palácio… — Nastya fez uma breve pausa, encolhendo os ombros. — Foi isso.
Rhyssara estreitou os olhos, percebendo que havia algo mais por trás da história simples que a jovem contava.
— Aceitas, assim tão fácil? — perguntou a imperatriz, seu tom ainda gentil, mas agora um pouco mais inquisitivo. — Mesmo sendo estrangeiras recém-chegadas?
Nastya corou levemente, desviando o olhar.
— Tivemos a ajuda de uma pessoa importante — admitiu, quase em um sussurro. — Minha mãe conhecia alguém no palácio, e foi graças a isso que conseguimos.
Antes que Rhyssara pudesse questionar mais, a carruagem começou a desacelerar. Os príncipes, que estavam atentos à conversa, levantaram-se um pouco e olharam para fora das janelas.
— Parece que estamos nos aproximando de um vilarejo — disse Cassian, notando as primeiras construções simples e as figuras magras ao longe.
Helick, sem dizer nada, manteve os olhos fixos na paisagem.
À medida que a carruagem avançava, o contraste com a vida dentro das muralhas de Lyberion tornava-se cada vez mais evidente. As casas eram pequenas, com paredes desgastadas pelo tempo e telhados improvisados. A vegetação parecia escassa, e as ruas de terra eram estreitas, quase desertas, exceto por algumas poucas pessoas, que observavam de longe o grupo passar. Eram figuras magras, de rostos pálidos e roupas esfarrapadas, claramente desgastadas pelo trabalho árduo e pela falta de recursos.
Os príncipes, acostumados ao luxo e à segurança da capital, olhavam incrédulos para a miséria que nunca tinham visto de tão perto. Helick estreitou os olhos, tentando compreender o que via.
— O que é isso? — murmurou ele, mais para si mesmo do que para qualquer outro. — Mesmo que já tenhamos saído das muralhas, essa região ainda pertence a Lyberion.
Cassian, ao ouvir as palavras do irmão, também observava o cenário ao redor com um misto de espanto e desconforto. O silêncio entre os dois príncipes refletia a confusão e o choque com o que estavam presenciando.
Rhyssara, que até então permanecia em silêncio, observando atentamente a reação dos jovens, decidiu intervir.
— Este é o mundo real — disse a imperatriz com a voz calma, mas impactante. — Nem todos têm o privilégio que vocês sempre tiveram. A maioria luta para sobreviver, dia após dia.
As palavras da imperatriz atingiram os príncipes como um golpe inesperado. Eles nunca haviam imaginado que os vilarejos ao redor de Lyberion pudessem ser assim. Um misto de surpresa e desconforto tomou conta de ambos, e, pela primeira vez, sentiram-se culpados por sua própria ignorância.
À medida que passavam pelas ruas do vilarejo, crianças corriam para as portas das casas, espiando com curiosidade e espanto as carruagens reluzentes. Alguns adultos acenavam, talvez por hábito ou esperança de alguma mudança, mas a maioria mantinha o olhar baixo, resignada à sua própria condição. E em outros, o olhar era de ódio e repulsa.
À medida que a carruagem seguia pela estrada empoeirada do vilarejo, Helick, ainda absorto nas cenas que via pela janela, virou-se abruptamente para o cocheiro.
— Pare a carruagem — disse ele, sua voz firme, mas carregada de incerteza.
Cassian e Helick se entreolharam por um breve momento, ambos sentindo a necessidade de descer e ver aquilo de perto. Estavam prestes a experimentar um mundo diferente de tudo o que conheciam.
— Vocês têm certeza? — perguntou Rhyssara, sua voz calma, mas com um traço de advertência. — Talvez não seja uma boa ideia descer.
Apesar de suas palavras, a imperatriz não fez nenhum movimento para impedi-los. O olhar dela apenas acompanhava os príncipes, como se já soubesse que a decisão deles estava tomada.
Nastya, sentada em silêncio, abriu a boca como se fosse falar algo, mas as palavras lhe faltaram. Ela não tinha direito de opinar sobre o que os príncipes fariam. Com as mãos inquietas, ficou apenas observando enquanto Helick e Cassian pegavam suas espadas, nas bainhas, e a prendiam na cintura para descer da carruagem.
Assim que seus pés tocaram o chão poeirento, o ambiente ao redor pareceu mudar. Um silêncio estranho pairou no ar, quebrado apenas pelo rangido de uma porta que se abriu mais adiante. De repente, um velho de barbas brancas, longas e ralas e esquelético aproximou-se lentamente. Ele mancava ligeiramente e seus trajes estavam tão gastos quanto a pele enrugada que cobria seus ossos. Ao vê-lo mais de perto, os príncipes trocaram um olhar de surpresa. Era o mesmo homem que vendia máscaras na praça central do reino durante a celebração da deusa Terramara.
— Não pode ser… — murmurou Cassian, com uma expressão de incredulidade.
Helick, porém, ficou em silêncio, observando atentamente o velho, tentando entender como alguém que, outrora, fora parte de uma festividade tão grandiosa, agora se encontrava ali, no meio da miséria.
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