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Capitulo 39 – Tomando a Responsabilidade
O velho maltrapilho se aproximou com passos vacilantes, suas mãos trêmulas tentando ajeitar os trapos que usava como vestes. Com uma reverência exagerada, inclinou-se o máximo que pôde, quase perdendo o equilíbrio.
— Altezas — disse ele, com a voz rouca, cheia de respeito e temor. — Perdoem-me por não poder me ajoelhar. Se o fizesse, temo que essas velhas pernas não conseguiriam me erguer de novo.
Os príncipes ficaram sem reação por um breve momento, ainda processando a situação inesperada. Helick foi o primeiro a se recompor.
— Não é necessário — respondeu ele, sua voz tentando soar casual, mas revelando um certo desconforto.
Cassian, ao lado, também assentiu, tentando encontrar as palavras certas.
— Você… é o mesmo homem que vendia máscaras na celebração da Deusa Terramara? — perguntou ele, ainda um pouco cético.
O velho sorriu, mostrando dentes manchados e quebrados, mas seu semblante carregava um orgulho silencioso.
— Sim, Alteza — confirmou ele, inclinando a cabeça. — Eu faço minhas criações com os poucos recursos que tenho aqui. Com os 20% da madeira que a vila pode manter, já que 80% é enviada para Lyberion, consigo o material necessário para confeccionar minhas máscaras e ganhar um dinheiro extra para alimentar meus netos. Sou profundamente grato por terem comprado minhas peças. Foi uma honra sem igual.
Helick e Cassian trocaram olhares. As palavras do homem traziam à tona uma dura realidade que eles mal conheciam: a vila sobrevivia com uma pequena fração do que produzia, enquanto o restante alimentava o esplendor da capital.
— Não vou negar que sabia que a maior parte ia para Lyberion — começou Helick, a voz carregada de pesar. — Mas sempre presumi que, ao menos, vocês tivessem condições de vida decentes.
O velho, com um sorriso cansado, balançou a cabeça antes de responder:
— O reino toma sua parte de direito — disse ele, sua voz baixa e rouca. — Afinal, são os soldados de Lyberion que nos protegem das criaturas da Floresta das Árvores Andantes e dos ladrões das estradas. Graças a eles, podemos viver sem tanto medo.
Antes que os príncipes pudessem reagir, um garoto de não mais que doze anos se aproximou, os olhos faiscando de raiva, e gritou:
— Mentira! — berrou, apontando o dedo acusadoramente para o velho. — Eles não nos protegem, só nos exploram! Fazem de nós escravos!
O jovem ofegava de indignação, sua voz quebrando com a intensidade de suas emoções.
— Cortamos as árvores manualmente porque o reino não deixa que despertemos nosso ARGUEM! Só quem é da nobreza tem esse direito. A menos que você consiga um milagre e chegue ao topo do exército, mas isso… isso é impossível pra gente, pra um plebeu!
O velho suspirou pesadamente, os ombros curvando-se um pouco mais sob o peso da situação. Ele estendeu a mão trêmula em direção ao garoto, tentando acalmá-lo.
— Calma, Eron… — disse o velho com a voz suave, mas firme. — Não é hora pra isso, meu neto.
Eron, porém, não se conteve. Ele deu um passo à frente, as mãos fechadas em punhos, o rosto corado de raiva.
— Não, avô! Eles precisam ouvir! — gritou ele, a voz firme, mas cheia de frustração. — Depois dos ataques à capital, os soldados que protegiam os vilarejos foram todos convocados de volta. Nós ficamos sem ninguém! Aquele bando de bandidos apareceu e saqueou tudo o que tínhamos. Perdemos quase todo nosso estoque de comida!
O garoto encarava os príncipes com olhos ardentes, como se eles fossem a causa de toda a sua dor.
Os príncipes sentiram o peso das palavras de Eron se alojar em seus peitos como uma facada, a responsabilidade batendo forte contra seus corações. As expressões de culpa e raiva misturavam-se em seus rostos. Nesse momento, Marco e Any, dois dos quatro soldados que faziam a escolta da carruagem, se aproximaram com cautela.
— Está tudo bem, Vossas Altezas? — perguntou Marco, os olhos atentos em Eron, que deu um passo para trás, sua fúria agora substituída por um traço de medo. O garoto não estava acostumado a ver soldados tão de perto, e a presença deles o fez recuar.
Cassian, no entanto, ignorou a reação do jovem e deu um passo à frente, sua expressão endurecida.
— Onde estão esses bandidos? — questionou, sua voz grave e intensa. Seus olhos, refletindo a mesma raiva de Eron, pareciam prestes a explodir de indignação.
— Príncipe Cassian, — interveio Any com firmeza — nossa missão é chegar a Ossuia o mais rápido possível. Não temos tempo a perder com assuntos menores.
Helick, que até então permanecera em silêncio, se virou bruscamente para Any, a frustração clara em seu olhar.
— Menores? Essas pessoas são tão lyberianas quanto nós! Não sairemos daqui sem ajudá-las.
O vilarejo, que até então mantinha um silêncio pesado, parecia agora atento a cada palavra e movimento. Pelas janelas desgastadas e por buracos nas frágeis paredes de madeira, os moradores espiavam, seus olhos refletindo surpresa, medo e… esperança? A atmosfera já tensa se intensificou quando, de repente, a porta da carruagem se abriu mais uma vez.
Todos os olhares se voltaram instantaneamente para a figura que surgia. Com passos elegantes e controlados, a própria imperatriz de Ossuia, Rhyssara BloodRose, desceu da carruagem. Sua presença, majestosa e imponente, fez o vilarejo inteiro congelar no tempo. Ela vestia um manto de viagem refinado, feito de um tecido ao mesmo tempo resistente e fluido, adornado com delicados detalhes dourados nas bordas, que caía graciosamente sobre seus ombros e deslizava até o chão. Por baixo, uma túnica de veludo escuro, ajustada à sua figura, capturava a luz em pequenos reflexos dourados, conferindo-lhe uma nobreza que transcendia a simplicidade.
Os cabelos ruivos, soltos e ondulados, reluziam sob a luz do dia como chamas vivas, contrastando com o tecido escuro de suas roupas. Seus olhos azuis, profundos como o céu mais claro, varriam o ambiente com calma e uma confiança inabalável.
Na cabeça, Rhyssara trazia a Coroa de Edgar, o ARGUEM herdado de Ossuia. Feita de diamante negro, com sutis tons dourados que serpenteavam pela estrutura, a coroa refletia a luz de maneira quase mágica. Discreta, porém poderosa, ela deixava evidente sua posição como imperatriz. Em sua mão direita, segurava um cetro dourado, coberto por marcações rúnicas que pulsavam com uma energia serena.
Conforme a imperatriz se aproximava dos príncipes, o vilarejo inteiro a observava em silêncio reverente. Jamais os moradores haviam presenciado tamanha beleza e autoridade em uma só pessoa. Eles permaneciam paralisados, divididos entre o medo e a admiração.
Rhyssara parou diante do grupo, seu olhar firme e sereno recaindo sobre os presentes. Sua postura, ao mesmo tempo imponente e graciosa, impunha respeito sem esforço. Com uma voz controlada, mas cheia de autoridade, ela quebrou o silêncio:
— O que está acontecendo aqui?
O velho, ainda tenso, se inclinou levemente em reverência e explicou o ocorrido, mencionando os saqueadores e a situação difícil do vilarejo desde que os soldados de Lyberion foram convocados de volta para a capital. O neto, com o olhar ainda furioso, evitou falar, mas seu semblante transmitia tudo o que Rhyssara precisava saber.
Após uma breve reflexão, a imperatriz voltou-se para os príncipes, seus olhos azuis pousando primeiro em Helick e depois em Cassian. A pergunta veio de forma simples, mas carregada de expectativa:
— E vocês, príncipes de Lyberion, o que pensam que podem fazer para ajudar?
Helick e Cassian, pegos de surpresa, se entreolharam sem resposta imediata. O peso da pergunta os deixou por um momento sem palavras, até que seus olhares lentamente recaíram sobre suas espadas, como se a resposta estivesse ali, na lâmina que carregavam.
Antes que pudessem dizer qualquer coisa, Any, que estava próxima, interferiu, sua voz firme:
— Com todo respeito, nossa missão é outra, imperatriz. Precisamos chegar a Ossuia o mais rápido possível.
Any estava impassível. Quando a soldado recebia uma ordem de seu capitão, nada podia impedi-la de a cumprir a fio.
Rhyssara, mantendo a calma habitual, virou-se para Any, os olhos fixos nela como se estivesse pesando cada palavra que viria a seguir.
— Talvez, mas se encontrarem esses ladrões — replicou Rhyssara, sua voz tranquila, mas com um toque de provocação —, seria uma excelente oportunidade para os príncipes praticarem com os ARGUEMs recém-despertos. Afinal, não há melhor campo de treinamento do que o mundo real, onde a vida de inocentes está em jogo.
A imperatriz permaneceu com sua opinião, aguardando a reação dos príncipes, deixando claro que ela esperava uma decisão deles.
Cassian foi o primeiro a quebrar o silêncio, inclinando a cabeça e respondendo com uma determinação recém-descoberta:
— Faremos isso. Como príncipes, temos responsabilidades que não podem ser adiadas, especialmente quando o nosso povo está em perigo.
Helick assentiu, complementando o irmão:
— Se o nosso povo precisa de nós, então é nossa obrigação agir.
Any, ainda tentando cumprir seu dever, abriu a boca para contestar novamente, mas antes que pudesse dizer algo, Cassian a interrompeu com um olhar firme. Seu tom, embora calmo, carregava a autoridade que só um herdeiro legítimo poderia invocar:
— Any, eu entendo que você recebeu ordens do capitão Haras, mas como herdeiro do trono de Lyberion, minha autoridade está acima da dele. Você deve acatar minha decisão.
A soldado, ciente da hierarquia, mordeu os lábios e hesitou por um breve momento. Então, com uma leve inclinação de cabeça, respondeu em um tom controlado:
— Sim, senhor.
No mesmo instante, Tály e Redgar, que permaneciam ao lado da carruagem, se aproximaram. Tály, que até aquele momento estava em silêncio, não pôde deixar de encarar Cassian, seus olhos âmbar expressando um misto de surpresa e admiração. A decisão firme do príncipe parecia ter impressionado a jovem soldado de forma que um rubor subiu pela sua pele negra.
Rhyssara, observando o desenrolar dos eventos com sua típica compostura, deu um pequeno passo à frente. Seus olhos, cintilando com o reflexo da luz sobre os detalhes dourados de sua coroa, passaram pelos aldeões reunidos e voltaram ao velho:
— Onde estão esses ladrões? — perguntou, a voz firme, mas sem perder a educação. — Vocês têm alguma pista de onde eles possam estar?
Os aldeões, até então hesitantes, começaram a murmurar entre si, mas foi o velho quem, ainda com a voz tremida, respondeu:
— Eles se escondem nas margens da Floresta das Árvores Andantes… — sua voz falhou por um instante — mas poucos ousam chegar muito perto de lá. O caminho é perigoso, cheio de… sombras e criaturas que o reino nos protegeu por tantos anos. Sem contar as plantas mágicas que podem ser fatais sem um especialista por perto.
A imperatriz assentiu lentamente, ponderando as palavras do velho, enquanto um sutil sorriso de satisfação se formava em seus lábios. Ela então voltou seu olhar penetrante para Any.
— Ora, ora — disse, com calma. — Parece que encontramos nosso caminho, afinal.
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