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Capítulo 43 — Floresta das Árvores Andantes
O cheiro de madeira queimada ainda pairava no ar, misturado ao frescor da névoa que envolvia o chão da Floresta das Árvores Andantes. Helick olhou para trás, os olhos ainda arregalados pela visão das chamas que quase os consumiram. O fogo havia se alastrado rapidamente, espalhando o caos. Mas, em um ato inesperado, as árvores se moveram, suas raízes duras e úmidas sufocando as chamas antes que pudessem engolir a comitiva. Agora, o que restava eram troncos chamuscados e a névoa constante que se espalhava pela terra, como o sopro ritmado de um gigante adormecido.
— Foi por pouco — disse Cassian, limpando a fuligem do rosto com o dorso da mão.
— Não estamos seguros ainda — respondeu Nastya, saindo da carruagem e analisando rapidamente o ambiente ao redor. Ela estava com os ombros tensos enquanto observava as raízes que pareciam quase se mover ao ritmo da respiração da floresta.
A sensação de estar sendo vigiado não era nova naquela floresta. Desde que haviam pisado em suas entranhas, algo parecia observá-los, talvez as próprias árvores, como se fossem criaturas vivas, conscientes do que acontecia em seu domínio. Elas haviam ajudado a apagar o fogo, mas isso não significava que fossem amigas.
Helick olhou para Nastya, sentindo a tensão silenciosa que a cercava. Ela nunca havia estado tão alerta antes, e isso o preocupava. Ele não se lembrava dela com uma expressão tão séria e focada. Ela se abaixou e tocou o solo úmido, recolhendo um punhado de folhas caídas entre os dedos.
Entre as folhas, algumas raízes que emitiam uma fraca luz amarelada e bege como gengibre chamaram a atenção da jardineira.
— Raiz de Claraluz — murmurou ela. — Isso pode nos proteger de alguns venenos. É melhor estarmos preparados.
Redgar, que vinha mais atrás, caminhando com passos firmes e pesados, parou ao lado de Nastya, observando suas mãos rápidas preparando um pequeno amontoado da erva. Havia algo de implacável nos olhos dele, algo profundo, como se cada passo que ele dava naquela floresta o corroesse por dentro.
— Finalmente resolveu descer do cavalo? — Marco aproximou-se de Redgar com um sorriso hesitante, tentando aliviar o clima pesado. — Está se sentindo melhor, Red?
— Não deveríamos estar aqui — respondeu o soldado com um sussurro, seus olhos distantes e sem brilho.
Any desceu do cavalo, seus longos cabelos lisos negros balançando enquanto se aproximava rapidamente de Redgar, desferindo um tapa em seu rosto.
— Any, o que está fazendo?! — bradou Marco tentando se aproximar, mas o olhar frio daqueles olhos negros da soldado em sua frente o fez ficar imóvel.
— Se recomponha! — ordenou Any, sua pele pálida ficando levemente rosada como se a raiva fizesse seu sangue correr mais do que deveria.
Redgar parecia ter saído daquele estado de choque na qual ele não conseguia reagir ao que acontecia ao seu redor.
— Sam já te falou mais de um milhão de vezes para não se deixar tomar por suas emoções e traumas — vociferou Any. — Então trate de ficar apto a missão ou volte para Lyberion. Não tolerarei mais uma situação como essa!
A imperatriz também havia saído da carruagem, seu manto escuro com bordados dourados ainda a dava o ar de imponência, mesmo naquele ambiente.
Seus olhos azuis olhavam os arredores, avaliando as árvores que, lentamente, se deslocavam para direções aleatórias. Conforme elas se moviam, caminhos abriam e se fechavam. A floresta era um labirinto natural.
— Pois bem… — começou a mulher, seus olhos saindo das árvores para os príncipes. — Como foi a experiência de usar a magia de forma consciente pela primeira vez?
Os irmãos a encararam em silêncio por um breve momento, mas Helick começou a falar:
— Foi estranho — começou o príncipe mais novo. — Senti a centelha dentro de mim e a entendi como uma extensão de minha vontade. Pensei em disparar um corte de gelo, ou invocar algo como meu tio, mas quando brandi a espada, o chão apenas se congelou.
Helick olhou para a espada em sua mão, analisando seus detalhes e sua lâmina, e chegou na conclusão que mesmo que conseguisse acessar a mana, ele ainda não controlava o poder como pensava.
— Bom — respondeu Rhyssara. — Você foi consciente no uso, mas pensou de mais. Sua indecisão com o que fazer com a magia a fez reagir de forma aleatória. Isso pode ser perigoso quando se tem aliados no campo de batalha. Lembre-se: a mana não diferencia amigos de inimigos.
A imperatriz voltou seus olhos para Cassian que a encarava com uma expressão rancorosa.
— O que foi príncipe Cassian? — perguntou.
Cassian começou a se mover para a direção da mulher enquanto apontava o dedo com impulsividade.
— Você viu o risco que corremos, você viu que Tály quase foi morta por tentar me proteger e mesmo assim não fez nada!
Helick se pôs na frente do irmão para impedi-lo de fazer alguma coisa estúpida.
— Se acalma, Cass!
— Sim — respondeu Rhyssara tranquilamente. — Eu vi cada detalhe. Sim. Eu poderia ter feito todos eles se ajoelharem quando quisesse. E sim. Eu os vi cercando a soldado. Não intervi, pois, se ela morresse poderia ser um ótimo gatilho para sua magia, mas felizmente você conseguiu usar sua mana sem que chegasse a isso. Parabéns.
Rhyssara manteve seu olhar firme em Cassian, inabalável diante da acusação impulsiva do príncipe. Helick ainda tentava conter o irmão, mas a tensão entre os três crescia com o silêncio que seguiu a resposta da imperatriz.
— Você… você teria permitido que Tály morresse… por um teste? — Helick finalmente falou, mas sem soltar Cassian.
— E o que teria feito você, príncipe? — retrucou Rhyssara, sua voz fria, mas controlada, como se analisasse cada palavra antes de falar. — Teria congelado seus inimigos no instante certo? Ou hesitado como hesitou, levando alguém a se ferir em seu lugar?
O rosto de Helick ficou ruborizado, sua mão tremendo ao lado do corpo. Cassian se desvencilhou da mão do irmão e se afastou.
— Não estamos em Lyberion — continuou a imperatriz, agora olhando para ambos os príncipes. — E esta floresta… ela não perdoa fraqueza. Cada momento de hesitação pode custar uma vida, seja de uma soldado leal, seja a sua. Eu estou aqui para assegurar que aprendam isso antes que enfrentem um inimigo que não vai esperar que vocês decidam o que fazer.
Cassian desviou o olhar, mordendo a língua para não dizer mais nada. Helick, por sua vez, respirou fundo, tentando amenizar o clima pesado.
— Nós aprendemos a lição… — disse ele em tom mais calmo, buscando encerrar a discussão. — Mas não somos ferramentas para seus testes.
Rhyssara o olhou com uma pitada de admiração pela ousadia. Um pequeno sorriso apareceu no canto de seus lábios, quase imperceptível.
— Não, príncipe Helick, vocês não são ferramentas. — Sua voz suavizou um pouco. — Mas são herdeiros. E herdeiros têm responsabilidades que vão além do conforto da coroa. Estão aqui para aprender a carregar o peso de suas escolhas… e das vidas que dependem delas.
Helick assentiu, aceitando a explicação, ainda que desconfortável. O silêncio pairou sobre o grupo, apenas o som das árvores se movendo ao redor quebrando o momento tenso.
Foi então que Nastya se aproximou, limpando as mãos rapidamente após concluir seu trabalho com a raiz de claraluz.
— Precisamos nos mover — disse a jovem, seu tom prático e firme. — Estamos expostos aqui. As criaturas podem nos encontrar, e não sabemos até onde as árvores vão nos deixar passar.
Rhyssara virou-se para ela, estudando-a por um breve instante.
— Você conhece essa floresta melhor do que qualquer um aqui — comentou a imperatriz, com uma leve insinuação de suspeita. — Sabe para onde devemos ir?
Nastya ergueu o olhar, sem se intimidar, como se já esperasse por essa pergunta.
— Sei por onde não devemos ir — respondeu ela com segurança. — A floresta tem seus próprios caminhos, mas nem todos levam a saídas. Podemos ser levados a lugares muito piores se não prestarmos atenção.
— Como sabe disso? — indagou Rhyssara, estreitando os olhos.
Antes que Nastya pudesse responder, um som distante e perturbador ecoou pelas árvores. Parecia o sussurro de uma criatura se arrastando pelo solo úmido, algo que fazia o ar da floresta parecer ainda mais pesado. Todos ficaram em alerta.
— Depois eu explico — disse Nastya rapidamente, movendo-se para a frente do grupo. — Por agora, precisamos continuar.
O grupo havia retomado o caminho, mas logo Nastya parou abruptamente, seus olhos analisando as árvores em movimento. Ela observava cada detalhe com uma precisão inquietante, enquanto as árvores, apesar de lentas, mudavam os caminhos ao redor.
— Precisamos abandonar a carruagem — declarou Nastya, sua voz firme, como se estivesse acostumada a liderar em situações como aquela.
— O quê? Por quê? — falou Cassian olhando confuso para ela.
— As árvores. Elas estão mudando o terreno o tempo todo. Se precisarmos desviar rapidamente, a carruagem vai ser um fardo. — Ela se virou para o cocheiro. — Siga a pé conosco, será mais seguro.
A princípio, o cocheiro hesitou, olhando para Rhyssara, como quem buscava confirmação da ordem. Mas a imperatriz manteve seu olhar fixo em Nastya, percebendo que de jardineira ingênua e pacata ela não tinha mais nada. Ali, naquele lugar que só os deuses sabiam como ela conhecia tão bem, Nastya agia com autoridade, mesmo que não percebesse.
— Ela tem razão — disse Rhyssara, por fim. — Abandonamos a carruagem aqui.
Os príncipes se entreolharam, mas, sem questionar, seguiram as instruções. O cocheiro suspirou, resignado, enquanto descia do veículo e começava a acompanhar o grupo a pé. Nastya já havia tomado a dianteira, andando com passos decididos, sem a mínima hesitação, como se cada canto daquela floresta fosse familiar para ela. E, à medida que avançavam, Rhyssara não tirava os olhos da jovem, suas suspeitas crescendo a cada movimento da jardineira.
Redgar, caminhando mais atrás, parecia perdido em seus próprios pensamentos. O som da floresta, os movimentos das árvores, tudo o estava fazendo mergulhar mais fundo em suas memórias sombrias.
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