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Capítulo 44 — Falsídea
O grupo seguia em silêncio, com os passos cautelosos ecoando entre o farfalhar suave das folhas e o som distante das árvores que ainda mudavam de lugar. A atmosfera da Floresta das Árvores Andantes era pesada, quase sufocante, enquanto a névoa se adensava e serpenteava pelo solo. O ar parecia vibrar com uma energia estranha, como se o ambiente estivesse vivo e atento.
Helick caminhava logo atrás de Nastya, tentando ignorar o frio na espinha que a floresta lhe causava. Seus olhos observavam as sombras à frente, onde pequenas luzes flutuavam pelo caminho. Elas se mexiam delicadamente, quase como vaga-lumes, mas à medida que se aproximavam, ficou claro que eram muito mais do que isso.
Eram pequenas criaturas aladas, com corpos translúcidos e luminosos, como se fossem feitas de névoa condensada e magia pura. Elas possuíam traços delicados, com olhos enormes e expressivos que brilhavam de curiosidade e leveza, movendo-se em círculos ao redor do grupo, sem se aproximar demais.
— O que são essas coisas? — Helick perguntou, quebrando o silêncio e franzindo o cenho. — Criaturas mágicas… na floresta? Eu aprendi que as bestas e criaturas míticas foram seladas na Ilha Mítica.
Nastya olhou para as pequenas criaturas com um olhar atento, sem deixar de caminhar à frente do grupo. Seu tom era firme, mas carregava uma certa serenidade ao responder:
— As bestas místicas, as mais poderosas e majestosas, foram seladas na Ilha Mítica, sim — explicou. — Helisyx fez isso para impedir que o poder delas fosse cobiçado pelos humanos e usado como armas. Se aquelas criaturas permanecessem no continente, nós, humanos, estaríamos em guerra eterna, tentando controlar seres que nunca foram feitos para serem dominados.
Helick balançou a cabeça em concordância, processando aquela explicação. Helisyx de fato foi um homem sábio, “o maior homem que já existiu”, como algumas pessoas o chamavam.
— Então, por que essas criaturas estão aqui? — insistiu ele, observando uma das pequenas figuras que os observava à distância.
— Porque elas não são como as bestas místicas — Nastya continuou, seus olhos fixos nas pequenas criaturas que flutuavam ao redor. — São seres menores, quase inofensivos, mas ligados à magia da floresta. Helisyx garantiu a paz até mesmo entre os animais quando terminou seu plano de libertação. Eles ainda vagam pelos lugares onde a magia é forte o suficiente para sustentá-los, como aqui.
Helick assentiu lentamente, o peso das palavras de Nastya pairando sobre ele. Aquele lugar, com sua estranha vitalidade e segredos ocultos, parecia mais complexo do que ele jamais poderia ter imaginado. Ele sentia que aquela floresta carregava não apenas perigos, mas também segredos mais profundos que ele ainda não compreendia totalmente.
— E essas criaturas… elas podem nos ajudar? — perguntou ele, ainda olhando as pequenas luzes dançantes.
Nastya deu um leve sorriso, mas seus olhos mantinham-se vigilantes.
— Se escolherem, talvez — respondeu ela enigmática. — Mas nunca confie inteiramente em algo que vive da magia da floresta. Ela não é tão benevolente quanto parece.
Conforme continuavam avançando pela densa floresta, uma planta robusta chamou a atenção de Helick. O caule esverdeado e surpreendentemente alto, alcançando quase dois metros, se erguia em um arco gracioso, sustentando no topo um semicírculo prateado que lembrava uma lua minguante.
— Que tipo de árvore é essa? — perguntou Helick, observando a imponente estrutura da planta.
— Não é uma árvore; é uma flor — corrigiu Nastya, um brilho de admiração em seu olhar enquanto observava a planta imponente. Ela estudou o caule e a forma elegante que a flor assumia, como se houvesse algo de encantadoramente incomum em vê-la ali. — Um giralua, uma das flores exóticas que crescem apenas em solo mágico. Curioso… ainda faltam algumas horas para a noite. Geralmente, giraluas ficam caídos durante o dia e só se erguem quando a lua desponta no céu.
Nastya observou a planta por um momento, então, com um gesto ágil, retirou uma faca de sua bolsa pendurada ao lado do corpo. A lâmina brilhou suavemente enquanto ela se aproximava do giralua.
— De qualquer forma, foi uma boa sorte termos encontrado essa planta — comentou, com um leve sorriso de satisfação. — A seiva que sai do caule dela é conhecida por restaurar a mana de quem a bebe. É perfeita para preparar algumas poções de mana.
Rhyssara lançou mais um de seus olhares para a jovem e a perguntou:
— E você sabe fazer poções? — a voz nitidamente desconfiada.
— Não tão bem quanto um anão, mas sei uma mistura que consegue amenizar os efeitos de zerar a mana — respondeu Nastya mais próxima da flor.
Antes que ela cortasse o caule, Redgar se aproximou dela e a puxou pelo ombro, a afastando da planta.
— Redgar?! — exclamou Helick surpreso. — O que está fazendo?
— Mesmo que você obviamente parece ter certa experiência na Floresta, você ainda não conhece todos os seus segredos — Falou Redgar, mais uma vez seu semblante neutro voltava a sua face. Ele parecia finalmente ter se acalmado.
— O que quer dizer? — perguntou Nastya. Seu tom um pouco exaltado, como se sentisse ofendida por um breve momento.
— As coisas aqui, com exceção das árvores que se movem, não tendem a mudar seus hábitos. — Falou Redgar pegando a lâmina que estava na mão de Nastya. — Se algo não era pra estar acontecendo, é porque não era pra estar acontecendo.
Com um movimento hábil, Redgar lançou a faca na direção do caule. Assim que a lâmina o cortou, a planta liberou uma nuvem de gás esverdeado que se espalhou rapidamente. Em um piscar de olhos, a forma delicada e inofensiva do giralua começou a se distorcer. O caule alongado se contorceu, assumindo uma postura rígida e ameaçadora, enquanto a “flor” no topo, que antes lembrava uma lua minguante, se partiu para revelar uma fileira de dentes serrilhados e ferozes, pontiagudos como lâminas. A coloração prateada e verde desbotou, tornando-se um vermelho pulsante e sinistro, semelhante ao sangue fresco.
A planta transformada em predadora abriu uma bocarra voraz que se girou ao redor do próprio caule, como uma armadilha faminta, preparada para devorar qualquer coisa ao alcance.
Nastya arregalou seus olhos e então reconheceu a planta que estava a sua frente.
— É uma falsídea! — gritou a jardineira. — Temos que sair daqui!
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