Capítulo 45 — Um passado atormentado
O grito de Nastya ecoou pelo ambiente, mas antes que o grupo pudesse reagir, a planta girou sua bocarra ensanguentada em um movimento frenético, golpeando o ar em busca de sua presa. A falsa tranquilidade da floresta explodiu em um instante de pura ameaça.
Cassian e Helick instintivamente sacaram suas espadas, seus ARGUEMs e ficaram em posição para não serem pegos de surpresa por quaisquer que fossem os outros truques daquela planta.
Os soldados responsáveis pelos príncipes prontamente se colocaram em posição para defende-los. Com exceção de Redgar que permanecia a frente da planta, que agora rugia como uma fera.
O cocheiro correu em pânico para trás da imperatriz que assoviou em surpresa olhando para Redgar.
— Mais um que conhece a floresta mais mortal do continente. Os habitantes de Lyberion são cheios de surpresa.
Any ergueu a voz para Redgar, em um tom firme, que ecoou entre as árvores ao redor.
— Redgar! Recue para a retaguarda agora! — ordenou ela, os olhos fixos na postura imóvel dele.
Mas ele permaneceu ali, parado, os olhos vidrados e a respiração contida, como se estivesse hipnotizado ou enraizado no solo. Suas mãos tremiam levemente, embora seu corpo mantivesse uma rigidez forçada, travado entre o desejo de fugir e o terror que o prendia no lugar.
Rhyssara observava a cena com curiosidade, aproximando-se de Any com passos calmos e elegantes, como se a tensão do ambiente não a afetasse nem um pouco. Ela lançou um olhar intrigado a Redgar, e então, ao se aproximar de Any, perguntou em voz baixa:
— Por que ele é assim? — Ela hesitou, os olhos atentos ao soldado congelado à frente. — Quando cheguei em Lyberion, reparei naquele semblante neutro, uma casca que não parecia ter emoção. Mas ouvi histórias sobre sua luta contra o wyvern. Ele foi capaz de derruba-lo com um único golpe, consumido por uma fúria incontrolável. E ao chegar na floresta ele está paralisado por simples medo? No início, achei que era apenas um transtorno de personalidade, mas vejo que há algo mais profundo nisso.
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Any suspirou, desviando o olhar para Redgar, e começou a explicar, com um tom sério e um pouco mais baixo:
— Ele tem medo porque… ele foi deixado aqui, na Floresta das Árvores Andantes quando era apenas um bebê. — A soldado hesitou, como se as palavras fossem difíceis de serem ditas. — Ele foi criado por criaturas sombrias que habitam esse lugar… criaturas tão terríveis que ele sequer consegue dizer o nome delas, nem descrever como se parecem. Foi atormentado e moldado por essas… coisas. E isso fragmentou não só a mente dele, mas também sua mana.
Rhyssara franziu as sobrancelhas, intrigada, mas permaneceu em silêncio, ouvindo com atenção.
— Quando o Capitão Sam o encontrou, ele já tinha aquele anel de diamante negro. Embora fosse só uma criança de cinco anos ele já tinha um ARGUEM. — Any continuou, a voz mais baixa. — Depois que ele começou a conviver com outras pessoas, percebemos que ele não sabia controlar as emoções, e sua magia se manifestava de forma instável, às vezes perigosa. Sam teve que ajudá-lo a se conter, e a única forma que ele encontrou foi limitar-se a uma emoção de cada vez. Como se sentisse o risco de perder o controle a qualquer momento.
Por um instante, o silêncio pesou entre elas, quebrado apenas pelo som da floresta viva ao redor e o rugido da planta mortífera. Rhyssara, surpresa, lançou um último olhar para Redgar, que ainda mantinha o rosto rígido, mas marcado por uma angústia visível.
Enquanto o relato de Any caía sobre eles como uma revelação, Helick e Cassian trocaram olhares carregados de incredulidade. Era difícil processar que o Redgar, o mesmo que treinara ao lado deles, carregava um passado tão sombrio, um segredo que parecia moldar cada parte do que ele era. Mas não havia tempo para mais reações, pois a atenção de todos foi tragada de volta à ameaça iminente.
Um novo som, profundo e ameaçador, fez com que todos se virassem instintivamente. Um rasgar sutil da terra se fez ouvir, seguido por tremores mínimos que pulsavam sob seus pés, como se o próprio solo estivesse se estufando, prestes a se abrir em uma explosão de vida voraz e mal-intencionada. Então, uma raiz escura e espinhosa rompeu a superfície, lenta e sutil, elevando-se com um movimento sinuoso, quase hipnótico, enquanto se posicionava, tensionando-se como uma serpente prestes a atacar.
A raiz estalou no ar de repente, num estampido violento, como um chicote ganhando velocidade. Em um movimento ágil, Marco ergueu sua lâmina para interceptá-la, cortando o ataque de forma precisa, mas o esforço não trouxe descanso; ao redor deles, outras raízes emergiam, uma a uma, como garras que rasgavam o solo com voracidade. Cassian e Helick já estavam em posição, os olhos atentos, cortando os brotos que surgiam e se erguiam ao seu redor. Era uma dança precisa e perigosa, um jogo de equilíbrio entre defesa e ataque, onde cada movimento contido da planta parecia antecipar o próximo passo deles.
Cassian em seus pensamentos sabia que poderia usar sua magia de fogo para incinerar aquelas raízes e a própria planta que se erguia a frente, mas ele lembrou das palavras de Rhyssara. A imperatriz havia advertido que em campo de batalha a mana não diferencia amigos de inimigos. Ele ficou receoso. Ele sabia que havia a possibilidade de acabar ferindo seus companheiros, então ele se conteve.
Enquanto eles se defendiam, Redgar por outro lado, se mantinha imóvel, e a falsídea não deixou isso passar. Raízes furiosas irromperam do chão sob os pés do soldado imóvel e se enrolaram rapidamente ao redor dele. A raiz espinhenta apertava e subia até o ponto de chegar ao pescoço de sua vítima. A planta sem pensar duas vezes avançou com sua boca imensa e cheia de dentes para cima do soldado, pronto para devora-lo.
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Enquanto as raízes apertavam seu corpo, Redgar sentia uma tempestade de emoções reprimidas borbulhando dentro dele — raiva, medo e uma profunda insegurança, todas misturadas em uma espiral caótica. Ele lembrava-se claramente dessas plantas. Elas eram parte das criaturas sombrias que marcaram sua infância e o “educaram” com crueldade naquela floresta implacável. Essas lembranças o sufocavam, até que uma emoção começou a emergir acima das outras, como um grito ensurdecedor: a ira.
Em um rompante, algo se quebrou dentro dele, e seu semblante mudou drasticamente. Um rugido primal escapou de seus lábios, ecoando pela floresta como o grito de uma fera. Seus músculos se expandiram, forçando as raízes a se romperem sob a pressão, estalando como cordas partidas. Redgar agarrou a cabeça da planta que se aproximava com as mãos nuas, que foram imediatamente cortadas pelos dentes serrilhados. Mas a dor parecia incapaz de freá-lo — era apenas um combustível para sua fúria crescente.
Com um movimento poderoso e brutal, ele firmou os pés contra o caule espesso e puxou a cabeça da planta para trás, arrancando-a com um estalo violento. Assim que o fez, as raízes que antes chicoteavam e ameaçavam seus companheiros caíram no chão de forma abrupta, inertes, como se toda a vida tivesse sido drenada num único instante.
Redgar permaneceu em silêncio, os punhos ainda cerrados e o peito subindo e descendo em respirações rápidas, mas ninguém ousou se aproximar. Cassian e Helick trocaram olhares, ambos visivelmente chocados. Aquela não era a reação de um soldado comum. Era como se, por um breve instante, tivessem visto uma fera indomável encarnada.
Marco deu um passo à frente, estudando Redgar com atenção. Ele sabia que o que acabara de acontecer não era apenas força — era algo sombrio, uma faísca de sua infância na floresta. Mas ele hesitou, temendo que qualquer palavra pudesse reacender a raiva nele.
Rhyssara observava a cena de longe, os olhos brilhando com uma curiosidade inquietante. Aproximou-se com passos lentos, como se analisasse uma fera no meio da selva, e sussurrou para si mesma:
— Fascinante.
Ainda tomado por fragmentos de sua ira, Redgar balançou a cabeça, tentando afastar os últimos resquícios da raiva. Ele abriu as mãos, observando os cortes profundos, mas, com uma expressão que misturava vergonha e cansaço, deu as costas ao grupo, deixando-os com o silêncio e suas próprias inquietações.
— Para onde ele está indo? — perguntou Tály, alarmada, olhando para o grupo em busca de respostas.
— Ei, Red… — chamou Marco, dando um passo à frente, hesitante.
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Redgar parou e olhou por cima do ombro, com a armadura arranhada e manchada, os olhos escurecidos por uma raiva sombria e profunda. Por um instante, ele hesitou, como se o peso de suas memórias fosse um fardo que não poderia mais ignorar.
— Não posso viver em paz com isso me perseguindo para sempre — declarou, sua voz firme, carregada de uma determinação que ninguém ali havia visto antes. — Fugi dessas lembranças a vida inteira, mas não mais. Tomei minha decisão. — As palavras saíam como uma promessa inabalável. — Vou caçar cada uma dessas criaturas. E vou fazê-las pagar pelo que fizeram comigo.
Antes que qualquer um pudesse responder, Redgar se lançou em direção ao leste, com um salto poderoso que o fez desaparecer entre as sombras da floresta, deixando o grupo atônito e envolto em um silêncio pesado, incapaz de compreender a profundidade do tormento que ele carregava.
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