Índice de Capítulo

    Após os anões revelarem suas reais intenções, Redgar, que estava ajoelhado com a visão distante, pareceu despertar de um transe ao gritar:

    — Não! — Seus olhos pareciam exalar vida novamente. Ele olhou ao redor, atônito, como se acordasse de um pesadelo. — O que vocês… o que vocês estão fazendo aqui? — falou ele, a voz tremendo, enquanto encarava o grupo que o seguiu.

    Rhyssara deu um passo à frente, os olhos fixos em Redgar e depois nos anões que os cercavam. Ela sabia que algo estava errado desde o momento em que viu aquela escadaria no meio da floresta. A energia que emanava das Sombras era sufocante, como se tentasse invadir seus pensamentos e despertar seus medos mais profundos. A coroa em sua cabeça exalava uma breve luz avermelhada, e a magia contida nela parecia afastar a influência que as sombras tentavam impor

    — Viemos para te salvar, Redgar — respondeu Cassian com firmeza.

    — Mas parece que você tem explicações a nos dar — completou a imperatriz, o tom afiado como uma lâmina.

    Um grunhido como o de uma fera ecoou pela sala quando Raivoso deu um passo à frente. Seus olhos brilharam com uma fúria contida, e sua presença pareceu tornar o ar mais pesado.

    — Explicações? — rugiu o anão. — Ele não disse a vocês quem o salvou da floresta e o criou?

    A voz de Raivoso ficava cada vez mais gutural conforme sua ira aumentava, quase como se sentisse a punhalada da ingratidão vinda de Redgar. Ele continuou, agora apontando um dedo acusador para o jovem:

    — Quando aquele homem ensanguentado deixou esse bebê nos degraus do portal, fomos nós que o acolhemos. O chamado das Sombras o trouxe até nós, e aqui ele encontrou abrigo. Ensinamos a ele como viver cada emoção em sua verdadeira essência. E agora você nos trata como inimigos?

    Redgar deu um passo instável para trás, sua expressão uma mistura de medo e vergonha. Ele olhou para o grupo e depois para os anões, como se lutasse contra lembranças que queriam dominá-lo.

    — Eu… eu não pedi por isso! Vocês me forçaram a viver nesse pesadelo! — gritou ele, sua voz ecoando pelo espaço. — Eu me lembro das coisas que vocês me mostravam e me faziam sentir através do controle mental. Vocês fizeram eu ter medo de sentir até mesmo felicidade! E você chama isso de criação?

    Os outros anões, ainda envoltos em suas auras de pura emoção, apenas observaram em silêncio, seus olhares perfurando o jovem como lanças. Raivoso estreitou os olhos, e sua voz soou como um trovão:

    — Não tão rápido, garoto. Você deve mais a nós do que imagina. E seus novos amiguinhos… eles também devem provar que são dignos de sair daqui vivos.

    O ambiente pareceu se comprimir ainda mais, as Sombras reagindo às palavras de Raivoso, enquanto a tensão entre os dois grupos chegava a um ponto de ruptura iminente.

    A clareira onde o grupo estava reunido parecia viva, mas de uma forma inquietante. Árvores imensas cercavam o espaço, seus galhos retorcidos formavam um teto natural que filtrava a luz em tons de cinza. A grama sob os pés não era verde, mas de uma tonalidade escura, quase preta, com um brilho espectral. O ar era denso, quase palpável, carregado de uma energia antiga e opressiva. Era um espelho distorcido da Floresta das Árvores Andantes.

    Raivoso deu um passo à frente, estalando os dedos como se aquecesse as mãos para uma briga iminente.

    — Está decidido. Se quiserem sair daqui com vida, terão que enfrentar nossa fúria! — rugiu ele, o eco de sua voz reverberando pelas paredes sombria.

    Com um movimento brusco, ele levantou a mão, e o portal que conectava aquele mundo ao mundo exterior sumiu.

    — Mesmo que o portal sempre fique escancarado na nossa frente, nós não podemos cruza-lo. — Uma risada mista de grunhido irônico saiu de seus lábios.

    Cassian e Helick firmaram as mãos nas espadas, se preparando para o que poderia vir a seguir. Antes que percebessem, Rhyssara, Any e Marco tomaram a dianteira enquanto Tály ficava ao lado deles.

    Redgar foi tomado mais uma vez pelo seu estado de medo e um escudo meio amarelado começava a se manifestar a sua frente, como se tentasse o proteger de algo.

    Antes que alguém pudesse reagir, uma figura mais baixa, de passos leves e expressão serena, colocou-se entre Raivoso e o grupo. Hope, a sombra da esperança, ergueu a mão, pedindo calma. Seu rosto, embora marcado por linhas de preocupação, irradiava uma estranha paz.

    — Não somos bárbaros selvagens. Não resolveremos isso com violência — Sua voz era suave, mas carregava uma autoridade inconfundível. — Somos as Sete Sombras das emoções humanas, herança de nossa mãe.

    — A mesma que nos prendeu nesta dimensão por achar que seriamos um perigo para nossos meios irmãos humanos — acrescentou Cobiça com uma cara de nojo.

    Um choro agudo e desesperado tomou conta do local. Era Tristana se lamentando.

    — Ela nos exilou só porque nós acabávamos matando alguns humanos quando brincávamos com suas emoções! — reclamou ela entre soluços.

    Hope tossiu de leve enquanto tomava a palavra mais uma vez.

    — Como eu ia dizendo, vamos resolver isso de um jeito que não envolva violência. Sabem, desde que essa criança humana saiu de nossa morada, nos não provamos de emoções humanas e isto é o que nós mais amamos fazer…

    — Vá direto ao ponto — cortou Rhyssara. — O que querem?

    Roma, a anã que carregava o título de Sombra do Amor se aproximou.

    — Vamos fazer um jogo. — Seus lábios carnudos se curvavam para cima de forma sensual enquanto mordiam sua longa unha pontuda e pintada de vermelho do dedo indicador de sua mão direita.

    Feliz começou a saltar em euforia.

    — A que saudade que eu estava dos nossos jogos com os humanos! Com o pequeno Redgar a gente não podia se divertir muito, porque se não ele acabaria morrendo e perderíamos nosso precioso afilhado! — As risadas de feliz cresciam a cada palavra. — Estão prontos?

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