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    O mundo pareceu parar quando Helick e Cassian se posicionaram lado a lado, suas espadas emanando um poder que fazia o ar ao redor vibrar. A mana gélida de Helick e as chamas vivas de Cassian criaram um contraste tão marcante que a cena parecia saída de uma pintura.

    Rhyssara, ainda concentrada em manter a barreira contra o controle mental, desviou o olhar por um breve momento. A Imperatriz era conhecida por sua frieza e autocontrole, mas, por um instante, sua expressão traía algo raro: surpresa. Sentir a intensidade de mana irradiando dos príncipes foi como enfrentar uma tempestade avassaladora – algo que não esperava presenciar tão cedo.

    “Isso não deveria ser possível…” pensou ela, seu olhar afiado focando nos jovens. “Eles não têm experiência o suficiente para canalizar tanto poder, quanto mais controlá-lo.”

    Mais atrás, Marco observava com a boca entreaberta, incapaz de desviar os olhos. Ele havia treinado os príncipes desde crianças, conhecia suas capacidades – ou achava que conhecia. “Isso não é só talento”, murmurou para si mesmo. “Isso é algo… além.”

    Até mesmo Any, cuja atenção estava dividida entre Hope e a proteção de Rhyssara, sentiu a mudança no ambiente. A pressão da mana era tão densa que parecia comprimir o ar ao seu redor, tornando cada respiração pesada. Um frio intenso e um calor sufocante se misturavam, criando uma sensação paradoxal. “Como…?” pensou ela, o olhar oscilando entre Helick e Cassian.

    Os irmãos avançaram com passos firmes, seus corpos rodeados por auras que refletiam suas manas em formas quase tangíveis. Helick, envolto em cristais de gelo que flutuavam e reluziam como diamantes. Cassian, cercado por uma chama que crepitava com uma energia selvagem, mas curiosamente controlada.

    Hope, que caminhava em direção a Rhyssara, finalmente se deteve. O anão-gigante virou a cabeça, seus olhos se estreitando ao perceber a onda de poder crescendo atrás de si. Ele não era facilmente impressionado, mas o que sentia agora era impossível de ignorar. Ele sorriu, mas havia algo diferente em sua expressão – uma mistura de interesse e cautela.

    — O que é isso…? — murmurou ele, girando o corpo para encarar os príncipes.

    Ao lado de Hope, Raivoso vacilou. Sua confiança inicial deu lugar a um olhar apreensivo. Ele olhou de Helick para Cassian e depois para Hope, como se perguntasse se ainda estavam no controle da situação.

    — Eles são só crianças! — exclamou Raivoso, como se suas palavras pudessem explicar o inexplicável. Mas a hesitação em sua voz traía a dúvida que crescia em seu coração.

    O bosque ao redor, e até mesmo a floresta do outro lado do portal, parecia reagir à liberação de mana. Nastya e o cocheiro, que aguardavam sentados nos degraus da escadaria em meio à clareira no outro lado do portal, sobressaltaram-se ao ver as árvores andantes pararem abruptamente, seus galhos inclinando-se ligeiramente, como se reconhecessem uma presença superior. Até os pequenos seres mágicos que habitavam o local, normalmente indiferentes às batalhas humanas, recuaram, escondendo-se entre as folhas.

    Helick ergueu sua espada, agora completamente coberta por uma camada de gelo puro que parecia absorver a luz ao invés de refletir. Seus olhos azuis cintilavam com determinação, e ele respirou fundo, sentindo o frio da mana se fundir à sua essência.

    Cassian apertou sua lâmina, o fogo envolvendo-a com um brilho intenso. Ele estava sereno, mas seus olhos ardiam com uma chama implacável. Pela primeira vez, ele não temia seu poder; ele o aceitava

    Ambos deram mais um passo à frente, e o chão abaixo de Hope estalou.

    — Agora — disse Helick, sua voz soando firme, mas baixa.

    — Juntos — completou Cassian, o tom carregado de convicção.

    A pressão ao redor atingiu um ápice, e os irmãos avançaram.

    O chão sob seus pés estalou quando a energia de suas manas se expandiu ao redor de seus corpos, criando um rastro de gelo e brasas por onde passavam. Helick sentia o ar gelar ao seu redor, a lâmina de sua espada reluzindo como cristal puro, enquanto o frio cortante se condensava em uma fina camada de névoa. Cassian, por outro lado, deixava um rastro de chamas vibrantes no ar, cada passo intensificando o calor ao seu redor, fazendo as folhas secas do solo arderem em pequenas faíscas.

    Hope viu a aproximação deles e rugiu, seus punhos cerrando-se com força suficiente para fazer o ar tremer. Ele não se acovardaria. Não importava quanta mana eles tivessem — ele era um das Sete Sombras em meio a meros garotos humanos mortais. Com um movimento abrupto, girou o corpo e desferiu um soco devastador, sua força monstruosa levando uma torrente de ar comprimido junto.

    Mas os príncipes não hesitaram.

    Helick foi o primeiro a agir. Com um movimento ágil, saltou para a lateral e deslizou pelo solo congelado que ele mesmo criara, desviando com uma fluidez que parecia natural, instintiva, quase como um lobo correndo na neve. Em seguida, golpeou o ar com a espada, e uma rajada gélida disparou contra o braço de Hope. O frio se espalhou rapidamente pela pele rochosa do anão-gigante, cobrindo seus músculos maciços com uma camada de gelo translúcido que estalava ao contato com o ar.

    Cassian aproveitou a abertura. Com um grito feroz, saltou diretamente contra Hope, sua espada flamejante riscando o ar como um cometa. A lâmina incandescente encontrou o gelo já instalado no braço do inimigo, e o choque térmico foi instantâneo — a superfície congelada estalou e rachou em fragmentos, mas, no mesmo instante, uma explosão de vapor e calor se expandiu, aumentando ainda mais a intensidade das chamas.

    Hope rugiu de dor, seu braço direito sendo tomado por uma súbita combustão.

    O impacto da combinação entre gelo e fogo era mais do que ele esperava. Pela primeira vez desde o início da batalha, ele recuou instintivamente, sua expressão se contorcendo entre incredulidade e dor.

    Os príncipes não pararam. Eles haviam encontrado um caminho — e não dariam tempo para Hope se recuperar.

    Hope sentiu o desespero se infiltrar em seu peito como uma lâmina fria e cruel. O nome que carregava nunca lhe parecera tão irônico quanto naquele instante. Séculos atrás, ele e seus irmãos haviam devorado as emoções alheias, saboreando o momento em que suas vítimas se entregavam ao desespero absoluto. Agora, porém, era ele quem sentia essa mesma desesperança se enraizando dentro de si.

    O poder crescente dos príncipes esmagava qualquer ilusão de controle que ele ainda possuía. A pressão ao seu redor era sufocante, e sua fome, aquela necessidade insaciável de consumir emoções humanas, parecia ter sido substituída por um vazio angustiante. Ele não sentia mais desejo de caçá-los, pois sabia, em algum nível profundo e primitivo, que era ele quem estava prestes a ser caçado.

    A força que antes o fazia crescer, tornando-o uma criatura colossal e indomável, começou a ceder. Sua carne tremulou, seus ossos rangeram, e, num instante de puro terror, ele percebeu que estava encolhendo. Seu corpo retornava ao seu tamanho original, como se até mesmo o poder que o sustentava estivesse lhe abandonando. Como se até mesmo a própria essência que lhe dava forma tivesse perdido as esperanças nele.

    Hope olhou para suas mãos, agora pequenas e fracas, e sentiu algo que jamais havia experimentado em toda a sua existência: impotência. Ele ergueu o olhar para os príncipes, vendo neles não apenas guerreiros, mas entidades de puro poder, de pura convicção.

    Helick era um farol de gelo absoluto, uma presença tão fria e inexorável que até mesmo o ar ao redor dele parecia congelar. Ele era um lobo fitando a caça momentos antes de dar a última investida.

    Cassian, por outro lado, ardia como um sol implacável, suas chamas intensas, mas perfeitamente controladas, prontas para incinerar tudo em seu caminho. Ele era uma águia pairando nas alturas, seus olhos fixos no alvo, esperando o momento exato para mergulhar com precisão mortal.

    Hope tentou recuar, mas suas pernas não o obedeceram. Sua mente gritava para que fugisse, mas sua alma sabia que não havia escapatória. E então, a verdade o atingiu com uma clareza devastadora: pela primeira vez em incontáveis eras desde o seu nascimento, ele não apenas perdera o controle da situação—ele perdera a esperança.

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