Capítulo 59 — Um Caminho no Céu

— Então… — começou Cassian, cruzando os braços. — Para onde vamos?

O grupo se via diante de um dilema. Estavam em uma clareira dentro da Floresta das Árvores Andantes, mas ainda não haviam encontrado um caminho seguro para Ossuia. Voltar para a floresta era um risco — perderiam a noção de direção facilmente com as árvores que se moviam, e o perigo rondava a cada sombra. Além do tempo desperdiçado, poderiam acabar enfrentando ameaças ainda piores do que as que já haviam encarado e com Tály ainda inconsciente era ainda mais arriscado.

— A luz do sol vem daquela direção. — Any apontou para o alto, avaliando a posição do brilho dourado entre as folhas. — Então o norte é para lá.

— Mas se entrarmos de novo na floresta, perderemos a orientação. — Marco ponderou. — As árvores mudam de lugar, e sem visão do céu, ficaríamos à mercê da sorte. E tem o fato de Tály estar apagada.

O silêncio recaiu sobre eles. Não podiam simplesmente permanecer ali, mas dar um passo errado poderia custar muito mais do que tempo.

Foi então que o som metálico de uma lâmina sendo desembainhada cortou o ar.

Helick sacou sua espada com um movimento firme e decidido.

— Helys? — Cassian virou-se para ele, intrigado. — Teve alguma ideia?

— Tive. Mas não sei se vai dar certo.

Nastya observou sua postura. Algo nele parecia diferente. Havia uma firmeza em sua presença que antes não estava lá. A confiança com que segurava a lâmina, a determinação em seu olhar… Era sutil, mas perceptível. Foi então que ela entendeu.

— Então foi você… — murmurou para si mesma.

Desde que haviam retornado do portal, Nastya sentia resquícios de uma energia intensa e imponente. Naquele momento, percebeu que a pressão de mana que a atingira antes viera de Helick. Tály estava desacordada e eles pareciam cansados. Uma batalha havia acontecido naquele portal e foi o que provavelmente amadureceu o príncipe.

Rhyssara cruzou os braços e ergueu o queixo, avaliando o príncipe mais novo. Seus olhos cintilaram com algo que poderia ser curiosidade ou aprovação.

— Nós vimos do que vocês são capazes lá dentro. — Sua voz era firme, carregada de um peso que impedia qualquer hesitação. — Se teve uma ideia, então confie nela.

Helick respirou fundo, ajustou a empunhadura da espada e deu um passo à frente.

Ele não hesitaria.

Helick fechou os olhos e concentrou-se, chamando o frio que habitava dentro de si. A temperatura ao redor começou a cair, e logo ficou perceptível pelo ar que se condensava a cada respiração. Ele visualizou o gelo se espalhando pelo chão, formando uma plataforma sólida sob seus pés — assim como seu pai havia feito no dia do despertar de Cassian. No caso do rei, não era gelo, mas sim a manifestação de sua habilidade mágica. Ainda assim, talvez o princípio fosse o mesmo. Talvez… desse certo.

Helick respirou fundo e sentiu a mana fluir de dentro de seu peito para os braços, deslizando como um rio gélido até as pontas de seus dedos. Ele cravou os pés no chão e, com um movimento firme da espada, canalizou o poder para a terra abaixo deles. O ar crepitou com o choque térmico, e em questão de instantes, uma camada fina de gelo começou a se espalhar pelo solo, avançando de forma controlada, desenhando padrões cristalinos sobre a grama e as raízes expostas.

O restante do grupo se viu surpreso com o que acontecia e um misto de expectativa e receio tomou o rosto de cada um. Exceto por Redgar que voltava a sua expressão neutra de sempre e de Rhyssara que parecia não ter o menor pingo de desconfiança na habilidade do príncipe.

— Hey, tá tudo certo, Helys? — chamou Cassian como se quisesse confirmar que tudo ainda estava sob controle do irmão.

Ele não respondeu, sua concentração era absoluta.

O gelo se expandiu em círculos, crescendo em espessura e largura a cada segundo. A textura irregular do solo desapareceu sob uma superfície lisa e translúcida, refletindo o céu acima em tons azulados. Pequenos estalos podiam ser ouvidos conforme a geada tomava conta, entrelaçando-se como teias de vidro puro. A umidade do ar condensou-se em cristais que flutuavam suavemente ao redor deles, como se a própria atmosfera estivesse se curvando à vontade do príncipe.

Então, com um gesto brusco da espada, Helick elevou a estrutura. O gelo não apenas solidificou—ele se moldou e ganhou vida, formando bordas suavemente elevadas ao redor da plataforma, como se criasse um barco improvisado. A base se desprendeu do chão com um estrondo seco, pequenas lascas de gelo se soltando na separação. Por um instante, o grupo sentiu o peso do mundo se inverter, o estômago revirando diante da estranha sensação de gravidade desafiada.

A plataforma flutuou alguns centímetros acima do solo, instável no início, oscilando levemente como um barco na água. Mas então Helick firmou seu controle, ajustando a distribuição da mana, e a estrutura estabilizou-se. Com um comando mudo, ele a impulsionou para cima.

O gelo brilhou à luz do amanhecer enquanto a plataforma ascendia, elevando-se lenta, mas firmemente. As árvores ao redor pareciam se curvar, suas sombras distorcidas refletindo sobre a superfície cristalina. O frio intensificou-se à medida que subiam, a umidade congelando em pequenos flocos que dançavam ao redor

Em poucos instantes, ultrapassaram as copas das Árvores Andantes. A visão que se revelou diante deles era de tirar o fôlego. Um mar de folhas se estendia em todas as direções, formando um tapete verde profundo, com tons azulados onde a luz do sol ainda não havia tocado. Ao leste, o horizonte era tingido de dourado e laranja, o sol finalmente revelando sua presença depois de tanto tempo presos na escuridão da floresta.

A brisa fria soprava contra seus rostos, trazendo um frescor que contrastava com o calor abafado que tinham sentido dentro da floresta. Lá de cima, podiam ver com clareza a vastidão da terra adiante. Montanhas se erguiam ao norte e pareciam cruzar todo o continente de leste a oeste, formando silhuetas imponentes contra o céu. Estradas serpenteavam entre colinas, e rios brilhavam como fios de prata sob a luz nascente.

Helick abriu os olhos, e em seu olhar misturavam-se surpresa e satisfação.

— Funcionou… — ele murmurou, quase sem acreditar.

— CARACA! — Cassian praticamente berrou, a adrenalina pulsando em cada palavra. — COMO VOCÊ CONSEGUIU FAZER ISSO?!

Nastya, com os olhos arregalados, desviou a atenção da paisagem deslumbrante para encará-lo.

— Você realmente… criou um caminho pelo céu.

Helick não respondeu de imediato. Seu foco ainda estava na plataforma, controlando cada mínimo ajuste na mana para mantê-la firme no ar. Mas algo dentro dele mudara. Pela primeira vez, ele não apenas experimentava seus poderes—ele os compreendia. E essa era apenas a primeira prova disso.

Um som leve de movimento chamou sua atenção.

— Para o norte, então… — veio uma voz fraca, mas firme.

Todos se viraram e viram Tály, deitada sobre o gelo, piscando lentamente ao recobrar a consciência.

Rhyssara, observando tudo com um brilho de orgulho no olhar, ergueu o queixo e declarou com firmeza

— Para Ossuia.

Helick sentiu o peso daquela palavra. Havia algo definitivo nela. Algo grandioso.

Ele sorriu de leve, sentindo a magia pulsar em suas veias, e repetiu calmamente:

— Para Ossuia.