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Capítulo 70 — Jogo de Interesse
— Não podemos? — A voz de Any soou cautelosa, um contraste com a impaciência que Rhyssara esperava.
A imperatriz lançou um olhar de esguelha para Phill, uma pergunta silenciosa pairando entre eles.
— Me perdoe, minha senhora. — Phill abaixou a cabeça, encostando a testa na mesa de madeira. — Os príncipes planejavam espionar sua conversa com Jeffzzos, então precisei colocá-los a par da situação antes que fizessem alguma besteira.
— Eu não te disse nada, e ainda assim você deduziu o motivo da minha visita. Bem perspicaz, Phill.
— Qual é a nossa situação com os anões? — perguntou Cassian sem rodeios.
A coroa no topo da cabeça de Rhyssara brilhou, emanando uma luz avermelhada que se expandiu, envolvendo todo o grupo.
“Não posso falar com vocês diretamente por motivos óbvios.” A voz da imperatriz ressoou em suas mentes. “Por mais que pareçam focados em seus próprios afazeres, cada anão aqui está atento à nossa presença e conversa. Ajam naturalmente e eu irei mostrar a vocês.”
O grupo trocou olhares discretos antes de fingir que apenas apreciavam a refeição.
Então, uma visão começou a se formar em suas mentes. Diferente do que ocorreu com as Sete Sombras, dessa vez a imagem não se impunha com brutalidade, ela deslizava suavemente para dentro de seus pensamentos.
Eles viram o quarto de Jeffzzos: as rochas polidas das paredes refletindo a luz dos candelabros suspensos por magia, a mesa onde Rhyssara se sentava diante do anão, segurando uma taça cheia de vinho. No instante em que sua voz cortou o silêncio, todos no grupo puderam sentir a tensão da conversa.
— E de que lado você está?
Jeffzzos se recostou na cadeira, a expressão tranquila, mas o tom carregado de frieza e oportunismo.
— Depende.
— Do quê? — A pergunta veio com a mesma frieza.
O respeito que parecia existir entre os dois desaparecera. Agora, eram apenas dois negociadores, cada um buscando o maior lucro para si.
— De vocês… e deles. — Ele fez uma pausa, como se as palavras fossem difíceis de engolir. — Sei que, depois da derrota de mil anos atrás, eles perceberam que não somos uma… “Criação Imperfeita”.
Havia veneno em sua voz ao dizer isso.
— Como aqueles largados imundos e aquelas cópias baratas de humanos de orelha pontuda ousavam nos chamar assim!
Rhyssara manteve o olhar fixo nele.
— Você acha que, depois de perderem para a aliança Humana-Anã, eles finalmente os tratarão com respeito?
— Sim. Seriam tolos se não o fizessem. Afinal, somos nós que fabricamos as armas, armaduras, poções e encantamentos dos exércitos humanos. Se eles nos jurassem lealdade sob a Magia Absoluta de Pacto, acredite… voltaríamos a escravizar vocês de bom grado.
Rhyssara ergueu uma sobrancelha, surpreendida pela honestidade brutal.
— Parece que essa poção realmente funciona. — Murmurou, levando a taça aos lábios e tomando mais um gole de vinho.
Ela pousou a taça na mesa antes de continuar:
— Mas, se vocês têm a inteligência que tanto gostam de vangloriar, sabem que eles jamais fariam esse tipo de promessa a uma raça que consideram tão suja e impura quanto os humanos. E, honestamente, duvido que vocês sejam tão carentes de aceitação a ponto de se venderem apenas por aprovação.
Jeffzzos soltou uma risada breve, absorvendo as palavras.
— A poção está funcionando para os dois lados, pelo visto. Mas você sabe que minha influência na comunidade anã já não é a mesma de cinquenta anos atrás. Desde que te ajudei a tomar essa coroa.
— Eu sei. — Rhyssara manteve o tom neutro. — Você sacrificou seu título de líder da guilda Martelo e Elixir por mim. Sempre reconhecerei esse ato.
— Fui rebaixado a aprendiz apenas por respeito aos meus companheiros de forja. O certo teria sido meu exílio das Montanhas de Patrock. Mesmo com minha experiência, só agora, depois de cinquenta anos, consegui o título de ancião.
— E eu sei que você ainda espera o cumprimento total da minha promessa. Mas, para isso, precisamos sobreviver à invasão iminente.
— Não te culpo por ainda não tê-la cumprido. Sei que não depende apenas de você, mas também do pai daqueles dois príncipes que te acompanham.
— Assim como sei que a decisão sobre quem os anões apoiarão na guerra que se aproxima não cabe a você.
— E, mesmo assim, veio me procurar.
— Sei que ainda tem seus contatos. Preciso que marque uma reunião com os quatro líderes.
Jeffzzos franziu o cenho.
— Os quatro? Somos quatro grandes guildas, mas você sabe que consideramos apenas três. A Fornalha Proibida é uma guilda clandestina, herege, banida há séculos.
Rhyssara inclinou a cabeça, analisando-o.
— Então por que continuam nos Portões Sagrados de Dungrin? Seu deus não os renegou por suas escolhas. E quando os sacerdotes consultarem sua divindade, ela clamará por quatro líderes, não três.
Jeffzzos suspirou e se levantou da cadeira.
— Verei o que posso fazer
Ele se dirigiu à porta.
— Aonde vai?
— Tenho um problema sério com ansiedade quando o assunto é esse. Vou levar sua causa ao conselho imediatamente. Trago novidades pela manhã.
Ele abriu a porta, mas parou antes de sair.
— Pode descansar em minha cama. A sacerdotisa Visna já trouxe roupas novas para você. Estão em uma caixa sob a cama. Tenha uma boa noite.
Com um ondular vermelho, a visão se dissipou das mentes do grupo, trazendo-os de volta à realidade.
O silêncio que se seguiu foi carregado de pensamentos. Cada um refletia sobre o que acabara de testemunhar, absorvendo as implicações daquela conversa. Então, a primeira voz a romper a quietude foi a de Cassian.
— Espera… cinquenta anos atrás? — Ele franziu o cenho, virando-se para Rhyssara. — Você tem quantos anos?
Helick fechou os olhos por um instante, exalando em exasperação.
— De tudo que acabamos de ouvir… — ele abaixou a voz, para que os anões do refeitório não ouvissem — é nisso que você se atentou?
Cassian deu de ombros.
— E o que eu posso fazer? Isso me pegou de surpresa!
— Isso te pegou de surpresa? — Helick cruzou os braços, exasperado. — Não o fato de que os anões podem trair a humanidade?
— Isso também! Mas cinquenta anos, Helick! Cinquenta! — Cassian gesticulou, ainda tentando processar. Seus olhos percorrendo descaradamente cada curva sensual que Rhyssara possuía. — Como é que ela nem parece ter metade disso?
Rhyssara suspirou e passou um dedo ao longo da borda de sua taça antes de responder com tranquilidade:
— A coroa.
Cassian piscou.
— O quê?
— A Coroa de Edgar. — Ela ergueu um pouco o queixo, como se o peso do adorno sobre sua cabeça se fizesse presente. — Além de conceder controle absoluto sobre a mente de qualquer um cuja mana seja inferior à minha, ela também… pausa o envelhecimento de quem a usa por direito.
O silêncio que se seguiu foi quase tão denso quanto a revelação.
— Então… — Cassian estreitou os olhos. — Você realmente não envelhece?
— Enquanto eu for a Imperatriz, não.
— Isso significa que—
— Sim. — Rhyssara pousou a taça sobre a mesa com calma. — O tempo não passa para mim como passa para vocês.
Cassian abriu a boca para dizer algo, mas hesitou. Helick, por outro lado, desviou o olhar, processando a informação.
— Eu não quero nem imaginar o que foi necessário para isso — murmurou ele.
Rhyssara ergueu um canto dos lábios, mas seu olhar carregava algo indecifrável.
— Melhor não mesmo.
Ela tomou mais um gole de vinho antes de mudar de assunto, sua voz adquirindo um tom mais sério:
— Agora, voltando ao que realmente importa… o que acham da situação dos anões?
O silêncio que se seguiu à pergunta de Rhyssara foi denso.
Foi Phill quem o rompeu primeiro, limpando a garganta.
— Os anões não vão agir sem interesse próprio. Sempre foi assim.
— Exato. — Rhyssara assentiu, pousando os dedos sobre a mesa. — Eles só vão escolher um lado quando tiverem certeza de que será vantajoso.
— O que significa que podem nos vender para o inimigo se julgarem mais lucrativo — completou Redgar, a voz sombria.
— E também significa… — Cassian inclinou-se para frente, os olhos brilhando com uma percepção repentina — que ainda temos tempo para convencê-los.
— Sim. Mas não muito. — Rhyssara tamborilou os dedos na madeira. — Jeffzzos já deve estar levando minha proposta ao conselho. Se quisermos influenciar essa decisão, teremos que agir antes que eles nos descartem como uma opção.
Any, que observava a conversa em silêncio, finalmente se pronunciou:
— E como fazemos isso?
Rhyssara tomou o último gole de vinho antes de responder, sua voz carregada de determinação:
— Conseguindo o favor das quatro guildas.
Phill franziu o cenho.
— Você quer dizer três, certo? A Fornalha Proibida—
— Ainda existe — interrompeu a imperatriz. — E se ainda existe, é porque Dungrim não os rejeitou.
Os olhos de Cassian se arregalaram.
— Você quer nos envolver com hereges?! Eu lembro das aulas de história no palácio. Falavam de um grupo de anões que era estritamente proibido de pisar nas Montanhas de Patrock. Diziam que, para mantermos boas relações com os demais, nem sequer deveríamos nos aproximar deles!
— Você se lembra disso, Cass? — Helick arqueou uma sobrancelha, surpreso.
— Para você ver o quanto enfatizaram isso! — resmungou Cassian.
Rhyssara se levantou, seu olhar percorrendo o grupo.
— Eu quero nos envolver com todos que possam decidir o destino dessa guerra. E se isso significa descer às forjas esquecidas… então é exatamente isso que faremos.
O silêncio voltou a dominar a mesa, mas dessa vez era diferente.
Porque, no fundo, todos sabiam que a decisão já havia sido tomada.
E o caminho para a Fornalha Proibida já estava traçado.
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