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Capítulo 76 — O que realmente querem
Ao cruzarem o portal, uma escuridão pesada envolveu o grupo, quebrada apenas pelo brilho distante de chamas dispersas. O ar era denso e abrasador, carregado pelo cheiro metálico de ferro fundido, enquanto o eco de marteladas ritmadas reverberava pelas paredes de pedra maciça. A fortaleza, incrustada na própria montanha, pulsava com uma força viva, emanando calor e energia bruta.
A câmara de entrada se erguia imponente, sustentada por colunas de ferro forjado e pedra negra, fundidas como se fossem um único material. Runas antigas e símbolos entalhados nas paredes tremeluziram, como se a própria montanha respirasse magia e metal. O constante martelar dos forjadores se misturava ao crepitar das fornalhas invisíveis, criando um ritmo quase épico.
O chão, feito de lajes de pedra desgastadas, formava um mosaico de quadrados e retângulos desiguais. Partes do caminho estavam cobertas por uma fina camada de cinzas e brasas incandescentes que nunca se apagavam. Dali, diversos corredores se ramificavam, protegidos por grades metálicas e iluminados por tochas de chamas vivas.
Mais adiante, a câmara principal se abria em uma vasta sala circular, dominada por um forno colossal que ardia sem cessar. O calor ali era sufocante, e pequenas labaredas saltavam das chamas, lançando sombras inquietas pelas paredes de pedra. Foi nesse clarão oscilante que Tály avistou a figura de um anão que os aguardava.
Assim que seus olhos pousaram nele, uma pontada de nostalgia percorreu Tály. Na última vez em que se viram, ele usava um capuz, ocultando parte do rosto. Ainda assim, ela o reconheceu de imediato, não pelas feições, mas pelos dois martelos gêmeos ao seu lado, ambos com as cabeças voltadas para baixo. O da esquerda brilhava em um tom prateado familiar. Era aquele martelo que a golpeara, forçando sua centelha a se manifestar. O da direita, idêntico em forma, exibia runas douradas cintilantes. Com um único impacto, ele havia forjado suas manoplas no instante da colisão.
Isso dizia muito sobre a habilidade daquele anão. Forjar um ARGUEM costumava levar sete dias, mesmo nas mãos dos mais habilidosos artesãos da Centelha Ardente, a guilda anã mais prestigiada, liderada por Leonardrick. Em mãos menos experientes, o processo poderia levar meses.
Finalmente, Tály ergueu os olhos e encarou Sanur. Imaginara alguém de traços rústicos e duros, marcados por cicatrizes e um semblante perpetuamente severo. E não estava errada.
Sanur era alto para os padrões anões, com 1,52m de músculos forjados pelo trabalho árduo. Vestia uma armadura de placa negra, e uma cicatriz larga atravessava seu rosto em diagonal, da esquerda para a direita, cortando o olho esquerdo. No brilho intermitente do fogo, Tály percebeu que esse olho era de vidro, um azul-ciano intenso que contrastava com o outro, de um tom cinza tempestuoso.
A única coisa que não esperava era que ele fosse completamente careca. Mas sua espessa barba branca, trançada até o peito, compensava a ausência.
— Então eram vocês que estavam fazendo todo esse barulho? — Sua voz grave reverberou pelas paredes de pedra. — Quem são e o que querem?
Rhyssara deu um passo à frente.
— Sou Rhyssara BloodRose, Imperatriz de Ossuia e líder deste grupo.
Sanur franziu o cenho.
— Um monarca humano vindo diretamente à minha guilda? — Uma risada seca escapou de sua boca coberta pela barba. — Isso, pelo que sei, é um tabu. E dos grandes.
No entanto, a desconfiança nos olhos de Sanur se dissipou ao notar a coroa repousando na cabeça da imperatriz.
— Pelo Pai da Criação… — Sua expressão se transformou em surpresa genuína. — Isso é a Coroa de Patrock?!
Cassian inclinou-se para o irmão e sussurrou:
— Não era pra ser a Coroa de Edgar?
O comentário não passou despercebido.
— Edgar?! — Sanur bufou. — Não me diga que foi assim que ficou conhecida entre os humanos… Não vai me dizer que a lendária Espada Alada de Patrock também virou Espada Alada de Edmon?!
— Sim…? — Helick respondeu, hesitante. — Nunca ouvi esses ARGUEMs serem chamados assim. Para nós, os ARGUEMs Herdados carregam o nome de quem as empunhou e as deixou de herança.
Sanur cruzou os braços, claramente irritado.
— Pequena aula de história pra vocês, então. — Sua voz carregava um tom azedo. — O verdadeiro nome dessas armas vem de Patrock, o primeiro mestre da forja de ARGUEMs da história. Foi graças a ele que Helisyx conseguiu armar um exército de humanos com poderes que nunca sonharam ter. Mas, claro… Humanos gostam de apagar o passado e dar a glória aos seus próprios heróis.
— Sua informação está meio equivocada. — Visna interveio sem qualquer reverência à posição de Sanur. — Patrock forjou apenas três ARGUEMs em toda sua vida: um para Helisyx e os outros dois para seus filhos, Edmon e Edgar. Ele sempre se recusou a criar armas que pudessem ferir seu próprio povo, já que nem todos os anões apoiaram a rebelião humana. O primeiro ARGUEM foi um acidente. Patrock não sabia dos efeitos do diamante negro na época em que foi descoberto. Os outros dois foram feitos depois da guerra, como um presente para os filhos do rei e amigo de Patrock, Helisyx, pela autonomia concedida aos anões neste novo continente.
Sanur soltou um riso seco.
— “Autonomia”, você diz. — Seus olhos perfuraram Visna. — Nem você acredita nisso.
Rhyssara interveio antes que a discussão tomasse outro rumo.
— E já que falamos de autonomia, vim tratar de um assunto diretamente com você, Sanur.
O anão ergueu uma sobrancelha antes de bater o martelo prateado no chão. Cadeiras de pedra emergiram ao redor da fornalha, uma para cada um dos presentes.
— Imagino que tenha relação com a visita indesejada dos dragnaros a Lyberion. — Sanur se sentou. — E também imagino que, se você veio até aqui pessoalmente, significa que finalmente reconheceu o peso dos anões na guerra que se aproxima.
Rhyssara acomodou-se no assento conjurado.
— Está correto.
Sanur apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos diante do rosto, analisando-a com intensidade.
— Você sabe o que eu quero. O que meu povo quer.
Rhyssara manteve o olhar firme.
— Prometi isso a um amigo anão há cinquenta anos. E pretendo cumprir nas próximas décadas.
Sanur riu, debochado.
— Décadas? Se matarmos vocês e nos unirmos aos elfos e dragnaros, teremos o que queremos imediatamente.
— Não seja tolo. Eles nunca dariam isso a vocês. E você sabe disso.
Cassian observava a troca tensa de palavras, confuso. O que os anões realmente queriam? Autonomia? Independência? Eles já tinham isso nas Montanhas de Patrock.
— E vocês? Dariam? — Sanur perguntou.
— Sim. Seria benéfico para ambas as raças.
— Como?
Cassian, incapaz de conter a frustração, explodiu:
— Mas do que diabos vocês estão falando?! O que mais os anões querem?!
Um silêncio pesado tomou a sala. Sanur estreitou os olhos.
— E esse aí?
Rhyssara sorriu de leve.
— Cassian Havilfort, filho de Aquiles e herdeiro de Lyberion.
Sanur relaxou a postura, um brilho predatório nos olhos.
— Agora entendi seu plano, Imperatriz. Eis que tens minha atenção.
Ele se virou para Cassian e sorriu como um maníaco quando falou:
— Estamos falando sobre quebrar a barreira do Continente do Sul.
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