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Capítulo 85 — Partida
O salão da Centelha Ardente estava tomado por um silêncio estranho. Os últimos preparativos para a partida estavam sendo feitos, mas, apesar da movimentação dos anões que traziam suprimentos e fechavam os grandes portões atrás de si, o peso dos acontecimentos recentes ainda pairava no ar.
Diante do portão da guilda, um grande vórtice azul estrelado se materializou no ar. A magia girava como uma fenda aberta no tecido da realidade, iluminando os rostos atentos daqueles que se preparavam para cruzá-lo.
Leonardrick o mantinha estável sem demonstrar qualquer esforço.
— Ele pode criar um transportador apenas com a própria mana de Transmutação? — Helick pensou em voz alta, observando a maestria com que o anão sustentava o feitiço. — Incrível.
Cassian ajeitou o cinto da espada enquanto se aproximava do irmão. Suas feridas já estavam fechadas, mas ainda enfaixadas sob as vestes vermelhas que substituíam sua armadura destruída. O traje, adornado com linhas douradas e tecido nobre, ostentava no peito esquerdo um brasão de bronze entalhado com o símbolo de uma cota de malha—um presente da guilda da Forja Ancestral, comandada por Egnik.
— Pelo que ouvi nos corredores, os anões ficaram perplexos por eu ter lutado de igual para igual contra Sanur — comentou Cassian, ajustando as luvas. — Mas disseram que eu não teria a mínima chance se lutasse contra Leonardrick.
Helick cruzou os braços, assentindo. Seu próprio traje azul, semelhante ao do irmão, destacava sua postura pensativa.
— Então quando ele disse que Sanur era o segundo mais poderoso, não era mentira.
Uma voz feminina interrompeu a conversa:
— Príncipes. — Any se aproximou. — Está tudo pronto para partirmos.
Próxima às montarias, Tály fazia as últimas verificações com a precisão meticulosa de quem não queria pensar em outra coisa. Os anões haviam cedido búfalos rastreadores das montanhas, animais conhecidos por nunca se perderem e sempre encontrarem o caminho de volta sem a necessidade de um montador.
Rhyssara, um pouco afastada, conversava em voz baixa com Nastya. O que quer que tenha dito fez a expressão da jovem jardineira mudar drasticamente, seus olhos revelando uma mistura de surpresa e inquietação.
Perto do portão principal, Marco e Redgar trocavam algumas palavras em tom discreto. Já o cocheiro, parado à frente do grupo, tinha o rosto marcado por uma resignação evidente. Seu olhar fixo no vórtice mágico denunciava o desconforto de quem já sabia que teria que atravessar um transportador mais uma vez.
Cassian soltou um suspiro curto e lançou um olhar para Helick antes de responder:
— Certo. Vamos.
Cada um montou em sua montaria, levando consigo provisões para a longa jornada. O grupo se encaminhou para o transportador, atravessando o vórtice azul estrelado que os aguardava.
Phill, o cocheiro, prendeu a respiração antes de entrar, preparando-se para a sensação de espaguetificação—mas ela nunca veio. Em um piscar de olhos, já estavam do outro lado, ao norte das Montanhas de Patrock.
— Graças aos Pais da Terra! — glorificou Phill, visivelmente aliviado.
Helick se viu surpreso pela magia de Leonardrick ser tão… Natural. Mais natural do que o transportador que era uma baita de uma máquina.
Rhyssara apontou para o horizonte.
— Vamos seguir cerca de cinquenta quilômetros ao norte. Lá, uma equipe estará de prontidão para nos encontrar.
Cassian trocou um olhar com Helick.
— Cinquenta quilômetros é uma bela caminhada.
— Tempo o bastante para conversarmos sobre o que aconteceu enquanto você esteve apagado.
Cassian revirou os olhos, como se não quisesse ouvir, mas por fim suspirou.
— Me conte tudo.
Enquanto cavalgavam, Helick relatou as manobras militares que estavam sendo preparadas para conter a invasão costeira dos dragnaros. Os anões se organizariam para auxiliar na forja de equipamentos e elixires, fundamentais para lidar com a desvantagem física dos humanos. Além disso, estratégias de contenção estavam sendo estudadas caso dragnaros aquáticos tentassem invadir pelos rios conectados ao mar.
Cassian ouviu com atenção, mas, em algum momento, sua mente começou a divagar. Então, de repente, um pensamento urgente o atingiu.
— E a assassina? — perguntou, sua voz abrupta cortando a conversa. — Conseguiram identificá-la?
Helick balançou a cabeça, frustrado.
— Não. Ela simplesmente desapareceu. — Sua expressão ficou tensa. — Mas aqueles cabelos prateados sobre a máscara de lobrasa… Me deixam inquieto. Eu conheço aquele tom, mas não consigo me lembrar de onde.
Cassian suspirou, compartilhando da mesma sensação incômoda.
— Sim… e a voz dela… — murmurou, pensativo. A lembrança da voz ecoou em sua mente, a mesma que o encorajou a liberar todo o seu poder mágico contra Sanur.
Não, não podia ser. Cassian sempre acreditou que aquela voz fosse apenas sua própria mana o guiando, um reflexo de seu espírito. Não fazia sentido haver uma ligação entre aquilo e a assassina mascarada.
Sua certeza, no entanto, se desfez no instante seguinte.
— Nem me fale. — Helick exalou, incomodado. — Parece até que a mesma voz dela fala coisas na minha cabeça de vez em quando… Mas acho que é só a mana me guiando.
Cassian quase caiu do búfalo.
— O… O quê? Você também ouve?
Helick arqueou a sobrancelha, surpreso.
— Você também? — riu, sem humor. — Isso está ficando cada vez mais estranho.
Ele esfregou a nuca, pensativo.
— Mas não dá para saber se tem uma ligação direta ou se é só coincidência. Nosso subconsciente pode ter escolhido essa voz porque ela nos lembra alguém… Sei lá. Não dá pra ter certeza.
Cassian não respondeu de imediato. Seu olhar se perdeu na trilha à frente, mas algo dentro dele dizia que aquilo não era só uma coincidência.
Mas então, um novo pensamento o atingiu.
— E Visna? — perguntou, franzindo o cenho. — Ela era muito próxima de Jeffzzos. Surtou quando ele foi assassinado. O que fizeram com ela?
Helick soltou um suspiro, como se reviver aquele assunto lhe pesasse nos ombros.
— Prenderam-na. Ela está na prisão dos anões, sem prazo para soltura, acusada de traição e conspiração junto com Jeffzzos.
Cassian franziu o cenho.
— Traição? Mas Jeffzzos morreu tentando fazer o que achava certo.
— Pois é. — Helick olhou para o horizonte, onde as montanhas distantes começavam a perder seus tons esverdeados, dando lugar a uma terra seca e avermelhada. — Mas, no fim, morreu como um traidor aos olhos da própria raça. Isso parece ter tirado Visna do sério. Ela ameaçou cada alma que cruzou seu caminho até ser trancafiada.
Cassian apertou as rédeas do búfalo rastreador, pensativo. Não era como se tivesse criado qualquer sentimento pela anã, mas não conseguia ignorar o peso daquilo.
— Não me parece justo. — Sua voz soou firme. — Se ela foi presa sob essa acusação, por que Sanur e os anões da Fornalha Proibida não foram?
O grupo avançava, e o terreno sob seus pés tornava-se mais árido a cada passo. O cheiro úmido da vegetação densa foi substituído por um ar seco, cortante. Pequenos arbustos retorcidos surgiam ao longo do caminho, suas folhas acinzentadas tremendo sob um vento cada vez mais quente.
— Os anões da Fornalha Proibida já eram um problema antigo — continuou Cassian. — Eles só precisavam de um motivo para bani-los de vez, mas, pelo que vejo, nada aconteceu.
Helick manteve os olhos fixos à frente.
— Segundo o conselho anão, as habilidades deles serão de suma importância para a guerra que está por vir. Então, por enquanto, estão livres.
Cassian soltou um riso seco.
— Não parece mesmo justo.
Helick deu de ombros.
— A guerra, aparentemente, não é justa.
O silêncio pairou entre os irmãos enquanto continuavam avançando pela trilha poeirenta, até que Helick voltou a falar.
— Cass… Sobre sua luta contra Sanur…
Cassian virou o rosto na direção do irmão.
— O que tem?
Helick hesitou por um momento antes de continuar:
— O que você sentiu naquela hora? Quando parecia que você não conseguiria vencer?
Cassian franziu o cenho, tentando encontrar as palavras certas. Seu olhar se voltou para a trilha seca à frente, mas sua mente ainda estava naquela luta brutal. Ele havia sido massacrado no começo, forçado a recuar a cada golpe de Sanur. Mesmo depois de controlar seu ARGUEM, ainda não era páreo para o anão. Só no último momento algo mudou dentro dele.
— Eu senti… Coragem — falou, pensativo. — Coragem para liberar cada fagulha de fogo e mana que eu possuía dentro de mim.
Helick ouviu em silêncio, absorvendo as palavras do irmão.
Cassian continuou:
— Quando percebi que só minha força controlada não bastava, algo me impulsionou. Como se minha mana se recusasse a aceitar a derrota. Era como se… uma voz dentro de mim dissesse que eu podia ir além. Que eu tinha mais dentro de mim do que eu imaginava e que eu não precisava temer aquele poder.
Helick estreitou os olhos.
— Essa voz… Era a mesma que você acha que veio da assassina?
Cassian apertou a mandíbula.
— Eu não sei. Achei que fosse minha própria mana me guiando, mas depois do que você disse… — Ele soltou um suspiro exasperado. — Isso me deixa inquieto.
Helick assentiu lentamente, ponderando.
— Mas como você conseguiu atingir aquela forma? O seu ARGUEM é poderoso sim, mas aquilo… Aquilo foi um absurdo de poder! Eu podia facilmente dizer que você estava no nível do Capitão Haras.
Cassian segurou as rédeas do búfalo rastreador com mais firmeza.
— Eu simplesmente deixei sair. Desde aquele pequeno combate nas margens da Floresta das Árvores Andantes, eu fiquei recioso de usar meu poder e acabar perdendo o controle e ferindo aliados. Mas agora eu liberei tudo o que tinha dentro de mim. Eu deixei a mana sair e tomar a forma que quisesse. Eu não fazia ideia do que poderia acontecer, mas quando aconteceu, quando aquela asa de fogo nasceu em minha costa esquerda, parecia que ela sempre esteve ali. Eu sabia exatamente o que precisava ser feito para usufruir daquele poder. Foi estranho e familiar ao mesmo tempo.
Helick manteve o olhar fixo nele.
— Como se algo a estivesse forçando a despertar.
Cassian assentiu lentamente.
— Exatamente.
Helick suspirou, cruzando os braços sobre o peito.
— Isso está ficando cada vez mais estranho.
— Tirou as palavras da minha boca — Cassian murmurou.
O silêncio se instalou novamente entre eles, mas desta vez não era desconfortável. Era um silêncio de pensamentos não ditos, de peças de um quebra-cabeça que começavam a se encaixar, mas ainda formavam uma imagem incompleta.
A paisagem ao redor se tornava cada vez mais árida, e o calor crescente indicava que estavam saindo das regiões montanhosas. Cassian inspirou fundo e olhou para o horizonte.
— Seja o que for… Eu preciso descobrir.
Helick lançou-lhe um olhar de lado e assentiu.
— Nós dois precisamos.
Pensamentos tomaram a cabeça de Helick sobre como a mana de gelo se comportaria se ele chegasse ao ponto de deixá-la descontrolada e tomar forma por completo. Era algo arriscado, cujo desfecho era incerto.
Uma brisa fria soprou de repente, cortando o calor crescente ao redor. Cassian franziu a testa e lançou um olhar breve ao horizonte, mas não viu nenhuma mudança no ambiente. Helick, por outro lado, sentiu um arrepio estranho percorrer-lhe a espinha, como se a própria mana reagisse ao seu pensamento.
De qualquer forma, isso era algo para ser descoberto outro dia.
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