Capítulo 91 — A Muralha dos Corajosos

O CSR parou diante da imponente muralha de ferro e pedras negras. A altura dela era como se pudesse tocar os céus, suas torres em cada alicerce era vigiada por soldados de armaduras avermelhadas em posição fixa e irredutível.

As portas do corcel foram abertas e o grupo desceu.

Um portão colossal estava aberto com dois guardas de prontidão, um de cada lado do portão. A frente da passagem havia uma pequena fila de pessoas com roupas estranhas, com amontoados de metal e fios cobrindo algumas partes dos corpos.

O grupo se aproximou e viu mais um soldado ossuiano a frente do que parecia ser um segundo portão menor. A frente do homem estava um pedestal com um grosso livro de capa vermelha gasta aberto e um objeto redondo com micro furos em sua superfície negra.

O primeiro da fila, um homem calvo e de barba falha e profundas olheiras analisava o livro cuidadosamente, passando as páginas até chegar a última.

— Aqui está o mais fraco dos habitantes da Muralha dos Corajosos! — Ele riu passando o dedo no que parecia ser a última linha da última página do livro. — Eu desafio Marlin para defender sua posição como habitante da segunda camada de Ossuia!

O soldado pegou o objeto redondo que repousava ao lado do livro e falou:

— Atenção Marlin da segunda camada de Ossuia, você foi desafiado a provar seu valor como habitante da segunda camada de Ossuia. Deverá comparecer a arena às oito horas do dia de amanhã.

Quando terminou o soldado pôs o objeto redondo no pedestal mais uma vez.

— Sua solicitação de ascensão foi emitida com sucesso, senhor Thomas. Pelo que vi nos registros é sua terceira tentativa de ascender para a Muralha dos Corajosos. Devo-lhe lembrar que se falhar novamente, as portas para a ascensão estarão fechadas para sempre para você.

O homem assentiu com confiança no olhar.

— Dessa vez eu vou conseguir! Finalmente consegui desafiar o mais fraco, quem fica nessa posição quase sempre tá no período de descanso pôs batalha por ser desafiado muitas vezes. Hoje foi meu dia de sorte!

O homem saiu da fila animado com brilho nos olhos.

Nastya viu aquela cena e preocupação passou verdadeiramente em sua face.

— Não precisa se preocupar com isso. — Falou Helick ao se aproximar dela. — Você não é obrigada a lutar, entendemos que você não é uma soldado e nunca recebeu treinamento militar. Farei de tudo para irmos e voltarmos logo.

A jardineira corou e abraçou o príncipe aninhando sua cabeça ao peito dele. Helick ficou sem reação por um breve segundo antes de retribuir o abraço.

— Me sinto uma inútil agora. — Se queixou ela, lágrimas minando de seus olhos.

Enquanto isso Rhyssara, Morgan e Phill se encaminharam para o final da fila.

Cassian estranhou a cena e perguntou confuso:

— Você vai entrar na fila? A imperatriz?

— Eu sai da Muralha da Vontade de Edgar, a muralha central, então eu devo conquistar meu lugar de novo. — Respondeu a imperatriz tranquilamente. — Como eu falei a lei se aplica a todos.

Cassian franziu o rosto como se o fato de uma soberana ter as mesmas barreiras que os cidadãos normais soasse como algo inacreditável.

As pessoas no local finalmente notaram a presença do grupo e principalmente da Imperatriz. Os soldados de guarda e as pessoas na fila imediatamente fizeram uma reverência com a mão direita fechada em punho sobre o peito esquerdo. Uma reverência a Rhyssara.

Cassian por um momento pensou que os cidadãos que estavam aguardando na fila para solicitarem a ascensão iriam dar seus lugares para a mulher que estava no topo da hierarquia do império, mas, após a reverência, eles apenas voltaram suas faces para frente e continuaram a aguardar sua vez.

Cerca de uma hora e meia se passou até que chegasse a vez deles. Rhyssara foi na frente e abriu o livro com nomes.

— Para ser mais justa tive uma ideia. — Ela fechou o livro e o jogou para cima.

O livro girou várias vezes e caiu aberto nas mãos de Rhyssara que fechou os olhos e apontou para qualquer que fosse o nome do infeliz que tivesse dado o azar.

— Pois bem. — Viu o Soldado pegando o dispositivo no pedestal — Atenção Nilse da segunda muralha de Ossuia…

Rhyssara se afastou e Morgan foi o próximo. Ele pegou o livro sem hesitação, passando os olhos pelas páginas com rapidez. Ao contrário de Rhyssara, ele analisou cada nome meticulosamente, buscando um oponente digno.

— Não darei a “ele” o benefício da sorte. Preciso de um desafio de verdade. — Murmurou, parando em um nome específico nas primeiras páginas. — Aqui está o nome dele. Eu desafio Krosk, da segunda muralha de Ossuia.

O soldado repetiu o procedimento, anunciando a convocação de Krosk para a arena.

Cassian se adiantou logo em seguida. Diferente de Morgan, ele não perdeu tempo folheando o livro. Com um suspiro, segurou o tomo pesado e simplesmente o abriu na primeira página disponível.

— Esse aqui. — Disse, apontando para um nome sem sequer ler.

O soldado ergueu uma sobrancelha.

— Você tem certeza, príncipe?

Cassian deu de ombros.

— Qualquer um serve.

O anúncio ecoou pela muralha, e um burburinho tomou conta dos presentes. Alguns cochichavam entre si, como se o nome sorteado fosse relevante. Cassian observou a reação estranhando, mas nada comentou.

Helick veio logo depois. Ele pegou o livro com mais seriedade que o irmão, folheando algumas páginas antes de parar em um nome. Seu olhar endureceu por um instante antes de apontar.

— Escolho Brann, da segunda muralha.

O anúncio foi feito, e Helick devolveu o livro, o olhar determinado.

Redgar pegou o tomo, mas não abriu de imediato. Ele o segurou por alguns segundos, olhando para a capa como se estivesse refletindo. Quando abriu, fez de maneira abrupta, sem paciência para indecisões.

— Quem estiver nessa página, tanto faz.

Ele apontou sem olhar, fechando o livro de uma vez e empurrando-o para frente.

O soldado hesitou ao ler o nome sorteado, mas anunciou mesmo assim.

— Redgar enfrentará Ghun, da segunda muralha.

A expressão de Redgar não mudou.

Marco pegou o livro e, ao contrário dos outros, deu um sorriso confiante. A ideia de lutar contra algum guerreiro ossuiano o deixava entusiasmado. Ele girou o tomo nas mãos e o abriu, escolhendo um nome que parecia forte.

— Que tal… Stronger?

O nome foi lido e o desafio foi anunciado.

Por fim, Tály segurou o livro com um sorriso de diversão, ela estava mesmo precisando socar alguém. Seus olhos passaram por algumas páginas, e por fim escolheu com firmeza:

— Esse aqui, Joan.

O nome foi anunciado e ela suspirou aliviada, como se tivesse acabado de tomar uma grande decisão.

Any foi a última. Ela sequer abriu o livro.

— Eu desafio o mais forte desta muralha.

Um silêncio pesado se instalou. O soldado hesitou antes de confirmar.

— Você deseja desafiar o guerreiro no topo da segunda muralha?

Any não desviou o olhar.

— Sim.

O anúncio foi feito, e um burburinho intenso tomou conta da área. Enquanto os desafios eram oficializados, os soldados observavam o grupo com interesse, e o nome do guerreiro mais forte da muralha foi mencionado repetidas vezes entre os presentes.

Rhyssara observava tudo com um sorriso discreto, como se estivesse aguardando para ver como cada um lidaria com a escolha que fez.

Any voltou de encontro ao grupo os olhos de todos recaindo sobre ela.

— Acha que foi a melhor escolha, Any? — perguntou Marco.

— Já que terei que perder meu tempo lutando nesse sistema distorcido de meritocracia, que eu pelo menos absorva o potencial das forças de Ossuia. Essas informações podem ser úteis em algum momento no futuro para Lyberion.

Rhyssara a fitou com um aceno de cabeça, como se respeitasse a coragem da soldado de falar tais palavras abertamente.

— E você? — Apontou Any para Phill que nem na fila havia entrado. — Não vai participar também?

— Ah, não. — respondeu Phill por fim. — Ficarei aqui e cuidarei daqueles que não conseguirem seguir adiante e da senhorita Nastya.

Cassian coçou a nuca enquanto bocejava e perguntou para Phill:

— E por falar nisso, já que os desafios serão realizados só amanhã, onde ficaremos hoje?

Phill se voltou para o CSR abrindo as portas metálicas.

— Os levarei a seus aposentos.

Rhyssara entrou logo dentro do veículo e quando todos se acomodaram mais uma vez ela falou:

— Amanhã veremos se vocês são realmente dignos de entrar em Ossuia.