Capítulo 112: Finalmente nos encontramos
Tempos antes
Depois que deixou o lugar outrora palco de batalha entre Belia e os fugitivos rebeldes, Rein culminou na biblioteca alumiada por candeeiros, enquanto carregava em mãos o baú do tesouro do Zernen com resquícios de queimadura.
A atenção daqueles dois aventureiros, que estavam sentados em oposição ao outro perante uma mesa que carregava uma garrafa de bebida, voltou-se para aquele jovem que suspirava rente a uma prateleira de livros.
— Ué? Não era suposto voltar com os miúdos? — disse Zestas enquanto tomava sua garrafa da mesa, voltando a ingerir seu álcool.
— Temos uma emergência. Uma criatura não identificada raptou crianças e dois adultos com recurso a uma magia de teletransporte.
— O quê? Você estava numa escola? He-he…
— Seja mais específico, Rein.
— Acontece que quando chegamos ao território onde estavam os alvos, encontramos tudo em chamas e cinzas, resultado de uma batalha contra uma criatura que acabou possuindo o corpo de uma criança e, por sua vez, teletransportou todas as outras crianças.
— Agora, sim, he-he… Só faltou detalhar como é a criatura.
— Acontece que não vimos essa criatura. Mas, segundo o relatado, tem a ver com a profecia do charlatão manipulador sobre monstros que invadirão Hengracia daqui a três meses. No caso em questão, fala-se de uma demonia que veio à superfície antes do tempo.
— Viu só, Zestas? As informações dadas pelo charlatão manipulador não possuem consistência. Ele não disse que essas criaturas só viriam átona depois de três meses, então me explica por que tem uma atuando agora?
— Calma, se ele quisesse manipular isso, não teríamos a informação de que essa criatura tenha vindo átona antes do tempo. Algo pode ter acontecido.
— Para mim, me parece tudo inventado para fugir da justiça.
— Se me der licença, senhor… Eu vi com os meus próprios olhos as cinzas das batalhas que havia ocorrido contra essa suposta criatura e de como eles estavam cansados, então não acho que seja inventado. Pelo menos as lágrimas da senhorita Meredith não…
— Oceano e os demais?
— Foram até o lugar onde senti a última aparição, que ficava no centro de favela.
Ouvindo isso, mestre dos aventureiros projetou um livro em sua mão, abrindo uma das páginas onde continha a região da favela. Arregalou os olhos ao constatar que os pontinhos de luzes que identificavam a mana dos membros do caçador da lua havia desaparecido completamente do mapa.
— Mas o que vem a ser isso?
Tocou seu dedo duas vezes na página, fazendo com que a região ficasse minúscula e apresentasse a estrutura de toda a cidade de Ahrmanica, mas mesmo assim não conseguiu identificar os pontinhos de luzes que representavam seus caçadores da lua.
— Eles saíram da cidade?
— Ei, ei, não tem como eles terem saído da cidade, você sabe disso, não sabe?
— Nos leve ao lugar onde houve essa tal batalha agora!
— Hum… Interessante. Essa sua cara de desesperado…
Rein se aproximou da mesa e colocou a sua mão sobre, seguido daqueles dois que colocaram ambas mãos sobre a do rapaz, desaparecendo instantaneamente. Depois que atravessaram dois lugares de parada, culminaram no terceiro lugar onde aqueles dois aventureiros avistaram sob o céu estrelado o rastro de destruição.
Lá havia cinzas, escombros de madeira e pedra e daquilo que não foi totalmente consumido pelas chamas.
— Caramba.. — Zestas coçou os cabelos da sua cabeça enquanto observava aquele cenário. — Eles fizeram uma grande bagunça mesmo…
Abrindo o seu livro novamente na página onde vinha a região, mais uma vez em meio aos pontinhos de luz, ele não pôde avistar os que representavam seus caçadores da lua. Então franziu o cenho.
— Parece que eles desapareçeram… Nem um rastro deles.
— Mas eu tenho certeza de que estão alugueres naquele favela.
— Já que a magia do senhor Luvru é inútil, só nos resta virar gato e caçar os ratos que roubaram o nosso queijo, não é?
Diante daquela provocação, achou irrelevante revidar, já que já estava acostumado com esse tipo de comportamento vindo daquele caçador de rank S que não conhecia modos.
— Ah, que chato! Você nem revida!
— É possível que o rei dos bandidos tenha conexão com esse ser — emitiu Luvru.
— É, sim.
— Se bem entendi, se encontrarmos o esconderijo do rei dos bandidos, então poderemos encontrar essa tal criatura. Interessante.
Depois disso, aqueles aventureiros colocaram os pés para trabalhar e correram a passos velozes em direção a favela onde supostamente deviam estar os caçadores da lua junto dos arguidos e os civis capturados pela criatura da suposta profecia do charlatão manipulador.
Percorrendo ponto a ponto, as poucas pessoas que encontraram caminhando na calada daquele noite não ofereceram informações tão relevantes, mas afirmavam sim terem visto homens de fardas e que houve um momento em que homens viraram cinzas e desapareceram. O lugar onde ocorrera a festa não oferecia nenhum vestígio deles, mas caminhando, puderam identificar em certos lugares crateras e rachaduras nos edifícios e pavimentos.
Chegando onde havia maior rastro de destruição em que haviam crateras e rachaduras gigantes que revelavam o solo da areia, o lugar onde Oceano havia batalhado contra os bandidos, Zestas se sentou em pose de lótus enquanto o Luvru andava de um lado para outro. Já o Rein observava ambos enquanto preocupação afligia o seu rosto.
— Onde será que eles estão? Esse é o ponto com uma maior concentração de destroços. — Lançou seus olhos para baixo. — Subsolo? Mas eu não sinto nenhum mana…
— Talvez eles tenham colocado uma barreira… — Zestas se deitou enquanto bebia seu álcool. — Uma que omite mana, sei lá.
— Nunca havia ouvido falar disso antes, mas neste momento não podemos descartar tal suposição. Ainda assim, caso isso seja possível, não tem como identificarmos.
— Pelo que aprendi basta que barreiras apresentam um mínimo de dano sequer, elas podem ficar enfraquecidas. Será que isso resultaria com uma que omite mana?
— Boa garoto.
— Só saberemos se eles causarem danos nessa tal barreira — disse Luvru enquanto lançava seus olhos ao céu estrelado, enquanto sua expressão se contorcia em irritação por não poder fazer nada diante daquela situação.
Naquele momento, desejava estar com eles, ou melhor, no lugar deles. Cerrou o punho e então, se sentou ao lado dos demais companheiros enquanto esperavam para ver se algo de peculiar acontecia durante aquele tempo, quando de repente…
— Sinto uma barreira!
Seus sentidos indicaram que havia uma barreira de mana em baixo, o que lhe fazia deduzir que havia acontecido uma espécie de defeito. Deu um sorriso enquanto se levantava na companhia do Rein, o único que permaneceu deitado, já que Zestas agora desfrutava do sétimo sono.
Luvru retirou uma página do seu livro e arremessou contra aquele dorminhoco. O papel se transformou em água e o molhou, fazendo com que se levantasse de assalto e olhasse para de um lado para o outro.
— Oh, Luvru…
— Quero que você destrua o chão mais de duzentos metros de profundidade. Consegue?
— Mesmo se o solo não for duro, você sabe que isso é difícil para mim… Por que não usa a habilidade final do seu livro?
— Idiota, assim eu vou perder todas as magias que juntei… E não sabemos quais habilidades o rei dos bandidos e sua cúpula possuem.
— Essa coisa de vocês não aprenderem magia básica, a confiar nos outros… Ah… — Zestas deu um suspiro e levantou um dos seus braços, cujas veias extrapolaram a pele, concentrando a mana do seu corpo nele.
Assim que cerrou o punho, desferiu contra o solo, abrindo um buraco profundo de aproximadamente cento e tal metros. Zestas logo caiu no chão enquanto abria os braços, morto de cansaço, pois abrir aquela profundidade havia lhe custado quase toda a mana do seu corpo.
— Prova-se mais uma vez a inferioridade da magia básica… — Luvru provocou enquanto elevava o seu livro ao alto, as páginas rolando sem parar enquanto brilhavam intensamente em uma luz dourada.
— Dê um tempo… Eu tentei, ao menos.
— Alguém vai ter que pagar por todas as magias que vou perder.
Luvru cerrou as sobrancelhas enquanto todas as páginas do seu livro haviam desaparecido em brilhantinas douradas, ficando apenas as capas.
A magia do mestre dos aventureiros consistia em armazenar magia nas páginas do seu livro quando impunha a mão na cabeça de quem quer que seja. Cada página apenas podia abrigar um tipo de magia, podendo unicamente ser usada as páginas como forma de ataque. Ao todo, eram 365 páginas e sua usabilidade cumpria quatro condições:
→ Se todas as páginas se esgotassem em ataques, as magias eram zeradas e ele teria que impor a mão para armazenar magias nas páginas novamente.
→Poderia esgotar todas suas páginas e perder suas magias para formar um ataque final que consistia numa página da magia a sua escolha, que sofria um aumento gigantesco de força bélica.
→Após usar a habilidade final, a página que havia sofrido um aumento bélico permanecia.
→ Poderia multiplicar uma magia de uma página nas outras.
Dito isso, Luvru baixou sua mão, fazendo com que um raio do tamanho do livro fosse em direção ao buraco já criado pelo Zestas, abrindo em um instante o acesso a um espaço onde havia casas de pedras. Enquanto o buraco expelia fumaça e o redor parecia ter sido tomado por lava, Luvru deu comando para que os demais avançassem enquanto ele saltava para dentro daquele buraco na companhia do seu livro.
Zestas levantou-se e deu um assobio enquanto observava aquele buracão.
— Sobe aqui, moleque. Se não quiser se despedaçar.
Quando Rein subiu as costas do Zestas, calçando sua não em seu pescoço, o aventureiro rank S deu um salto para aquele buraco, lançando um grito que andou de ouvido em ouvido.
— Aaaaaah! Uhuuuuu!
Enquanto isso, Luvru, envolvido em uma luz dourada, pousou na dimensão que continha uma arena quadrada e pilares ao redor enquanto seus pés formavam uma ligeira cratera, resultado de uma tentativa de abafar o impacto. Ele lançou seus olhos naquele homem de máscara com um capuz rubro.
— Finalmente nos encontramos.
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