Capítulo 121: Mais Traidores
Um encontro como o do rico que cruza com um ladrão na sua casa estava acontecendo naquele momento. O rei e sua família real encaravam aquelas visitas inesperadas, algumas das caras conhecidas, mas naquele momento aparentemente taxadas como intrusos.
— Mas o que vem a ser isso?
A voz imponente do rei andou de ouvido em ouvido. O bobo que sempre lhe foi fonte de risada agora mais era um palhaço sem graça.
No entanto, mesmo em face àquela situação, Alecrim, na posse do Xavier enfaixado e irreconhecível sobre os seus ombros, não vacilou o seu sorriso de bobo.
— É que essas pessoas estavam indo ter com o rei para lhe fornecer informações valiosas sobre Meredith e o charlatão manipulador.
— Ah, é mesmo?
— Sim.
— Mentiroso.
A palavra do rei embarcou pelo vento, afiada como uma espada, adentrou aos ouvidos do bobo e dos seus acompanhantes, que se sentiram confrontados e colocados contra a parede.
— Eu não esperava que vossa majestade fosse acreditar mesmo. Eh-hehe, era apenas um teste.
— Maldito, como ousa?
O príncipe herdeiro avançou um pé a frente, colocando a mão na espada encaixada na bainha presa ao cinto largo na sua cintura, que fazia parte da sua armadura platina. Seus olhos carmesim iguais aos da sua mãe pareciam gritar a sangue diante da cara boba que o bobo fazia após mencionar que seu pai estava em teste.
Rainha, por sua vez, dona de lisos cabelos castanhos com franja na testa igual a sua filha Alexandra, cobria parte do seu rosto com um leque tingido por rosas vermelhas, mantinha a compostura de uma dama. Seu vestido vermelho como escarlate era mais uma peça que combinava com sua natureza e exaltava a sua imponência como rainha.
Mas sua calmia não se resumia a isso.
É que ela já estava acostumada às brincadeiras do bobo, simpatizava consigo, desde que lhe fizesse rir, mas o que de fato estava por detrás da sua reação ao que era visto como afronta pelo príncipe e pelo rei, era porque seu amor por rei há muito havia se esfriado.
Já para a Istar, que vestia a mesma moda que sua mãe, aquilo lhe rendeu um sorriso discreto. Seu pai merecia. Ele tratava ela como se não fosse filha dela, então merecia. Na verdade, depois dos últimos eventos com sua irmã, ela estava pouco se lixando para sua família.
Esticando o braço como forma de impedir seu filho de agir por impulso, o rei, em seu pleno traje formal renascentista, que carregava consigo seu manto carmesim característico, emitiu.
— Por que ajudou aquele desgraçado?
— Foi tudo pelas Charadas. O senhor sabe muito bem que esse é o meu critério de julgamento, que em muitas vezes já salvou o reino!
Muitas vezes não. Algumas vezes, por pura sorte, suas charadas conseguiram interceptar falsos aliados que queriam ver o reino de Hengracia destruído, assim como outras vezes, causou mal entendidos.
O que levou o rei a determinar que tal forma de julgamento não fosse levada em conta. Ao invés disso, o grande inimigo de Alecrim, emergiu triunfante como o juíz que determinava acertadamente o que era mentira e verdade através do seu poder.
Zik, o juíz, que jamais falhou, com exceção do manipulador charlatão que transcendeu sua esfera.
— Charadas não estão acima da lei.
— É por isso que nunca vamos nos entender, vossa majestade. Mesmo agora, minha charada superou o vosso julgamento contra aquele que consideram um manipulador.
— Entendi, você também foi manipulado.
— A destruição chegará a Hengracia por sua negligência em não aceitar o que um amante de charadas disse e você, meu rei, certamente se arrependerá por não ter dado ouvido a tais palavras.
— Está dizendo que eu, o grande soberano de Hengracia, irá se arrepender?
— Estou.
— Maldito traidor! — O príncipe tirou a espada da sua bainha, apontando para o homem mais próximo da família real. A verdade sobre este jovem era que sua natureza era tão fria quanto a da mãe. Embora tenha nascido como um bebê de luz, seu caráter parecia ter vindo das trevas.
Odiava qualquer um que não respeitasse a realeza com a devida obediência e não gostava nada de piadas e palhaçadas, razão pela qual ele e o Alecrim pareciam água e eletricidade.
— Todos esses anos você tem sido um bom servo, Alecrim, trazendo alegria a mim nos momentos de tédio, além de ser um guarda real muito forte, no entanto, agora, eu vejo você como um cão que cuspiu no prato em que comeu.
— Em que errei, se faz favor?
— Matar você seria um desperdício, mas se resistir não terei outra escolha se não te sacrificar. Afinal de contas, uma fruta apodrecida tem o poder de contaminar outras.
— Assim como uma água limpa tem o poder de descontaminar as outras — disse senhor Alexodoro, se intrometendo na conversa.
— Você, sua cara me é familiar.
Ah, lembrei, é o mestre do meu irmão, Alexodoro.
Quando o rei disse isso, rainha contorceu seus traços, não pelo fato daquele homem ser o mestre do irmão do rei, mas sim por uma lembrança daquele que um dia desejou vir a sua mente.
— Vejo que vossa majestade ainda possui uma boa memória.
— Por consideração ao meu irmão, estou disposto a te deixar viver e a todos se se entregarem e aceitarem serem libertos.
— Com liberdade, o senhor diz sofremos a mesma lavagem cerebral que o senhor e o Xavier?
— Você passou dos limites. Basta.
— A princesa Alexandra é a fonte dessa maldição, precisamos dela. Onde ela está?
— O que? Tá dizendo que minha família foi amaldiçoada pela minha irmã?
Istar disse isso com um grande entusiasmo. Para ela, a ideia de sua amada irmã ter amaldiçoado sua família fazia sentido para toda a exclusão e apatia que ela recebia por parte da sua família. Um sorriso perceptível brotou dos seus olhos lábios e os seus olhos transpareciam o brilho de estrelinhas.
— Isso foi o cúmulo! Pai, permissão para matar!
— Faça.
Assim que seu pai levantou a mão, o príncipe avançou com a espada que foi contida por uma barreira de terra. No entanto, quando ela tomou o brilho que caracterizava a magia de luz, crateras e rachaduras romperam a pedra e a destruíram em estilhaços.
— Mas que surpresa.
Seus olhos se encontram entre os estilhaços.
— Teias luminosas!
Um ataque que cobria todo o campo de visão de Alecrim e dos que estavam atrás havia se desferido através da movimentação rápida e precisa feita por aquela espada. No entanto, uma muralha mais dura que a barreira se estabeleceu e impediu que o ataque prosseguisse.
— Sua luz é fraca.
Ainda assim, o custo foi ter sua barreira novamente reduzida a pequenas pedras.
O príncipe herdeiro estalou a língua. O rei que até então permanecia parado, elevou os seus braços e convocou uma argola de raio por cima de seus inimigos ao mesmo tempo que sua rainha lhe fornecia apoio, convocando espelhos de cristais ao redor.
Um ataque em família havia se formado. Eficaz e dilacerante, nem mesmo o Alecrim com sua força poderia impedir que não houvesse feridos da sua parte. Sua ação foi rápida, como esperado do segundo homem mais forte do reino.
— Chega de brincadeira.
Seus pés já assentes no chão deram origem a uma areia movediça. O chão prateado que havia custado uma montanha de ouro havia sido reduzido a uma areia, que estava engolindo eles.
Naturalmente, seus ataques foram desfeitos por falta de controle. Agora estavam sendo engolidos por aquela areia e seu clamor era direcionado aos guardas que acorreram a eles imediatamente.
Mas chegando ali no princípio do corredor, confusão tomou conta das suas mentes e antes que pudessem vir em socorro da família, uma barreira de terra cresceu aos seus olhos, impedindo sua passagem para o outro lado.
— Alecrim, seu maldito!
— Seu palhaço!
— Meu nome. Hehehe. — Ele deu uma pequena risada, o que levantou os nervos mesmo de quem gostava dele, a rainha. Agora o estava xingando de toda espécie de nomes possíveis, que não faziam jus aos lábios da realeza.
Tal ato foi veementemente condenado por seu filho, que prezava pelos bons modos, mas a rainha estava pouco se lixando para ele, tanto que passou a insultá-lo também.
— Mamãe, você…
Era como se o príncipe quisesse chorar. Mas ao contrário daqueles três que ardiam em fúria, Istar, no ápice de toda a humilhação já vivenciada, apenas ria daquele momento ao estilo que Alecrim gostava.
— Princesa, você parece a única boa aqui. Venha comigo. — Gesticulando sua mão, uma mão agarrou Istar da areia que lhe degolava lentamente e a trouxesse a terra firme, ou melhor, ao espaço prateado que não havia sido consumido.
— Muito obrigada. Mas não mate minha família…
Sua voz saiu miúda, com olhos tristes a sua família. Mesmo que a tratassem mal, ainda era sua família. Isso pareceu um pouco contrário para ela quando anteriormente havia tentado matar sua irmã. Mas assim era a humanidade, contraditória e com o coração corrompido, o qual produzia água amarga e doce.
— Não se preocupe. — Alecrim estalou o dedo, fazendo a areia voltar ao estado normal, ao chão pavimento de mármore, mas com um diferencial. O rei, a rainha e o príncipe estavam presos neles.
Kamila e sua prima ficaram tristes e pasmadas com o nível que a situação havia chegado, enquanto o senhor Alexodoro assumia uma expressão que parecia compreender que não havia outra solução caso eles quisessem escapar com vida.
— Alecrim.
Quando o senhor Alexodoro chamou ele, a muralha se partiu aos pedaços, revelando milhares de soldados que empunhavam suas espadas.
— Soldados, o rei está em perigo, ataquem! Temos um traidorrr!
Dada a ordem do vice capitão, Eveldgar, rank S como o Xavier, os soldados colocaram seus passos para o ataque enquanto os demais iam socorrer o rei e sua família.
Alecrim estalou o dedo novamente, fazendo três paredes surgirem como obstáculo para aqueles soldados.
— Vamos correr!
Assim, colocaram seus pés para trabalhar e ninguém ali podia dizer que Istar fora capturada, pois ela também estava correndo pela força dos seus próprios pés.
Pelos vastos corredores do castelo, como traidores do reino, como novos rostos de cartazes, como novas cabeças procuradas vivas ou mortas pelo governo do reino de Hengracia.
Isso era a revolução.
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