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    Depois de passar dois dias em casa da Frida, comendo do bom e do melhor graças — muita carne e muito vinho, sem álcool, para a alegria da Theresa e para a desilusão da Meredith, enfim deixamos a casa dela com um novo toque visual um tanto quanto divertido.

    Como Frida e seu irmão outrora trabalharam em um círculo, fazendo uso de seus poderes muito conveniente para o público alvo, então eles aprenderam a arte de maquiagem com os seus companheiros, aliado as fantasias que traziam consigo.

    Meredith estava vestida como uma médica e seu cabelo ruivo havia ganhado uma nova cor. Agora era azul como de Theresa. Na verdade, estava como de Theresa. Na verdade, ela era a cópia exata da Theresa, mas com um um corpo mais avantajado.

    A definição perfeita de como uma médica deveria ser.

    Os óculos como complemento realçavam seus olhos azuis como o mar.

    Agora Theresa vestia as roupas de uma amazona, destruindo toda uma história de mulheres voluptuosas e cheias de massa muscular, reduzindo tudo isso a uma massa esquelética.

    Quando eu falei que ela estava agredindo o conceito de uma amazona, levei um tampa e uma seringada que passou por cima do meu cabelo. Dei um suspiro. Havia sido por pouco. Se sua pontaria fosse perfeita como da Frida, com certeza estaria usando um tapa olho bem estiloso como dos piratas.

    Agora Zernen e eu estávamos vestidos como um bobo da corte, ao estilo Alecrim. Uma roupa xadrez e uma cara pintada a branca e a vermelho, que provocava risadas naquela gente.

    O único, o invejável que não estava fantasiado era o Rein, que não precisava se esconder das autoridades. Seu incremento se resumiu a um chapéu de palha que Frida havia lhe colocado na cabeça.

    — Adeus e boa sorte!

    Assim Frida acenava ao lado da sua mãe e do seu irmão com sorrisos acolhedores. Ao passo que devolviamos na mesma intensidade enquanto andávamos para um lugar escondido em que o Rein pudesse nos teleportar dois por dois.

    Becos não faltaram para isso.

    — Pronto. As damas vem primeiro, correto?

    Meredith e Theresa assentiram e então pegaram o ombro do Rein, dando um leve aceno.

    — Ouvi dizer que há uma lenda por aqui que fala sobre a mulher dos becos que anda como uma vassoura. Uma vez que você é varrido nos pés, jamais poderá se casar!

    Theresa não podia simplesmente ir embora sem deixar o medo pairando nesse beco tenebroso?

    Antes que eu pudesse dizer algo, ela desapareceu com o seu último sorriso travesso.

    Agora estávamos eu e o Zernen, aguardando o retorno do Rein que já estava demorando.

    — Ei, aquilo que a Theresa falou é verdade?

    — É claro que não, Zernen! É sério que você acreditou naquilo?!

    Quando eu falei isso, um arrepio percorreu o meu corpo ao ouvir um som de vassoura varrendo que se tornava mais intenso conforme o tempo passasse. Nossos olhos foram de encontro ao princípio do beco. Não tardou até que aparecesse a dona daqueles barulhos tenebrosos.

    Uma encapuzada com o tecido gasto, que varia e varia. Poeira para aqui, poeira para lá.

    — Você disse que não é verdade, mas…

    — É normal … — Não, não era normal. Eu estava tremendo. — Afinal, é de manhã. Então é normal as pessoas varrerem.

    — Tem certeza? Eu quero me casar!

    — Eu também! Mas espera, com quem você quer se casar?

    Suas bochechas coraram e ele virou para o outro lado, respondendo com uma voz miúda e um beicinho formado.

    — Não interessa.

    — Ui…

    Mas deixando isso de lado, virei logo para aquele ser humano que não parecia falar e nem reagir ao que falávamos, o que dava mais credibilidade à lenda da Theresa.

    Mas por que a gente estava com medo mesmo?

    Aqui estava um homem que podia mandar qualquer ser que fosse pelos ares com sua explosão.

    Ao mesmo tempo, preparei minha esfera amarelada e gritei para que não se aproximasse.

    Mas a mulher parecia não ouvir nossas vozes.

    Até que chegou uma mulher jovem, donas de madeixas negras, olhos como carvão e um vestidinho escarlate egípcio meio desgastado e rasgado, despido de qualquer adorno reluzente, mas o que mais me chamou atenção foi a sua cara familiar.

    Ah! Estalei os dedos, após colocar a mão no queixo e pensar um pouco. Era aquela mulher que eu havia dançado naquela noite sombria e havia chamado seu tio grandão ou quer que seja para me bater após fazer falsas acusações contra minha humilde pessoa.

    — Aí está você…

    — Ei, você!

    — Desculpa o incómodo, essa minha irmã… — Segurou o ombro dela, seus olhos viraram e ela emitiu pequenos sons. — É que ela é surda, não vê e não ouve.

    Pensei em dar o troco por aquele dia, mas perdi as forças quando ouvi isso.

    E Theresa já havia ido embora.

    Será que ela seria capaz de resolver isso?

    — Então ela não é a mulher de vassoura, né, Jarves?

    — Não, Zernen. Você não ouviu a moça?

    —Bom, já estamos nos retirando.

    — Escuta, quer ajuda?

    Aqui estávamos com o baú do tesouro do Zernen, então acho que ele não se importaria se eu tirasse algumas moedas para pelo menos ajudar de algumas forma essas pobres moças, já que suas vestes não eram muita coisa também.

    Lembravam o primeiro dia em que vim a este mundo como um mendigo.

    — Agradeceria bastante!

    Seus olhos brilharam como diamantes.

    Então ela se aproximou com sua irmã.

    — Depois você vai ter que me pagar.

    Zernen tinha não tinha bom senso. Realmente o amor se esfriou.

    — Tá bom! Tá bom!

    Quando ele se agachou para abrir seu baú, um perfume tomou conta do ar. Tapar o nariz não adiantou de nada. Comecei a me sentir tão tonto, ao ponto de perder o equilíbrio e o que vi com os entreabertos foi uma gargalhada vindo daquelas duas.

    Malditas….

    Mas é como diz o ditado. Quem ri por último ri melhor. Meus olhos enfim se fecharam.

    — Jarves!

    Um tempo depois, quando acordei ao som das palmadas que Zernen dava nas minhas bochechas encontrei aquelas duas presas por uma corda muito forte, muito provavelmente trazida pelo Rein que estava ao lado delas.

    — Caramba, já acabou?

    Nem tinha o que perguntar, suas caras estavam cheias de arranhões e seus cabelos bagunçados como se tivessem tomado um choque elétrico.

    — Pois, é. Mas uma delas acabou me varrendo, droga. Será que vou me casar?

    — Claro que sim, isso é apenas superstição — disse Rein. — Eu mesmo já fui varrido e… Espera? Eu ainda não casei?

    — Mas que droga!

    Zernen cerrou os punhos e avançou em direção às moças que mantinham a cabeça encurvada.

    — Desfaçam o feitiço agora mesmo!!! Ou se não…. — Uma esfera surgiu na sua mão. — Eu não respondo por mim!

    — Nós não sabemos de nada! Não lançamos nenhum feitiço! Por favor, nos deixem em paz!

    Dito desse jeito, parecia que a gente havia sequestrado elas.

    Não faltou muito e elas começaram a gritar por socorro.

    Dei um tapa na cara das duas, quebrando o paradigma da minha mãe.

    — Aí, silêncio.

    Fiz um olhar sombrio em específico para aquela mulher daquele dia.

    — Você e eu já nos conhecemos, pois não?

    — Do que você está falando, maldito abusador?!

    — Naquela noite quando a gente dançou, lembra?

    Seus olhos se abriram quando eu me agachei e limpei a maquiagem feita pela Frida.

    — Ah, então é você… Como conseguiu sobreviver ao Gar?

    — Gar? Hahahahaha! Ainda não soube? Ele já está preso.

    — Mas o que? Ele não era o braço direito do rei dos bandidos?

    — Essa aí a gente mandou para passear.

    — Jarves, não temos tempo — disse Rein e eu assenti, me levantando.

    — Tudo bem, já tiveram o que mereceram mesmo.

    — Não, eu ainda quero que me livrem dessa maldição!

    — Aí, Zernen, não tem maldição nenhuma. Tem? — Olhei para elas com um olhar assassino e elas balançaram a cabeça freneticamente.

    — É só superstição!

    — Caso eu não case, virei para explodir vossa vida!

    Zernen ameaçou, literalmente.

    Peguei o ombro do Rein. Zernen pegou a perna dele enquanto abraçava seu baú com a mão direita.

    — Antes, fiquem com essa palavra profética. Deixem essa vida e arrependam-se dos seus pecados, pois o fim está próximo.

    Dito isso, sumimos daquele beco num abrir e piscar de olhos.

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