Índice de Capítulo

    Quando chegamos no bosque em um piscar de olhos, não encontrámos aquelas duas mocinhas em lugar algum não importava o quanto os nossos olhos vagueassem de um lado para o outro.

    — Mas eu havia deixado elas aqui… — disse Rein.

    — Será que elas foram sequestradas? — questionou Zernen a pergunta que eu mais temia, mas quando penso no termo sequestrada e imagino Meredith com uma espada e Theresa com sua mente genial para contornar uma situação o fato delas terem sido sequestradas se torna descartável.

    — Acho que devem ter se cansado de esperar e…

    Nem completei a frase, isso também era descartável , dado que aquelas duas tinham a paciência de uma montanha que não se movia mesmo sob o sol intenso. Ok, essa comparação não fazia sentido, mas ficou o exemplo do quão paciência elas seriam nessa circunstâncias, a não ser que…

    — Elas tenham sido atacadas.

    Essa afirmação caiu por terra quando o cenário estava aparentemente calmo, sem rastros de resistência. Teriam ao menos uma e outra árvore destruída. A não ser que…

    — Elas tenham sido envenenadas e levadas inconsciente.

    — Tem isso aí também — disse Zernen, batendo o punho na palma da mão. — Mas, independentemente de tudo, acharemos os responsáveis por isso e explodiremos as caras deles!

    — Pronto, encontrei.

    — Como assim?

    Rein já estava me assustando. Não havíamos nos movido sequer um centímetro e ele já havia encontrado elas.

    — É meio que minha habilidade extra, identificar a mana de quem eu já tenha teletransportado desde que esteja no meu campo de alcance.

    — Ooooh, mas isso é incrível!

    — Mas isso não é grande coisa, eu também consigo…

    — Então por que não encontrou elas, sabichão?

    — Porque não estão no meu alcance.

    — Eh, sei, sei.

    Embora estivesse brincando, lembrei que era mesmo possível fazer isso para usuários de magia mais fortes e dominadores de magia básica. Agora que penso, Zernen foi capaz de fazer isso no castelo quando sentiu a presença daqueles homens mais fortes, o Alecrim e o Xavier.

    Mas evitei mencionar isso para não lembrá-lo do seu avô.

    — Então, onde eles estão?

    — Em um circo.

    — Circo?

    — Sim.

    — Mas o que raios Meredith está fazendo em um circo?

    — Para quê pergunta se podemos tirar satisfação nós mesmo?! — Zernen disse isso e saiu correndo como um idiota que era.

    — Seu burro, você nem sabe onde fica o circo.

    — É claro que eu sei, eu já passei por essa cidade com o meu avô.

    — Eh…

    Certo, perdi no argumento.

    Então sai correndo. Rein veio logo atrás. A cidade que nos foi revelada depois que saiu do bosque era conhecida como Nova Sola. Uma cidade cujas as casas e os demais edifícios possuíam um formato de um sapato. Esse passou a ser o padrão da construção em homenagem aos sapateiros que lograram sucesso ao fazer um sapato altamente resistente e auxiliadores de velocidade na guerra que Hengracia travou contra Zelvag, eterno rival deste reino.

    Essa cidade também era conhecida como a mãe dos sapatos, conhecida por ter os melhores sapatos de Hengracia. Sapato era o principal negócio. O slogan daqui era “o nosso maior lucro é o seu pé ” denotando que venda de sapatos era o pilar da economia desta cidade.

    A moda dos sapatos ficou tão viciante nessa cidade que começaram a ser criadas acessórios extras em forma de sapato. Isso ficou estranho. Mas como a sempre quem comprava esse negócio não faliu.

    Inclusive ali havia uma banca de venda de colares de sapato. Outra tinha bolinho de sapatos e tinham os que destacavam frutas em formatos de sapatos.

    Se existia uma cidade nesse mundo que amava sua cultura sapateira mais do que essa, eu desconhecia.

    Mas enfim, compramos com algumas moedas do baú do Zernen alguns acessórios de sapatos para nos familiarizarmos com essa cidade e não sermos facilmente descobertos.

    Zernen disse que eu estava em dívida com ele. Não fiz mais nada que suspirar. Reclamar no meio da cidade apenas iria chamar atenção.

    — Volte sempre!

    A vendedora acenou para a gente. Eu havia levado um chapéu de sapato e uma máscara, já que ela havia dito que a minha cara parecia com a do moço do cartaz que ela havia mostrado.

    Peguei o espelho incrédulo e lembrei que eu havia removido a maquiagem que Frida havia feito em mim. Ainda bem que aquela vendedora apenas estava pensando em dinheiro, mas aquela cara de um sorriso malicioso me incomodou um pouco.

    Enfim, nos dirigimos para o circo, uma tenda feita no formato de sapato nas variações de cor vermelha e branca.

    Quando pretendíamos entrar ali dentro, o segurança alto e forte que lembrava o homem da guilda da cidade de Garcia, nos exigiu dinheiro para o espectáculo que estava rolando ali dentro.

    — Zernen….

    — Agora a dívida é de 1000 moedas de ouro.

    — Não exagera.

    Agora que notei que abrir o baú em frente a pessoa tem chamado muita atenção, os olhos dessas pessoas têm brilho como estrelinhas. O da vendedora foi assim também. Quando ele nos deixou entrar, alertei que não devíamos mais abrir aquele baú em frente das pessoas. Na verdade, se encontrássemos uma maneira de escondê-lo seria melhor.

    O espaço estava repleto de pessoas sentadas em suas respectivas cadeiras e um dos astros do show era Theresa e Meredith ao lado de palhaços. Meredith estava encarregada de fazer saltos sobre humanos, bem como movimentos que partiriam sem dificuldade os meus ossos. Ela dobrava o seu corpo com a suavidade de uma pena e saltava para ali e para cá como uma trapezista.

    Mas ela não estava sozinha, formava par com um homem de cabelos vermelhos, cara elegante e um quimono como roupa. Ambos se entregavam um nos braços dos outros, o que de certa forma me deixava incomodado.

    Ninguém além do herói poderia tocar na minha heroína. Quem tocar, morre, assim como aconteceu com o Faisal.

    Espera. Espera. Isso significa que eu também tenho que morrer?

    Ah, não. Melhor esquecer isso por agora.

    Agora Theresa fazia alguns truques como fazer desaparecer flores e plantas, bem como fazer elas crescerem lindamente e com um cheiro agradável de sentir. Todo mundo estava sorrindo e ao final de tudo, palmas soaram, as luzes se desligaram e uma surgiu, focando no grupo que encurvou a cabeça e colocou a mão contra o peito, agradecendo por terem assistido a apresentação.

    Depois disso cada um começou a se retirar, menos nós, nós prosseguimos para frente para tirar satisfação com aquelas duas que pareciam estar se divertindo enquanto a gente estava correndo contra o tempo para chegar rapidamente ao norte de Hengracia.

    Quando chegamos perto, elas nem pareciam reagir à nossa presença. Era como se não existíssemos. Iam pegando algumas bolas do circo para se retirar.

    — Senhores, o que desejam aqui? O espetáculo só continua amanhã.

    Apareceu um senhor gordinho e bigodudo, coberto de joias no pescoço e trajado de roupas bem elegantes.

    — É que a gente quer falar com aquelas duas moças.

    — Oh, as minhas trabalhadoras? Sei que podem ter se apaixonado por elas,mas sinto muito elas não tem tempo para romance.

    — Trabalhoras? Como assim?Ei, Meredith e Theresa!?

    Quando elas viraram, seus olhos pareciam ter perdido a vida de tão vazios que estavam.

    Veias extrapolaram a minha testa.

    — Maldito,o que….

    Antes que eu terminasse minha frase, o soco do Zernen invadiu o rosto daquele homem e o arremessou para o canto da parede daquele palanque.

    — Desfaça o feitiço agora!

    O homem se levantou. Seu segurança não ficou quieto e veio verificar o que estava acontecendo.

    — Parece que temos desordeiros por aqui.

    — Cultios, ainda bem que chegou. Acabe logo com estes!

    — Pode deixar, chefe!

    Ele ficou tão grande que varreu as cadeiras e destruiu algumas no processo. Sua altura alcançava o cume daquele circo. Seu grande pé se levantou para nos pisar, mas antes que isso fosse possível, Rein o teletransportou dali, deixando o seu patrão abismado.

    — TSE, seus malditos! Olhe para aqui!

    Seus olhos ficaram violetas como o da serva do Faisal.

    Então essa era a magia da hipnose.

    Não faz sentido Meredith se dispor a fazer algo tão ridículo como atuar em um círculo. Só que contra ele isso…

    — Isso, seu miserável, agora você é o meu servo. Obedecerá a tudo que eu digo!

    — Sim, senhor!

    — Heheheh hahahaha muhahaha! Agora acabe com ele!

    Apontou o dedo contra mim.

    Bom, depois contra o Rein que havia acabado de voltar.

    — E então onde deixou ele?

    — Deixei ele naquele beco em Ahrmanica.

    — Caramba, coitado dele… Mas mais azarado do que ele é aquele velho que pensa ter hipnotizado o Zernen.

    Quando falei aquilo quase fui atingido por um soco, não fosse minha reação super rápida.

    — Vamos brincar?

    Seu sorriso se alargou como o de uma fera se divertindo com sua presa.

    — Espera? Eh?

    — Hahahahaha! Agora tomem, seus idiotas!

    — Ae, Zernen, já chega. Não é hora de gastar mana com isso. Você sabe muito bem que eu não tenho mana. Então acabe logo com aquele velho.

    — Tse! — Ele desviou os olhos, e virou, olhando para aquele senhor totalmente abismado por um certo alguém ter saído do seu controle mental. Bem, não que ele tivesse entrado alguma vez. — Tudo bem, velhote, chega de brincadeira!

    — Maldito!

    — Vocês! — Seus olhos encontraram Meredith, Theresa e aquele outro estranho. Essa não, se ele desse o comando para que Meredith lutasse entraríamos no combate de vida ou morte no nível em que ela se encontra. E também não sabemos qual magia aquele homem tem.

    — Zernen, rápido!

    — Soco invisível!

    — Rápido, sejam meus escudos!

    Tarde demais, eles se reuniram ao redor dele. Meredith defendeu o ataque com sua espada. No entanto, aquilo deu tempo para que Rein, fazendo jus a sua postura como caçador da lua, teleportasse Meredith e aquele homem para bem longe dali.

    Voltou logo em seguida com ambos.

    — Ei, serva, está de volta…

    — Quem é sua serva?

    — Quem é o seu servo?

    Ambos apontaram um bastão de madeira contra o seu pescoço.

    — Parece que sua magia é cortada numa determinada distância…

    — Seus, serva que ainda está sob o meu controle, acabe com eles.

    Theresa era tão fraca que quando tentou dar um soco, tropeçou e caiu.

    — Tse, inútil…

    — Não chame minha amiga de inútil!

    Ambos bateram nele que saiu voando contra uma das paredes. Depois que ele ficou inconsciente, Theresa voltou ao seu estado normal, virando a cabeça de um lado para outro.

    — O que? Hein? Onde? Como?

    — Agora você sente a sensação de ser hipnotizada, não é?

    Dei um sorriso, mas o problema que parecia ter acabado apenas havia começado. Uma frota de dez soldados acompanhados por aquela vendedora de acessórios de sapatos havia invadido aquele recinto com suas espadas apontadas para nós.

    — Ficamos sabendo que é aqui onde se encontram o charlatão manipulador e os seus aliados. Sendo assim, por favor, se entreguem.

    Havíamos sido vendidos.

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