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    Bem que aquele sorriso malicioso era estranho, afinal ela não era apenas vendedora de sapatos, mas vendia pessoas. Aquela traidora… Cerrei os punhos enquanto via ela recebendo o dinheiro por tamanha traição.

    — Saiba que o último homem que cometeu isso não se deu bem, ouviu?

    — Ei, devolve o nosso dinheiro, sua traidora!

    — Eu fiz apenas o meu papel como cidadã, alertar aos soldados sobre criminosos foragidos da justiça.

    — Então nesse caso você também é criminosa por ter aceitado dinheiro de um criminoso?

    — Negócio é negócio. O dinheiro não tem culpa de nada.

    Os soldados olharam para ela com um semblante de aversão.

    — É claro, estou brincando. Eu não recebi nenhum dinheiro destes jovens de modo algum.

    — Tudo bem, se é assim — respondeu o um dos soldados. Este tinha o cabelo castanho na régua e possuia olhos negros profundos. Parecia ser o chefe dado o seu modo imperativo de falar em contraste aos demais.

    — Além de traidora, é mentirosa!

    — Bem, vou me retirando.

    — Espere, você precisa depor depois.

    — Ah, sim. Com certeza.

    E agora? Havíamos sido descobertos justo quando o senhor mestre dos aventureiros desviou a atenção dos aventureiros para que a gente tivesse caminho livre.

    — Não há ninguém aqui que atenda por isso. Esse circo é meu. Se quiserem prender alguém, prendam aquele homem que nos hipnotizou e nos convenceu a força a fazer suas vontades, bem como ganhar dinheiro às nossas custas.

    Aí sim homem do quimono. Nem acredito que gordinho ali havia feito o dono do circo trabalhar para ele. Haja vergonha na cara.

    — Bom, não tem como provar isso. Por isso todos vocês tende vir connosco para a esquadra mais próxima para tirarmos isso a limpo. Por sorte, temos o artefato que detecta a verdade conosco.

    Não bastava zick, tinha que ter um artefato.

    — Só que ele funciona um dia por pessoa, então vocês terão que esperar uma semana para podermos acabar os questionamentos.

    — Uma semana é muito. Não dá.

    — Então teremos que os levar à força.

    — Tentem se puder.

    Quando eu lancei essa afronta, um deles emitiu.

    — Magia de fumaça, cortina de fumaça!

    Então o espaço começou a ser tomado por uma fumaça tóxica que nos fazia tossir. Mas isso não era nada diante das nossas magias. Antes mesmo que Zernen explodisse com tudo, Meredith ativou sua magia…

    — Turbilhões de cortes!

    Ela desfez aquela fumaça, que acabou por sair dos buracos que seus cortes haviam gerado.

    — Magia de madeira, prisão de madeira!

    Essa era a magia do dono de circo que transformou aquelas cadeiras em pequenas prisões do tipo jaulas para aqueles soldados, que se libertaram após fatiarem a madeira com suas espadas afiadas.

    — Chega de brincadeira. Aprimoramento!

    Aqueles sapatos pareciam ter absorvido uma grande quantidade de mana quando eles disseram isso. Então numa velocidade que os meus olhos mal conseguiam acompanhar, eles chegaram a cada um de nós, liberando suas magias.

    O que estava perto de mim liberou magia de corda, que saiu da palma da sua mão, me aprisionando antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.

    — Já terminamos aqui.

    Acabei caindo sobre o chão. Mas para o azar deles, o mesmo não aconteceria com os demais. Mas o que eu mais temia era o Zernen, que poderia liberar sua explosão. Seu corpo começou a brilhar, cegando a visão de todo mundo.

    — Zernen, você não vai fazer isso….

    Ele estava pretendendo nos matar?

    Para o nosso alívio, ele terminou no clarão mesmo, pois, de olhos fechados, Meredith aproveitou para fatiar cada um deles com cortes nas pernas para que não pudessem mais se locomover. Eu apenas percebi isso quando ela havia guardado a espada na bainha da sua cintura.

    — Vocês são uma vergonha para Hengracia. Conseguir lutar sem os seus sentidos é o básico.

    Dizia a genia. Enfim, Meredith não deveria ver isso como vergonha, mas como sorte, visto que graças a isso esses soldados não conseguiam mais andar para lutar. Alguns até tentaram conjurar suas magias, mas tiveram suas mãos e pés aprisionados pela magia de madeira do dono do circo.

    — Isso não vai ficar assim! Não pense que sairão ilesos! — disse um soldado se contorcendo enquanto os demais o acompanhavam com os mesmos comentários.

    — Nós podemos mandá-los para o outro mundo, sabia?

    Quando Meredith disse aquilo enquanto apontava sua espada para eles, eles ficaram temerosos e selaram imediatamente suas bocas.

    Enquanto isso, uma certa traidora estava prestes a sair escondida.

    — Para onde você pensa que vai? — eu disse enquanto o dono do circo agia como se tivesse lido os meus pensamentos. Sua eficiente magia de madeira aprisionou a senhora em uma jaula antes que ela pudesse dar mais um pé para fora.

    Ela caiu de joelhos, cobrindo o seu rosto com as mãos enquanto implorava: — Misericórdia manipulador charlatão!

    — Dá para não me chamar assim!

    — Desculpa, se isso for poupar a minha vida… — Ela segurou as grades com rios de lágrimas transbordando seu rosto. — Eu te chamo do que quiser, rei, mestre! O que quiser!

    Me limitei apenas a dar um suspiro, ignorando aquela senhora. Não era como se a gente fosse fazer jus ao que éramos acusados falsamente.

    Mas deixá-la sofrer por pensar isso era um bom castigo.

    — O que vocês irão fazer connosco? — perguntou um dos soldados, ainda agonizando de dor pelo sangue que vertia das suas pernas. Pensando bem, era melhor tratar daquilo o mais rápido possível antes que aqueles soldados se tornassem realmente nossas vítimas.

    Theresa agiu prontamente e selou as feridas deles com sua brilhante magia de cura.

    — Por que? — perguntou o homem da voz imperativa, espantado com o nosso lado bom samaritano.

    — Nós não somos assassinos — disse Meredith, logo olhando para mim. — Este homem não é um charlatão manipulador! Ele, na verdade, é uma benção enviada pelos céus para salvar Hengracia!

    — Como pôde? Ele profetizou a destruição de Hengracia, além de ter sido cúmplice no assissanato do noivo da princesa Meredith.

    — Pois eu digo que este homem não teve nada a ver com isso. Ele apenas me guiou pelos caminhos da verdade.

    — Princesa Meredith… Você é a princesa Meredith? Eu não consigo compreender o porquê de estar fazendo isso contra o próprio reino.

    — Basta. Eu já disse tudo o que tinha de ser dito e se isso não foi o suficiente, então tudo o que posso fazer é provar para vocês também.

    — A princesa parece falar com tanta confiança…

    — Por que não acreditamos nela? Sempre serviu ao reino…

    — Eu não acho que ela abriria mão da regalia que tem para se juntar a um grupo fugitivo!

    — É por isso que eu acho que ela foi manipulada, com esses poderes maquiavélicos!

    Esse cara tinha de ser parente do Xavier, não é possível…

    — Ei, ei, eu não tenho esses poderes…

    — Se me permitem, vocês é burro — disse Theresa para este soldado que de bom só tinha a voz imperativa e eu super concordei. — Manipulações trazem vantagens… Qual é a vantagem de ser um fugitivo perseguido por todo o reino, hã? Cá para mim, se ele quisesse manipular alguém para viver uma vida em paz, era só manipular um simples nobre com um bom dinheiro, obrigar ele a assinar um acordo de uma renda mensal e viver uma vida em paz…

    Theresa literalmente havia descrito a minha ideia inicial.

    Aquelas palavras foram tão profundas, que era como se fosse uma estaca atravessando o meu peito.

    — Mas não, este homem escolheu mostrar a verdade à realeza para que pudesse se preparar!

    — Se é assim, por que é que fugiu do julgamento do Zik?

    — Porque queriam nos eliminar antes do tempo — eu disse.

    — Verdade. Verdade. A princesa lá até me envenenou — disse Zernen, uma testemunha viva e ilesa das ações macabras de Istar.

    — Nesse caso, se tudo o que diz é verdade, permita-nos que coloque ele a prova.

    — Tudo bem.

    Meredith havia decidido por mim.

    — No entanto, os demais ficaram reféns nesse circo.

    — Certo.

    Com isso resolvido, o chefe do circo liberou este soldado.

    — Eu vou levar vocês à catedral de teste de magia, é lá onde está o artefato.

    — Oh, vou aproveitar testar minha magia!

    Essa não, eu não podia permitir que minha magia fosse testada, porque iriam descobrir que eu não tinha nenhuma magia.

    — Não é bom, Jarves?! Vamos mostrar a eles que sua magia é real!

    Meredith bateu minhas costas com bash-bash!

    — Eu não entendi muita coisa, mas pelo que percebi vocês estão lutando pelo bem dessa nação, então espero que dê tudo certo — disse o chefe do circo.

    — Sim, e por favor, peço que o senhor cuide destes homens enquanto não voltamos.

    — Claro, é o mínimo que posso fazer por terem salvo o meu circo.

    — Zernen, você deve ficar — disse Meredith.

    — Eh, por quê?

    — Para ajudar o senhor a controlar os homens. Apesar de tudo, eles ainda são soldados e possuem habilidades.

    — Ah, que chatice! Ah, já sei! — Zernen estalou os dedos, logo apontando para o homem gordo no fundo do palanque. — E se usássemos aquele homem para hipnotizar todo mundo?

    — Boa ideia, Zernen!

    — Não é?

    Zernen sorriu para mim.

    — Boa ideia nada, assim estaríamos agindo como verdadeiros manipuladores.

    — Meredith tem razão — disse Rein. — Mas não descarto a ideia de usarmos isso em um último recurso.

    Rein agora mesmo estava fazendo um olhar ameaçador para os soldados.

    — Não se preocupe, eu não planejo nenhuma traição. Sou íntegro como manda a lei e estou disposto a manter minha palavra. Eu, Euclasto, prometo não executar nenhuma captura durante a sessão de provação.

    Colocou o punho esquerdo contra o peito como um verdadeiro discípulo do Xavier faria.

    — Tudo bem, eu aceito esse juramento.

    Meredith anuiu.

    Assim, Euclasto nos guiou para a grande catedral contra a minha vontade. Sinceramente, preferia a ideia do Zernen. Assim, com a máscara com o formato de sapato no rosto que combinava com o chapéu de sapato, caminhava ao lado da Meredith que me sorria com um sorriso confiante, que enunciava que tudo iria dar certo. Mas era mentira, nada iria dar certo porque de certa forma, eu era uma farsa.

    Assim que atravessamos as ruas com alguns olhos pousando sobre nós, finalmente chegamos à grande catedral no formato de sapato como quase todas as construções daqui. Isso porque haviam os rebeldes anti-sapatista que ousavam construir suas casas em um formato diferente. Eram vistos como a escória da sociedade e recebiam o desprezo dos seus vizinhos.

    E essa história só terminava de duas formas: ou eles se retiravam para outra cidade, ou reconstruíam sua casa na forma de um sapato.

    Não era brincadeira mesmo quando eu dizia que essa cidade valorizava sua cultura.

    Subimos os degraus da escada, cujo corrimão era adornado por pequenos sapatinhos, até alcançarmos por fim a entrada em formato de sapato e acima suas quatro janelas cristalinas em formato de sapato.

    Entramos, percorrendo o grande salão de piso prateado. Haviam alguns bancos nas laterais, separados pelo caminho estreito em que andávamos. Este levava ao palanque onde havia uma tribuna, lugar onde estava o homem de batina, responsável pelo artefato da magia.

    Ele usava óculos quadrados que reflitam seus olhos negros e um chapéu de sapato por cima.

    — Governador Fortunato Sapatios III

    Outro detalhe era que o governador desta cidade tomava este sobrenome ridículo, que carregava a essência sapateira.

    — Vice chefe da segunda divisão, o que o traz aqui?

    Então esse era o vice chefe da segunda divisão?

    Bem, vice chefe de divisão era a patente que ficava abaixo do chefe da divisão, que ficava abaixo do vice capitão do exército. A divisões e as chefias dos soldados dependiam da quantidade dos distritos que uma cidade possuía.

    — Trago comigo estes arguidos… — Ele tossiu, refreando suas palavras. — Estes jovens sob minha custódia.

    Ele já não disse praticamente a mesma coisa?

    — Entendo. Pretende usar o artefato, não é?

    — Sim, mas antes quero que veja a magia que cada um deles possui.

    — Certo, vamos a isso. Mas antes, gostaria de perguntar a respeito deles, porque seus rostos para mim são desconhecidos.

    — Entraram ilegalmente nesta cidade e neste reino.

    Tecnicamente isso não era mentira.

    — Oh, entendi. Muito bom trabalho, vice chefe de divisão, vamos extrair o máximo de informações desses intrusos. Mas é estranho, eles não ofereceram resistência, sendo que estão em maioria, não acha?

    — Toda essa área está cercada de soldados. Eles mesmo sabem que fugir não iria adiantar.

    Mentira, não havia ninguém.

    — Entendo. Muito bem, vamos a isso.

    Euclasto não tardou em me empurrar para frente do senhor Fortunato enquanto eu tentava resistir, mas com Meredith e Theresa me olhando daquele jeito um tanto desconfiado, tive que aceitar.

    Coloquei a mão trémula na esfera, retirando em seguida quando ele extraiu um papel no interior da tribuna.

    — Muito bem, vamos ver. Vamos ver.

    Meu coração estava para pular para fora enquanto ele analisava aquele papel.

    — Deficiência de mana. Magia… Sem magia? O indivíduo em questão nasceu sem magia?!

    Todos olharam para mim com os olhos surpresos.

    É, eu estava ferrado.

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