Capítulo 128: O fim está próximo
Contra minha vontade, tive que aceitar essas ideias. Era o único jeito de salvar o Nikolas sem perder ninguém por esgotamento de mana. A dor seria temporária, era o que me oferecia alívio.
Agora eu, Meredith, Zernen e Rein estávamos caminhando pelo pequeno bosque que levava a caverna onde haviam pedras de mana. Por sorte, ficava bem pertinho daqui, mas estava perfeitamente vigiada por soldados rank A e apenas aventureiros devidamente identificados tinham permissão para explorar.
Na verdade, havia uma licença de exploração emitida pela guilda e isso levava bastante tempo. E tempo era o que não tínhamos.
Então optamos por entrar clandestinamente através de uma falha mencionada por Rein quando ainda estávamos no orfanato. Ao que parece, essa falha era eu. Isso mesmo, eu era a falha e o sucesso dessa missão, razão pela qual fui levado mesmo não tendo o poder necessário para entrar numa masmorra.
Mas essa falha estava sendo útil agora, porque nas masmorras haviam barreiras de invisíveis de mana, que cobriam todas áreas. E é aí onde entravam pessoas como eu, que possuíam défice de mana e por sua vez, poderiam passar sem provocar nenhum alerta.
De resto, os demais atuariam como distração para os dois soldados ali que zelavam pela masmorra. Quando Rein assentiu com a cabeça para aqueles dois, o espetáculo começou.
Meredith e Zernen saltaram da moita em que nos encontramos e foram para um espaço aberto coberto de capim e folhas, o farfalhar das folhas geradas por seus passos gerando um som chamativo que se irradiou para ouvidos curiosos.
— Eu vou te matar, seu maldito! Por que me traiu?!
Meredith estava supostamente ardendo de fúria enquanto segurava sua espada, sua respiração semelhante a de um touro zangado. Enquanto Zernen fugia do papel, mantendo seu sorriso característico e seus punhos cerrados para o combate.
— É porque eu queria lutar contigo!
— Foi para isso que me traiu com outra, para acender a minha irá?
Meredith estava tão fiel ao papel que fazia isso parecer real. Lágrimas escorriam dos seus olhos. Não, aquilo não era exagero, Meredith estava misturando seus sentimentos passados com essa realidade.
Ela estava confundindo Zernen com o seu noivo.
— Faisal!!!
Sua voz foi a confirmação que os meus ouvidos aguardavam. Manejando sua espada, ela correu ao Zernen enquanto elaborava ao som da sua voz sua técnica turbilhão de cortes. Isso não estava no roteiro, mas Zernen estava com um sorriso no rosto enquanto desferia seus golpes defensivos. Era soco invisível para ali e para cá e cortes para acolá enquanto mantinham uma ligeira distância.
Mas isso acabou quando um dos soldados segurou a espada da Meredith, contendo sua fúria para o meu alívio. Enquanto isso, outro segurou o punho do Zernen.
Meredith acabou caindo na real depois de alguns segundos, percebendo que havia levado isso longe demais e que poderia muito bem ter machucado seu companheiro se isso continuasse.
— O que está acontecendo?
O soldado de cabelo preto e armadura prateada reluzente, que pegava Meredith, questionou.
— Ele me traiu…
Aquilo combinou com as lágrimas da Meredith.
— Isso é verdade?
Perguntou o soldado, que coincidentemente tinha o mesmo cabelo que o Zernen.
— É isso mesmo, eu a traí!
Zernen dizia isso com um sorriso bem largo, que dava a entender que ele tinha prazer naquilo. Mas aquele rapaz, na verdade, apenas queria lutar.
— Maldito! Ainda ousa sorrir? Eu vou te matar!
Meredith avançou a espada, que cortou ligeiramente a palma do soldado, fazendo ele perceber que aquela situação não era brincadeira. Enquanto Meredith e Zernen trocavam palavras de acusação, decidimos sair dali rapidamente para a caverna sem provocar nenhum barulho. Bom, se bem que qualquer barulho que estávamos provocando, era imediatamente abafado pelos gritos daqueles dois.
Chegando ali, na caverna semi circular, dei um último olhar para o Rein que me reparava.
— O que? Não confia em mim. Essa caverna foi explorada pelo Oceano faz muito tempo e não há detalhe de monstros.
Apesar dele dizer isso, o medo ainda percorria meu corpo. Mas fazer o que, eu tinha de ter coragem para que ninguém ousasse se sacrificar pelo vilão.
— Certo, eu farei!
Assim, passei pela barreira invisível sem quaisquer dificuldades e caminhei em direção a entrada daquela caverna. Seu interior trazia consigo a luz vinda de fora, mas haviam tochas não acendidas fixadas nas paredes de pedras irregulares. O solo também trazia consigo a componente rochosa, com um formato desregular como a parede, então caminhar nele não era tão confortável assim.
Eu tinha que tomar cuidado com os formatos pontiagudos. Isso me lembrou a quinta fase quando eu corri carregando a Frida comigo. Caminhar por aqui era como tomar chá se comparado àquela aflição que eu passei.
Meus olhos estavam constantemente pairando no cimo daquela caverna com o formato curvilíneo que trazia consigo rochas pontiagudas que facilmente poderiam me esmagar caso caíssem. Na verdade, parecia que elas estavam me dizendo que iriam cair a qualquer momento.
Procurei correr dali. Em parte, eu tinha que admitir que o Rein estava certo, não havia nenhum monstro por perto, o que não era normal numa masmorra ativa. Nesse mundo, depois que uma masmorra fosse finalizada, ela ficava desabitada e era destruída pelo governo do reino quando fosse terminada sua exploração de recursos, razão pela qual essa aqui ainda não foi.
Mas quando uma masmorra desaparecia, uma nascia em outro lugar. Era sempre assim. Essa era a infeliz maldição deste mundo, a maldição que a humanidade acabou carregando.
Isso era a terra descarregando sua irá
Enquanto passava a mão pela parede empoeirada, o espaço começou a balançar e um boom ecoava pelos meus ouvidos. Eles já haviam chegado no nível de explosão? Zernen estava levando essa encenação muito a sério. Eu também tinha que levar a minha missão a sério antes que eles acabem fazendo com que essa masmorra comece a desmoronar.
Encontrei um espaço redondo que divida quatro caminhos, mas estes me levavam de volta ao princípio,
com exceção de um de todos os que eu tentei me levou a um lugar, uma sala com milhares de ossos formando sua estrutura. Era bizarro. Parecia uma cena de terror tirada de um filme. Aquelas caveiras me davam agonia.
Como um monstro normalmente desaparecia sem deixar rastro, isso significava que aqueles passos eram de pessoas.
Deduzi pelo trono de ossos que aquela era a sala do boss e que ele havia feito uma grande ornamentação antes de ser derrotado. Nem ousei sentar ali. Infelizmente não havia nenhuma pedra de mana por aqui. Missão falhada. Havia percorrido todos os cantos dessa masmorra.
Mas quando dei meia volta, um terremoto rompeu essa terra. Ela se abriu como uma erosão e eu comecei a cair naquele grande buraco que parecia sem fundo, enquanto tentava me segurar nas raízes. Essa não, no fundo havia uma sala bem pequena com rochas irregulares como as da superfície, mas esse não era o menor dos problemas. Eu tinha que pousar. Por sorte, segurei uma raíz que amparou minha queda quando ela se quebrou a escassos metros do chão.
Agradeci a natureza que ainda me amava, mas não deixei de sentir dor no meu traseiro.
Quando olhei atentamente para as laterais, tinha aquilo que eu precisava. Pedras de mana brilhando em sua tonalidade azul cristalina estavam chamando pelos meus olhos, pelas minhas mãos.
— Isso só pode ser benção dos céus!
Levantei as mãos para o alto com um sorriso, mas quando comecei a correr para recolher aquela preciosidade fixada na parede, uma pressão avassaladora me fez cair de joelhos no chão. Essa pressão carregava consigo uma presença tenebrosa como da Belia, que parecia desafiar a leis da gravidade.
— O que se passa aqui?
Para me colocar em pé não foi nada fácil, ainda mais quando essa gravidade insistia em me puxar contra a terra. Mas não era forte o suficiente para me manter no chão. Ainda assim, era como se tivessem colocado dois sacos de pedras sobre os meus ombros, eu podia sentir o peso permear o meu corpo.
“Inimigo! Destruir! Fim!”
Essa voz reverberou pela minha mente, tão tenebrosa, que foi capaz de estremecer o meu coração, ao mesmo tempo tão real que parecia vir de fora. Era como se eu tivesse escutando uma voz através de fones de ouvido.
“Inimigo! Destruir! Fim!”
Ele passou a repetir isso a cada segundo como se estivesse me mandando uma mensagem mais profunda do que era. Sim, eu percebi, o que ele queria dizer.
— É você, não é, Rei?
Quando eu emiti isso a voz ficou mais grave e desesperada, confirmando a minha pergunta.
— Você tentou se comunicar comigo através da Belia, não é? Ao que parece, você está muito bem informado de mim.
“Inimigo! Destruir! Fim!”
O que eu estava precisando agora não era algo a ser levado de ânimo leve. Era uma clara afirmação que dizia implicitamente: eu te conheço. Você é uma anomalia nesse mundo, Jarves.
Isso fazia muito sentido quando sabemos que Belia chegou antes do tempo aqui nessa terra e tentou manter contato comigo a todo custo. Isso significa que o rei conseguiu ver uma luz de esperança para esse mundo com a minha chegada nele.
Nesse caso, eu era alvo a abater.
— Você é que é meu inimigo. Você é que precisa ser destruído para que eu possa almejar o fim que tanto busco. Em busca do fim, essa é minha jornada, então não tente me impedir!!!
Dei um grito, que fez essa voz cessar por um momento, dando lugar a um silêncio tenebroso. Aproveitei aquele momento para recolher as pedras e meter no saco que Rein havia me dado.
Mas quando terminei de recolher as pedras que me custaram tirar devido a pressão, a voz voltou a soar, mas desta vez carregando outra mensagem.
“O fim deste mundo está próximo.”
Aquilo fez todas as células do meu corpo se contorcerem de pavor. Minha garganta secou e os meus olhos se arregalaram enquanto eu me deixava levar por aquela pressão, que me deixou de joelhos perante aquelas declarações, perante aquelas palavras, que apesar de familiares, ainda assim, aquela voz fez questão do quão sufocante era saber do juízo que aguardava este mundo.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.