Capítulo 131: Busca e Captura
Handares estava andando. Seu nome nunca fez tanto sentido como fazia agora. Talvez os seus pais tivessem previsto que esse momento chegaria algum dia. Mas seja o que for, agora ele estava andando. Todos estavam impressionados com aquele feito jamais presenciado neste mundo da magia.
Theresa era sem dúvidas a precursora da medicina nesse mundo.
— Eu estou mesmo andando?
Handares estava andando como se estivesse caminhando pela água. Cambaleava uma hora para direita, outra para esquerda. Suas mãos balançavam no vento como se buscassem algum apoio.
— Você está mesmo andando!
Antonella não mais conteve suas lágrimas. Eu também… Não me emocionava assim desde que havíamos vencido o rei dos bandidos e sua corja.
— Parece que você acabou de revolucionar o mundo da magia da cura como conhecemos, Theresa — disse Rein, batendo as palmas ligeiramente.
— Theresa, você é fantástica!
Meredith sorria como nunca. Todo mundo estava feliz agora. Valeu a pena ter passado por aquelas dores de parto, havíamos concebido alegria. Uma sensação calorosa e acolhedora como a chama de uma lareira, que aquecia os nossos corações.
— Quital correr?
— Boa ideia, Theresa! — Levantei o punho com um grande sorriso. — Vamos fazer uma corrida e ver quem vence! Você está precisando exercitar, não é mesmo?!
— Ei, ei. Não esquece que não podemos nos expor mais, já que aqueles soldados devem estar a nossa procura.
Rein foi um estraga prazeres, mas ele estava certo.
Dei um suspiro. Queria tanto correr com ele.
— E eu também não posso me animar muito, preciso cuidar do meu irmão.
— Nada disso — disse Antonella. — O seu irmão está bem! É uma ordem, meu paciente! Vá correr, sinta as suas pernas!
— Sentir as pernas?
Ele repetiu isso olhando para suas pernas com os olhos arregalados. Ainda não lhe caia a ficha.
— Acho que um pouquinho não vai fazer mal, não é, Rein? Você pode acompanhá-los. E em caso de qualquer investida, é só usar seu teletransporte.
Taí uma boa ideia a da Meredith.
Theresa e Antonella concordam também. Eram quatro contra um. Rein não teve escolha senão aceitar.
— Vamos vencer quem vence, tá bom?
Olhei para o Handares, que assentiu com a cabeça.
Rein abriu a porta para nós. Os raios luminosos se estendendo como um tapete sobre os nossos pés.
— Vamos, Rein, faça o partida, largada e fugida! Espera… O que?
Sinto que havia dito algo de errado, mas tanto faz.
— Só dá a partida aí!
Rein levantou o braço, e fez a contagem decrescente de três a um. Mas quando chegou no um, quando sua mão estava prestes a baixar, um certo indivíduo apareceu nas correrias. Travou como se fosse um carro prestes a bater numa parede.
Nossos olhos encontraram os deles.
— Esperem aí!
— O que foi, Zernen? Também quer correr?
— Não, temos problemas!
— Ah, já sei! Você não encheu a sua barriga e quer mais, não é? É só pedir para Antonella isso aí! Agora vamos correr, Handares!
— Não é isso…
— Vão!!!
Rein desceu finalmente o seu braço enquanto eu estava concentrado no Zernen.
— Ei, espera aí… É o que… — Meus olhos não estavam encontrando quem devia estar bem ao meu lado. — Cadê o Handares? Mas que brincadeira de mau gosto é essa, Rein?! Isso é batota! Como você pôde transportar ele?!
— Eu não transportei ninguém…
— Handares correu?
Meus olhos encontraram o Zernen.
— Como assim correu?!
— É, eu também vi… — disse Meredith. — Foi por pouco instante, mas ele correu super rápido.
— Parece que ele está voltando.
Vi uma nuvem de poeira se aproximando. Handares freou nos mesmos modus operandi que o Zernen. Segurou seus joelhos, encurvou a cabeça cheia de suor e deu um grande suspiro.
— Correr é tão bom! Mas você é tão rápido que foi capaz de voltar primeiro, não é, Jarves? Nem saiu do lugar!
— Mas eu não saí do lugar…
— Pessoal, temos problemas…
— É comida, não é? Eu vou te servir!
— Não, não é isso. É que…
— Você é muito rápido. Quase pensei que tivesse se teletransportado! — disse Rein. Meredith se aproximou ao pé de Theresa.
— Sua velocidade não foi normal. Ainda mais para alguém que acaba de recuperar seus movimentos.
Theresa estava coberta de razão.
— Deve ser magia.
Meredith chutou a conclusão mais lógica possível. Aquilo não era a velocidade de um humano normal.
— Que ironia. Não é que faz sentido? Sempre me perguntei qual era a minha magia? Afinal, ela sempre esteve nos meus pés!
Handares voltou a olhar nos seus pés com o sorriso de uma criança que havia acabado de ganhar um doce.
— Que impressionante!
— É mesmo…. — Dei continuidade depois da Meredith.
— Pessoal, temos problemas!!!!
Zernen deu um grito bem alto enquanto estávamos cobrindo o Handares de elogios.
— Qual é o problema, Zernen?!!! Fala de uma vez!!!
Devolvi o grito na mesma intensidade.
— Era o que eu queria fazer!!!
— Ei, vocês dois dá para não gritar?!!!
Meredith franziu o cenho, mas ela também não estava sendo um bom exemplo. Só não falei que ela não tinha moral para isso porque não queria ser fatiado por sua espada. A cara de ogra que ela fazia me assustava. Lembranças do dia do nosso primeiro encontro passavam pela minha mente.
— Tá! Eu não vou mais gritar!! Agora me ouçam!!!
— Você simplesmente não poderia ter falado isso sem gritar, Zernen?
Semicerrei os olhos.
— Ah, desculpa. Enfim, temos problemas.
— Se você estiver de zoeira conosco, Zernen… você vai ver só.
— Acontece que roubaram o meu baú! O meu baú sumiu!
Lágrimas se acumularam nos seus olhos. Procurei entender melhor a situação.
— Como assim sumiu?
— Não está mais onde eu pedi para a Croma guardar! Eu suspeito que foi ela que levou! Pronto, falei!
Ele estava chamando minha Croma de ladra? Fiquei indignado.
— Por que a Croma faria uma coisa dessas? — questionou Meredith. — Ela me pareceu uma moça gentil e não vejo motivo para roubar um baú.
Theresa e eu concordamos.
— É isso aí, Zernen. Não saía por aí acusando as pessoas sem provas!
— Mas Theresa já fez isso também, com a moça da guilda e no final ela estava certa!
— Aquilo é… — Theresa coçou a cabeça e desviou os olhos como se não soubesse do que ele estava falando. — Só um pressentimento… Sexto sentido?
— Pois, eu também! Isso é um sexto sentido! Além do mais, ela me pareceu de olho no meu dinheiro!
— Deixa de ser um alienado, Zernen! Theresa é Theresa! E você só é obcecado por dinheiro!
— Aquele dinheiro… — Zernen rangeu os dentes e limpou as lágrimas com o braço, dando um suspiro anasalado. — Era para salvar um lugar importante para mim da pobreza! Não tem nada a ver com o que você está falando…
Poxa, agora me senti tão comovido que podia chorar.
— Olha, o Zernen pode ter razão…
— O que?
Todo mundo olhou para Antonella, que fazia uma cara fria e calculista.
— Você não vai defender sua amiga?!
Era o esperado.
— Antonella, você não está pensando que…?
Agora era o Handares. Aqueles dois sabiam de algo muito sinistro pelos olhos que eles estavam fazendo. Coloquei a mão no peito. Eu já estava preparando o meu coração para sofrer a mesma decepção que sofri quando descobri a verdade sobre a Belia.
— A verdade é que Croma pode ter roubado o dinheiro do Zernen para ajudar sua família. Esse sempre foi o desejo dela.
— Eu sabia!!!
Zernen mal podia esperar para gritar isso.
— Agora vamos atrás dela! Ela vai me devolver meu dinheiro! Se ela quiser dinheiro, que rou… digo, trabalhe honestamente como eu fiz!
Ele ia dizer roube?
Apenas semicerrei os olhos para aquela meia verdade.
— Croma, por que? Eu ainda prefiro acreditar que isso é um mal entendido.
— Todos os fatos apontam para isso, Handares. Ela já deveria ter voltado do mercado.
— E essa agora? Acho que teremos que apressar a nossa saída e no meio do caminho, a gente pega essa mulher, o que acham?
— Mas mal sabemos onde ela deve ter ido… — disse Theresa.
— Mas eles sabem, não é?
— Eu levo vocês! Temos uma caravana que cabe todo mundo. Se sairmos agora, acho que podemos alcançar ela.
— Caravana? Tudo bem. De certa forma, é mais eficaz para economizarmos o poder de teleporte em caso de uma eventual emboscada.
Naquele momento, quando o Handares havia dito aquelas palavras “ eu levo vocês ” não havíamos imaginado que isso seria literal no sentido da palavra. Não havia cavalos no pequeno armazém de madeira do orfanato, então ele seria o cavalo. Ele amarrou as cordas da caravana no seu corpo contra todas as nossas oposições. O desejo dele de querer ser útil venceu.
Não tivemos escolhas se não aceitar isso.
— Partidaaaaaaa!
Sua voz reverberou pelos nossos ouvidos.
Realmente, havíamos subestimado esse garoto. No momento que os seus pés começaram a correr, quase fomos derrubados de caravana caso não tivéssemos nos segurado nos braços dela, pelo menos Meredith e Rein. Porque eu e o Zernen estávamos segurando os braços dos dois enquanto balançavam ao som do vento. Uma névoa de poeira se formava ao nosso redor e um grito de felicidade de quem estava triste com o roubo do seu baú ecoou.
— Yauuuuuu!!!
Essa viagem seria pior do que a que tivemos com o senhor Zestas.

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