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    Quando atravessamos o portal, nos deparamos com uma visão inusitada…

    Uma montanha de rochedos cilíndricos bem separados se estendiam até um horizonte repleto de nevoeiro, que dificultava a nossa visão sobre o que estaria depois de lá.

    “Mais montanhas de rochedos?”

    O mais assustador não era aquela imensidão, mas o que estava ali em baixo. Um mar de  águas com sombras que lembravam tubarões, passeando de um lado como se estivessem a procura de sua presa.

    — Então, é assim que começamos?

    Dei um leve sorriso.

    Meredith nem estava ali.

    “Então isso quer dizer que ela conseguiu atravessar isso tudo sozinha e sem nenhuma dificuldade? Não esperava menos da heroína.”

    — Para quem tem um domínio de mana, não é problema atravessar esse território!

    Fred falou, começando a saltar adiante, de rochedo em rochedo.

    — Opa! Espera aí!

    Zernen o seguiu logo em seguida, sem se importar com seu corpo exposto.

    — Agora, e quem não tem?

    Olhei para o Oceano.

    Eu com certeza não iria conseguir atravessar esta montanha de rochedo.

    — Precipitados.

    Quando Frida disso isso, vi Zernen e Fred recuarem depois de quase serem atingidos por raios que tomaram conta dos rochedos em que eles estavam. Mais raios foram tomando conta dos rochedos, os fazendo recuar até onde estávamos. Uma pequena montanha de superfície plana a metros daqueles rochedos.

    — O que está acontecendo aqui?!

    Fred começou a suspirar freneticamente, leves gotas de suor deslizavam por suas bochechas.

    — Droga! Se não fossem esses malditos raios, eu teria atravessado!

    Zernen cerrou os punhos, indignado.

    — Olhem…

    Frida apontou o dedo para baixo. Nossos olhos observavam a  água também subir pouco aos poucos, o que deixava claro de que em breve ficaríamos sem tempo de atravessar e a água cheia daqueles animais inundaria todo lugar.

    Nem teríamos para onde fugir, pois o portal havia desaparecido.

    — Você é um dos capangas, não é? Então deve saber de algo, diga!

    Olhei para o cara que havia roubado o corpo do irmão da Frida.

    — É, responda imediatamente! — disse Fred, o olhando com agressividade enquanto se aproximava dele.

    Ele balançou ambas as mãos rente ao rosto enquanto desviava seus olhos em um semblante temeroso.

    — Eu não sei de nada, eu juro! Eu nunca tive o privilégio de participar de nenhuma dessas provas, então não sei!

    — Tem certeza?

    Frida o observou com desconfiança.

    — Terminei.

    Theresa e Oceano disseram ao mesmo tempo.

    — De quê? — eu e Frida perguntamos.

    — De analisar a situação.

    Dessa vez, só Theresa respondeu.

    — Mas parece que o Oceano também tinha algo a falar.

    — Primeiro as damas.

    — Bem, alguns de vocês devem estar se perguntando como Meredith fez para passar por esses pedregulhos, não é? A resposta é simples.

    Theresa apontou para Zernen, que ficou confuso, balançando a cabeça enquanto apontava para o próprio peito.

    — O quê? Eu? O que eu fiz?

    — Você não tomou a poção que te dei, não é?

    — E, acabei esquecendo! Deixa eu tomar agora! — Zernen tentou vasculhar, mas se deu conta de que só estava vestindo uma cueca. — Ah, é mesmo! A baixinha fez desaparecer minhas vestes!

    — Quem você está chamando de baixinha?

    Frida chutou uma das pernas do Zernen, que deu um sorriso torto enquanto passava a mão na cabeça.

    Theresa deu um suspiro e nos olhou severamente.

    — Bem, prosseguindo, essa é uma poção que omite a mana do usuário ao limite. E onde isso entra na minha análise sobre a situação? É que, na verdade, esses monstros atacam quem quer que esteja liberando uma grande quantidade de mana.

    Oceano bateu às palmas.

    — É isso mesmo.

    — E como a baixinha aqui fez desaparecer as roupas do Zernen, não temos como compartilhar ela com todos — provoquei, lançando um sorrisinho travesso para Frida, que ficou irritada, olhando fixamente para mim.

    Minhas roupas desapareceram e eu fiquei apenas com a cueca.

    — Por que fez isso? — murmurei, constrangido por aqueles olhares que caiam sobre mim.

    — Huphm! Isso é para você aprender a não mexer comigo!

    Ela cruzou os braços, fazendo uma expressão carrancuda.

    — Hahahah, Jarves! Agora estamos iguais!

    Zernen riu enquanto olhava para mim.

    — Frida, vamos levar isso a sério — Fred emitiu, tentando deixar seu rosto severo.

    — Então, parem de me provocar!

    — Frida…

    Um gemido saiu de sua boca quando ouviu essa voz calma.

    — Foco. Somos profissionais aqui, então haja como tal.

    Só o Oceano para botar rédeas na boca de uma mulher. Espantosamente, Frida pediu desculpas e mandou seu falso irmão nos dar roupas novas que eu não gostei tanto assim. Roupas de camponês, é sério isso? Mas bem, fazer o quê? Não tínhamos outras escolhas.

    Ambos estávamos com macacões na coloração azul da noite.

    — Hahahahah, estamos combinando como verdadeiros parceiros!

    — É sério que não tinha outra roupa?

    Quando olhei para Frida, ela desviou os olhos com uma expressão travessa. Olhei para o suposto irmão dela com altas expectativas, mas ele também fingiu ignorância, dando um sorriso zombeteiro.

    — Ah… — Dei um suspiro, dando os ombros.

    Quando isso acabar, com certeza passarei em uma loja para comprar novas roupas.

    Theresa deu uma leve tossida para chamar nossa atenção.

    — Naturalmente, Jarves e eu podemos atravessar os pedregulhos como somos deficientes de mana.

    — Ser deficiente de mana tem suas vantagens, pois não?

    Dei uma leve risada.

    — E quanto a nós? Aquelas descargas emitidas por aqueles monstros parecem ser capazes de transformar alguém em cinzas e a  água não para de aumentar… — observou Analista, preocupada.

    — Então, seguindo essa lógica, e se não tocarmos nos rochedos, acontece alguma coisa?

    Fred fez a pergunta que eu pretendia fazer.

    — É isso que eu pretendo experimentar.

    Oceano unificou suas duas mãos em oração.

    — Magia transparente: superfície plana!

    Não vi nada.

    — Podem subir, acabei de gerar uma superfície acima dos rochedos que possibilita com que qualquer um passe por cima, mas para testarmos se isso realmente funciona, irei primeiro, depois vocês poderão me seguir.

    Oceano começou a caminhar com o rosto calmo.

    “Esse cara não tem medo nenhum?”

    Após alguns segundos se passarem depois de sua andança e nada acontecer, ele deu sinal verde.

    — Podem vir.

    — Então, o ponto de contato entre nossa mana é o pedregulho e água. Entendi.

    Analista observava tudo com admiração enquanto andava para cima dali, acompanhada de seu suposto irmão.

    — Que legal!

    Zernen começou a correr como uma criança num parque.

    — Vamos?

    Theresa olhou para mim com um sorriso confiante.

    Balancei a cabeça positivamente.

    Os que vieram logo atrás de nós foram o invisível Sond e o homem das unhas de ferro, Fred.

    A cada passo que dávamos, a superfície fazia um som semelhante ao das  águas. Observávamos de longe as sombras vagando de um lado para outro.

    “Ainda bem que Oceano está aqui, passar essa prova vai ser moleza…”

    — Hã?

    De repente, Oceano caiu com um joelho, suspirando freneticamente enquanto segurava o peito.

    Frida correu até o Oceano.

    — Oceano! O que aconteceu?

    — Corram, agora!

    Quando Oceano disse isso, a superfície começou a romper-se, se despedaçando igual a um espelho se quebrando.

    — Não vai dar tempo! Pessoal, se posicionem nos rochedos!

    Depois que Theresa disso, tentamos correr, mas a barreira foi bem mais rápida para nos posicionarmos em um rochedo bem próximo daqui.

    Com exceção do Oceano, Frida e Sond, todos nós caímos…

    — Nããããoo!

    Um grito saiu da boca do suposto irmão da Frida enquanto os monstros parecidos com tubarões nos esperavam de boca aberta naquelas águas profundas.

    O irmão da Frida foi salvo pelo Fred, que o segurou enquanto segurava com uma das mãos a extremidade do rochedo.

    Ele só não foi eletrocutado porque a magia do Sond teve o poder de fazer até os animais dançarem para bem longe dele, mas nem todos para o nosso azar.

    — Theresa, você que sempre tem alguma ideia, fala algo que eu faço!

    — Sinto muito, Jarves! Mas, a não ser que alguém nos salve, não teremos como sair vivos dessas.

    Quando Theresa terminou de dizer isso, vi um vulto passar bem rápido por nós.

    — Depois vou cobrar, hein…

    Duas mãos fortes se agarraram às minhas costas e às de Theresa.

    — Por salvar as vossas vidas!

    “Zernen…”

    Nos vimos arremessados para cima enquanto ouvíamos um salpicar nas águas. Sequer consegui virar o rosto para ver o que havia acontecido com ele naquele momento.

    — Aparecer! Corda!

    No meio do ar, peguei a corda que havia sido projetada enquanto Theresa segurava uma das minhas pernas.

    — Aparecer corda e Anzol!

    Enquanto Fred nos segurava com a corda, o irmão da Frida arremessava para outro rochedo uma corda com a ponta envolvida por um anzol. Confirmando que o anzol havia cravado com eficiência, saiu voando dali para outro rochedo.

    Já Fred usou uma de suas unhas para cravar a corda no rochedo, saindo saltando dali para outro rochedo livre enquanto Theresa e eu escalávamos esse rochedo, a corda segurada por unhas de ferro. Terminada a escalação, nos sentamos e suspiramos freneticamente antes de olhar aquela cena fatídica lá embaixo.

    “Não é possível…”

    Um mar de sangue começou a tomar conta das águas.

    — Eles devoraram o Zernen?

    Eu não conseguia acreditar nisso, mas aquele sangue se espalhando por tudo quanto é lado me confirmava cada vez mais.

    — Theresa, me diz que não é verdade?

    Seguirei os ombros dela, olhando-a com uma expressão apreensiva.

    — Não é verdade.

    Retirei as mãos e apontei para baixo.

    — Mas olha ali embaixo, o sangue dele!

    — Tá.

    Theresa estava escolhendo o pior momento para ser apática e fria… Como ela pôde se comportar assim diante de uma situação desesperadora como essa?

    — Eu vou salvá-lo!

    Tentei saltar, mas Theresa segurou minha gola.

    — Idiota, cheira com exatidão!

    Cheirei com exatidão e além de identificar cheiro de sangue humano, também identifiquei cheiro de sangue de monstro.

    — Não me diga que ele também lutou pela vida até o fim… Pobre Zernen.

    — Ah — Theresa suspirou, decepcionada, enquanto passava a mão na testa.

    — Brincadeira!  Por um momento, fiquei assustado, mas parece que ele vem aí.

    — Explosãoooooo!

    Um jovem de cabelos verdes eletrificados saltou do mar com uma velocidade arrasadora, atraindo milhares de  águas consigo enquanto cada um de nós o olhava enquanto ele mastigava uma cauda daquele monstro com a boca toda coberta de sangue.

    — Zernen!!!

    — Jarves, você deveria experimentar! Muito bom!

    Ele deu um salto duplo no ar e pousou em cima de um rochedo.

    — Eh, não, obrigado. Só se for assado mesmo.

    — Caramba, você tem garra, moleque! Gostei, hehehe!

    Elogiado pelo Fred, Zernen começou a rir de boca cheia, sua barriga notavelmente estava farta.

    Quantos daqueles monstros ele havia comido?

    Não, isso era o de menos. A  água já estava nos alcançando, então precisávamos sair dali imediatamente, porque eu é que não sei nadar.

    — Tive uma ideia, pessoal!

    “Zernen tendo uma ideia, essa é nova.”

    — Eu posso nadar na água e eliminar todos os monstros enquanto vocês saltam em direção à saída!

    — Então faça.

    Oceano concordou.

    — Nada mal.

    Fred deu um sorriso largo.

    — Manda ver!

    Levantei o polegar.

    Zernen pulou novamente para aquelas águas, nadando em rápida velocidade.

    — Dito isso, vamos correr!

    Oceano levantou-se e começou a correr, saltando pelos rochedos, assim como nós que o seguíamos por trás até o horizonte coberto por um nevoeiro, à medida que a água chegava até nós.

    Só que haviam momentos em que os rochedos estavam um pouco distantes um do outro, então dava medo saltar e de repente cair nas águas, mas com a magia de aparecer, o irmão da Frida gerou cordas que Fred puxava com toda sua força, nos elevando ao ar com toda força.

    Assim, depois de atravessarmos o nevoeiro, nos deparamos com uma superfície plana idêntica à que estávamos. Sentamos e suspiramos de cansaço após tanta correria.

    Zernen que havia feito todo o trabalho de eliminar os monstros para que não pudessem usar sua eletricidade nos rochedos, estava ali, comendo mais pedaços de peixe cru enquanto estava coberto de sangue, exalando um cheiro que nos deixou com náusea.

    — Você foi o herói hoje, mas precisa dar um jeito nisso!

    Fred falou, segurando seu nariz.

    — Nem se aproxime de mim.

    Frida o olhou friamente enquanto cobria a boca.

    [Parabéns, vocês passaram da primeira prova! Criança 1 liberta!]

    Quando essa voz mecânica disse isso, uma imagem apareceu diante dos nossos olhos. Pudemos observar uma criança chorando pelos cantos, enquanto era recebida por uma mulher que parecia ser a recepcionista.

    — Parece que ele realmente cumpriu o que prometeu. — Um sorriso largo brotou nos meus lábios enquanto admirava aquela cena que desaparecia em pedaços de purpurinas.

    Theresa apenas sorriu e segurou um dos meus ombros, apreciando aqueles últimos fragmentos.

    — Pela primeira vez, um bandido cumpriu com o que disse! Hahahahah!

    Zernen riu.

    — Então, deixemos de enrolar e vamos salvar as crianças! Vamos, quero salvar mais crianças!

    Fred parecia mais animado.

    — Para isso, precisamos todos colaborar para que todos passem na próxima fase.

    Oceano tinha razão. Esse era apenas o começo de uma vitória de muitas.

    Ele atravessou o próximo portal, uma espiral azul que havia surgido segundos depois da imagem da criança desaparecer.

    Todos nós o seguimos.

    Quando atravessamos aquele portal, ninguém podia prever o que aconteceria… Todos nós estávamos caindo em direção a um chão repleto de rios de lava saindo dos vulcões, que não paravam de jogar seu vapor ao céu, formando densas névoas.

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