Capítulo 68: Temível Criatura
Assim que o portal que girava com muitas luzes azuis cintilantes se fechou, nossos olhos se voltaram para aquela visão, a fim de contemplar o que nos esperava…
Vou te contar, as nossas expectativas eram altas, mas tudo parecia ser tão calmo naquele momento.
Era nada além de terra seca e rochedos, milhares deles, que se estendiam até o horizonte.
Claro que ficamos em guarda, porque não se sabia o que podia acontecer. Cada um mantinha a postura preparada. Nossos olhos vagueavam por aquele deserto seco, mas nada avistando.
Até que de repente um vento começou a soprar, nos alertando do perigo eminente…
” Não é possível…”
Quando nossos olhos foram direcionados para cima, encontraram uma criatura que jamais passou pela minha mente a encontrar em um lugar como esse.
Voava com duas asas carmesim gigantescas que pareciam de morcego, lançando um vento que nos fez cruzar nossos braços contra o rosto devido à pressão e à grande poeira que emergia da superfície da terra.
Possuía três cabeças com três chifres de veado em cada uma. Seus olhos eram dourados e ferozes como os de um leão. Suas narinas soltavam um grande vapor que formava pequenas nuvens no vento.
Seu corpo volumoso era revistado por escamas roxas. Contudo, isso não se comparou com o susto que tomei quando vi o que de fato ele escondia atrás.
Suas caudas…
Suas caudas eram compostas por milhares de serpentes negras que eu mal podia parar para contar de tanto medo que aquela criatura causava. Na série e nos livros, os meus olhos gritavam de entusiasmos, mas ao vivo e a cores, eles estavam gritando de pavor…
— Um dragão!!!
Zernen deu um grito de entusiasmo enquanto lançava seus olhos cintilantes naquela criatura. Ele cerrava seus punhos enquanto se aproximava mais e mais.
— O rei dos bandidos foi longe demais, isso nem pode ser chamado de dragão… — Fred murmurou, tenso, enquanto algumas gotas de suor transbordavam por sua pele.
— Um dos monstros mais poderosos do mundo, é? Essa coisa aí muito provavelmente deve estar em um nível A… — Frida analisou, olhando aquela criatura severamente. Depois, lançou seus olhos para Oceano, que permanecia calmo, mesmo diante daquele ser monstruoso. — O que faremos?
— Vamos enfrentá-lo! — Meredith respondeu prontamente. — Somos mais do que o suficiente para derrotá-lo!
— Desistir não é opção, não é?
O irmão falso da Frida deu um leve sorrisinho.
— Claro que não… — eu disse, tremendo minhas mãos.
“Quando digo que aquele ser me dá medo, não é brincadeira. “
— … Depois de termos chegado tão longe…
“Mas, ainda assim, precisamos cumprir isso, pelos irmãos da Meredith e as demais crianças.”
— Nossa, eu quero muito o enfrentar! Se quiserem, podem descansar! — Zernen, todo animado, avançou enquanto puxava a manga. Ele lambeu os lábios com uma expressão de prazer.
— V-Você enlouqueceu?
Até o Fred achava isso um absurdo.
— Ele não tem parafusos…
— Já vi muitos doentes mentais na minha vida, mas essa patologia eu não consigo identificar… Ele precisa de medicamentos.
Levantei o polegar, concordando com a cabeça.
— É demais até para você, Zernen. Sejamos sinceros… — Meredith deu um leve sorriso enquanto avançava até ele.
— Hahahaha! É o que veremos!
Zernen continuou teimando.
— Se for necessário…
Quando oceano finalmente falou, toda nossa atenção se voltou para ele.
— Alguns de vocês terão que desistir.
O rosto dele, enquanto dizia essas palavras, estava sério.
— O nível de emergência dessa criatura é A como observou Frida. Tirando Meredith, eu, Fred e o rapaz ali, todos vocês seriam mortos em instantes.
“Nem podia me incluir, pelos menos por consideração…”
Mas, deixando isso de lado, Oceano tinha razão. Todos nós aqui sequer podíamos nos equiparar ao nível deles nesse momento.
— É o fim da linha. — Levantei a mão. — Vamos desistir, Theresa? — Olhei para ela enquanto sorria.
Theresa mordeu os lábios, relutante.
— Eu acho melhor vocês dois desistirem também. — Fred olhou para Sond e Frida no canto. — Tudo bem se vocês virarem refém, a gente salva vocês depois!
— Eu não…
— Frida… — Oceano emitiu enquanto olhava para trás.
Sond balançou a cabeça negativamente, emitindo um sussurro.
— Eu não… Também.
— Eu acho que podemos discutir isso depois. — Meredith preparou a espada, cerrando os dentes. — Ele está prestes…
O dragão, ainda do alto, nem deixou a gente terminar nosso debate, abriu suas duas bocas, formando pontinhas de luz no centro das línguas, que foram ganhando mais espaço…
“Lá vem!”
— Andem logo e desistam.
Oceano esticou uma das mãos enquanto Zernen juntava duas de suas mãos para absorver aquele ataque. No entanto, a potência foi muito maior do que esperávamos. Quando aquelas milhares de cobras se elevaram ao vento e abriram suas bocas, formando mesmas luzes.
Com um grande rugido, os lasers lançados das bocas das serpentes se fundiram com o das duas bocas de dragão, criando uma forte luz alaranjada, que veio até nós em rápida velocidade. Nem havia chegado, mas já sentíamos sua radiação percorrer nossos corpos enquanto um grande clarão tomava conta dos nossos olhos.
— Rápido! Saiam daqui!
Oceano esticou uma das mãos enquanto seu escudo recebia aquele ataque, que nos fazia colocar as mãos rente ao rosto. Sua barreira começava a quebrar como um espelho, milhares de rachaduras se espalhavam rapidamente… Não tardaria até que aquilo se quebrasse.
Tomamos a decisão de correr, nos separando em pequenos grupos para alguns dos rochedos que ficavam longe daquela zona de ataque.
Zernen foi exceção…
Ele absorvia aquela toda luz enquanto sorria loucamente.
— Isso! Isso! Me dê mais poder!
“Maníaco…” pensei enquanto o observava de um dos pedregulhos. Eu havia ficado lado a lado com a Meredith, que espreitava do pedregulho, enquanto segurava sua espada.
Do outro lado, a alguns metros, estavam Theresa e Frida.
E do outro, Sond, Fred e o Irmão falso da Frida.
— Eu estava pensando melhor nisso…
Meus olhos foram atraídos para Meredith.
— Mesmo querendo salvar mais uma criança, não sabemos o que vai acontecer daqui em diante… Essas provas estão ficando mais difíceis… E… — Meredith de repente parou, olhando para um clarão que se tornava maior.
Era o corpo do Zernen, que estava brilhando intensamente enquanto ele olhava para suas mãos com um semblante estranho. Não, eu diria que ele estava apavorado e admirado.
O ataque havia cessado. Oceano estava suspirando de cansaço enquanto lançava seus olhos para aquela cena peculiar.
— Pessoal, acho melhor vocês fugirem… Eu vou…
Meredith imediatamente me puxou dali, enquanto os outros que estavam nos demais pedregulhos tentavam se afastar o máximo possível dali. No fim, Zernen acabou gerando uma explosão, que acabou nos arremessando para um rochedo onde embatemos nossos corpos levemente, graças à ação rápida da Meredith que nos fez travar a tempo, arrastando sua espada enquanto segurava minha mão.
Eu não conseguia saber como os outros estavam, já que uma densa poeira negra tomava conta daquele lugar.
“Mas por que Zernen acabou explodindo?”
Essa era a indagação que passava na minha mente, mas a terrível era…
“Será que ele está bem?”
Balancei minha mão freneticamente contra aquela densa poeira, enquanto tossia compulsivamente… O dióxido de carbono estava prestes a tirar a minha vida antes que essa serpente que estava bem à minha frente com a boca bem abertinha e dentes afiados me devorasse… Espera? Uma serpente?!!!
Deixei de tossir e apontei meu dedo trêmulo, enquanto arregalava os olhos, mas antes que pudesse soltar um grito agonizante, me vi sendo arrastado… Era Meredith que me carregava nos ombros enquanto corria daquela serpente, que mais tarde convidou suas irmãs, primas ou seriam sogras? Ah, tanto faz. O mais importante é que elas estavam nos seguindo e não só a nós, mas a todos os outros que estavam correndo de um lado do outro, mantendo distância para que pudessem executar uma ofensiva.
” E agora?”
— Jarves, eu sei que você vai negar, mas quero que você desista agora. Eu não quero que se machuque mais.
“Minha heroína!”
Meus olhos brilhavam com lágrimas, um sorriso de admiração se formou em meus lábios.
“Mas…”
— Me solte, Meredith. Eu posso lutar.
Apesar de tudo, do medo que corrói meu corpo, ainda era um homem… Um cavalheiro que jamais abandonaria seus companheiros para morrer… Que estranho vindo de mim…
— Você diz isso, mas e você, Meredith?
— Eu?
Ela disse enquanto se desviava de um ataque, me fazendo engolir seus cabelos ruivos. Ela precisava voltar seriamente a amarrar esses cabelos.
— Quer saber de uma coisa, Meredith…
O vento soprou sobre meu rosto enquanto ela parava.
— A história sem você não faria o menor sentido. Por isso, tenho de protegê-la custe o que custar.
Meredith me deixou cair violentamente e corou, olhando para mim.
— H-H-Hstória? O que você quer dizer com isso?
Me recompôs, coçando a cabeça enquanto sentia uma dor ligeira.
— Cuidado…
Assim que apontei, ela cortou a cabeça de uma serpente que se aproximava de trás.
— Ah…
Só agora que percebi que deixei escapar essas palavras sem querer. Eu e os meus momentos de afeição.
— Quis dizer vida. História, sabe? A história é uma vida.
Piorei as coisas.
Ela ficou vermelha.
— Você está falando coisas estranhas. Como assim, a vida sem mim não faria nenhum sentido?
Levantei-me e formei uma esfera em uma das mãos.
— Você, Theresa, Zernen e os outros são importantes para mim, por isso eu os protegerei. Fora de questão eu os deixar aqui enquanto tiro um cochilo na prisão, meu coração não ficaria descansado.
— Ah, então era isso… — ela murmurou, desviando o olha com uma expressão constrangida. — Seja mais específico…
— Ué? Pensou que fosse o quê?
— Nada. Quer morrer?
Ela apontou a espada para mim.
Sorri meio torto.
— Do nada?
Ela não teve tempo para responder, cortou uma das cabeças da cobra enquanto eu arremessava uma das minhas esferas amareladas, destruindo uma das cabeças das serpentes. Ficamos costas às costas, observando aquela névoa que cessava pouco aos poucos.
— Jarves, me promete uma coisa…
— Fala.
— Vamos cumprir essas provas juntos! Não importa quanto sangue teremos de derramar, vamos vencer!
— Nem precisava dizer! Nós já gabaritamos!
(…)
Enquanto isso… Duas mulheres que se encontravam encurraladas, franzindo seus lábios enquanto enfrentavam aquelas serpentes com os olhos assustados, se encostando cada vez mais no rochedo.
— Você não poderia cortar a cabeça dessa criatura como fez antes?
— Aquilo era objeto. Isso é um ser vivo, impossível. Oceano tinha razão, nós só podemos desistir…
Quando Frida disso, aquelas serpentes partiram ao ataque, lançando sua boca venenosa. No entanto…
Duas espadas, uma lança e algumas unhas atravessaram suas cabeças. Sangue saltou para tudo quanto é lado enquanto seus corpos se debatiam.
Os olhos daquelas duas brilharam ao contemplar aqueles três ali… Fred em posição de defesa enquanto manipulava suas unhas suspensas no vento, acompanhado do irmão da Frida, que carregava duas espadas afiadas. Ao seu lado, estava Sond, cujo cabelo escondia sua expressão enquanto segurava uma lança.
— Frida e médica, desistam. Isso está ficando mais perigoso…
— Nos deem armas. Eu aprendi a lutar com o meu irmão, então posso lutar.
— Eu também, sei usar arco e flecha… Não vou permitir que os meus companheiros lutem sozinhos. Somos todos membros de um corpo, não somos?
— Francamente… — Fred colocou a mão na cabeça, a balançando levemente. — Tudo bem, mas a qualquer sinal de ferimento, um mínimo que seja, vocês desistem.
— Não quero ouvir isso de você… — Frida murmurou com um sorriso enquanto olhava para os arranhões que Fred havia ganho.
— Tome. — O irmão da Frida lançou uma espada para Theresa, que segurou prontamente. — E você, irmãzinha… Aparecer. — Um arco e uma aljava de flechas apareceram em suas mãos.
— Não me chame de minha irmãzinha… — Frida o olhou severamente enquanto recebia o arco e a aljava. — Estou há muito tempo querendo perguntar isso, mas como você consegue usar o poder do meu irmão? É estranho, não?
— Esse é o corpo do seu irmão. Não pergunte o óbvio.
— É que você usa com tanta precisão. Originalmente, meu irmão tinha algumas dificuldades no seu uso.
— Talvez… Eu seja mais habilidoso.
— O quê?
Frida apontou sua flecha para ele.
— N-Nada.
Ela atirou a flecha, que passou de raspão na orelha dele, e acertou a boca de uma cobra que caiu no chão.
— V-Você está pretendendo me matar?
— Você está no caminho, fazer o quê?
— Ah, vocês dois parecem até irmãos de verdade — disse Fred, cortando mais cabeças de cobras com suas unhas de ferros enquanto Sond executava golpes majestosos com sua lança.
— Nunca mais repita isso. — Frida lançou a flecha. Theresa avançou com a espada, cortando ao meio uma cobra que vinha da lateira, querendo morder Frida que havia baixado a guarda.
— Mais atenção, pessoal.
(…)
Em contrapartida, Oceano se esquivava das cobras com excelência e domínio, movendo seu corpo com flexibilidade enquanto avançava ao seu verdadeiro alvo… O dragão que esticava suas caudas de cobras contra seus companheiros.
“Dessa vez, você cai!”
Com isso em mente, Oceano cerrou os punhos enquanto mantinha os olhos no céu, imaginando como saltaria e aplicaria um golpe crítico naquela criatura, mas, de repente, duas visitas apareceram dos seus dois lados.
— Soco invisível!
Zernen, com os cabelos eletrificados, desferia golpes contra as cobras, transformando-as em carne moída. Seu rosto estava coberto de sangue.
— Turbilhão de cortes!
Meredith, que estava do outro lado, balançava sua espada rapidamente, decepando aquelas criaturinhas em mil pedaços. Seu rosto e vestes também estavam manchados de sangue.
— Vocês…
Quando Oceano disse isso, o dragão recolheu suas cobras e, quando estava prestes a lançar seu ataque de lasers, os três saltaram.
Zernen deu impulso nos dois, gerando uma explosão que saiu de suas costas enquanto segurava com ambas mãos as costas dos dois. O dragão cessou o ataque e mandou as cobras para eles, no entanto, todas elas foram cortadas por milhares de unhas que atravessaram o vento, permitindo que aqueles três avançassem. Chegaram tão alto que já estavam acima do dragão, observando sua superfície repleta de escamas.
O dragão lançou suas duas cabeças para cima, a terceira permanecendo quieta. Uma luz fora gerada em direção a eles, sendo lançada intensamente.
— Deixem comigo!
Com os braços abertos, Zernen absorveu tudo enquanto Meredith e Oceano desciam contra a superfície do dragão com olhos extremante frios.
— Desça.
Quando disseram isso em uníssono, o dragão sentiu um forte peso em sua superfície, que o forçou com violência a cair contra a superfície numa velocidade colossal. Sua queda causou um grande estrondo e abriu uma cratera gigantesca.
Meredith elevou sua espada e cravou cima do dragão, enquanto Zernen lançava seu soco explosivo contra as cabeças.
— Pessoal!
Jarves e os demais acenaram enquanto se aproximaram.
Com o dragão caído, a vitória era certa. No entanto… A terceira boca do dragão, que até então permanecia selada, abriu-se, revelando um grande abismo em seu interior enquanto o dragão se levantava.
Uma força semelhante à de um ímã, soltou um vento impetuoso, que sugava tudo que estava no seu campo de visão para o interior da sua boca.
— O que está acontecendo?!
Cada um deles tentava resistir, agarrando-se às rochas, mas o vento era tão forte que os arrastava para o interior da boca, como se fossem papéis indefesos, seus gritos ecoando em meio à tormenta.
— No fim, foi você quem precisou de proteção… — Depois de dizer essas palavras, Sond entoou uma melodia que forçou o corpo do Fred a dançar para longe da força do vento.
— Não… Frida, Sond, não…!
— Jarves!!! Theresa!
Meredith deu um grito, mas não os alcançou, eles foram arrastados para o interior da boca, que fora selada alguns segundos depois. A terceira boca mastigava deliciosamente, lambendo seus lábios em seguida, o que deixou todo mundo espantado e com olhos arregalados.
— Não… Não!
Meredith deixou a espada cair na superfície escamosa enquanto segurava sua cabeça.
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