Capítulo 87: Encontro com o passado
Região do pântano
— Ahhhhh!!!
A boca do Oceano abriu-se instintivamente, quando recebeu os espinhos e a lança do homem, que perfuraram parte de seu abdômen enquanto as bocas daquelas plantas carnívoras cravavam seus dentes em seus ombros e pernas, o deixando agonizando de dor, enquanto uma substância roxa começava a se espalhar pela extensão da sua pele. Oceano tossiu sangue e assim que o homem retirou a lança de suas entranhas e as plantas as bocas do seu ombro, ele caiu por terra.
Satisfeito, o homem das cavernas voltou as costas para ele e saiu caminhando enquanto as plantas carnívoras se escondiam em árvores e algumas de volta ao solo, cavando e se enterrando.
Oceano mexia seus dedos, erguendo lentamente seu rosto contra a areia. Se ele pretendia desistir, tinha que ser agora… No entanto, mesmo que tivesse de usar todo poder, ele jamais desistiria, tinha em mente que, se o fizesse, tudo estaria perdido. Se ele, o mais forte, estava padecendo, quem diria dos seus companheiros?
Oceano não podia admitir aquele fracasso de forma alguma.
“ Você acha que é forte o suficiente? Pois quando chegar um inimigo mais forte que você, você verá o quão fraco é. ”
Essa frase não fazia tanto sentido como fazia agora e ela fora dita pela pessoa que Oceano tinha mais aversão nesse mundo e que agora estava perturbando sua mente com essa filosofia maldita, quando ele não poderia prever o quão forte era. O mundo era vasto e não havia um limite para o quanto os seres podiam transcender. Mesmo uma formiga que hoje era considerada fraca, poderia se tornar forte de algum modo e superar um elefante.
— Não me venha com essa… — Oceano contorceu-se, seus traços se movendo em uma expressão de indignação. — Enquanto o meu coração continuar a bater, enquanto eu estiver vivo, eu posso superar os mais fortes. Não tem problema ser fraco, o problema está em aceitar a fraqueza… A vida é uma luta constante contra as fraquezas, então apenas lute a sua maneira, sem pressa e jamais desista.
A última citação havia vindo da sua mãe como uma espécie de contra argumento contra o que seu pai vivia dizendo constantemente sobre, de que seu filho deveria ser perfeito em tudo.
Oceano havia nascido em uma família originalmente rica, mas seu pai era tão ambicioso que não se contentava em levar uma vida boa. Ao invés disso, nesse mundo onde a magia era tudo, ele queria o mundo em suas mãos. No entanto, infelizmente, como no seu nascimento ele não foi abençoado com uma magia que o permitia avançar como um dos mais poderosos usuários do mundo, ele impôs esse destino cruel ao seu filho Oceano que era fruto da fusão do seu gene com a da sua esposa, que fora entregue por casamento por meio de negociatas entre famílias.
Assim, ascendeu uma criança com uma magia anormal, que não precisaria de anos de treinamento para alcançar o improvável. Com sua habilidade, em menos de meses havia conseguido alcançar o posto rank A e brevemente faria parte da elite rank S.
Isso custou a infância do miúdo, que passou toda a vida treinando e treinando a fim de extrapolar seus limites em tempo recorde. Sem amigos, assim foi crescendo, moldado num único dilema: deveria se tornar o mais forte e o resto eram formigas a serem esmagadas. Na altura, sua personalidade era bastante fria e calma…
— Mas vocês deram luz e significativo à minha vida… — A imagem de seus amigos apareceu na sua mente, todos com um sorriso.
“ Bendito aquele que tem um amigo, pois quando cair, tem quem o levante. Mas aí do que não tem. ”
Com esse provérbio passando pela sua mente, Oceano cerrou os punhos, o chão estremecendo pela quantidade de mana que ele liberava do seu corpo.
— Eu não aprendo mesmo… — A imagem dele sendo atingido pelo laser por uma das estátuas na quarta prova apareceu na sua mente, o lembrando de como não podia subestimar seus inimigos. — Mas tudo bem… Dessa vez… — Levantou-se, atraindo as plantas carnívoras que saíram do solo e algumas que serpenteavam as árvores. — Eu vou usar até o que não tenho!!!
A energia que vibrava dentro do seu corpo era tanta que conseguia dissipar o veneno que havia adentrado a corrente sanguínea, expelindo tudo para fora por meio daquela aura que vibrava exteriormente.
Energizado, com os músculos
enrijecido, ele movimentou a cabeça, analisando seus inimigos olho a olho, enquanto cerrava seus punhos.
Os espinhos foram lançados e as bocas vieram novamente, mas num zas, Oceano se desviou e desferiu cortes que deceparam seu caule em pedaços e a energia que exalava tratou de transformar tudo que adentrasse nos seus parâmetros em pó.
Assim que aniquilou todas as plantas carnívoras com sua força incomum, que roubava pulsares do seu coração, seus olhos focaram-se no momento em que, em um zas o homem do pântano estava na sua frente, apontando sua lança com um olhar completamente hostil.
— Venha.
Ele chamou com a mão.
Região da praia
— Ooooooh! Soco invisível!
Zernen arrastou seu punho novamente contra o osso que protegia aquele rapaz, mas sem sucesso, isso apenas atraía a fúria irracional daqueles monstros ósseos, que vieram a passos largos, levantando um estrondo na terra, que os desequilibrava.
— Zernen, cuidado!
Quando recebeu esse alerta, ao revirar os olhos, o rapaz se deparou com o bico do
pterodáctilo a metros de o tocar. Zernen imediatamente pulou e deu cambalhota, o bico levando consigo pequenas partes das suas vestes. Quando se recompôs, deu um suspiro de alívio, mas logo cerrou o punho e as sobrancelhas, elaborando uma investida para aquele pterodáctilo que parecia ter como alvo o homem ali.
Não fez algum efeito, nem um raspão sequer. O pterodáctilo logrou sucessos e capturou o homem, o aprisionando no interior de seu estômago ósseo enquanto subia para bem alto, num espaço em que não podia ser alcançado.
Agora, zernen e Fred haviam ficado à própria sorte, contra aqueles dinossauros ósseos que não cessavam seus passos.
— Vamos sair daqui! — Fred dizia enquanto corria em direção oposta, mas não teve muito sucesso e caiu no chão, ficando refém do dinossauro que rugiu e ergueu sua pata contra ele.
— Soco invisíve— — Antes que concluísse seu golpe, zernen recebeu um ataque de costas daquele pterodáctilo, que lançou um vento impetuoso acumulado através de sua velocidade e o arrastou para o centro, de onde os dinossauros o esperavam.
Zernen nem teve tempo para se recompor, pois fora capturado por uma boca de dinossauro, enquanto seu amigo sofria com pisadas que atrofiavam seu corpo. Ainda assim, ele teve de rebolar algumas vezes enquanto despejava sangue pela boca.
Preso no cativeiro de boca, Zernen foi crivado de ossos que nasciam no interior da boca, o fazendo se contorcer de dor, um grito agonizante de quem não podia mais suportar, mas ainda, a palavra desistir, sendo abafada por seu orgulho de guerreiro.
— Aaaaah! — Tentava se soltar, forçando seu corpo a levantar, mas parecia ser um esforço inútil. Ao passo que seu sangue não parava de sair dos membros crivados, percorrendo a estrutura óssea da boca daquele dinossauro e pingando naquela areia, cada gota, formando poças.
Era questão de tempo e os dois pereceriam pelo dano corporal e perda excessiva de sangue. Enquanto isso, o pterodáctilo continuava voando em círculos, e os outros três dinossauros não paravam de observar a espera de sua vez para poderem brincar com aqueles dois.
— Droga… — Zernen foi fechando os olhos enquanto murmurava.
Enquanto isso, Fred, ainda estatelado, estava prestes a ser levado pela boca de um dinossauro e, neste meio tempo, sua mente era agredida com o fato de ele estar sendo fraco e não ser digno de pertencer aos caçadores da lua.
Era deplorável que um caçador da lua estivesse sendo defendido por um garoto. Um caçador da lua era um homem de elite, que tinha como papel caçar bandidos de toda espécie e, mesmo assim, ele não estava conseguindo dar conta das criaturas criadas pela gangue do rei dos bandidos.
Era loucura, sim, o rei dos bandidos era forte, sim, mas ele não queria se contentar com isso. Para começar, desde que entrou nestas fases, ainda não havia feito nada de significativo em comparação aos seus companheiros que deram tudo de si.
— Eu… Não fiz nada… Droga… — O orgulho de guerreiro havia sido ferido, seus lábios cerrando de amargor, enquanto seus traços torciam de indignação contra si. — Mas eu não vou aceitar que isso termine assim — disse enquanto era removido da areia com uma das bocas para ter o mesmo destino que o amigo. — Eu não vou!!!
Bateu o punho num dos ossos, uma dor arrepiante atravessando seu corpo e latejando por sua mente. Memórias… Foco, era no que Fred tentava se focalizar, mais do que nunca.
Há anos
— Fred, você é o menos talentoso daqui. Não se preocupa com nada, então nunca será nada!
Seu professor de magia estava cansado de dizer isso. Normalmente, era natural para quem fosse à escola e estudasse para aprender a ler e escrever e obter o conhecimento básico, que a escola leccionasse a matéria sobre magia, mesmo não sendo uma escola específica para ela.
E nestes termos, Fred era péssimo em todas as matérias, pior aluno da sua sala e uma decepção para os professores. Vivia reprovando justamente, afinal não fazia um mínimo esforço para mudar sua situação; era preguiçosa e não ligava para nada.
No entanto, em mais um dia de aula, aborrecido e tedioso, observava o sol enquanto se encostava sentado em uma das paredes, que selava o interior de uma sala de aulas.
De repente, seus ouvidos captaram passos e uma sombra pairou sobre si, o fazendo mover seus olhos para aquela figura alta com vestes elegantes, um traje renascentista azul-escuro.
Ao contrário do seu, o rosto daquele homem transmitia profunda calmaria e um ar de superioridade, era o tipo de gente que ele odiava.
Outro adicional era que Fred odiava os nobres, assim como a maioria dos plebeus. A razão era a arrogância e o desprezo para com os plebeus, aliado a isso, à desigualdade social, envolvendo a falta de oportunidades e outros fatores-chave para o sucesso.
— Hã? O que você quer aqui? Tá perdido? — Veias extrapolaram a extremidade de sua testa, uma expressão de marginal que condizia com sua cara, havia sido formada. Ele era o tipo de gente que não fechava todos os botões da camisa, expondo seu peito e, quando bem entendia, andava de calções.
— Não estou.
Ele deu um sorriso calmo.
— Você é novo? Parece não me conhecer?
— Tem razão. Por isso, quero te conhecer.
— O quê? Quer lutar?
Ele levantou-se, cerrando o cenho enquanto franzia os punhos.
— Não cheguemos a isso.
— Então vaza daqui!
— Isso eu não posso fazer também.
— Depois, não diga que eu não avisei… — Fred avançou com o punho direito, mas seu soco foi contido facilmente pela mão direita do jovem de cabelos azuis. Ainda assim, ele tentou avançar, fazendo veias extrapolarem seus braços enquanto dirigia seu pé, que também foi calçado.
Soltando um tse, ele tentou forçar a retirada de seus membros, mas não conseguia. Então, contra todas as expetativas do seu oponente, as unhas dos pés e das mãos ganharam uma coloração negra e rumaram contra o corpo exposto do Oceano, enquanto Fred dava um sorriso vitorioso.
No entanto…
Arregalou os olhos quando viu que suas unhas congelaram no ar por algum tempo e caíram no chão, como se tivessem atingido uma parede invisível. Oceano soltou o punho e o pé dele, e ele retrocedeu com temor, descrente do que havia visto.
— Você… Que poder é esse?
— Só saberá se você vir comigo, quital?
Oceano estendeu as mãos enquanto dava um sorriso calmo.
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