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    Região da Savana

    Depois de tanto corrermos por aquela savana repleta de pequenos focos de capim e árvores que variavam entre secas e robustas, além do banho que tomávamos do sol, que voava entre as nuvens, conseguimos achar um refúgio que ficava numa zona com alguns rochedos.

    Adentrando a caverna, recebemos o aconchego daquela sombra e do chão um pouco confortável. Encostamos nossos corpos, lado a lado, naquela superfície pedregosa. Dei um suspiro e depois movimentei os meus olhos, encontrando os delas.

    — Então, consegui pensar em mais alguma coisa?

    — Pensa você também, Huphm! Não é só porque eu sou a analista que você tem que deixar tudo para mim.

    — Quanta frescura… — Dei um suspiro, tendo uma ideia logo em seguida, depois de pensar em tudo o que havia acontecido até então. — Olha, eu tenho uma ideia.

    — Manda.

    — Você deve aprender magia básica.

    — O quê?!

    Ela fez uma cara de choque, como se aprender esse tipo de magia fosse um bicho de sete cabeças.

    — É, isso. É a única maneira.

    — Olha, vou te contar uma coisa. Eu tentei aprender magia básica, fiquei em jejum e acabei ficando tão desnutrida, que fiquei traumatizada. Com certeza não… — Ela meneou a cabeça negativamente enquanto pegava nela. — Eu não quero passar por isso.

    — Como assim, você ficou em jejum? Se eu aprendi em algumas horas?

    — Ficou horas?

    Ela levantou uma das sobrancelhas, um tanto quanto impressionada, e eu anui com a cabeça.

    — Isso mesmo. Dia seguinte, eu já estava usando magia e combatendo aventureiros de rank alto.

    Frida colocou a mão no queixo e emitiu enquanto pousava seus olhos no chão: — Lembro que o Oceano falou que quem não tem magia, já nasce íntimo da magia básica. Só não achava que isso também se aplicava a usuários de magias mentais e complexas.

    — É mesmo, né? — Dei um sorriso tenso.

    — Mas minha magia também se enquadra em mentais e complexas. E agora?

    — É mesmo, não é?

    Uma chuva de suor começou a tomar conta do meu rosto, se misturando com a cara tensa que eu fazia. Eu não deveria ter perguntado isso justo para uma usuária de magia mental.

    — Por que está suando? Está escondendo algo que eu não saiba?

    Ela estreitou seus olhos, fazendo uma expressão desconfiada. Essa menina… Eu teria que ter cuidado com as minhas palavras, porque ela tinha a mesma capacidade de raciocínio que Theresa, ou quem sabe ainda, pior.

    — Talvez eu seja exceção… Entre as magias mentais, sabe? A minha é muito diferentona, não é?

    — Bem, é verdade. — Ela desfez sua expressão desconfiada, mas depois voltou a afunilar os olhos. — Mas você tá escondendo algo, não é? Exijo que conte agora, porque estamos em uma situação muito delicada para você ficar de segredinho.

    — É que… Eu mesmo nem sei o que é essa minha magia, então eu não tenho certeza de nada… Sabe, às vezes, penso que não tenho magia. — Fiz uma cara bem triste, encurvando minha cabeça enquanto produzia um tom miúdo. — Sabe, tudo vem quando quer e desaparece quando quer, que eu não sei de mais nada…

    Frida comoveu-se, passando a mão sobre o meu ombro com um olhar acolhedor, enquanto emitia palavras de conforto.

    — Ah, era só isso? Deveria ter dito há muito tempo.

    — É que é vergonhoso… — Eu deveria virar um ator. Caramba, isso estava ficando muito bom. A voz fininha e tímida e o semblante todo quebrado. O tanto que me segurei para não deixar escapar uma risada de empolgação, não estava escrito.

    — Sabe de uma coisa?

    Lancei meus olhos sobre ela. Sua expressão havia mudado para uma mais nostálgica, mas com traços de tristeza, cicatrizes de uma ferida outrora profunda.

    Frida contou parte do seu passado. Há anos, depois de haver despertado seu poder prematuramente; na sua pré-adolescência, quando não sabia controlar sua magia, fazia todo tipo de coisas desaparecer aleatoriamente. Quando ri da parte em que ela disse que fazia desaparecer os utensílios e que nesse dia ficaram sem comer, ela me deu um cascudo e disse que iria parar de contar, mas tive que suplicar com as mãos juntas para que ela continuasse.

    Ela disse que se sentia frustrada por isso e que era seu irmão quem tinha de resolver tudo. Era ele quem cuidava dela e roubava seu lugar como a mais velha. Naquele dia, ela decidiu fugir de casa, porque não aguentava mais ficar fazendo desaparecer as coisas dos outros e por seu irmão ter arranjado confusão quando fez aparecer coisas da vizinhança na sua casa, dessa forma, sofrendo acusações e quase sendo presos como ladrões, não fosse um vizinho próximo que testemunhou que seu irmão ainda não dominava sua magia.

    No dia em que fugiu, acabou encontrando o Rein e ele, por sua vez, o apresentou seu amigo Oceano, que era um grande usuário de magia e sabia tudo sobre magia. Então, nessa altura, Frida acabou aprendendo a dominar sua magia e voltou para sua casa, aliviando a tamanha preocupação da sua mãe e do seu irmão, que não cessavam as buscas.

    — E foi isso. Se te deixa mais confortável, quando isso acabar, podemos falar com o Oceano. Tenho a certeza de que ele poderá te ajudar.

    — Muito obrigado!

    Me senti tão comovido que a queria abraçar, mas ela não permitiu e me deu um soco na barriga. Cuspi saliva e segurei meu estômago com os dois braços numa tentativa de aplanar aquela dor.

    — Não exagere. Só te contei, porque não precisamos de um peso morto se mordendo de tristeza nestas alturas.

    Ela fez uma cara sombria, suas pupilas ficando dilatadas.

    Dei um sorriso tenso. Mas, apesar de tudo, ter ouvido a história da Frida me fez relaxar um pouco sobre o fato de eu não ter magia.

    — Pronto! — Bati as mãos contra as bochechas, agora aliviado. — Vamos botar nossas cabeças para pensar! Você não disse que tudo está conectado? Tenho a certeza de que estamos deixando algo passar.

    — E estamos… — De repente, Frida fez uma cara de espanto, erguendo suas mãos ao encontro dos olhos. — Claro… Por que não tinha pensado nisso antes?

    — O quê?

    — Este lugar reprime toda magia especial, sendo assim, é possível usar magia básica com facilidade, porque já estamos intimamente ligados.

    — E, isso é verdade… Como não pensamos nisso antes?

    — Quando pensamos alto demais, às vezes nos esquecemos do que está diante dos nossos olhos.

    — Eh, faz sentido. Então, isso quer dizer que você vai aprender magia básica, não é?

    — Eh, mas eu não sei lutar. Então, não sei o que faremos.

    — Olha, com tanto que você possa transferir sua mana para mim, eu posso lutar por você. Uma vez, Zernen transferiu sua mana para mim, então eu acho que vai funcionar. — Lembrei do momento em que estávamos no beco, enfrentando os gêmeos da música.

    — Tudo bem, então comecemos. Porque acho que aquela mulher não tarda estará aqui com seus bichinhos.

    — Isso!

    Balancei a cabeça positivamente.

    E assim, começamos o treinamento que havia passado com o senhor Alexodoro. Se realmente a nossa suposição estivesse certa, dentro de algumas horas, Frida já estaria conseguindo extrair e transformar sua energia interior.

    E realmente estávamos certos. Depois de algumas horas ou talvez menos, seguindo as instruções do ex aventureiro rank S, logramos sucessos e Frida estava sorrindo enquanto contemplava suas mãos transbordando de energia.

    E com isso, nossa felicidade atraiu o terror em pessoa. Bem na entrada da caverna, dois olhos felinos, acompanhados de seus animais, nos encaravam veementemente, enquanto emitia aquelas palavras num tom tenebroso.

    — Finalmente, mim encontrar vocês.

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